Desassossego

Há dias sinto um desassossego

Sentir é algo estranho 

Mas sente o que?

É bom? é ruim?

É doce ou amargo?

Qual tamanho?

Sinto um frio no estômago 

A boca que seca

O coração que bate forte

Algo do mais profundo âmago 

Poderia ser paixão ?

Ou apenas uma intuição?

Quantas dúvidas trepidam

Aqui no meu coração?

O sono vai embora

Meu coração é como um portal

Muita coisa me atravessa

Mas nem sempre comunica

De forma compreensível como um canal

E assim é a Vida

Um desassossego tremendo

Nos convidando a soltar o controle

Pra mergulhar no Ser, Sendo

Presságio do Recolhimento

O desejo de se sentir em paz

Traz a ilusão

Que não se deve viver em turbilhão

Mas no fundo do inacessível

Sabemos que pra viver em paz

É necessário surfar no olho do furacão

Esse jeito de agir da Vida

Que tudo tira do lugar e nos convida

A permanecer sereno e em silêncio

Na pulsação da alma

No toque das mãos

E na cadência de um olhar

E a Senhora Mariposa

Com suas asas a farfalhar

Não me visitou hoje materializada na morte

Ela veio com sua presença arrebatar os sonhos

E no seu repouso incômodo

Mesmo que lhe dando passagem

Na janela aberta do quarto

Ela permanece no cômodo

Por que precisa comunicar o presságio

O coração aperta

Por que apesar da esperança na explosão da Vida, a vida também pede recuo

Pede cautela, pede zelo

Pede recolhimento

Pra que ela possa dar alento

A Vida é da ordem do Divino

E o Divino feito em ciclos

Pede elevação no turbilhão

Em posição de respeito

Com a alma em concentração

Libertando o controle

Dissolvendo as dores

Igualando e harmonizando

O entendimento e a intuição

Ouça esse poema no meu podcast Mariposa ao pé do ouvido