Estou atualmente estudando Carl Gustav Jung, um psiquiatra nascido na Suíça, em 1875, que nos trouxe vastos conhecimentos que chamamos de psicologia analítica ou psicologia profunda.
Quando criança Jung ficou um ano sem ir à escola, após ter sido agredido por um amigo e desenvolveu uma espécie de síndrome do pânico.
O pai de Jung era pastor luterano e sua mãe era uma mulher rica, poderosa, mística e muito culta e, por ambas as influências,Jung interessou-se toda a sua vidas por religiosidade, filosofia, arqueologia, sociologia e psiquiatria e psicanálise. Leu Schopenhauer, Nietsche, Kant, Goethe, todos os renascentistas, grandes filósofos e, por esse motivo, usou suas próprias angústias, medos e cólera como fonte de estudo e pesquisa.
Formou-se em psiquiatria aos 26 anos em 1900, quando já havia lido “A interpretação dos sonhos” e os estudos de Breuer e Freud sobre histeria.
Somente em 1907, quando Jung escreveu um livro sobre psicologia da demência precoce, que era o nome que se dava a esquizofrenia na época, ele resolveu enviá-lo a Freud,para que assim pudessem trocar conhecimentos.
Jung então foi a Viena durante 15 dias e lá tiveram um encontro numa conversa que durou 13 horas e que Jung classifica como “[…] uma conversa muito longa e penetrante”.
Dessa conversa nasceu uma forte amizade pessoal. Entretanto, apesar de Freud ser alguém do afeto de Jung, ele o considerava de natureza muito complicada, porque, segundo Jung, as ideias de Freud eram fixas, quando pensava algo, assim estava estabelecido e enquanto Jung se via como alguém que duvidava de tudo e de todas as coisas o tempo todo.
Entre tantas ideias divergentes, aquela que fez o rompimento dessa parceria profissional foi que, para Freud, o inconsciente humano é apenas pessoal e para Jung temos tanto o inconsciente pessoal quanto o coletivo – o que era inconcebível para Freud.
A partir daí, Jung desenvolve sua psicologia profunda e revisita toda sua obra após os 70 anos, escrevendo sobre os arquétipos do inconsciente coletivo, sobre os complexos do inconsciente pessoal, sobre a sombra, persona, anima/animus e SELF, que é o centro da essência de cada um de nós.
Ainda afirmou que nos relacionamos com o mundo exterior por meio dos sentidos, que cada individualidade pode se relacionar de forma introvertida ou extrovertida e que apresentamos formas dinâmicas detipos de relação com o mundo – que podem ser pela sensação, pelo pensamento, pelo sentimento e pela intuição.
Estas características combinadas na individualidade humana podem apresentar até 64 combinações entre esses opostos extrovertido/introvertido combinando pensamento/sentimento e sensação/intuição, entrelaçando-se em variadas combinações.
Para tanto revelou também, além dessas características humanas, sobre quatro tipos de temperamentos encontrados nas pessoas: colérica, fleumática, sanguínea e melancólica. Nosso aprendizado humano é não permitir que um desses temperamentos sejam fixos em nossa persona, mas que possamos dar movimento a elas num equilíbrio entre o ego e a sombra, num grande pingue-pongue dos temperamentos, pois a repressão da vazão de qualquer desses temperamentos, pode estabelecer as doenças físicas e ou mentais.
Nesse sentido é que se estabelece o trabalho da psicologia analítica de Jung, que evoca o que está retido nas sombras da alma humana e que se manifesta como fala/voz nas doenças do corpo ou da mente.
A ArteTerapia nesse sentido, é um das formas da pessoa em análise, materializar na arte esse vai-vem dos conteúdos (complexos e arquétipos) que transitam do inconsciente para o consciente com o objetivo de descobrir sua individuação.
Jung nasceu na data de hoje, em 26 de julho de 1875 e morre aos 85 anos em 1961, nos deixando um legado incrível – a psicologia clínica – a qual me sinto privilegiada de estudar.
No vídeo abaixo você poderá assistir uma entrevista incrível do Jung, publicada no canal Jung na Prática. Se eu fosse você não perderia a oportunidade de conhecer esse grande homem.
Naíme Andréa Silva
Inverno/2019
Aluna do IJEP/ Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa
No dia 5 de junho, dia mundial do Meio Ambiente, a CIA Uzyna Uzona do Teatro Oficyna realizou um TeAto, em defesa da preservação ambiental e cultural do Bixiga e do Teatro projetada por Lina Bobardi, cujo, tive a honra de ser convidada para fazer uma fala. Fiz questão de estar na presença de meu filho e a cada palavra dita, olhar profundamente nos olhos do nosso amado Zé Celso Martinez. Abaixo, transcrevo em texto a minha fala emocionada:
“Evoé! Alegrias! Eu escrevi minha fala e vou lê -la, porque gostaria de dizer tanta coisa e to tão emocionada que tenho medo de me perder em meio a tanta coisa importante, Zé, por isso peço licença para essa leitura!
Sou educadora de infância e moradora do Bixiga há 20 e nos últimos 10 anos minha história pessoal e profissional se misturam ao Tetro Oficina e ao Parque do Bixiga.
Em dezembro de 2009, assisti ao Banquete de Platãoe Sylvia Prado lavou meus pés e Héctor Othon, que fazia Zeus, encheu meus cabelos de flores, na noite eu que eu e meu companheiro Nuno, concebemos nosso filho Abá. Foi uma noite incrível como se eles me preparassem pra receber esse ser de luz no meu ventre.
No hemisfério Sul, para algumas bruxas e bruxos, a noite do Halloween é comemorado dia 1º de maio e foi nessa noite de 1º de maio de 2010, já redonda e barriguda, que eu vim assistir As Bacantes e tive vontade imensa de viver o mesmo que Caetano Veloso viveu, sendo devorada pelas bacantes ( risada). Imagina, fiquei só na vontade.
Em 2010, ainda assisti a Taniko, o rito do Mar, que me inspirou numa ousadia: montar Tanikinho com crianças bem pequenas da Ed Infantil na I Festa da Cultura Popular da EMEI Gabriel Prestes em 2014. Por conta dessa montagem, Mariano Mattos me convidou em outubro de 2014, pra um jantar pra conhecer a Camila Mota e desse dia em diante, a luta pelo Teatro Oficina, pelo Parque do Bixiga e pelas Infâncias paulistanas na construção da cidade educadora, passou a ser uma luta irmã.
Em 2015, em continuidade de um projeto educacional no território Consolação/ Bixiga, que dialogasse com Paulo Freire, Mário de Andrade e Oswald de Andrade, a companhia Uzina Uzona de Teatro e o Projeto Bixigão fizeram vivências com crianças e educadoras da EMEI Gabriel Prestes durante algumas sextas feiras e no mês de setembro, fizemos juntos um cortejo de abertura da II Virada Educacao, por um mundo mais poético, com o Rito do Pau Brasil de Oswald de Andrade, levando conosco alunas estagiários de Pedagogia da Universidade Makenzie sob a regência da criancista e ativista profa Celia Cerrão, as famílias e crianças da Emei Gabriel Prestes, várias educadoras e ativistas pela infância e o Movimento Entusiasmo de André Gravatá, num ato poético e cultural, que desceu a Consolação e o encerrou na Praça Roosevelt. Essa Virada Educação foi histórica, pois também comemoramos os 80 anos da educação infantil na cidade de São Paulo, desde a criação dos Parques Infantis, concebidos por Mário de Andrade.
Em 2017, Sylvia Prado recebeu aqui no Teatro Oficina, numa roda de conversa do curso de difusão para educadoras e educadores da rede pública municipal da Faculdade de Educação da USP, coordenada pela profa Dra Marcia Gobbi, intitulado : Infância desde os bebês, projetos e políticas na cidade , onde pude fazer a mediação do grupo nessa conversa com a Sylvia Prado, sobre a defesa do Teatro Oficina e a criação do Parque do Bixiga.
Por último, queria dizer que a defesa do Teatro Oficina e do Parque do Bixiga se misturam a defesa da comunidade Bixiga, de suas famílias e crianças, pois a defesa da criação e manutenção dos parques na cidade é a defesa das Infâncias paulistanas e da concepção de cultura das Infantis de Mário de Andrade e do prof Paulo Freire.
Ainda vale dizer que nós professoras de Infâncias temos um sonho e uma utopia, o sonho de uma cidade educadora , onde a cidade seja Organizada pelo olhar das crianças que a habitam, certamente ela seria cheio de parques, de alegria e de poesia.
Nossa utopia anarquista, seria de uma outro mundo mais justo e humano, sem prisões, sem igrejas, sem partidos políticos e sem escolas, onde pudéssemos viver como nossos povos originários, organizados por ecovilas e escolas da floresta, onde as ciências, as tecnologias, a arte, a cultura e a natureza vivessem em comunhão, num mundo sem dinheiro, sem a relação com o capital e poder, numa relação em comunidades, de forma dialética, sob auto gestão, numa pedagogia macunaímica, como sempre nos fala a Profa Ana Lúcia Goulart de Faria. Que a gente possa ter fôlego e musculatura pra lutar por esse sonho e consequentemente por esse utopia de um mundo mais justo e humano!
Viva o Teatro Oficina! viva o Parque do Bixiga! viva as Infâncias Paulistanas!”
Na foto que tirei abaixo, representando as mães das águas do Bixiga, Joana Medeiros como mamãe Yemanjá, Danielle Rosa como mamãe Oxum.
Fui assistir a biografia de Elton John sem muitas expectativas, afinal havia me decepcionado bastante com Bohemian Rhapsody, que me pareceu um filme bem ilustradinho para poder ser engolido pela crítica conservadora.
Na primeira cena do filme, um nó ja se instalou na minha garganta: um longo corredor por onde entra Elton com uma indumentária de anjo caído abre as portas de um grupo terapêutico de alcoólicos anônimos.
Ali já me dei conta que não seria um filme comum, porque traz a ideia de um Anjo caído para a terapia como um dos tantos símbolos que recheariam o filme.
A cena se desenrola nesse cenário e ao trazer as memórias sua história de infância, entra uma criança simbolizando o Reggie, Elton pequenino. Nesse instante eu ja me sentia cativada!
Obviamente não tenho intensão aqui de dar spoiler, mas de analisar alguns pontos e convidá-los a assistir e depois comentar comigo sua própria leitura do filme.
A construção dos personagens
Tanto nos Reggies crianças, Matthew Illesley e Kit Connor, quanto no ator adulto Taron Egerton, a construção das personagens teve um crescente sensível e coerente com as relações estabelecidas no clã familiar.
O menino Reggie de uns 8 anos mais ou menos, com o ator Kit Connor, tem poucas cenas, mas que são primorosas para entendermos a relação parental estabelecida e como o filme se desenrola como um drama psicológico e a construção desse ator criança é incrivelmente sensível. Um prato cheio para psicólogos analíticos, mas que pode ter deixado a desejar aos artistas e músicos que gostariam de ver o ato criativo de um músico, independente de seus complexos emocionais, se é que essa separação seja de fato possível.
Aos psicólogos analíticos, um filme pra saborear e talvez pra ver mais de uma vez, tamanho acervo de símbolos que tanto a personagem de Elton John, quanto suas personas e ainda se quisermos analisar as outras personagens como suas contrapartes apresentam. E ainda temos os símbolos sensíveis inseridos pela direção do filme como a relação de Elton John com seus figurinos, com seus óculos e como essa construção e desconstrução se deu.
O filme como musical também revela uma sensibilidade incrível do diretor Dexter Fletcher, pois se utiliza da corporeidade dos bailarinos e das canções de Elton John e Bernie Taupin como textos, para revelar os momentos picantes de sexo e drogas e trazer essa trama com arte, mas sem os ocultar e nem disfarçá-los, como vimos na biografia de Freddie Mercury.
Aqui também vale um destaque para a relação dessa dupla, Elton e Bernie, que analisei uma como contraparte do outro. Elton, que era inicialmente tímido, calado, se encontra com um Bernie, bem empolgado com o futuro da dupla. Bernie parece revelar ter uma personalidade de Elton, confusa e magoada dentro de si, expressa nas letras que você diria que foram escritas para a própria vida de Elton. Ao longo da evolução das personagens, Elton se transforma no Anjo Caído e Bernie anseia pela simplicidade do trabalho criativo da dupla. Talvez o ator de Bernie, Jamie Bell, pudesse ter explorado melhor esses aspectos na construção da personagem, que ao meu ver ficou bem aquém da construção de Taron Egerton.
Outra cena que pra mim foi marcante – Elton, depois de famoso artista de Rock e milionário, vai visitar seu pai e percebe o como seu pai trata seus meios irmãos diferente da relação que teve com ele. Que afinal para o pai, ele não passa de um cantor de Rock famoso para autografar o disco para seus filhos pequenos. O subtexto no olhar de Taron Egerton é arrebatador e revela a enorme qualidade da construção da personagem.
Por fim, gostaria de dizer que Elton John, o menino Reggie não aceitou ficar no amor cego em seu clã familiar.
Sabia que algo estava muito errado e que poderia levá-lo inclusive a perder seu bem maior: sua vida.
E essa toada do filme é um foco de luz, uma grande esperança pra tantas pessoas que vivem na escuridão do amor cego, que alguém tão perdido, possa encontrar no caminho interno um pai e uma mãe real, buscar a saúde para olhar rumo a um futuro com uma família e filhos e uma carreira que não precisou chegar a morte dessa e nem do artista como tantos astros do Rock ou artistas que acabam em ruína, na morte ou solidão como única possibilidade histórica e biográfica.
Ainda vale dizer que muitas vezes durante Rocketman lembrei de um filme cult que assisti quando criança, apresentado por meu tio Walter Ben que ama Elton John – Pinball Wizard (Tommy no Brasil) – que tem The Who, Eric Capton, Elton John, entre tantas na trilha sonora e que conta sobre um “menino criado no período do pós-guerra na Inglaterra e que desenvolve surdez e cegueira psicológicas, devido a experiências traumáticas na infância. Habilidoso nos jogos, ganha fama como campeão de fliperama, tornando-se ídolo nacional” (pesquisa google). Também fica a dica para assistirem.
Assim faço um convite pra que você assista Rocket Man e volte aqui no meu jardim para comentar nessa postagem suas impressões! Te aguardo! Fique agora com o trailer oficial de Rocket Man.
Minha trajetória na psicologia seguiu o caminho da psicanálise freudiana e neo freudiana. Tem sido um grande aprendizado e quebra de paradigmas, pensar nos conceitos junguianos que a meu ver, ampliam os conhecimentos valorosos da psicanálise de Freud.
O conceito de sincronicidade para Jung, assim como o conceito de Sintonia para Bert Hellinger me assolaram na prática na semana passada.
Estressada com os afazeres do cotidiano como mulher, mãe, aluna e profissional, eu me vi angustiada com minha alegria escondida do meu dia a dia. Minha “rigidez” com uma ação de “correteza” com as coisas , com a vida, com horários, com as pessoas, com minúcias e detalhes, me dá alegria muitas vezes, noutras me coloca sob absoluta tensão. Aprendizado constante de que a vida e a realidade tem seu próprio rumo e que nem sempre ou na maioria das vezes não podemos controla-la.
Pois foi nesse ritmo insano que na mesma semana recebi de uma amiga no Whatsapp, a imagem de uma “mulher borboleta” ou “ fada” na beira de uma cerca a lançar-se sobre a mata, a floresta. Tantas vezes, incontáveis vezes, sonhei com essa imagem.
Para Jung, Sincronicidade é um conceito desenvolvido para definir acontecimentos que se relacionam não por relação causal e sim por relação de significado. Desta forma, é necessário que consideremos os eventos sincronísticos não relacionados com o princípio da causalidade, mas por terem um significado igual ou semelhante. A sincronicidade é também referida por Jung de “coincidência significativa”.
O termo foi utilizado pela primeira vez em publicações científicas em 1929, porém Jung demorou ainda mais 21 anos para concluir a obra “Sincronicidade: um princípio de conexões acausais”, onde o expõe e propõe o início da discussão sobre o assunto. Uma de suas últimas obras foi, segundo o próprio, a de elaboração mais demorada devido à complexidade do tema e da impossibilidade de reprodução dos eventos em ambiente controlado.
Em termos simples, sincronicidade é a experiência de ocorrerem dois (ou mais) eventos que coincidem de uma maneira que seja significativa para a pessoa (ou pessoas) que vivenciaram essa “coincidência significativa”, onde esse significado sugere um padrão subjacente, uma sincronia. Fonte : https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Sincronicidade Wikipedia acessada em 29 de maio de 2019.
Abaixo seguem dois exemplos citados pelo próprio Jung.
“Uma jovem paciente sonhou, em um momento decisivo de seu tratamento, que lhe presenteavam com um escaravelho de ouro. Enquanto ela me contava o sonho, eu estava sentado de costas à janela fechada. De repente, ouvi de trás de mim um ruído como se algo golpeasse suavemente a janela. Dei meia volta e vi que foi um inseto voador que chocava contra ela. Abri-a e o apanhei. Era a analogia mais próxima a um escaravelho de ouro que se pode encontrar em nossas latitudes, a saber, um escarabeido (crisomélido), a Cetonia aurata, que, ao que parece, ao contrário de costumes habituais, se via na necessidade de entrar em uma sala escura precisamente naquele momento. Tenho que dizer que não me havia ocorrido algo semelhante nem antes nem depois disso, e que o sonho daquela paciente segue sendo um caso único em minha experiência.”
“Na manhã do dia 1º de abril de 1949 eu transcrevera uma inscrição referente a uma figura que era metade homem, metade peixe. Ao almoço houve peixe. Alguém nos lembrou o costume do “Peixe em Abril” (primeiro de abril). De tarde, uma antiga paciente minha, que eu já não via por vários meses, me mostrou algumas figuras impressionantes de peixe. De noite, alguém me mostrou uma peça de bordado, representando um monstro marinho. Na manhã seguinte, bem cedo, eu vi uma outra antiga paciente, que veio me visitar pela primeira vez depois de dez anos. Na noite anterior ela sonhara com um grande peixe. Alguns meses depois, ao empregar esta série em um trabalho maior, e tendo encerrado justamente a sua redação, eu me dirigi a um local à beira do lago, em frente à minha casa, onde já estivera diversas vezes, naquela mesma manhã. Desta vez encontrei um peixe morto, de mais ou menos um pé (30 cm) de comprimento, sobre a amurada do lago. Como ninguém pôde estar lá, não tenho ideia de como o peixe foi parar ali.” Fonte : https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Sincronicidade Wikipedia acessada em 29 de maio de 2019.
Não bastasse a sincronicidade da primeira imagem com um sonho recorrente meu, ao assistir uma aula num Congresso online do IJEP – https://www.congressoijep.com.br – onde estudo Arteterapia – https://www.ijep.com.br – recebi a mesma cena, em imagem semelhante, como podem observar na sequência da primeira imagem.
Se pudermos ainda observar uma terceira sincronicidade, nos reportemos ao nome desse blog e minha relação com as mariposas, animal parecido com as borboletas, entretanto maior, mais pesada, de voo mais vagaroso e “sombrio”, que me acompanha por toda minha vida desde a infância.
Também aqui me referi ao conceito de sintonia para Bert Hellinger. No livro Ordens da Ajuda, Hellinger descreve os limites e recursos que um terapeuta ou ajudante precisam estar atento. Ele diz que:
“Sintonia é uma percepção a partir do interior, num sentido amplo. Como a intuição, ela também se direciona para a ação, principalmente para a ação de ajuda. A sintonia exige entrar na mesma vibração do outro, alcance a mesma faixa de onda, sintonize com ele e o entenda assim. Para entendê-lo, também preciso ficar em sintonia com sua origem, principalmente com seus pais, mas também com seu destino, suas possibilidades, seus limites, e também com as conseqüências de seu comportamento e de sua culpa; e, finalmente, com sua morte.” Fonte: https://www.cristinaflorentino.com.br/arquivos/15978 acessada em 29/05/19
Ambos conceitos de sincronicidade e sintonia no caso dessas imagens me trazem o sentimento de uma conexão da vida comigo, de uma comunicação do meu self com meu ego, para me ajudarem no meu caminho e jornada de me conhecer, de me melhorar como pessoa.
Certamente essas sincronicidades e sintonia me acompanharão nas próximas reflexões de meu processo analítico no meu espaço psicoterapêutico/ arteterapêutico.
Você presta atenção nas sincronicidades e sintonias que acontecem no seu dia a dia?
Uma análise critica sobre o horizonte da humanidade nas futuras gerações
Eu e minhas companheiras de Jardim nascemos em uma época em que a internet e os computadores não existiam. A força do rádio e da TV como mídias eram muito mais presentes em nossas vidas. Computadores e o mundo virtual passaram a fazer parte de nossa cultura apenas no fim dos anos 90. Essas reflexões sempre estiveram em nossa relação dialética, fomentando continuamente bons debates. Trago um desses debates nesse ensaio, a qual eu e Magda, no curso de pós graduação em Gestão para a Educação Básica em 2007, na UNIFMU, perspetivamos uma mirada diferente para a geração que iria nos suceder. Obrigada por pousar na flor desse jardim!🌷
Magda Edgmar Rodrigues Rocha Naíme A. Silva
“Considerate la vostra semenza: Fatti non foste a viver come bruti Ma per seguir virtute e conoscenza” Dante, a Divina Comédia
Resumo
Este ensaio traz uma proposta de levantar algumas reflexões sobre os caminhos que a humanidade tem traçado para as futuras gerações. O impacto das novas tecnologias, o avanço das Ciências exatas e Genética, parece nos apontar caminhos que levem a humanidade, ao bem comum. Porém, estes avanços aliados à ganância de poder, capital e exploração humana, podem também levar a incertezas de um futuro não muito promissor. No filme Matrix, o personagem Neo precisa escolher entre tomar pílulas rosa ou azul, para, mais do que escolher as cores destas, definir continuar submerso em um sonho irreal do final do século XX, ou ser o escolhido para travar a batalha na realidade da Matrix e entender que o Contexto em que sua geração nasceu e cresceu não passava de um mero programa de computador. A batalha na Matrix era então para preservar o pouco de humanidade que ainda restava contra a invasão da inteligência artificial criada pela própria humanidade.
A trama do filme Matrix parece estar intimamente ligada ao drama da humanidade em nossa era contemporânea, buscar respostas com o “Arauto”, que coloca enigmas da Filosofia para desvendar quais os caminhos para vencer a dominação da Humanidade sobre sua própria invenção: a ciência e a tecnologia.
Este artigo tem como objetivo discutir e trazer a reflexão o afastamento da Filosofia do cotidiano da humanidade.
A Filosofia antiga revela períodos na historia Grega. Desde o pensamento Naturalista ao buscar o principio unitário de todas as coisas, o pensamento sistemático sob as bases da lógica, da ciência, da metafísica, para o pensamento ético preocupado com as questões morais e o religioso na busca de resolução para os problemas na fé. Deste período Grego da Filosofia antiga para os tempos atuais , percebemos que o “pensar” ainda está restrito a uma “elite” da alma, do espírito, da racionalidade de poucos Seres. No século XX e XXI, temos em Husserl, Heidegger, Nietzsche e Freud, questionamentos sobre os fenômenos e valores, nossa existência e da importância da nossa sexualidade para construção do self.
No entanto, toda esta elaboração refinada e rebuscada da compreensão humana, do pensar sobre o conhecimento, a ética, a moral, não parece refletir de forma mais sólida e intensa em nossa contemporaneidade.
A Filosofia como dúvida, investigação, busca de um bem comum e da preservação da vida, nos parece ter sido relegado a poucas “mentes brilhantes”.
A Filosofia deveria estar presente em nosso cotidiano, nas coisas mais simples, na infância, na juventude, com anciãos. Acreditamos que este entendimento seria uma forma de levar a humanidade como um todo a busca da harmonia entre conhecimento construído e a cultura popular, entre a Ciência , tecnologia, arte, ecologia, na busca da felicidade em meio a diversidade em todos os níveis. O resgate do sentido do tempo e do trabalho para o bem comum, do trabalho como forma de realizar cultura.
Este artigo pretende defender a idéia de que se faz urgente o espaço para o pensar de forma consciente sobre que existência desejamos ter no futuro.
Discussão
No mundo atual, nos parece que a humanidade tem uma lógica utilitária e funcional diante da vida. Esta lógica também parece trazer a ilusão de que se algo não nos serve, devemos eliminá-la. E assim vamos destruindo tradições culturais, reservas ecológicas, espaços de convivência, e no lugar disso, colocamos conhecimentos destituídos de sentidos, busca incessante de consumo que supra nossas inquietações psicológicas, espirituais e mais do que isso, destruímos na realidade, nossa ligação com o ecossistema, com o ciclo da vida.
No mundo ocidental, nos centros urbanos, nas grandes metrópoles que detém o monopólio do conhecimento cientifico e da economia predominante, da produção que sustenta a todos; as crianças têm pouco ou quase nenhum contato com o ciclo da vida. Tudo parece produzido de forma mágica até ser retirado de uma prateleira nos supermercados. Estas mesmas crianças há algumas gerações, acompanham seriados e desenhos animados na televisão e cinema que numa concepção hollywoodiana determina que sempre haverá aqueles que querem dominar o mundo pelo desejo de poder, ciência e consumo.
Ortiz (1999):
Estrelas de cinema, ídolos de televisão (hoje projetados mundialmente pela TV a cabo e pelo satélite), marcas de produto, são mais do que objetos. Trata-se de referências de vida. As viagens de turismo, as visitas à Disney World, as férias no Caribe, a freqüência aos shopping centers, os passeios pelas ruas comerciais fazem parte de um mesmo imaginário coletivo. Grupos de classes médias mundializadas podem assim se aproximar, se comunicar entre si. Eles partilham os mesmos gostos, as mesmas inclinações, circulando num espaço de expectativas comuns. Neste sentido, o mercado, as transnacionais e a mídia são instancias de legitimação cultural, espaços de definição de normas e de orientação da conduta. Sua autoridade modela as disposições estéticas e as maneiras de ser. Da mesma forma que a escola e o Estado se constituíram em atores privilegiados na construção da identidade nacional, as agencias que atuam num nível mundial favorecem a elaboração de identidade desterritorializadas. Como os intelectuais, elas são mediadores simbólicos.
As crianças neste sentido, parecem ser adestradas desde muito pequenas a acreditar que a felicidade é obter coisas, numa concepção que é mais valoroso TER do que SER. E que para tanto é necessário dispensar de disputa, violência, egoísmo e poder. Marcuse (1973) enfatiza:
Bertolt Brecht notou que vivemos numa época que parece crime discutir sobre uma árvore. Desde então, as coisas pioraram muito. Hoje, parece crime falar meramente sobre mudança, enquanto a sociedade em que vivemos é transformada numa instituição de violência. (p. 128).
A mídia e as tecnologias revelam uma nova situação para o final do século XX e inicio do século XXI: o tempo e o espaço andam paralelamente e operam em dois campos, o real e o virtual. Mas nesta lógica não é impossível afirmar que o virtual tem substituído com cada vez mais força o real. Em Marcondes Filho (2002) encontramos:
Mas o acoplamento simultâneo de dois mundos leva, necessariamente, à degradação de um deles, indubitavelmente, do mundo antigo, do mundo-base, do mundo – referencia para todas as construções no mundo dos espaços virtuais: entramos na civilização do esquecimento. (p.137).
O final do século XX e inicio do século XXI traz uma variedade de filmes na Industria cinematográfica que parece apontar um futuro para a vida da humanidade. No século XX, na década de 70, o seriado para a TV, Jornada nas Estrelas e o desenho animado Jetsons mostra um aparato tecnológico traçando uma ordem futurística como ficção científica. Em jornada nas estrelas, já havia celulares, computadores super avançados, com veiculação de comunicação pela imagem por meio de câmera em telas gigantes e teletransporte. Anos depois, acompanhamos a invenção dos celulares, web cam e outros aparatos de alta tecnologia. Em Blade Runner no inicio da década de 80, as telas de cinema nos trazem os replicantes, seres-máquina que possuem sentimentos e são escravizados em estação intergaláctica. Em contrapartida, a década de 90, a Ciência traz estudos do genoma, células- tronco e clonagem de seres humanos.
Mezan (1987) ao citar Freud afirma:
Os cientistas são, como afirma em O Futuro de uma Ilusão, os servos do Deus Logos,cuja voz, por apagada que seja, é insistente e não descansa enquanto não se faz ouvir. “Nunca pude compreender porque deveria envergonhar-me de minha origem ou, como já começava se dizer então, de minha raça. Renunciei, pois, sem grande emoção a conacionalidade que me era negada. Pensei, com efeito, que para um zeloso trabalhador sempre haveria um lugar, por modesto que fosse, nas fileiras da Humanidade laboriosa…”(p.48)
Na América, na maioria das grandes metrópoles, há um aumento populacional que se espreme geograficamente, dando espaço a uma selva de concreto. O capital nas bolsas de valores é moeda virtual que determina para quase todo o planeta a economia no mundo Globalizado. As pessoas se alimentam vorazmente em fast-foods, apresentando altos índices de obesidade mórbida, e problemas cardíacos. Aterros sanitários já não dão mais conta da quantidade de lixo produzido e não aproveitado e o lixo atômico também é cada vez maior na atmosfera. Em nome e sob um discurso pela liberdade, a América prossegue insana levando as nações a acreditarem que somos criadores e a tudo podemos e não criaturas da Natureza e como parte dela, a preservando, nos preservaremos e nos perpetuaremos. O ciclo da vida perde-se neste caminho. Concordamos com Marcuse (1973):
O fetichismo do mundo de mercadorias que parece tornar-se mais denso dia a dia, só pode ser destruído por homens e mulheres que despedaçaram o véu tecnológico e ideológico que oculta o que está acontecendo, que encobre a realidade insana do todo – homens e mulheres que se tornaram livres para desenvolver suas próprias necessidades, para construir, em solidariedade, seu próprio mundo. O fim da coisificação é o princípio do indivíduo: o novo Sujeito da reconstrução radical. E a gênese desse Sujeito é um processo que desintegra a estrutura tradicional da teoria e pratica radicais. (p.127).
Os produtos globalizados são muitas vezes produzidos pela vergonhosa exploração da força de trabalho de crianças e jovens, de homens e mulheres trabalhadores rurais, que humildes, não possuem informação e nem reflexão sobre o domínio de suas vidas, sem saber que são vitimas da mais valia tão falada pelo materialismo dialético de Marx. Esta dialética também foi apontada por Hegel: (…) Na fenomenologia do espírito, Hegel nos fala de uma dialética do senhor e do escravo, que o Ser do escravo encontra-se alienado no Ser do senhor. (apud ORTIZ, p. 78, 1999).
O desequilíbrio ecológico tem deixado pistas de que o planeta não vai bem. A água potável tem tempo de vida, o buraco na camada de ozônio tem se ampliado, a Amazônia tem sido devastada cada vez mais a cada nova década. Nos centros urbanos não há predadores na cadeia alimentar. E assim convivemos com o aumento da população de ratos, baratas e insetos transmissores de epidemias. Marcondes Filho (2002):
Os novos espaços, tanto os concretos espaços ciderais, objetos da nova Marcha para o Oeste, como as comunidades “ realmente inexistente” das cidades eletrônicas virtuais relêem o mundo e dão vazão às fantasias numa era em que o planeta vai ficando cada vez mais a mercê de si mesmo, cada vez mais espaço de dejetos de todos possíveis, desde o lixo atômico, os alimentos envenenados, o ar irrespirável, os solos contaminados, até as próprias massas humanas desalojadas, abandonadas, sumariamente liquidadas em guerras limpas. A própria revolta, o protesto, a indignação estão estruturalmente dependentes das tecnologias em tempo real. (p. 137-138).
Mas tudo parece continuar no plano da invisibilidade, multidões de miseráveis também são tratados como ratos repugnantes e na sua grande maioria são negros. Segundo Ortiz (1999) em um Outro território: ensaios sobre a mundialização:
[…] a América cada vez mais se vê como uma composição de grupos, mais ou menos irradicáveis em seu caráter étnico. O dogma multiétnico abandona o propósito da historia, substituindo a assimilação pela fragmentação, a integração pelo separatismo. […] O todo encontra-se estilhaçado, o centro ameaçado pela desunião. Não é o julgamento de valor implícito no diagnóstico de Schlesinger – a busca pela organicidade perdida da nação-, que me parece mais interessante. Mas o retrato de um povo que, no passado recente, possuía uma auto estima de si mesmo. Ele não revela apenas a face de um único país. Trata-se de uma condição do mundo contemporâneo. Isso não significa que a sociedade se descompôs – os países continuam funcionado em todo os seus níveis -, ou que o Estado-nação se diluiu no enfrentamento desses vetores identitários. Mas mudou o contexto. No seio da sociedade moderna, industrial ou pós-industrial, surge um leque de referentes que se atravessam, se chocam, se acomodam, organizando a vida dos homens.
Atribuímos tamanha invisibilidade, e essa apatia coletiva ao distanciamento da convivência em comunhão que dava aos antigos sentido à vida, ao distanciamento da tradição cultural, a não reflexão sob as bases da Filosofia.
A Filosofia é vista como um conhecimento para poucos, para os “cultos”, que não é prática, não leva a nada e a lugar algum. No mundo contemporâneo, todos têm medo da dúvida, não há tempo para a contemplação. Talvez seja uma atitude para “loucos”. Dominados pelo desejo e pela paixão, os seres buscam o prazer imediato, apagando as tradições culturais do passado e não refletindo sobre o futuro. Sem planejamento e cuidado às futuras gerações. Em Nietzsche (1887) podemos refletir:
Como é necessário que o homem, para dispor assim de antecipação do futuro, tenha começado por aprender a separar o acontecimento necessário do fortuito, a pensar de maneira causal, a ver o distante e a antecipar-se a ele como se estivesse presente, a fixar com segurança o que é objetivo, o que é meio para atingi-lo, de maneira geral a calcular, a saber calcular- como foi necessário que para isso o próprio homem se tivesse primeiramente tornado calculável, regular, necessário, até em sua própria representação de si, para chegar desse modo a poder, como o faz um ser que promete, estabelecer-se como garantia de si mesmo como futuro. (p. 56-57).
O filme Matrix, apresentado no final do século XX, revela para o novo século um mundo irreal, programado, submerso no lixo das máquinas que dominam a humanidade. Também aponta que só um retorno ao pensamento filosófico seria capaz de deter um possível esgoto de tecnologia, a Matrix. Marcondes Filho (2002)enfatiza:
Ciberespaço é o espaço criado na era tecnológica. Espaço novo, desconhecido nos 2.500 anos anteriores de cultura ocidental, inexistente materialmente, para onde ninguém pode se dirigir caminhando, de carro ou de avião. O único meio de acesso é a tela do computador. Isso leva a supor que a tela é, ao mesmo tempo, uma porta, um buraco, que, como um túnel, nos faz chegar ao novo mundo. Como um holograma, é plano, mas tem múltiplas dimensões. Curiosamente, é um espaço paradoxal, pois nele se entra, permanecendo-se no mesmo espaço físico anterior. Fica-se assim, de uma só vez, em dois mundos paralelos em que comutamos como se se tratasse de duas vidas separadas. (p. 136).
O mundo virtual chegou para ficar. Num primeiro momento chegou de maneira anárquica, subversiva, oferecendo a sensação de liberdade de pensamento, sem restrições, sem censura e formando uma rede de informações, de comunicações, de possibilidades. Mas também fez das pessoas escravos de sua aparente liberdade, talvez numa solidão coletiva. Também coloca às pessoas uma nova linguagem, uma outra lógica, uma nova compreensão sobre o corpo real e um corpo sem massa corpórea, o virtual . Brinca com o tempo e com o espaço, deixando as pessoas à mercê de seu jogo hipnótico. E a WEB, lugar possível e realizável, também exclui um número grande de pessoas que mal aprenderam ainda a lógica cartesiana da “rudimentar” leitura e escrita em papel, tipografada. Marcondes Filho (2002):
Comutar com o mundo virtual significa transferirmos-nos “fisicamente” para outro espaço, um espaço não – concreto. No passado, isso era feito mediante as formas da fantasia, nos passeios do imaginário. Mas eram sempre caminhadas individuais, solitárias, não compartilhadas. O inovador neste novo território é que ele não é imaginário; é real, mas não é concreto, é proter real, ao lado do real, como se diz de Quéau. É múltiplo, social, não é produto de minha fantasia isoladamente. Ele existe. (p. 137).
Desta forma, o mundo virtual determina e controla nosso cotidiano sob várias formas: como em nossas contas bancárias, cartões de crédito, meios de transporte… A era do Terror ( ismo) parece ter acrescido de estratégias tecnológicas ainda mais avançadas esta lista de controle do mundo virtual em nosso cotidiano.
Mesmo coisas simples da vida cotidiana obrigam e escravizam a todos a utilizarem o mundo virtual.
Dialética do senhor e do escravo. Segundo Hegel, o senhor arrisca sua vida na luta e, ao vencê-la, torna-se senhor. O escravo, com medo da morte, nada arrisca, aceitando por isso sua condição de escravo, o que o torna algo como uma “coisa” nas mãos do senhor. Contudo, na relação entre os dois um movimento dialético inverte os papéis: desaprendendo a fazer as coisas, o senhor torna-se dependente delas, vira escravo do escravo; já o escravo torna-se senhor delas, por poder dominá-las, e, com isso, senhor do senhor. Além do mais, o senhor não se realiza plenamente, pois o escravo, “reduzido a coisa”, não constitui o pólo dialético adequado para o senhor. O escravo parte do desejo: o desejo é uma forma de negar o mundo, e seu verdadeiro fim é a afirmação da consciência. A subjetividade só se afirma na medida em que o desejo se apóie sobre uma outra consciência, isto é, um outro desejo. Para cada consciência em si mesma, a outra é a negação de si, e esta negação se exprime por uma luta mortal. Aceitando o devir escravo para preservar sua vida, um dos dois reconhece o outro como senhor; segue-se que ambos se reconhecem como outros, nenhum tem de fato consciência de si; ela não se conhece a não ser na alteridade. Cf. Hegel, A fenomenologia do espírito.
O retorno e aproximação da formulação do pensar em contemplação com a natureza, na filia, no exercício pela busca da felicidade é uma necessidade para homens e mulheres, convivendo em comunhão e harmonia consigo, com o(s) outro(s), com todas as formas de vida. Não seria possível conciliar esta forma de existir com os avanços da Ciência e da Tecnologia? A humanidade por meio de reflexões e prazer por sua cultura não poderia repensar sua forma de contar o tempo, de qual sentido há nele e no espaço para a existência individual e comum? Qual legado humano será deixado às futuras gerações?
O estudioso de Psicanálise Mezan (1987) nos aponta:
Investigação, portanto, das origens, do sentido do oráculo, que implica um desvendamento paulatino do passado e termina com a reconstrução da trajetória do individuo com um “tu és isto”, como diz algures Jacques Lacan. (p.57).
A tecnologia, porém, não possui algumas questões puramente humanas: o enigma da morte, a criação de mitos e Deuses, a fé, a espiritualidade.
Esta capacidade moral, cultural, o controle dos impulsos mais primitivos da alma humana são possibilidades que a humanidade ainda dispõe para harmonizar e dar sentido a existência em consonância a construção do conhecimento das Ciências e tecnologia, voltadas ao bem comum.
Conclusão
Este pensamento imediatista do século XX nos leva a questão: Qual o futuro da humanidade? Seria possível aliarmos Ciência, tecnologia e reflexão filosófica de maneira mais coletiva? Seria possível preservarmos nossos bens naturais ecológicos? Qual o caminho da humanidade? Como trazer a Filosofia a luz da Educação que em essência deveria ser seu lugar? Como libertar as mentes humanas das amarras do pensamento funcionalista, positivista, cartesiano? Como podemos refletir de maneira mais coletiva, a nossa participação como ser vivo mais importante do planeta, porque dotado de alma, poder referenciar-nos na harmonia do cosmos? Como construir filia, esta intimidade na amizade e na reflexão sobre a ética como bem viver, voltado à felicidade e à virtude? Como desconstruir a idéia de que nascemos para ter e não para ser? Como cuidamos da infância de nossos filhos e netos? Qual geração está se formando? Qual humano está originando?
O que haverá se não houver de fato uma contra ordem, uma desobediência contra qualquer forma de opressão da vida humana biológica, mental e espiritual? Marcondes Filho (2002) enfatiza como vivemos nessa era:
A virtualização – como as máquinas da inteligência artificial – é um tipo de limpeza, depuramento, salvação da espécie. Já que não conseguimos resolver nossos problemas terrenos, já que a revolução não vingou, já que as esperanças de transformação da humanidade estão fora de moda, o homem ainda tem uma chance: pode se depurar nas tecnologias. É o pensamento técnico que expulsou do âmbito do possível todas as outras formas de pensar, todos os outros modos de se revelarem as coisas, que não seja o técnico. O virtual é a nossa redenção. (p. 137)
Como vamos trazer a luz estas reflexões em nossa realidade local? Em nosso contexto cotidiano? Parece-nos que um dos grandes desafios é trazer para o âmbito da Educação este debate da Filosofia como o farmacon, um remédio para a mentes sob o véu do obscurantismo, da violência, da degradação de nossa espécie.
Referências Bibliográficas
DANTE, A. A Divina Comédia. Inferno, Canto 26, versos 118, 119 e 120.
DUSSEL, Enrique. Ética da Libertação: na idade da globalização e da exclusão. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 2002.
MARCONDES FILHO, Ciro. O espelho e a mascara: o enigma da comunicação no caminho do meio. São Paulo: Discurso Editorial; Ijuí: Editora Unijuí, 2002.
MARCUSE, Herbert. Contra- revolução e revolta. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1973.
MEZAN, Renato. Sigmund Freud: a conquista do proibido. 5 ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.
NIETZSCHE, F. A genealogia da moral. São Paulo: Escala.
ORTIZ, Renato. Um outro território: ensaios sobre a mundialização. 2 ed. São Paulo: Olho D’ água, 1999.
Esse ensaio foi escrito na Pos Graduação Lato Sensu em Gestão Escolar para Educação Básica para a transformação do cargo de Diretora de Equipamento Social para Diretora de Escola, na UNIFMU, em 2007, nas aulas de Filosofia do Prof João Luiz Muzinatti. Magda Edgmar e eu gostávamos de refletir sobre os rumos que o mundo globalizado haveria de tomar, quais crises haveriam de lhe acometer e quais impactos tecnológicos permeavam esse mundo cheio de ambiguidades. Para essas reflexões, escrevemos esse artigo e ainda outro que denominamos “Em tempos de Matrix””, que você poderá ler, após essa publicação.
Magda Edgmar Rodrigues Rocha Naíme Silva
Uma análise critica sobre a perda da identidade humana na Globalização
Resumo
Este ensaio traz uma proposta de analisar as relações humanas no contexto da Globalização. Apresentando as contradições quanto ao discurso do respeito à Diversidade, Direitos Humanos e integração das nações na dita Aldeia Global, em contraponto a realidade vivida de isolamento e impossibilidade de existência humana, exclusão das diferenças, fragmentação social, incentivo agressivo ao consumo, exploração da força de trabalho de trabalhadores e perda da identidade exposta neste como idéia denominada de “Não Lugar”. Este trabalho também traz questões para fomentar o debate sobre o futuro da Globalização no contexto do Capitalismo.
Palavras-chave: Não lugar; identidade; existência; aldeia global.
Introdução Este artigo tem como objetivo analisar e discutir as estratégias de construção de padrões de comportamentos, que são detalhadamente examinados e impostos por um pensamento ideológico – cientifico/burguês-, numa chamada cultura de massa e de comunicação de massa, que imputam às classes populares em sociedades capitalistas e globalizadas a não expressão do “eu”, da não existência humana. Segundo George Simmel (…) dentro do contexto da luta de classes, o conceito de cultura de massa aniquila até mesmo a prática reformista como uma expressão da organização da classe operária e só permite a mudança por intermédio de elites e conhecimento especializado.(apud SWINGEWOOD, 1978, p. 99).
Discussão
O mundo contemporâneo, num processo das denominadas civilizações em progresso, dentro do contexto da aldeia global, traz-nos um discurso posto de uma rede de interações mundial. Neste, pessoas de qualquer parte, podem ter comunicação como se vivessem numa aldeia, com informações sobre os fatos ocorridos naquele momento e veiculados em tempo real para qualquer parte do Globo, bem como obter bens de consumo de qualquer parte do planeta, criando a ilusão de obtermos o Mundo as nossas mãos de forma imediata. Benko (2002) enfatiza nesta afirmação:
Os excessos de espaço, de tempo, de acontecimentos, de informações, tiveram conseqüências. Há 50 ou 100 anos, não se tinha todos os dias a sensação de estar na história. Hoje, o rádio e a televisão dão a impressão de que ocorrem acontecimentos de importância histórica todos os dias. Temos a história ao nosso alcance. Instala-se uma confusão entre a história e a atualidade. Esses três excessos de tempo, de espaço e de acontecimentos, infundem a sensação de uma perda do sentido. Ora, o que é novo não é que o mundo tenha pouco ou muito sentido, mas que sentíamos todos os dias a necessidade de lhe dar um. Outrora, em sua aldeia, o sentido se evidenciava por si mesmo. Hoje, somos chamados a dar um sentido a tudo, do terrorismo no Peru ao islamismo na Argélia. (apud SANTOS, p.248).
As “endeusadas” marcas de roupas e sapatos num mesmo modo de se vestir, o mito do superestar, o sentimento quase que obrigatório de se obter bens de consumo padronizados, o distanciamento da idéia dos alimentos como produto extraído da natureza pela força de trabalho de alguém, parece tecer uma rede não identitária na comunidade mundial. Marx (1867) afirma em sua teoria do materialismo dialético:
A recente descoberta científica, de que os produtos do trabalho, enquanto valores, são [objectiva] pura e simplesmente a expressão do trabalho humano gasto na sua produção, marca uma época na história do desenvolvimento da humanidade, mas não dissipou de modo algum a fantasmagoria que faz aparecer o carácter social do trabalho como uma qualidade das coisas, dos próprios produtos. O que é verdadeiro apenas para esta forma particular de produção, a produção mercantil – a saber, que o carácter [especificamente] social dos mais diversos trabalhos [privados, independentes uns dos outros], consiste na sua igualdade como trabalho humano, e reveste uma forma objectiva, a forma-valor dos produtos do trabalho -, isso parece aos olhos dos homens imersos nas engrenagens das relações da produção de mercadorias, hoje como antes daquela descoberta, tão definitiva e tão natural como a forma gasosa do ar que permaneceu idêntica mesmo depois da descoberta dos seus elementos químicos. (vol. 1, seção 4).
Também nos parece que o padrão social mais aceitável de “ser e estar” estabelece a possibilidade de existência apenas para: homens, brancos, católicos, jovens e para uma elite burguesa com alto poder de compra e com repetitivos comportamentos bem adestrados, por um pensamento da aldeia global em foco. Analisamos que estes mesmos homens, brancos, católicos, jovens e porque não a própria elite burguesa dentro do Estado Democrático de Direito, defendem um discurso pelas minorias excluídas, em defesa das diversidades étnicas, de orientação sexual, pela igualdade de gêneros e pelos Direitos Humanos fundamentais. Esta contradição parece-nos não ser um ponto de reflexão para as minorias excluídas e dominadas pela lógica da aldeia Global. Mas também nos parece que ela é sentida subliminarmente e expressa pela violência urbana observadas por todo o Mundo nas grandes metrópoles. De acordo com Santayana (2002) em seu ensaio “O século XXI e o desafio das etnias”:
Teóricos da exclusão do outro, como os racistas modernos, pretendem, ao contrário, reduzir o mundo à tribo, mesmo que esta redução se manifeste na expansão territorial e na submissão dos outros povos, cuja identidade pretendem eliminar, ao impor aos dominados os seus próprios valores, e destruir os valores que tenham. […] quanto menos confiante é o homem em sua força essencial , mais nele se acentua o sentimento agressivo. (apud SANTOS, p. 321-323).
No documentário, Ônibus 174 (2002), Sandro, o ator da vida real, revela com seu grito social, num palco da representação da exclusão cotidiana carioca e brasileira, a situação dos adolescentes em drástica vulnerabilidade social. Vitima do terror da Chacina da Candelária, posteriormente transforma-se no seqüestrador do ônibus 174 de pessoas que como ele, também são vitimas da exclusão, exploração e decadência do capitalismo selvagem. O filme é provocador, no sentido de trazer a luz da reflexão, sobre uma sociedade que escolhe algozes e marginais na indústria da violência, mas que na verdade, não passam de vitimas desta mesma realidade perversa.
Os filhos das classes populares têm a violência como cultura no universo cotidiano, devolvendo a sociedade esta cultura como forma de expressar todo seu repúdio contra o “ Não Lugar”.
No Brasil, esta “ditadura” do consumo nos remete ao Dossiê Universo Jovem 3, pesquisa encomendada pela MTV que entrevistou 2.359 jovens das classes A, B e C das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador e Porto Alegre, sob a coordenação de Ione Maria Menes:
O Dossiê utilizou os mesmos seis perfis comportamentais da primeira pesquisa, realizada em 1999, que variam entre “Antenas do Tempo” (19%), jovens de melhor nível social,ligados às novidades tecnológicas e mais liberais; “Novas Posturas” (11%), que refutam o consumismo, assistem menos TV e são politicamente corretos; “Sonhando com as alturas e lutando nas bases”(17%), que têm menos dinheiro, desdenha a importância do voto, sonha com a fama e se considera “mais ou menos feliz”; “Vivendo intensamente “(16%), dedicados à busca do prazer pessoal imediato e a adiar ao máximo as responsabilidades; “Arranhados pela vida” (21%), a parcela mais desiludida e sem perspectivas, que gostaria de ter mais dinheiro e liberdade e tem na TV sua principal fonte de informação e lazer; e finalmente os “Solidários” (15%), com perfil mais conservador, religioso e moralista, com maior atuação social e consciência política. Os entrevistados definiram sua geração usando palavras como “vaidosa” (37%), “consumista” (26%), “acomodada” (22%) e “individualista” (22%), e os dados da pesquisa confirmam essa visão um tanto pessimista sobre a juventude brasileira. No quesito Vaidade, o jovem brasileiro parece dar muito valor à aparência: 60% acreditam que pessoas mais bonitas têm mais oportunidades na vida, e cerca de 15% dos jovens entrevistados declararam que estariam dispostos a ser 25% menos inteligentes se pudessem ser 25% mais bonitos? (…) A evolução dos dados entre a pesquisa de 1999 e a atual revela o crescimento vertiginoso da tecnologia no cotidiano da parcela mais abastada da população jovem: celulares (de 19% para 71%), computadores (de 22% para 46%) e o acesso à Internet (15% para 66%). Cerca de 79% dos jovens usam o “torpedo” do celular para falar com os amigos, e a avalanche de blogs e fotoblogs não passa despercebida pela geração plugada na Web: 79% dos jovens sabem o que é Blog, 77% sabem o que é Fotoblog, 48% já passaram pelo o Orkut, a principal rede de relacionamentos da Internet, e 43% usam o Messenger, programa de mensagens instantâneas da Microsoft. (MIDIATIVA, 2005).
Esta não possibilidade de existência ocorre na intimidade das famílias, nas escolas regulares, nas universidades, nas empresas, nas igrejas, nos meios de transporte, e nos remete a idéia do “Não Lugar”. O “Não Lugar” é onde só se pode existir com uma máscara de gesso, provavelmente “comprada” por todos os membros da Aldeia Global como uma forma aceitável e desejável de existir.
Nas famílias de camadas economicamente desfavorecidas a dominação da TV, do homem sobre a mulher e crianças retrata a idéia do não lugar. As crianças não têm espaços para brincadeiras, a mulher tem dupla jornada de trabalho e o homem oprimido tem como único lazer o futebol. Ninguém escolhe. Tudo está mecanicamente orquestrado. E pela manhã bem cedo, o ritual e correria para iniciar a jornada de trabalho, muitas vezes informal, parecem levar todos a um cotidiano esvaziado de sentidos.
Nas Escolas e Universidades, públicas e/ou privadas, o Não lugar também tem seu espaço. Grades curriculares centradas em conteúdos transmitidos em curto espaço de tempo com prazos mínimos não apontam para o mesmo discurso de qualidade destas Instituições. A escola bancária de Paulo Freire não leva os educandos ao pensar. O Educando muitas vezes é preparado para um vir a ser. Ele ainda não é. E muitas Universidades com sua concepção tecnicista/funcionalista, apontam a necessidade de uma Educação para construir Empreendedores.
Nas Empresas de grande Porte, ainda ocorre com agressiva agilidade a troca da força de trabalho por alta tecnologia. E nas empresas de pequeno porte surge o impacto da terceirização do trabalho, destruindo assim direitos trabalhistas já conquistados.
As religiões, em especial as religiões cristãs, colaboram para produção da alienação humana, com o mesmo discurso em defesa dos humildes e excluídos, mas determinando regras de organização de suas vidas, de seu corpo e de sua alma em nome da fé de seus seguidores. Mas a relação mercadológica é fortemente presente nesta relação com a fé.
Noutra perspectiva, na cidade de São Paulo, o meio de transporte, direito constitucional de ir e vir, é um dos meios mais caros de conseguir chegar ao trabalho. Mesmo com altos preços não há quantidade de transportes suficiente para ofertar a população paulistana. Considerando assim os trabalhadores como “gado”, ônibus e metro estão sempre abarrotados de pessoas que mal levantam seus olhares aos outros passageiros, cansados das pesadas jornadas de trabalho e para muitos somados dupla jornada aos bancos escolares.
“Trabalho e linguagem são os dois modos que os humanos têm de continuar sendo humanos, ou seja, de gerar e gerir significados. Significar é humanecer”. (Codo, 2005). Nesta afirmação, Codo levanta uma reflexão, aqui contextualizada como “Não Lugar”, onde não há existência autêntica e cujas relações de trabalho perderam total significado. Trabalho, lazer e companhia de uns com os outros perdeu o significado de cultura, para que em seu lugar tenha espaço um bloco de fazeres sem a produção de sentidos. Um espaço onde o tempo e lugar não são para a produção de sentidos no encontro das pessoas, apesar de vivermos numa aldeia global, mas para que cada vez mais haja o isolamento, a exclusão e o anonimato de sua condição não aceitável. Ainda neste sentido, apontamos uma contradição no discurso daqueles que defendem a Globalização. Como os Vírus HIV e/ou HVC que para manter sua vida, acaba muitas vezes matando o hospedeiro que lhes preserva a vida, o Capitalismo com seu filhote globalizado parece seguir a mesmo lógica.
No documentário “Brasil, muito além do cidadão Kane”(1993), produzido pela BBC de Londres, podemos perceber claramente a produção ideológica historicamente construída em nosso país. A TV Globo, expressa como Mídia de forte poder no comando dos rumos da Política Brasileira se oferece como comunicação de massa criando o “Não Lugar” na intimidade das famílias brasileiras.
O “Não Lugar” ganha força sobre várias formas de exclusão e não existência. Neste ponto em particular, onde a comunicação de massa é agressiva e imperativa como no “plim-plim” que invade nossas casas, tem o objetivo de emudecer as bocas, criar o mundo mágico da ilusão, tecer o véu de um mundo inatingível e desejável das novelas e seus mitos. Uma afirmativa que conclui o documentário “Brasil, muito além do cidadão Kane”(1993) merece destaque: (…) A Globo começou a dominar o Brasil na ditadura militar. Manteve o silencio sobre as verdades do regime. (…) Será que a Globo poderá se libertar desta herança? Ou será que o Brasil poderá se libertar da Globo?
Ferrara nos aponta em seu ensaio: (…) o imaginário é uma característica da organização social: sua identidade ou sua mascara. Verdade ou mentira, real ou manipulado, o imaginário nos diz menos sobre si próprio do que sobre a sociedade que o constrói. (apud SANTOS, 2002, p. 46).
Conclusão
Nossa analise critica sobre o processo de Globalização formado pela concepção ideológica e política capitalista não é otimista.
A ilusão de que basta sermos fortes, determinados e empreendedores para obtermos sucesso é uma forma do Capitalismo “canibalizar e travestir” sua real intenção de massificar identidades, culturas, existências, de perpetuar o domínio de poucos sobre milhões, de destruir o planeta. Os humanos, quase sempre desumanizados perdem a sintonia com a natureza, com o outro, com sua unidade de existência.
O que a historia revela, é que no momento ou em períodos de catástrofe, o Não Lugar, em algumas pessoas ou lugares da Aldeia Global dá espaço ao lugar, a solidariedade, a existência, a coletividade real. Mas ao mesmo tempo, no contraponto, a catástrofe gera o espetáculo, o sensacionalismo, a produção dos Mitos, a ilusão.
A coisificação humana que gera a idéia do Não Lugar nos parece resultar um sentimento de que Deus é o MERCADO, Deus é o CAPITAL. Aqueles que não servirem a Deus não terão direito a um pedaço do Céu. Ficarão excluídos da paz e da felicidade eterna. Não será esta lógica também uma ilusão? O capitalismo por meio da Globalização, não está traçando seu próprio fim? Qual será o futuro de uma Aldeia Global desumanizada ou pouco humana, nos vários Não Lugares?
Estas questões têm a finalidade de colocar, fomentar e ampliar o debate para aqueles e aquelas que também sentem sua essência ameaçada em suas diferenças individuais e em suas interações humanas no Não lugar da Aldeia Global.
Referências Bibliográficas
BOSI, Ecléa. Cultura de massa e cultura popular: leituras operárias. 9 ed. Petrópolis: Vozes, 1986.
ECO, Umberto. Apocalípticos e integrados. 5 ed. São Paulo: Perspectiva, 1998.
GENTILI, Pablo (org.) Globalização Excludente: desigualdade, exclusão e democracia na nova ordem mundial. Petrópolis, RJ: Vozes; Buenos Aires: CLACSO, 2000.
HARTOG, Simon. Brasil, muito além do cidadão Kane.BBC – canal 4: Londres, 1993. Documentário, (93 m).
Olá! Sou Naíme, antes de tudo, uma pessoa que acredita na vida e por amar as pessoas, meu olhar traz um jeito de ver o mundo baseado no que um montão de gente também viu. Epicuro, um filósofo pre- socrático que defendia a Ética permeada pela construção do conhecimento filosófico na amizade, que ele denominou de Jardim de Epicuro. Jardim, porque reunia amigos que escreviam textos, cartas, poemas e afins e nisso buscavam um profundo prazer no conhecimento e na amizade.
Desde criancinha, eu era habitada pela imagem das mariposas que me acompanharam de muitas formas e em muitos momentos até os dias de hoje. No imaginário popular, há quem jure que essas mariposas grandes e escuras, amarronzadas, acizentadas ou negras são a presença de mal agouro, chamando-as até de bruxas. Para Xamãs, ela poderia ser meu animal de poder, manifestando-se para me sinalizar um caminho.
Para mim, muitas vezes que dela senti temor, respeito e admiração, ela representa meu conteúdo sombrio, que precisou ao longo de meu processo terapêutico ser integrada ao meu self, como um lado meu que sempre perseguiu as transformações, a metamorfose.
Aqui nesse blog, eu te convido então para meu Jardim: o Jardim da Mariposa. Cantinho simples, onde vou expor minha subjetividade, partilhar minhas reflexões, ensaios, artigos, poemas, desenhos, modelagem, contar sobre minhas pesquisas. Além disso vou expor aqui um conteúdo de minha carreira artística, acadêmica e profissional ao longo dos últimos 35 anos de muita flor desse jardim e muita gente amiga que junto comigo fez muita coisa bacana. To te esperando, junte-se ao meu jardim!