Uma busca eterna pelo crescimento espiritual e pela Sabedoria

Há algum tempo, eu venho querendo escrever sobre minha jornada rumo a Filosofia, mas as coisas sempre acontecem quando têm de acontecer e esse dia chegou. Então venho aqui contar pra vocês desde quando e como vejo essa minha trilha em busca de uma evolução espiritual pela Filosofia.

Quando eu ainda era bem pequenina eu me encontrava em pensamentos sobre quem eu era, porque estava viva, porque havia nascido onde nasci, filha de quem eu era e o que de fato representava a vida que me habitava.

Cheguei a pensar que todas as pessoas do mundo eram seres minúsculos que habitavam um Grande SER e dentro do corpo Dele fazíamos tantas cidades, tantos países, tantos Universos. 

Contemplava por horas os formigueiros de nosso quintal e pensava que de fato aquelas formigas, viviam sua vida sem sequer darem-se conta de que haviam tanto além delas, e que por mais que eu aproximasse meu rosto bem pertinho do formigueiro, elas não me enxergariam, não teriam medo de mim, nem sabiam que corriam risco de eu pisar sobre elas e assim matá-las. E num lampejo reflexivo, eu pensava que conosco, seres humanos, também podia acontecer da mesma forma, igualzinho aquele universo das formigas. Podiam haver gigantes a nos observar? Podíamos estar vivendo nossas vidinhas ao acaso sem nos darmos conta da grandeza da vida? Sem ao menos sequer que a qualquer momento podíamos ser pisoteados, caso quem nos contemplasse não tivesse compaixão ou amor a qualquer ser vivente?

E assim eu cresci, entre formigueiros, árvores frutíferas e pensamentos cheio de filosofia, sem eu também nem saber o que era Filosofia.

Já adulta, quando eu era diretora de creche, minhas igualmente amigas diretoras, me apresentaram verdadeiramente a Filosofia pela sabedoria de Epicuro e ali passávamos muitos momentos a filosofar. Chegamos a construir encontros regados a vinho, frutas e queijos pela alegria degustar o conhecimento na amizade verdadeira. Nosso Jardim Epicurista. 

Mas foi há dois anos que resolvi que precisava ir para uma escola de filosofia. Essa busca , esse anseio em minha alma, precisava de encontros, precisava de uma guiança espiritual profunda, precisava de Mestres. Eu desejava ser discípula. 

Foi assim que me matriculei na Organização Internacional de Filosofia Nova Acrópole, uma escola com valores práticos muito bem definidos que fez e faz meu coração saltar de alegria e gratidão todos os dias. 

Resolvi hoje vir aqui contar pra vocês porque gostaria de pedir uma graça de vocês, meus leitores e leitoras amados/as. Nossa amada escola está concorrendo a um prêmio IBEST 2021 em três categorias:

a) Desenvolvimento pessoal;

b) Podcast;

c) Cultura e  curiosidades.

Aí pensei, porque não vir aqui divulgar a Filosofia a Maneira Clássica de Nova Acrópole de uma forma mais qualificada aos meus leitores, ao invés de só pedir pelas redes sociais?

E o jeito que eu encontrei que penso ter mais qualidade pra fazer isso,  é contar pra vocês sobre como estão hoje minhas reflexões, sobre a minha prática como discípula , sobre meu amor a busca pela Sabedoria. 

Vou então deixar aqui pra vocês duas postagens minhas de dois artigos diferentes. Um sobre a cátedra de Ética e outro sobre Sociopolítica e Filosofia da História, mas vou separar em duas postagens para facilitar o sabor da leitura. No final de cada postagem eu deixarei pra vocês o link da escola pra você conhecer e do prêmio pra você votar.

ÉTICA

Não há ninguém, mesmo sem cultura, que não se torne poeta quando o amor toma conta dele. Platão

 

A Filosofia é o amor à sabedoria realizada numa eterna busca.

Uma busca sem apego, uma busca imparcial, no desapego de achar que se sabe tudo. Essa busca é realizada no caminho de um buscador que vai perseguir uma trilha para respostas acerca de nossas inquietações sobre a vida e a morte.

Uma busca que provoca um eterno movimento de ideias, que tira camadas, até verificar a verdade nua. Para ir nesse caminho com profundidade, o buscador necessitará de tempo e atenção para ver a sabedoria nas pequenas e grandes coisas que a natureza e a vida nos colocam a disposição.

E na simplicidade e mistérios da vida, o buscador constrói sua jornada rumo a sabedoria. Importante também que o buscador observe os ciclos da vida, para que essa busca, essa jornada, se traduza numa experiência vivida em seu tempo histórico. E essa busca objetiva o encontro da unidade nas questões atemporais da existência, um encontro por uma postura Ética.

As antigas civilizações e culturas reconheciam o ser humano numa integração de  sete(7) componentes, chamado constituição septenária.

Essa forma de ver o ser humano revela-nos uma concepção humana vista como um modelo, um mapa, reveladora de chaves para compreender uma unidade.

Essa constituição seria como sete(7) corpos integrados numa unidade que animam a vida humana.

Esses corpos são delineados em: Quaternário, composto pela parte física, energética, emocional e mental, a antahkarana que seria uma ponte, um elo de ligação e a tríade, a parte espiritual.

Como num desenho geométrico um quadrado abaixo que define a parte quaternária, um pequeno “pescoço” em retângulo em pé, que será a ligação, a ponte, chamada de antahkarana e por fim um triangulo que representa a tríade.

 

 

Quaternário

  • Corpo Etéreo- físico (Stula Sharira): visível aos olhos com tamanho, forma, peso, o que veste os outros corpos, uma parte física que nos permite o plano das sensações.
  • Corpo energético (Prana Sharira): Formada pela força vital que nos anima como temperatura, ritmo cardíaco, pulsação, sinais e funcionamento dos órgãos vitais que são elementos coesos e integrados numa ordenação vital. Quando ocorre a morte desse corpo, todos os elementos antes integrados em átomos, moléculas e tecidos, perece.
  • Corpo emocional (Linga Sharira): Composto por um estado de animo que congrega emoções, cuja interações influenciam na vitalidade e no corpo etero-físico, dando a tônica de nossas ações.
  • Corpo mental dos desejos ou mente concreta (Kama Manas): É interpretada como mente egoísta, especulativa, que trabalha para o Deus inferior, para as questões egóicas e intermináveis do mundo dos desejos. Lugar da ganancia, orgulho, medo, da sede de poder. Preocupa-se apenas com a satisfação dos sentidos, das emoções e dos sentimentos.
  • Corpo da Mente pura (Manas): Faz o contraste da mente concreta. Onde faz morada os valores elevados, o altruísmo, a prestação de serviço a beleza, a bondade, a justiça, a verdade, harmonia.
  • Corpo intuitivo ( Budhi): captura a verdade de forma direta e espontânea, onde a expressão de vida é completa.
  • Corpo da vontade pura ou espirito (Atma): O Divino em nós, a Vontade Superior, nossa Essência, o que há de mais Puro e Grandioso em nós, nosso Eu Maior, Eterno, que continuará sendo Sempre.

Também vale a pena mais dois destaques em relação a esses sete (7) componentes na constituição septenária:

  • Antahkarana ou a ponte, o elo de ligação entre a parte quaternária do corpo/personalidade humana e a tríade Superior conhecida como Ego.

Nesse elo de ligação reside a jornada que devemos fazer para subir o degrau de um corpo inferior a outro superior, do nosso mundo instintivo ao nosso mundo espiritual. É um espiral, onde devemos fazer uma saga interior para escalada, é nesse “lugar” que está o desafio da Jornada, é onde imperamos a matéria sobre o espírito, assim a conquista do Espirito exige de nós um sacro-oficio.

  • A constituição septenária também pode ser análoga aos reinos da Natureza, onde o físico estaria para o Reino Mineral, a vitalidade para o Reino Vegetal, as emoções para o Reino Animal irracional, a mente concreta para os animais racionais, o Seres Humanos e a tríade para nosso sistema solar, mente pura, nossa galáxia (Via Láctea) o intuitivo e o Cosmos ou Universo como a Vontade Divina ou Espirito.

Para compreendermos o Dharma e Karma como Leis da Natureza, façamos uma breve divisão didática.

Karma é a correlação de causas e efeitos em relação ao Dharma. Ele apresenta ciclos curtos em relação aos aspectos pessoais. Já o Dharma apresenta um caminho mais longo e exige uma ampliação da consciência e a responsabilidade sobre esse processo. O Dharma e o Karma apresentam-se tanto na esfera individual como coletiva.

O Karma nesse sentido se referencia no Dharma , como um rio que chega ao mar, com um sentido próprio, como uma ação justa em busca da LEI que seria o Dharma. Assim, nossa jornada reside em compreender a Lei do Dharma, para encontrar nossa direção para o Karma. Nesse caminho, geramos um Karma com dores e sofrimentos ou geramos luz, conforme vamos nos conhecendo e expandindo consciência? Como tirar a lágrima da dor, sem tira a dor de nossa alma, e que assim construa nossa humanidade?

Desse modo, o Dharma individual se expressa no sentido da vida, dando um sentido aos nossos ideais, para nossa vocação, para aquilo que viemos fazer, estar a serviço.

Na grande epopeia do Mahabharata, temos um extrato que narra uma guerra em família para a conquista da cidade de Hastinapura: o Bhagavad-Gita.

Nele, por exemplo, poderíamos dizer que o Dharma é a canção do Mundo, e a conquista de Hastinapura é a busca pela sabedoria e essa Lei do Mundo é a Ética, onde necessitamos viver em harmonia com a canção do Mestre.  A luta entre Pandavas e Kuravas, simboliza nossa guerra interior entre as forcas do deus inferior quaternário que tudo farão para que não cheguemos a conquista de Hastinapura, a nossa cidade de Sabedoria, a nossa tríade, a conquista dos valores elevados em nós.

Nesse cântico do Bhagavad-Gita, temos Arjuna, o Guerreiro, que também expressa a humanidade, pois dentro de cada um de nós reside um Arjuna convocado ao campo de batalha para a conquista da Sabedoria e da Ética. Temos também, Krishna, o Mestre ou a Suprema Divindade, outra parte em nós, a nossa voz interior que nos guia, nos fortalece e nos apoia a enfrentar e vencer batalha ou luta contra nossos Kuravas, ou nossos egoísmos, ganancia e poder. E nessa luta, quando ouvimos a canção do Mestre, permitirmos que nossos Pandavas, nossos valores elevados conquistem a sabedoria.

Uma passagem do Bhagavad-Gita que me chamou atenção foi a seguinte:

“Arjuna tenta justificar seu medo dizendo que se matasse, destruiria as tradições familiares e afundaria no inferno todos os seus parentes. “

Percebo que todos nós em alguma medida maior ou menor, temos medo de enfrentarmos a jornada para a qual recebemos o chamado e muitas vezes nem queremos ouvir o chamado. Não queremos ouvir a canção. Parece que ficamos identificados com uma parte de nós que já conhecemos e nela nos apegamos, não querendo matá-la. Essa parte onde reside a vaidade, o desprezo, o egoísmo a miséria interior. Talvez um medo de abrir mão de crenças e valores ilusórios e vagar num vazio desconexo e sem sentido. Mas essa é exatamente a ilusão de quem desconhece Hastinapura, a cidade que também reside em nós, a sabedoria. E como ouvir essa voz de Krishna em nós?

Ouvir a voz do Mestre, também pode ser expressa na voz do Silêncio, como também nos ensina a filosofa e tratadista do século XIX, Helena P. Blavatsky.

Antes, entretanto, vamos falar um pouco dessa intrigante mulher.

Helena Petrovna Blavtsky nasceu ao sul da Rússia, na cidade de Ekaterinoslav, de parto prematuro, na noite entre 30 e 31 de julho de 1831. Conta-se que alguns estranhos acontecimentos ocorreram no momento de seu nascimento, bem como em seu batismo como presságios de uma futura vida tumultuada. Conta-se também que sua história é a própria historia da Rússia, descendendo de ancestrais poderosos e altivos, o que leva Helena a ser uma filha tanto quanto desobediente as regras impostas, entretanto nunca perdendo de vista que suas ações não poderiam ultrapassar os limites da honra de sua familia.

Aos 11 anos, passa a ser criada pelos avos Fadéef, após a morte de sua mãe, uma ilustre escritora. Passou então a viver numa antiga mansão, onde seu avô era governador na cidade de Saratov, e onde moravam outros familiares e grande quantidade de criados.

Helena P. Blavatsky tinha uma extraordinária capacidade psíquica, revelando ter habilidades de se comunicar com mundos sutis e invisíveis que para toda gente não existiam. Ela também foi uma linguista habilidosa e uma admirável musicista. Pela influencia de sua avó, Helena P Blavatsky desenvolveu um senso científico, assim como recebeu de herança familiar faculdades para com literatura.

Ainda jovem, aos 17 anos, em 1848, teve que se casar com um general e governador da cidade de Erivan, bem mais velho que ela e conta-se que caindo em seu desagrado, após três meses do casamento, fugiu para casa de outros familiares que a enviaram a casa de seu pai. Entretanto, com receio de que a forçassem a retornar ao casamento, fugiu novamente, dando inicio a uma jornada de aventuras pelo mundo, ajudada financeiramente pelo pai. Precisou, ao que parece, manter-se afastada da Rússia, para que sua separação do marido fosse considerada legal.

Em 1851, agora chamada de Madame Blavatsky, encontrou aquele que seria seu mestre, seu irmão, seu protetor, seu maior adepto: Dr. H.S. Olcott, que conjuntamente com outros intelectuais em 1875, fundam a Sociedade Teosófica. Escreveu entre tantas obras, Isis em Véu e A Doutrina Secreta.

Morre em 8 de maio de 1891, na cidade de Londres, deixando um grande e importante legado ao mundo.

Interessante observarmos a trajetória dessa brilhante filosofa, porque pelo que pareceu viveu em muitos momentos uma vida de aventuras e loucuras, não sabemos até que ponto permeada pelos seus desejos ou instintos, mas algo dentro dela, desde quando estava non seio de sua familia parental, dizia-lhe para preservar sua honra e a dos seus. Quantas vozes internas Helena Blavatsky deve ter enfrentado? Quanto esforço deve ter empreendido? Levanto essas questões para humaniza-la e retirarmos também dos grandes filósofos uma idealização de perfeição e genialidade sem dor e luta interior.

Para continuar o diálogo sobre a constituição septenária, gostaria de trazer um trecho do livro A voz do silêncio:

Se através da sala da sabedoria queres alcançar o vale da Bem-aventurança, Discípulo, fecha teus sentidos à tremenda e grande heresia da separatividade que te aparta dos demais. (BLAVATSKY, HP, 2010, p.67)

Analiso o seguinte trecho comparando mais uma vez a constituição septenária em nível individual como também coletivo, pois para expandir a consciência dos valores elevados que nos fazem entender que estamos em unidade, se faz necessário desapegar de valores da mente concreta da separatividade, do egoísmo, do desejo, do individualismo, da propriedade que levam a um ilusório autoengano. E assim, como no plano da guerra interior de nossa alma, podemos compreender essa relação também na Sociedade e na História da Humanidade. E nesse caminho coletivo, nossa trilha individual no reconhecimento de que em nós há uma alma humana que pode ajudar a despertar outras almas humanas na busca pela sabedoria, também nos desperta para nossa unidade. Lembrei também da máxima citada pela Prof.a Fabíola: Tudo o que nos une não é ilusório, mas é verdade para tudo aquilo que nos separa.

Essa máxima me remete ao mito de Buda em relação as 4 verdades que achei bem curioso:

A Rainha Maia sonha com um elefante branco e fica grávida. Assim como Mãe Maria e menino Jesus, nasce Siddhartha Gautama. Entretanto, já nasce andando e ao faze-lo dá 4 passos sob os 4 pontos cardeais, donde nascem flores de lótus.

         Interessante observarmos a força do número quatro (4) no Mito de Buda, que por meio de sua saga, também nos traz o ensinamento das quatro (4) grandes verdades. Antes de destacar as quatro (4) verdades, gostaria de resumir o mito pra que possamos compreender essas  nobres verdades budistas.

         Siddhartha Gautama nasce numa corte de imensas riquezas, onde seu pai o Rei queria a todo custo protege-lo da dores e mazelas humanas. Entretanto, havia algo em Siddhartha que o impelia a busca de compreender a existência humana.

Pediu então ao pai para um passeio pelos arredores do reino pelo que seu pai ordenou que um cocheiro e sua carruagem os guiasse. No seu trajeto deparou-se com um doente, um velho e um morto e experienciou uma dor aguda que o levou a uma profunda reflexão: como é possível desfrutar de riquezas no interior de seu reino, quando fora dele há doença, envelhecimento e morte?

         Foi sob esses pensamentos, que deixou o palácio real de seu pai, para entregar-se a uma vida humilde, sem bens e em profunda meditação acerca das misérias humanas. Em sua caminhada, consultou grandes mestres e realizou terríveis sacrifícios corporais, não conseguindo encontrar as respostas que procurava. Somente encontrou seu corpo a definhar, pois já não comia, na tentativa de compreender as dores humanas. Estava quase a definhar quando foi socorrido por uma filha de um pastor que ofereceu-lhe alimento, retirando-o de um estado que quase o levou a morte física.  

         Nesse instante, Siddartha compreendeu que uma postura extremada não nos leva a compreensão humana, a expansão da consciência e a consequente libertação da alma. Compreendeu assim, que somente o Caminho do Meio conecta ao Caminho da Lei. Foi nesse momento que recebeu a iluminação, livrando-se dos laços do nascimento, velhice, doença e morte.

Comparo aqui com a passagem de Blavatsky, pois um dos laços que dificultam a libertação humana é a ilusão de separatividade conforme citado acima em HPB.

         Para o caminho da libertação humana e processo de iluminação, Buda nos ensina quatro (4) nobres verdades, conforme a seguir:

  1. Todo e qualquer ser Humano é impactado pela dor do nascimento a morte. A dor faz parte da trilha humana, pois se caracteriza como nossa essência.
  2. A segunda nobre verdade é sobre a causa da dor, que reside no fato de que tomamos a ilusão por uma realidade e nos esforçamos por possuir e manter objetos que estão destinados e extinguir-se. Nossa dor se dirige a um mundo fadado ao fim, onde nada se sustém, onde tudo se esvai e nossa angustia é uma existência num tempo que igualmente se esvai.
  3. Fala sobre a cessação da dor, pois ao direcionarmo-nos ao Eu Superior, a dor cessa. Isso se dá, porque quanto mais desejamos, quanto mais buscamos recompensas, mais Karma carregamos, obrigando-nos a repetir o caminho, até chegar o momento de nossa compreensão e dirigirmo-nos a reta ação, desapego e realinhamento com a LEI, o Dharma.
  4. Por fim a quarta nobre verdade nos coloca uma mandala, o nobre Óctuplo Caminho, constituído por:
  • Retas opiniões.
  • Retas intenções.
  • Retas palavras.
  • Reta conduta.
  • Reto meio de vida.
  • Reto esforço.
  • Reta atenção.
  • Reta concentração.

       

Essas quatro nobres verdades de Buda, me lembram um epigrafe de Aristóteles, que é um grande desafio diário a todos que buscam a sabedoria, que retirei do livro A Ética, textos selecionados e que diz:

A Virtude não é um afeto nem uma potência, mas um hábito. (ARISTOTELES, 2017, 3aED, p. 54)

         Se as quatro nobres verdades, ou mesmo o caminho da verdade, da unidade, compreendermos que nessa uma trilha encontraremos a felicidade, nos desperta a pergunta: mas como sabemos estar no caminho lógico da Verdade?

         A moral para Aristóteles deve ser a busca da felicidade. Mas essa busca tem objetivos? Tem finalidade? Tem um meio? É transitória ou permanente? Tem dor? Se conquista?  É um momento da vida ou é um estado de espírito? Conhecimento teórico pode trazer felicidade?

         A pergunta para o próprio Aristóteles era: qual a felicidade própria do ser humano ou da natureza humana? 

         Para o pensamento aristotélico, o Bem é o fim de todas as ações e o Bem Supremo é a felicidade.

Entretanto, a felicidade não tem significado igual a todas as pessoas. Alguns enxergam a felicidade no prazer das sensações, outros nas posses sobre as coisas, ou poder sobre as coisas e a natureza. Mas para Aristóteles, o caminho para a felicidade é aquilo que é próprio da alma e se faz necessário um exercício do Bem como virtude, para que a própria virtude cresça e o exercício para fazer crescer a virtude em nós se constrói num processo da consciência.

Esse caminho de consciência de crescimento da virtude em nós, se inicia identificando que sou. Quanto nos dedicamos a esse exercício todos os dias? Essa tarefa carece de uma intenção que dirija minha conduta. Assim, o objetivo desse esforço faz a união da teoria com a prática, defendida pela academia aristotélica, um treino das virtudes para o alcance da felicidade.

Continuando nosso diálogo sobre o caminho da Verdade, do Bem, do exercício das virtudes para o alcance da felicidade como princípio Ético, chegamos a Confúcio, que teve suas ideias intensamente inseridas em seu contexto histórico-social e que influenciou fortemente o pensamento chinês, quando trouxe a ideia de romper a separatividade entre Política e Ética.  Essa quebra de paradigma intencionava instaurar um regime ético-politico com fim de alcançar a fraternidade, concórdia e harmonia, desapegando-se de qualquer misticismo.

Assim, a Ética de Confúcio nos ensina a operar em dois movimentos: no Reino de Lu, que seria de uma ordem social racionalizada, levando a uma paz, harmonia e colaboração coletivas. Mas para que isso opere como ordem social, precisamos atingir o Reino de Ju, que se dá na mudança de cultura individual, pois para se conduzir a educação no âmbito da sociedade, carecemos construí-la sob as bases das qualidades humanas, nos ensinando que a ordem política é fruto de uma ordem ética. Essa ética constrói em nós os sentimentos de honra e respeito, cujo precisamos assumir uma postura diante de nossos erros e responsabilidades para compreender os outros. O que tenho a oferecer aos outros e ao mundo? Essa é a pergunta desse homem ético para Confúcio, o homem JU.

         Mas para Confúcio também desenvolver-se nessa Ética do Homem JU, assim como o pensamento aristotélico, requer uma educação continuada de si mesmo, uma mudança de cultura, um cultivar-se, um auto cultivo que exige constância, perseverança, permanência, manutenção, cuidado.  Assim, o Homem JU é uma conquista permanente, que exige trabalho e intensão, dedicação.

Mas no exercício para busca interior do Homem JU em nós, nos deparamos com que Plotino chamava de Vênus Urânia e Vênus Pandemus em nós.

         Antes vejamos quem foi Plotino. Um grande filosofo egípcio, que aos 28 anos começa a estudar filosofia tendo como mestre Amônio Saccas que reunia vários pensamentos da filosofia grega. Durante 11 anos então, Plotino frequentou a escola de Amônio.

         Após esses 11 anos quis aventurar-se a uma viagem a India, unindo-se a uma expedição rumo a Persa, donde pode escapar e regressar a Alexandria.

         Com 40 anos, viajou para Roma e abriu sua própria escola de Filosofia nos mesmos moldes de Amônio, por tradição oral e para poucos ouvintes.

Plotino vivia de forma humilde, como trabalhador carregador de sacas no porto.  Essa época vivia uma efervescência quanto ao conhecimento fazendo com que todos quisessem ter seus filhos educador por Plotino.

         Fiel seguidor do pensamento de Platão, seu ideal era fundar uma cidade de nome Platonópolis, regida pelas Leis de Platão.

         Um pensador apegado a verdade, que caracteriza como um pensamento hermético, metaforicamente, como aqueles que buscam descobrir algo em mergulho no mar bravio, na busca de uma pérola fechada numa concha no profundo das águas. Essa tarefa exige coragem do buscador e esse era Plotino, que inspirou o nascimento da Renascença.

         Todo seu pensamento parte da contemplação na união com Deus, que nos leva a um estado de êxtase, que sempre descrevia com intenso afeto e emoção. Plotino então, parte de uma tríade: Ser, inteligência e criação. Para ele, a realidade se constitui única e absoluta e se impacta no Cosmos e se expressa na emanação. Assim, o Ser é energia e se potencializa no UNO. Entretanto para o reconhecimento do UNO, precisa da potencia da inteligência que se concretiza na criação.

         Nesse pensamento de Plotino, ele também nos ensinava sobre a alma e dizia que o mal não é próprio da alma, mas uma parte decorrente da queda na pluralidade do mundo manifesto, dividindo nossa alma em dois movimentos ascendente e descendente.

         Nesse caminho quando dirigimos nossa energia para a espiritualidade, podemos “mais Ser”, mas, contudo, se dirigirmos nossa energia para regiões pluralizadas onde o ódio faz cisão, a alma desconhece a si e as demais almas.

E o que é alma? Alma é uma instancia atemporal. E como diria o pensador Carl G Jung, a alma humana deve fazer um caminho inverso de retorno a própria origem, um transito de retorno a unidade, ao centro do SER. Assim, temos em nós um Ser atemporal que se movimenta para a emanação, para sua própria essência.

Entretanto Plotino dizia que precisamos movimentar nossa alma em direção a essência de forma consciente por meio da meditação, reflexão dessa jornada interior.

E como se dá esse movimento consciente? Há um movimento natural da contemplação que são direcionados a unidade, universal, o todo, UNO. Essa seria a alma que supera um limite, mantendo a consciência elevada. Mas como conseguimos nos superar sem render-se aos impulsos de fora?

Plotino nos diz que a alma também carrega uma mochila de apegos, lembranças, memórias do passado, e não pode por esse peso que carrega, parar para o trabalho da contemplação, descendo assim ao mundo manifestado de nossas personas.

Para subir e contemplar e depois descer e organizar e ordenar nossas vidas nos retos pensamentos, conforme aquilo que a alma contemplou, é a nossa jornada para “Mais SER”. Ou seja, organizar sua vida no momento da contemplação, momento esse que se viu como UNO e a descida para organizar sua vida viver a alma em UNO.

Para Plotino, o que impulsiona a alma as coisas do mundo é o amor.

Assim a pergunta que cabe ara pensarmos a filosofia de Plotino é: Com tantas pessoas que amam uns aos outros, porque ainda nos perguntamos se existe de fato o amor?

Se buscarmos Vênus como referência na mitologia veremos que ela foi a Deusa Romana do amor e da beleza.

         Há algumas controvérsias quanto ao mito de Vênus, pois numa das versões, ela seria filha de Júpiter, deus dos céus, e Dione, deusa das ninfas. Noutra versão da lenda, Vênus nasceu da espuma do mar e dentro de uma concha.

         Como era muito invejada por sua beleza, algumas deusas estavam insatisfeitas com as reações que ela causava nos homens.

Foi assim que Diana, deusa da caça, Minerva, deusa da razão, e Vesta, deusa do lar, pediram ao pai de Vênus, Júpiter, que lhe fosse concedido um casamento.

Certo de que o problema seria resolvido, Júpiter ordenou que ela se casasse com Vulcano, o deus romano do fogo. No entanto, ele era feio e sofria de uma deficiência que o deixou coxo (manco).

Mesmo que a escolha não tenha agradado a deusa, Vênus casou-se com ele, entretanto, manteve relações extraconjugais com outros deuses e mortais.

Uma das mais conhecidas é o relacionamento que ela teve com Marte, o deus da guerra. Com ele, teve alguns filhos, do qual merece destaque Cupido, o deus do amor.

            Assim, uma análise que coloca um zoom sobre o Mito de vênus, compreendemos esse arquétipo que carregamos em nossa alma que traz compensações nas polaridades, pois apesar de Deusa da beleza e do amor, ela se casa com o Deus do Fogo que era feio. Ela o trai então com o Deus da Guerra. A deusa do amor e da beleza é atraída pela feiura e pela guerra. Além disso de seu amor com Deus da Guerra, nasce Cupido, o Deus do Amor.

         Posto isso, podemos agora analisar a Vênus Pandemus e a Vênus urânia em nós. Pandemus que representa “popularis”, é aquela busca do amor aos valores elevados em nós como a Justiça, a Verdade, Bondade e a Beleza, valores arquetípicos e imortais. Vênus Urânia contrariamente aprecia as coisas comuns e se apaixona pela própria personalidade. Há nessa coexistência de almas em nós uma tensão, pois coexistem o amor entre a carência e a abundância.  

         Na Vênus Urânia, a alma tem peso, o peso do coração, da carência do outro, dos apegos, dos desejos, das nossas ações, do Kharma.    

         Na Vênus Pandemus, a energia que impulsiona o amor em nós busca o processo de emanação, a força da natureza, trazendo-nos a unidade permanente, o UNO.

         Nosso exercício então é o de buscar em nós algo mais essencial do que aquilo que temos apego, na busca do “Mais Ser”, em direção a unidade.

         Por fim, depois desse sobrevoo em tantos pensamentos filosóficos, não poderíamos deixar de destacar a profundidade da Filosofia Egípcia.

         O Egito nos traz uma cultura voltada ao Sagrado e aos Mistérios, no período faraônico de 5 mil anos antes de Cristo. Constituído por Narmer, cujo conta-se ser o sucessor do faraó protodinástico Escorpião II (Selk) ou Cá, embora outros digam seja a mesma pessoa, foi unificador do Egito e fundador da Primeira Dinastia, assim, o primeiro Faraó do Egito unificado.

         Fruto de um processo de uma Filosofia temporal, o Egito vive ciclos de eras de ouro, como também de esquecimento e até de desaparecimento.

         Tudo no Egito é grande, o que já traz em sua grandeza, uma capa de mistério que nos deixa perplexos. Como foram construídas as pirâmides? Qual o pensamento egípcio? É tão grandioso quanto sua arquitetura misteriosa?

         Alguns escritos nos trazem pensamentos que pode nos dar uma ideia de como era a Moral e a Ética para os egípcios.  Eles acreditam que o Egito terrestre era um espelho do CEU- No céu as estrelas, na Terra o Egito-  buscavam uma inspiração além das estrelas, um reflexo na Terra que era o Egito.

Para eles o melhor lugar para viver e morrer era o Egito. A vida dos egípcios era como uma navegação, como uma barca, onde poderiam navegar nas aguas do Nilo terrestre, mas também no Nilo Celeste. Eram mundos conectados de uma religião complexa nos detalhes e simples em sua essência.

O ponto de ligação entre o Céu e a Terra era conectado pela imagem do Obelisco, esse símbolo de conexão que também representava o próprio ser humano – pés na Terra e a cabeça ligada aos Céu.

Para os egípcios a divindade principal era a Justiça, representada no símbolo de Maat, mãe, filha e esposa de Rá, ao mesmo tempo. Ela é irmã do Faraó mítico (Osíris ou Hórus) que assegura o equilíbrio cósmico e graças a ela o mundo funciona perfeitamente.

Para eles o conceito de Justiça (Maat) é uma maneira correta de retribuir a vida que habita a alma humana na Terra e viver é o mais importante. E no fim da vida, na morte de cada um, a pergunta realizada era: Fui puro nas ações e pensamentos? Eu fui justo? Essa era o momento do Juízo. Então, o coração de cada humano na morte era pesado numa balança junto com uma pluma, representada pela justiça. Se o coração humano fosse tão leve quanto o peso de uma pluma, tinha o significado da paz interior, da coerência com a Justiça, podendo assim entrar no reino dos Céus. Caso contrario, seria “engolido” pelo Kharma para renascer e repetir um ciclo para prender a ter o coração tão leve quanto do homem justo. Essas Leis da Natureza, representadas pela divindade Thot (Deus da escrita e sabedoria), traziam em vida, uma luta interior, para serem integradas em amor. Esse amor que permitia não apenas que as coisas se unam, mas sobretudo, que se mantenham unidas, provocando o desafio de viver em constante amor.

Para os egípcios as festas eram muito importantes, pois compreendiam que para cada ritmo do ano, ou cada ciclo cada momento tinha que ser festejada. Por isso, festejavam as estações do ano nos solstícios, equinócios, nas altas e baixas do Nilo, as colheitas das plantações quando toda comunidade estava integrada a Natureza e onde todos participavam. Também se festejavam os reinados de Justiça dos Faraós, quando construíam um Jubileu, um templo. Essas festas serviam ainda para integrar as formas de viver a politica com a eternidade do tempo.

         O Faraó tinha que apresentar ao povo um projeto que se relacionasse com a própria evolução do povo, bem como carregado de concepção de Justiça e do Sagrado e nesse sentido nos reforça o sentido que o pensamento egípcio estava assentado numa ideia de atemporalidade.

         As pirâmides foram um símbolo forte dessa ideia, ou seja, um legado, deixado para a eternidade, feitas para perdurarem milhões e milhões de anos.         

         Os egípcios não a chamavam por pirâmides. Quem as batizaram assim foram os gregos. Pir,  significa fogo, porque viam nelas o formato de uma fogueira que buscava a verticalidade dos Céus. Nos intriga saber que os trabalhadores egípcios construíram as pirâmides não por degraus como poderíamos supor, mas de cima para baixo, cujo centro era sustentado por um obelisco, sustentado pelo seu centro, como se simbolicamente nos dissesse que a moral humana pode ser o sustentáculo da Ética humana, seu centro, sua fortaleza.

         Assim, tudo o que acontecia de bom ou de ruim, era atribuído ao Estado na figura do Faraó, que para eles era o Obelisco, a fortaleza, seu centro, sua sustentação. Portanto, havendo uma falha nesse sistema de Governo, nesse Estado, era a falha do sistema piramidal, causando a tristeza e infelicidade de todo o povo egípcio.

         Entretanto, não havia um juiz que a todos julgava. Cada egípcio era seu próprio juiz, tendo cada um seu senso moral e de justiça para se auto administrar, como um advogado de sí mesmo.

         A forma de organização do pensamento egípcio reunia numa só ideia, a politica, a religião e a ciência. Para se construir uma pirâmide era preciso muita ciencia, que gerou um pensamento integrado em busca da perfeição, com cálculos matemáticos e proporção áurea esculpidos no rosto da escultura de Ramsés.

         Essa convergência da Politica, Religião, Ciencia e Arte nos traz uma integralidade na busca da perfeição e atemporalidade.

         Assim o Egito nos mostra ainda nos dias de hoje muito mais que seu conceito de moral, mas nos revela por meio de seus mistérios uma inspiração para as Filosofias no mundo no presente e no Futuro.

Quarentena , São Paulo, 26 de julho de 2020.

 

Esse artigo, faz parte de minhas reflexões da cátedra de Ética em Nova Acrópole, uma escola de Filosofia a Maneira Clássica. Se seu coração palpita pela Filosofia como o meu, te convido a tornar-se um acropolitano como nós, na eterna jornada rumo a Sabedoria, por vezes dolorosa, por vezes numinosa, mas certamente, eterna. Gostaria de agradecer meus mestres e mestras acropolitanos e pedir que você vote em Nova Acropole no premio IBEST 2021.

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Agradeço sua visita nesse Jardim, que não é o Jardim de Epicuro, mas que recebe o perfume de sua amizade, igualmente como nos encontros epicuristas. Vou gostar muito de ler aqui seus comentários. E indico que leia o próximo post que falarei de Sociopolítica Filosofia da História.