As delicias e dores humanas, vivências grupais

Preciso fazer uma reflexão a partir de um profundo trabalho coletivo que participei ontem no Coral da Emia- Escola Municipal de Iniciação Artística, onde meu filho estuda  a qual eu também faço parte.

Antes mesmo desse trabalho de ontem venho refletindo sobre processos grupais em minha pós graduação em ArteTerapia no IJEP , sobre como um grupo pode ser maravilhoso no despertar de algumas pessoas, mas como tudo nunca é 100% , nos sobram aquela parcela de pessoas que ou se escodem ou acham que os outros são repontáveis por seu despertar. 

Ou ainda há aqueles e aquelas que pensam que todos estão a sua disposição para que seu crescimento aconteça, menos a própria pessoa, claro. 

Outro perfil, e esse também percebo em mim, é quanto rola de ciúmes, vaidade, soberba e ataques por conta disso. 

Problema nem é rolar tudo isso no caldeirão da nossas almas, problemas é não conhecermos nossos movimentos em grupo e sairmos nos expondo, sem nem saber o que estamos fazendo conosco.

Engraçado que percebo esses contextos grupais principalmente em ambientes acadêmicos, onde as vaidades se sobrepõem ao desejo de mergulhar no silêncio dos seus barulhos internos como bem nomeou Nívea ontem na oficina de panificação.

Quando falo de exposição não quero dizer zer nos mostrar, quero dizer, mostrar aquilo que não temos consciência do que somos.

E aí, coleguinhas, não tem como, os processos terapêuticos individuais ou grupais, dependendo das questões claro, são fundamentais nesse processo. 

Como fiquei bem emocionada no dia de ontem pelo belíssimo trabalho de grupo fazendo pães da psicóloga Nivea Gonçalves, justinho no dia que a Psicologia completa 57 anos no Brasil , um dia histórico para o Brasil e no Brasil, porque tivemos eleições no nossos conselhos profissionais e historicamente vencemos o obscurantismo, resolvi compartilhar o que eu tava pensando. 

Também foi pra mim um dia histórico porque as terça-feiras eu passo o dia trabalhando e estudando nas escolas do meu filho e nesse dia tão especial, tecemos tapetes poéticos em tear, onde pude coordenar uma grupo de mulheres maravilhosas pela manhã da tutoria da Profª Anna Cecilia Simões, onde a intimidade, cumplicidade e amizade entre as famílias é conteúdo pedagógico .

A tarde na vivência de pães com Nivea comemorar também meu aniversario de 27 de formada nessa incrível profissão que é a Psicologia. 

Gratidão a escola pública por esses momentos intensos e reflexivos que ela continua a me colocar e que marcam profundamente a minha história de vida. 

Gratidão a Nívea Gonçalves , minha colega de profissão e de canto no coral  que me inspirou em mais essa postagem aqui no meu Jardim e que foi tão sensível e firme na condução do trabalho grupal ontem de panificação.

Agradeço ao meu grupo do coral de famílias que é tão diverso, tão generoso, tão delicado é tem vozes preciosas!

Agradeço as minhas professoras regentes Viviane Godoy e Rosana Bergamasco, do coral de Famílias da EMIA- Escola Municipal de Iniciação artística que acolheu ao meu filho e a mim em aprendizados que mexem com delicias e dores humanas! Se você também têm experiências de delícias e dores em processos grupais, conta aqui pra mim e deixe aqui seu perfume entre as flores desse Jardim! Agradeço sua presença!

 

 

19 de agosto- Dia da Atriz e do Ator de Teatro🎭

O palco é como a vida que transcorre diante de nossos olhos,

A coxia do teatro tem um cheiro específico que faz vibrar a alma e o coração da atriz e do ator que entra em cena,

Que empresta seu corpo para aquela alma de uma personagem que existe em sua criação.

Ser atriz e ser ator é como ser um pouquinho de Deusa ou de Deus.

É saber tanto e saber quase nada de sua criação que ganha alma diante da plateia!

O teatro é aquele lugar onde a atriz ou ator precisam transmitir uma ideia, a ideia da criação, da técnica, do texto, do estudo, do suor, mas sobretudo da verdade humana.

É na cena que a vida sobrepõe a vida e ao mesmo tempo a vida sobrepõe a morte para a plateia saia um pouco maior que entrou, um pouco mais repleto para que a atriz ou ator se esvazie de preenchimentos de outrem e renasça mais humano em si mesmo.

Emoção, teatro lotado, respirações, vibrações, ribalta, luz, coxia, palco, a voz e o corpo que vibra no palco. Um universo mágico onde almas dos personagens transitam “incorporados” na corporeidade de atrizes e atores!

E as palmas revelam o êxtase e as cortinas se fecham devolvendo os corpos exaustos e felizes!

Nas imagens um pouco da minha história no grupo “Acorda Alice” e com as crianças em escolas públicas , um pouco desse universo do Teatro que preencheu e preenche minha alma de alegria e profundidade.

Em tempos obscuros, um flashback sobre a importância da Educação Pública Estatal

O depoimento que venho hoje publicar para quem visita o Jardim da Mariposa diz respeito a uma entrevista que dei em 2017 para o canal Caminho Filosófico do YouTube e que me fez a seguinte pergunta: qual a importância da Educação Estatal para a Democracia brasileira?

Na minha última postagem eu mostrei para você um relato de prática publicado na revista Magistério e os 80 anos da educação infantil que falou um pouquinho sobre os Indicadores de Qualidade da Educação Infantil. Nessa entrevista além de retomar os Indicadores de Qualidade da Educação Infantil Paulistana eu também falo do processo de Educação Integral nos CEUs da cidade de São Paulo, ambos como como construtores da democracia participativa na cidade e no país e da importância da Educação Pública para a garantia da constituição do Estado de Direitos e da Educação Pública Laica pra o desenvolvimento de um novo tempo.  Aproveito para deixar a dissertação de mestrado da profa Elaine Jardim que discorre sobre os CEUs que tivemos a honra de contribuir.

São quase 30 minutos de fala que espero possa por meio desse flashback contribuir para reflexões necessárias ao combate do obscurantismo na Educação brasileira.

Deixo algumas referências complementar às suas reflexões.

Referências

BrincaCEU

https://www.caiodib.com.br/blog/brincaceu-une-geracoes-pela-valorizacao-do-brincar/

Indicadores de qualidade da educação Infantil MEC

https://www.unicef.org/brazil/relatorios/indicadores-da-qualidade-na-educacao-infantil

Indicadores de qualidade da Educação Infantil Paulistana

Indic_Ed_Inf_Paulistana.pdf

Jardim, Elaine Aparecida “Meu bairro, minha cidade”: as exposições inaugurais dos

CEUs e as representações urbanas das periferias paulistanas, São Paulo, 2017

http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/103/103131/tde-10102017-153700/publico/ElaineJardimREVISADA.pdf

Portal Aprendiz

https://portal.aprendiz.uol.com.br/2015/08/01/ceus-completam-12-anos-como-referencia-de-politica-para-uma-cidade-educadora/

https://portal.aprendiz.uol.com.br/2016/03/09/para-que-escola-ocupe-o-ceu-para-que-o-ceu-transborde-para-o-bairro/

Portal da Educação- Secretaria Municipal de Educação- PMSP

http://intranet.sme.prefeitura.sp.gov.br/dre-butanta/2016/03/09/ocupaceu-bebes-meninas-e-mulheres-no-ceu-butanta/

Como sempre agradeço sua presença aqui no meu jardim, e espero que você possa espalhar desse perfume, para que novas metamorfoses possam acontecer.

Sobre as poéticas de Mário e o território Central das Infâncias numa cidade perdida num tempo de delicadezas

No mês de julho desse ano (2019), a obra Macunaíma de Mario de Andrade, completou 91 anos. Mário – como diria nossa mestra e criancista Marcia Gobbi, profa da Faculdade de Educação da USP – o crianço. 

Mário, para além de poeta, escritor, crítico literário, musicólogo, folclorista, ensaísta, fotógrafo e organizador da cultura brasileira; foi um homem que respeitou absolutamente as culturas infantis quando chefe do departamento de cultura da prefeitura do município de São Paulo, em 1935. 

Vejo que nós pouco valorizamos nossa pedagogia brasileira em nome de ingerirmos enlatados pedagógicos ou até mesmo boas práticas educacionais , mas que são importadas ou construídas a partir de suas culturas locais. 

Uma pedagogia que sustente as nossas raizes, a nossa efervescente cultura, a nossa antropofagia brasileira, ainda é uma pedagogia pouco compreendida, pouco respeitada, pouco defendida e vivenciada no chão das escolas por nossas/os educadoras/res! 

Poucos são aqueles e aquelas que estudam a fundo Mário de Andrade e sua pedagogia macunaímica, como diz Profa Ana Lucia Goulart de Faria. Uma pedagogia da poesia, da arte, do teatro, da vivência da cultura brasileira e das culturas infantis. 

Em 2015, comemoramos os 80 anos de Educação Infantil, quando escrevi sobre uma das práticas educacionais brasileiras dessa pedagogia que vivi como coordenadora pedagógica na EMEI GABRIEL Prestes, a escola que foi uma das precursoras da Virada Educação junto ao Movimento Entusiasmo e que levou centenas de crianças em cortejos poéticos as ruas do território central de São Paulo. 

                

 

Deixo abaixo esse relato publicado na revista Magistério e o link pra que você possa baixar a revista que tem muitos artigos sobre o tema em comemoração aos 80 anos desde que Mário de Andrade, legitimou na cidade de São Paulo, os parques infantis, que hoje são as nossas Emeis.

                                                          

O texto também fala dos indicadores de qualidade da Educação Infantil e é fundamental recobrarmos esse debate, quando vivemos um momento de ameaças desse processo que foi construído a tantas mãos e tantas vozes na rede, garantindo a participação do coletivo e organizadas com delicadeza e afinco pelas profas e pesquisadoras Maria Malta Campos, Bruna Ribeiro e Sonia Larrubia Valverde. Como também não posso deixar de lembrar aqui e destacar a pesquisa de doutorado da profa Meire Festa que tão bem vem fazer uma análise critica de toda implementação dos indicadores. que também deixarei abaixo para vocês os links para os indicadores e avaliando na educação infantil, aprimorando os olhares e para a tese de doutorado da profa Meire Festa. 

   

Aos educadores/ras que vem a essa página buscar referências educacionais humanizadoras,  saibam que criticamos enfaticamente uma prática na educação infantil mecanicista, conteudista, ranqueadora, classificatória e despolitizada e que imponham pacotes educacionais empresariais às escolas. 

Defendemos que a educação de crianças bem pequenas seja vivenciada pelo olhar das próprias crianças, de seu envolvimento com a vida e a natureza, sob um olhar poético, artístico e humanizador, respeitando os saberes construídos pela comunidade em que as crianças habitam, portanto, uma pedagogia macunaímica, ou uma pedagogia como prática de libertação rumo a um pensamento questionador e uma alma filosófica.

Agradeço a Sonia Larrubia Valverde e a Rosangela Gurgel, educadoras criancistas a época da Divisão Tecnica de Educação Infantil da Secretaria Municipal de Educação (2013/ 2016) que sempre confiaram nas nossas ações na EMEI Gabriel Prestes e me convidaram a escrita desse relato de prática. 

Trago então aqui uma tantinho dessa baita construção coletiva a partir do meu olhar numa cidade perdida num tempo de delicadezas.

Mais uma vez agradeço sua presença aqui no Jardim da Mariposa para conhecer esse trabalho construído delicadamente por tantas criancistas queridas! 

 

Relato de prática

Cafés com Poesia da EMEI gabriel Prestes estreitando os vínculos e ampliando os diálogos

Por Naime Silva

Coordenadora Pedagógica da EMEI Gabriel Prestes.

Manhã de quase outono, abrimos nossas portas e nosso coração para os encontros, para a brincadeira, para a música indígena, para o cheirinho de pão de queijo, cheirinho de tapioca, para o biscoito feito pelas crianças na cozinha experimental, para a oficina de arte com as crianças, para as famílias sentadas em volta da mesa do café da manhã, dialogando sobre o quanto é rica a experiência de estarmos juntos.

 

As famílias vão chegando de mansinho, quase que amanhecendo na escola, despertando pra beleza que se colocava na manhã de sábado. 

A poesia estava em todos os lugares, na profusão de cores das chitas, nas produções de arte das crianças, na belezura das palavras de amor estampadas por todos os lugares, no aconchego do mobiliário, no cheirinho da torta de queijo feita pelas crianças, nas canções arrebatadoras do cordelista Costa Senna que cantou contra as guerras e a ganância dos seres humanos, ponto alto de emoção, pois estávamos na presença de nossa família mulçumana do Iraque.         

A  poesia também estava presente na fala das crianças que com um coraçãozinho de papel falavam aos adultos: “Me diga uma coisa bonita”. 

A poesia estava na alegria do repente “Casarão” de Adão Fernandes, que de forma ágil, constrói em prosa e verso a discussão das famílias sobre suas pre- ocupações em garantir a infância no ensino fundamental de seus filhos e filhas, do desejo que começa a tornar-se coletivo de ocupar a Chácara Lane em tempo integral e com educação integral de maneira a interdisciplinar educação, cultura e arte no território central da Cidade de São Paulo.

       

Assim são os encontros dos “Cafés com poesia” da Escola Municipal de Educação Infantil Gabriel Prestes, que têm contado com a organização da equipe da escola em parceria com o Movimento Entusiasmo e o Instituto Alana.

Outro ponto alto do diálogo, foi a preocupação em trazer mais famílias para receber os Indicadores de Qualidade da Educação Infantil Paulistana. Momento importantíssimo de autoavaliação institucional, onde toda a comunidade educativa discutiu as nove dimensões indicadoras de qualidade que abordam o conhecimento da proposta político-pedagógica: ambientes, materiais, espaço, interações, múltiplas lingua- gens, gestão democrática, educação para igualdade racial e de gênero, como os bebês e as crianças pequenas são ouvidas e se a voz delas é considerada na rotina da instituição.

Uma semana antes, uma provocação com poemas é lançada aos educadores pelos organizadores. O poema de Alberto Caeiro, “Agora que sinto o amor”, do livro Poesia Completa foi lido em um encontro.

Agora que sinto amor

Tenho interesse nos perfumes

Nunca antes me interessou que uma flor tivesse cheiro. Agora sinto o perfume das flores como se visse uma coisa nova Sei bem que elas cheiravam, como sei que existia

São coisas que se sabem por fora.

Mas agora sei com a respiração da parte de trás da cabeça Hoje as flores sabem-se bem num paladar que se cheira Hoje às vezes acordo e cheiro antes de ver

Alberto Caeiro

Além das rodas de conversa e leitura do poema, as crianças criaram painéis de arte inspirados nele e passaram a criar com suas famílias os seus próprios poemas. Os cafés com poesia passaram a ser mensais tendo como objetivo discutir os problemas das famílias, a forma de educar os filhos e filhas e a escolaridade na região, bem como a política de infância para o território e a cidade.

 

Referências 

Avaliação na Educação Infantil: aprimorando olhares

avaliacao_na_ed_inf_aprim_olhares.pdf

Blog do Poeta Costa e Sena

http://poetacostasenna.blogspot.com/p/cordeis.html?m=1

Campos, Maria Malta at all A qualidade da educação infantil: um estudo em seis capitais Brasileiras

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-15742011000100003

Casa do Mario de Andrade

http://casamariodeandrade.org.br

Emei Gabriel Prestes- portal da Educação SME/ PMSP

http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Main/Page/PortalSMESP/EMEI-Gabriel-Prestes

Emei Gabriel Prestes Fanpage Facebook 

https://m.facebook.com/profile.php?id=1592459884328189&ref=content_filter&_rdr

Faria, Ana Lucia Goulart. Pequena infância, educação e gênero: subsídios para um estado da arte

http://www.scielo.br/pdf/cpa/n26/30394.pdf

Festa, Meire. Tese Doutorado

http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-27082010-161948/publico/MEIRE_FESTA.pdf

Indicadores de Qualidade da Educação Infantil Paulistana

Indic_Ed_Inf_Paulistana.pdf 

Andrade, Mario de, Macuinaíma

Clique para acessar o Macuna%C3%ADma.pdf

Ocupação Mário de Andrade

https://www.itaucultural.org.br/ocupacao/mario-de-andrade/exercicio-cotidiano-de-vida/?content_link=15

Revista Magistério 80 anos Educação Infantil

Rev_Magisterio_80_anos.pdf

Ribeiro, Bruna Indicadores da qualidade na educação infantil: potenciais e limites

http://periodicos.puc-campinas.edu.br/seer/index.php/reveducacao/article/view/1899

Site Movimento Entusiasmo

http://gitatecnologia.com/entusiasmo/

Site Virada Educação 2015

http://nossacausa.com/eventos/virada-educacao-2015/

Nova era de Ouro da Rádio – o debate sobre o (sub) mundo da Podosfera

Os podcasts no Brasil, são uma cultura nova porém não muito recente. Alguns tem por volta de 10, 15anos.

Entretanto, euzinha aqui, na minha humildade, sou ainda uma ouvinte bebê .

Tenho 52 anos e quando eu era ainda bem pequenina, nos anos 70, existia a cultura do rádio, inclusive com novelas de rádio, mas já era uma cultura midiática híbrida com a TV, porque recordo que alguns bem poucos familiares já tinham televisão , mas muito poucos, porque era uma mídia cara e quando uma casa a tinha, muitas famílias e amigxs se reuniam pra assistir um programa de auditório, um filme, uma comédia ou mesmo uma novela televisiva que paulatinamente roubou a cena da rádio.

A verdade é que essa cultura híbrida das mídias entre rádio e TV se perpetuou até por volta dos anos 80 do século passado, quando chegaram novas mídias como as fitas cassete de aparelhos de som e de TV, para ouvirmos músicas, filmes, novelas e programas, que na maior parte das vezes, a gente gravava para ter aquela programa ou para assistir depois.

Com o uso mais frequente de computadores a partir da década de 90 no seculo XX, essa cultura acabou nos levando para os disquetes, os pen drives, para nossas pastas no PC, com downloads de pedaços de músicas e filmes, com a internet de banda discada, tudo muito lento e artesanal.

Os CDs de música competiam com esses arquivos compartilhados já numa cultura em rede e somente depois é que você conseguia comprar músicas, livros e filmes, mas ainda com a necessidade de armazenamento desses filmes, músicas, séries e outros nos próprios DVDs.

Eu mesma ainda tenho algumas dessas raridades preciosas aqui em casa, cassetes de som e TV, CDs e DVDs de mídias retiradas da minha internet do passado.

Hoje a gente consegue pagar uma netflix, um spotify ou mesmo uma Amazon, mas naquela época a gente tinha Napster, Emule, e os BitTorrent, que eram ilegais, vamos deixar bem claro e que muitas pessoas disfarçadamente chamavam de “lojinha”.

Lembro que em 2004, eu assistia The L Word, quando ouvi e vi pela primeira vez o conceito de podcast. Mas na verdade, naquele momento, não me interessei em ser uma ouvinte de podcast, e após 15 anos de exibição da série The L World que a gente ja baixava aos pedaços por torrent, eu so me interessei em ser ouvinte da podosfera depois de muita insistência de meu companheiro, agora em 2018.

Foi ai que descobri um “retorno a era de ouro do rádio” com alguns novos atributos do século XXI.

Isso porque descobri que temos vários agregadores para se ouvir um podcast, que temos vários temas, que posso assinar um podcast, que posso fazer playlist de podcasts, que os podcasts são realizados e concebidos de variadas formas, que existe uma linguagem específica da podosfera, que eu podia inclusive estudar por meio de determinados temas desenvolvidos em um podcast.

Além do que, uma grande nova diferença se apresenta diante do rádio do século 20: você pode ouvir seu programa favorito com seu celular e seu fone de ouvido e limpar a casa e lavar louça/ roupas, que eram tarefas domésticas insuportáveis antes, e que passaram a ser as mais esperadas do dia agora. Eu além desses momentos, ouço nas minhas caminhadas diárias , na musculação da minha academia, no ônibus, amo!

Eu virei fã. Estudo desde psicologia, passando por politica nacional e internacional, Ciência, arte, cultura, contos, História , Mitologia, tecnologia, e até filosofia da melhor qualidade. Pra quem gosta de informação, debate, entretenimento com reflexão, não há nada melhor em tempos de fakenews e informação patrulhada.

Falei no título sobre o (sub) mundo da podosfera, porque ainda sinto ser um mundo por vezes oculto da grande massa de pessoas. Num dos episódios do anticast de número 391, com o tema : O ano do Podcast no Brasil, Ivan Mizanzuk, Ira Croft e Gus Lanzetta, falam sobre a cultura dos podcasts no Brasil e dão dados bem interessantes sobre seu crescimento e popularidade ainda tímida, reservada ainda a um grupo de pessoas.

As vezes me sinto meio ET, quando digo: você ja ouviu podcast tal? E a pessoa olha pra mim com cara de alface e diz: pod o quê? Porque apesar de eu somente virar ouvinte em 2019, eu conheço a cultura podcaster desde 2004. Bom, aí pra não ter que descarrilar um blá-blá-blá, eu resolvi fazer esse post aqui no Jardim da Mariposa contando pra você que não conhece nada, um pouquinho dessa nova onda da “rádio” pra te deixar com uma vontade de ouvir esse mundo cheio de informação bacana, num momento tão difícil da gente coletar boas informações, debates e reflexões.

Aliás, esse post é um álibi, porque na verdade to felizona porque participei do debate do Teologia de Boteco, um dos meus podcasts favoritos que foi publicado agora dia 29 de julho pelo querido âncora Cristiano Machado, o Barba, que veio a São Paulo, no Aconchego do Café, que era o café-bar do Gus ( @gugaoshow no Twitter) até uma semana ou duas depois desse bate papo.

Nesse podcast, o Barba não trouxe pauta específica, deixando a galera falar a vontade. Saiu de tudo, desde a revolução necessária em tempos de obscurantismo até sobre Paulo Freire e a arte do encontro.

Aqui nas imagens abaixo eu e Barba e eu e João Bigon, os âncoras desse debate com os ouvintes de Sampa do Teologia de Boteco.

Assim, você minha leitora e meu leitor, você que é ouvinte de podcast e principalmente você que não conhece nada, aproveita e dá uma olhada nos temas que já foram explorados no Teologia de Boteco e em outros podcasts. Eu vou deixar aqui os podcasts que sou fã e não deixo de ouvir, bem como seus temas centrais e seus links.

Eu uso o overcast como agregador, mas temos vários outros que numa pesquisada nos seu APP Store do celular, você vai descobrir o que é melhor a sua necessidade. Temos até agregadores mais conhecidos como o SoundCloud e a parte gratuita ( que tem propaganda) do Spotify.

Vamos então aos links, temas centrais e seus âncoras , dos meus podcasts favoritos? Vou compartilhar sempre o link do último episódio e você depois navega pelos outros de cada um deles:

1. Anticast e Projeto Humanos- temas Politica e cultura e Histórias em formato Story Telling , âncora Ivan Mizanzuk. Anticast https://overcast.fm/+CsuPemqk Projeto Humanos – Caso Evandro ( esse colocarei o primeiro link pra que vc possa compreender o caso e assistir na sequência – https://overcast.fm/+E9qFlsKyg

2. Baseado em Fatos Surreais- histórias reias de envolvimento afetivo e sexual de mulheres enviados por depoimentos e contados pelas âncoras como se elas fossem as próprias personagens. Âncoras: Marcela Ponce de Leon e Sheylli Caleffi. Você vai morrer de rir, adoro! https://overcast.fm/+HCv3vg_hg

3. Benzina: cultura e Política com Âncoras: Orlando Calheiros e Stephanie Borges https://overcast.fm/+PRNAwGZpQ

4. Chutando a Escada: politica internacional, economia, direitos humanos, etc. âncoras Felipe Mendonça, Geraldo Zahran, Joel Luiz Costa https://overcast.fm/+HIc9hoB9k

5. Dragões de Garagem- Divulgação Científica Âncoras Luciano Queiroz e Lucas Marques e convidados. Simplesmente amo! https://overcast.fm/+h-XLyDg8

6. Dupracast Ciencia, cultura e humanidades e Meditação e estilo de Vida Âncora Dr Duprat. Adoroooo!!! https://overcast.fm/+LRHKaRWQA

7. Foro de Teresina. Adoro! Revista Piauí .Análise da Política Nacional. Âncoras Fernando de Barros e Silva, José Roberto de Toledo e Malú Gaspar https://overcast.fm/+NK0ekwGBQ

8. Jung na Prática. Sobre Psicologia analítica Âncora Lino Bertrand https://overcast.fm/+G_a4mdlbg

9. Nova Acrópole. Aulas e palestras sobre Filosofia. Vários professores/as. Simplesmente adorooooo!!!!! https://overcast.fm/+Nb7Xq5zyc e https://overcast.fm/+L5BLeyRhM

10. Papo na encruza. Sobre espiritualidade umbanda, macumbaria e magia. Com Douglas Rainho e outrxs. Eu adoroooooo!!! https://overcast.fm/+JnvNUrb2A

11. Petit Journal. Economia e Política International Com os profs Daniel Souza e Tamguy Baghdadi https://overcast.fm/+H2IJ47ck4

12. Psicocast Psicologia e psicanálise com Rafael Cerqueira e outrxs https://overcast.fm/+GSjiA9uT4

13. Trabalho de Mesa . Teatro e Cinema. Simplesmente um dos meus prediletos!!!! Reinecken e outrxs https://overcast.fm/+IfJZXvYMs

14. Tribo Forte. Não vivo sem ouvir!!!!!! Com Rodrigo Polesso e Dr J R Souto. Amo como amo proteína! Sobre ciência nutricional https://overcast.fm/+LXMutQKEg

15. Arquivo aberto. story Telling sobre o Caso Marielle ( vou colocar o 1º episódio para seguir a sequência) Narração Dyego Viana https://overcast.fm/+SCMTEClj4

16. Ih, Rita! Jornalismo independente de Rita Lisauskas. Amo!!!! https://overcast.fm/+RLHGiV-Qs

17. Vira Casacas- sobre politica, direito e cultura com Felipe Abal, Gabriel Dival e Carapanã. Eu amo muitooooo!!! https://overcast.fm/+JoscpzhrA

18. Xadrez Verbal, uma aula de política internacional com Felipe Figueiredo e Matias Pinto https://overcast.fm/+EsmxV11Kg

19. Vamos todos morrer Sobre morte, poesia, filosofia e sarcasmo. Podcast português. Amo!!!!! https://overcast.fm/+RcThAZGRw

20. Máquina de Inscrever : podcast em formato programa de rádio da minha amiga irmã Paloma Klisys https://overcast.fm/+QyvN7Nyug

21. Ana Garlet do Instituto Ipê Roxo fala sobre Filosofia Sistêmica de Bert Hellinger. Minha playlist dela está no SoundCloud. Amooooo!!!! https://soundcloud.com/naime-silva-512344264/sets/ana-garlet/s-uweU3

22. E por fim, o mais belos dos belos com meu âncora predileto Cristiano Barba de Teologia de Boteco que traz no antigo café -bar do Gus o debate da Galera sobre revolução e amor, onde pude dar meus pitacos sobre o que ando pensando sobre o assunto. Deixo a apresentação aqui também desse episódio:

Saudações, Classe trabalhadora…

Na sema passada rolou um encontro com os ouvintes do teologia de boteco, lá no Aconchego do café, na Moóca, em São Paulo… Apareceu muita gente e a festa foi muito legal (no meio do programa vc vai ouvir o Gus, dizendo anunciando a chegada de mais cerveja) O resultado desse encontro foi um podcast coletivo, de 2 horas aproximadamente, com as opiniões de muita gente que estava por lá!

Eu quero agradecer a todos e todas que estiveram por lá, que ajudaram a fazer um dia muito feliz na minha vida… Muito obrigado!

E agora, é esperar os próximos encontros (Rio de Janeiro é a capital mais cotada para o próximo encontro que ainda não tem data prevista) mas quero rodar o brasil inteiro pra conversar com os ouvintes

Esse programa não teve introdução pq eu estava muito doente no dia da publicação!

LOAD IMAGES FROM TEOLOGIADEBOTECO.COM.BR

Quem marcou presença, da podosfera

Giovani Alecrim do Café com Alecrim e do Piada de Pastor

Mari Ribeiro, do Marinadas, Mileniados e Novelacast

Felipe Mendonça do Chutando a Escada

Cecíla (que tem um projeto solo, chamado Punho Podcast)  e Bruno do Babel podcast

Inscreva-se no OUVINDO CAPIVARA : https://www.eventbrite.com.br/e/ouvindo-capivaras-2019-tickets-64227555347

Telegram dos ouvintes do Teologia de Boteco: https://t.me/teologiadeboteco

Se você gostou e quer apoiar esse projeto para que ele continue, considere entrar no grupo do Apoia.se –https://apoia.se/teologiadeboteco

Bom! Você deve ter percebido o quanto virei fã! Agora que você tem algumas poucas informações dessa nova era de ouro da rádio no século 21, conta pra mim, depois de ouvir, qual seu podcast predileto e porquê? Venha sobrevoar no meu jardim e se perfumar entre minhas flores 🌹!

https://overcast.fm/+MECBxP1rk

Um pouquinho de Jung no dia de seu aniversário

CGJung

Estou atualmente estudando Carl Gustav Jung, um psiquiatra nascido na Suíça, em 1875, que nos trouxe vastos conhecimentos que chamamos de psicologia analítica ou psicologia profunda.

Quando criança Jung ficou um ano sem ir à escola, após ter sido agredido por um amigo e desenvolveu uma espécie de síndrome do pânico.

O pai de Jung era pastor luterano e sua mãe era uma mulher rica, poderosa, mística e muito culta e, por ambas as influências, Jung interessou-se toda a sua vidas por religiosidade, filosofia, arqueologia, sociologia e psiquiatria e psicanálise. Leu Schopenhauer, Nietsche, Kant, Goethe, todos os renascentistas, grandes filósofos e, por esse motivo, usou suas próprias angústias, medos e cólera como fonte de estudo e pesquisa.

Formou-se em psiquiatria aos 26 anos em 1900, quando já havia lido “A interpretação dos sonhos” e os estudos de Breuer e Freud sobre histeria.

Somente em 1907, quando Jung escreveu um livro sobre psicologia da demência precoce, que era o nome que se dava a esquizofrenia na época, ele resolveu enviá-lo a Freud,  para que assim pudessem trocar conhecimentos.

Jung então foi a Viena durante 15 dias e lá tiveram um encontro numa conversa que durou 13 horas e que Jung classifica como “[…] uma conversa muito longa e penetrante”.

Dessa conversa nasceu uma forte amizade pessoal. Entretanto, apesar de Freud ser alguém do afeto de Jung, ele o considerava de natureza muito complicada, porque, segundo Jung, as ideias de Freud eram fixas, quando pensava algo, assim estava estabelecido e enquanto Jung se via como alguém que duvidava de tudo e de todas as coisas o tempo todo.

Entre tantas ideias divergentes, aquela que fez o rompimento dessa parceria profissional foi que, para Freud, o inconsciente humano é apenas pessoal e para Jung temos tanto o inconsciente pessoal quanto o coletivo – o que era inconcebível para Freud.

A partir daí, Jung desenvolve sua psicologia profunda e revisita toda sua obra após os 70 anos, escrevendo sobre os arquétipos do inconsciente coletivo, sobre os complexos do inconsciente pessoal, sobre a sombra, persona, anima/animus e SELF, que é o centro da essência de cada um de nós.

Ainda afirmou que nos relacionamos com o mundo exterior por meio dos sentidos, que cada individualidade pode se relacionar de forma introvertida ou extrovertida e que apresentamos formas dinâmicas de  tipos de relação com o mundo – que podem ser pela sensação, pelo pensamento, pelo sentimento e pela intuição.

Estas características combinadas na individualidade humana podem apresentar até 64 combinações entre esses opostos extrovertido/introvertido combinando pensamento/sentimento e sensação/intuição, entrelaçando-se em variadas combinações.

Para tanto revelou também, além dessas características humanas, sobre quatro tipos de temperamentos encontrados nas pessoas: colérica, fleumática, sanguínea e melancólica. Nosso aprendizado humano é não permitir que um desses temperamentos sejam fixos em nossa persona, mas que possamos dar movimento a elas num equilíbrio entre o ego e a sombra, num grande pingue-pongue dos temperamentos, pois a repressão da vazão de qualquer desses temperamentos, pode estabelecer as doenças físicas e ou mentais.

Nesse sentido é que se estabelece o trabalho da psicologia analítica de Jung, que evoca o que está retido nas sombras da alma humana e que se manifesta como fala/voz nas doenças do corpo ou da mente.

A ArteTerapia nesse sentido, é um das formas da pessoa em análise, materializar na arte esse vai-vem dos conteúdos (complexos e arquétipos) que transitam do inconsciente para o consciente com o objetivo de descobrir sua individuação.

Jung nasceu na data de hoje, em 26 de julho de 1875 e morre aos 85 anos em 1961, nos deixando um legado incrível – a psicologia clínica – a qual me sinto privilegiada de estudar. 

No vídeo abaixo você poderá assistir uma entrevista incrível do Jung, publicada no canal Jung na Prática. Se eu fosse você não perderia a oportunidade de conhecer esse grande homem.

Naíme Andréa Silva

Inverno/2019

Aluna do IJEP/ Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa

https://youtu.be/JK_Jnor6w88

Discurso em defesa do Parque das Águas do Bixiga/Teatro Oficina

No dia 5 de junho, dia mundial do Meio Ambiente, a CIA Uzyna Uzona do Teatro Oficyna realizou um TeAto, em defesa da preservação ambiental e cultural do Bixiga e do Teatro projetada por Lina Bobardi, cujo, tive a honra de ser convidada para fazer uma fala. Fiz questão de estar na presença de meu filho e a cada palavra dita, olhar profundamente nos olhos do nosso amado Zé Celso Martinez. Abaixo, transcrevo em texto a minha fala emocionada:

“Evoé! Alegrias! Eu escrevi minha fala e vou lê -la, porque gostaria de dizer tanta coisa e to tão emocionada que tenho medo de me perder em meio a tanta coisa importante, Zé, por isso peço licença para essa leitura!

Sou educadora de infância e moradora do Bixiga há 20 e nos últimos 10 anos minha história pessoal e profissional se misturam ao Tetro Oficina e ao Parque do Bixiga.

Em dezembro de 2009, assisti ao Banquete de Platão e Sylvia Prado lavou meus pés e Héctor Othon, que fazia Zeus, encheu meus cabelos de flores, na noite eu que eu e meu companheiro Nuno, concebemos nosso filho Abá. Foi uma noite incrível como se eles me preparassem pra receber esse ser de luz no meu ventre.

No hemisfério Sul, para algumas bruxas e bruxos, a noite do Halloween é comemorado dia 1º de maio e foi nessa noite de 1º de maio de 2010, já redonda e barriguda, que eu vim assistir As Bacantes e tive vontade imensa de viver o mesmo que Caetano Veloso viveu, sendo devorada pelas bacantes ( risada). Imagina, fiquei só na vontade.

Em 2010, ainda assisti a Taniko, o rito do Mar, que me inspirou numa ousadia: montar Tanikinho com crianças bem pequenas da Ed Infantil na I Festa da Cultura Popular da EMEI Gabriel Prestes em 2014. Por conta dessa montagem, Mariano Mattos me convidou em outubro de 2014, pra um jantar pra conhecer a Camila Mota e desse dia em diante, a luta pelo Teatro Oficina, pelo Parque do Bixiga e pelas Infâncias paulistanas na construção da cidade educadora, passou a ser uma luta irmã.

Em 2015, em continuidade de um projeto educacional no território Consolação/ Bixiga, que dialogasse com Paulo Freire, Mário de Andrade e Oswald de Andrade, a companhia Uzina Uzona de Teatro e o Projeto Bixigão fizeram vivências com crianças e educadoras da EMEI Gabriel Prestes durante algumas sextas feiras e no mês de setembro, fizemos juntos um cortejo de abertura da II Virada Educacao, por um mundo mais poético, com o Rito do Pau Brasil de Oswald de Andrade, levando conosco alunas estagiários de Pedagogia da Universidade Makenzie sob a regência da criancista e ativista profa Celia Cerrão, as famílias e crianças da Emei Gabriel Prestes, várias educadoras e ativistas pela infância e o Movimento Entusiasmo de André Gravatá, num ato poético e cultural, que desceu a Consolação e o encerrou na Praça Roosevelt. Essa Virada Educação foi histórica, pois também comemoramos os 80 anos da educação infantil na cidade de São Paulo, desde a criação dos Parques Infantis, concebidos por Mário de Andrade.

Em 2017, Sylvia Prado recebeu aqui no Teatro Oficina, numa roda de conversa do curso de difusão para educadoras e educadores da rede pública municipal da Faculdade de Educação da USP, coordenada pela profa Dra Marcia Gobbi, intitulado : Infância desde os bebês, projetos e políticas na cidade , onde pude fazer a mediação do grupo nessa conversa com a Sylvia Prado, sobre a defesa do Teatro Oficina e a criação do Parque do Bixiga.

Por último, queria dizer que a defesa do Teatro Oficina e do Parque do Bixiga se misturam a defesa da comunidade Bixiga, de suas famílias e crianças, pois a defesa da criação e manutenção dos parques na cidade é a defesa das Infâncias paulistanas e da concepção de cultura das Infantis de Mário de Andrade e do prof Paulo Freire.

Ainda vale dizer que nós professoras de Infâncias temos um sonho e uma utopia, o sonho de uma cidade educadora , onde a cidade seja Organizada pelo olhar das crianças que a habitam, certamente ela seria cheio de parques, de alegria e de poesia.

Nossa utopia anarquista, seria de uma outro mundo mais justo e humano, sem prisões, sem igrejas, sem partidos políticos e sem escolas, onde pudéssemos viver como nossos povos originários, organizados por ecovilas e escolas da floresta, onde as ciências, as tecnologias, a arte, a cultura e a natureza vivessem em comunhão, num mundo sem dinheiro, sem a relação com o capital e poder, numa relação em comunidades, de forma dialética, sob auto gestão, numa pedagogia macunaímica, como sempre nos fala a Profa Ana Lúcia Goulart de Faria. Que a gente possa ter fôlego e musculatura pra lutar por esse sonho e consequentemente por esse utopia de um mundo mais justo e humano!

Viva o Teatro Oficina! viva o Parque do Bixiga! viva as Infâncias Paulistanas!”

Na foto que tirei abaixo, representando as mães das águas do Bixiga, Joana Medeiros como mamãe Yemanjá, Danielle Rosa como mamãe Oxum.

Salve Salve! IÓ! Evoé!

Filme Rocketman de Dexter Fletcher – análise

Fui assistir a biografia de Elton John sem muitas expectativas, afinal havia me decepcionado bastante com Bohemian Rhapsody, que me pareceu um filme bem ilustradinho para poder ser engolido pela crítica conservadora.

Na primeira cena do filme, um nó ja se instalou na minha garganta: um longo corredor por onde entra Elton com uma indumentária de anjo caído abre as portas de um grupo terapêutico de alcoólicos anônimos.

Ali já me dei conta que não seria um filme comum, porque traz a ideia de um Anjo caído para a terapia como um dos tantos símbolos que recheariam o filme.

A cena se desenrola nesse cenário e ao trazer as memórias sua história de infância, entra uma criança simbolizando o Reggie, Elton pequenino. Nesse instante eu ja me sentia cativada!

Obviamente não tenho intensão aqui de dar spoiler, mas de analisar alguns pontos e convidá-los a assistir e depois comentar comigo sua própria leitura do filme.

A construção dos personagens

Tanto nos Reggies crianças, Matthew Illesley e Kit Connor, quanto no ator adulto Taron Egerton, a construção das personagens teve um crescente sensível e coerente com as relações estabelecidas no clã familiar.

O menino Reggie de uns 8 anos mais ou menos, com o ator Kit Connor, tem poucas cenas, mas que são primorosas para entendermos a relação parental estabelecida e como o filme se desenrola como um drama psicológico e a construção desse ator criança é incrivelmente sensível. Um prato cheio para psicólogos analíticos, mas que pode ter deixado a desejar aos artistas e músicos que gostariam de ver o ato criativo de um músico, independente de seus complexos emocionais, se é que essa separação seja de fato possível.

Aos psicólogos analíticos, um filme pra saborear e talvez pra ver mais de uma vez, tamanho acervo de símbolos que tanto a personagem de Elton John, quanto suas personas e ainda se quisermos analisar as outras personagens como suas contrapartes apresentam. E ainda temos os símbolos sensíveis inseridos pela direção do filme como a relação de Elton John com seus figurinos, com seus óculos e como essa construção e desconstrução se deu.

O filme como musical também revela uma sensibilidade incrível do diretor Dexter Fletcher, pois se utiliza da corporeidade dos bailarinos e das canções de Elton John e Bernie Taupin como textos, para revelar os momentos picantes de sexo e drogas e trazer essa trama com arte, mas sem os ocultar e nem disfarçá-los, como vimos na biografia de Freddie Mercury.

Aqui também vale um destaque para a relação dessa dupla, Elton e Bernie, que analisei uma como contraparte do outro. Elton, que era inicialmente tímido, calado, se encontra com um Bernie, bem empolgado com o futuro da dupla. Bernie parece revelar ter uma personalidade de Elton, confusa e magoada dentro de si, expressa nas letras que você diria que foram escritas para a própria vida de Elton. Ao longo da evolução das personagens, Elton se transforma no Anjo Caído e Bernie anseia pela simplicidade do trabalho criativo da dupla. Talvez o ator de Bernie, Jamie Bell, pudesse ter explorado melhor esses aspectos na construção da personagem, que ao meu ver ficou bem aquém da construção de Taron Egerton.

Outra cena que pra mim foi marcante – Elton, depois de famoso artista de Rock e milionário, vai visitar seu pai e percebe o como seu pai trata seus meios irmãos diferente da relação que teve com ele. Que afinal para o pai, ele não passa de um cantor de Rock famoso para autografar o disco para seus filhos pequenos. O subtexto no olhar de Taron Egerton é arrebatador e revela a enorme qualidade da construção da personagem.

Por fim, gostaria de dizer que Elton John, o menino Reggie não aceitou ficar no amor cego em seu clã familiar.

Sabia que algo estava muito errado e que poderia levá-lo inclusive a perder seu bem maior: sua vida.

E essa toada do filme é um foco de luz, uma grande esperança pra tantas pessoas que vivem na escuridão do amor cego, que alguém tão perdido, possa encontrar no caminho interno um pai e uma mãe real, buscar a saúde para olhar rumo a um futuro com uma família e filhos e uma carreira que não precisou chegar a morte dessa e nem do artista como tantos astros do Rock ou artistas que acabam em ruína, na morte ou solidão como única possibilidade histórica e biográfica.

Ainda vale dizer que muitas vezes durante Rocketman lembrei de um filme cult que assisti quando criança, apresentado por meu tio Walter Ben que ama Elton John – Pinball Wizard (Tommy no Brasil) – que tem The Who, Eric Capton, Elton John, entre tantas na trilha sonora e que conta sobre um “menino criado no período do pós-guerra na Inglaterra e que desenvolve surdez e cegueira psicológicas, devido a experiências traumáticas na infância. Habilidoso nos jogos, ganha fama como campeão de fliperama, tornando-se ídolo nacional” (pesquisa google). Também fica a dica para assistirem.

Assim faço um convite pra que você assista Rocket Man e volte aqui no meu jardim para comentar nessa postagem suas impressões! Te aguardo! Fique agora com o trailer oficial de Rocket Man.

                 

                                                                                                                             

                    

                       

 

 

Sincronicidade e Sintonia

Minha trajetória na psicologia seguiu o caminho da psicanálise freudiana e neo freudiana. Tem sido um grande aprendizado e quebra de paradigmas, pensar nos conceitos junguianos que a meu ver, ampliam os conhecimentos valorosos da psicanálise de Freud.

O conceito de sincronicidade para Jung, assim como o conceito de Sintonia para Bert Hellinger me assolaram na prática na semana passada.

Estressada com os afazeres do cotidiano como mulher, mãe, aluna e profissional, eu me vi angustiada com minha alegria escondida do meu dia a dia. Minha “rigidez” com uma ação de “correteza” com as coisas , com a vida, com horários, com as pessoas, com minúcias e detalhes, me dá alegria muitas vezes, noutras me coloca sob absoluta tensão. Aprendizado constante de que a vida e a realidade tem seu próprio rumo e que nem sempre ou na maioria das vezes não podemos controla-la.

Pois foi nesse ritmo insano que na mesma semana recebi de uma amiga no Whatsapp, a imagem de uma “mulher borboleta” ou “ fada” na beira de uma cerca a lançar-se sobre a mata, a floresta. Tantas vezes, incontáveis vezes, sonhei com essa imagem.

Para Jung, Sincronicidade é um conceito desenvolvido para definir acontecimentos que se relacionam não por relação causal e sim por relação de significado. Desta forma, é necessário que consideremos os eventos sincronísticos não relacionados com o princípio da causalidade, mas por terem um significado igual ou semelhante. A sincronicidade é também referida por Jung de “coincidência significativa”.

O termo foi utilizado pela primeira vez em publicações científicas em 1929, porém Jung demorou ainda mais 21 anos para concluir a obra “Sincronicidade: um princípio de conexões acausais”, onde o expõe e propõe o início da discussão sobre o assunto. Uma de suas últimas obras foi, segundo o próprio, a de elaboração mais demorada devido à complexidade do tema e da impossibilidade de reprodução dos eventos em ambiente controlado.

Em termos simples, sincronicidade é a experiência de ocorrerem dois (ou mais) eventos que coincidem de uma maneira que seja significativa para a pessoa (ou pessoas) que vivenciaram essa “coincidência significativa”, onde esse significado sugere um padrão subjacente, uma sincronia. Fonte : https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Sincronicidade Wikipedia acessada em 29 de maio de 2019.

Abaixo seguem dois exemplos citados pelo próprio Jung.

“Uma jovem paciente sonhou, em um momento decisivo de seu tratamento, que lhe presenteavam com um escaravelho de ouro. Enquanto ela me contava o sonho, eu estava sentado de costas à janela fechada. De repente, ouvi de trás de mim um ruído como se algo golpeasse suavemente a janela. Dei meia volta e vi que foi um inseto voador que chocava contra ela. Abri-a e o apanhei. Era a analogia mais próxima a um escaravelho de ouro que se pode encontrar em nossas latitudes, a saber, um escarabeido (crisomélido), a Cetonia aurata, que, ao que parece, ao contrário de costumes habituais, se via na necessidade de entrar em uma sala escura precisamente naquele momento. Tenho que dizer que não me havia ocorrido algo semelhante nem antes nem depois disso, e que o sonho daquela paciente segue sendo um caso único em minha experiência.”

“Na manhã do dia 1º de abril de 1949 eu transcrevera uma inscrição referente a uma figura que era metade homem, metade peixe. Ao almoço houve peixe. Alguém nos lembrou o costume do “Peixe em Abril” (primeiro de abril). De tarde, uma antiga paciente minha, que eu já não via por vários meses, me mostrou algumas figuras impressionantes de peixe. De noite, alguém me mostrou uma peça de bordado, representando um monstro marinho. Na manhã seguinte, bem cedo, eu vi uma outra antiga paciente, que veio me visitar pela primeira vez depois de dez anos. Na noite anterior ela sonhara com um grande peixe. Alguns meses depois, ao empregar esta série em um trabalho maior, e tendo encerrado justamente a sua redação, eu me dirigi a um local à beira do lago, em frente à minha casa, onde já estivera diversas vezes, naquela mesma manhã. Desta vez encontrei um peixe morto, de mais ou menos um pé (30 cm) de comprimento, sobre a amurada do lago. Como ninguém pôde estar lá, não tenho ideia de como o peixe foi parar ali.” Fonte : https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Sincronicidade Wikipedia acessada em 29 de maio de 2019.

Não bastasse a sincronicidade da primeira imagem com um sonho recorrente meu, ao assistir uma aula num Congresso online do IJEP – https://www.congressoijep.com.br – onde estudo Arteterapia – https://www.ijep.com.br – recebi a mesma cena, em imagem semelhante, como podem observar na sequência da primeira imagem.

Se pudermos ainda observar uma terceira sincronicidade, nos reportemos ao nome desse blog e minha relação com as mariposas, animal parecido com as borboletas, entretanto maior, mais pesada, de voo mais vagaroso e “sombrio”, que me acompanha por toda minha vida desde a infância.

Também aqui me referi ao conceito de sintonia para Bert Hellinger. No livro Ordens da Ajuda, Hellinger descreve os limites e recursos que um terapeuta ou ajudante precisam estar atento. Ele diz que:

“Sintonia é uma percepção a partir do interior, num sentido amplo. Como a intuição, ela também se direciona para a ação, principalmente para a ação de ajuda. A sintonia exige entrar na mesma vibração do outro, alcance a mesma faixa de onda, sintonize com ele e o entenda assim. Para entendê-lo, também preciso ficar em sintonia com sua origem, principalmente com seus pais, mas também com seu destino, suas possibilidades, seus limites, e também com as conseqüências de seu comportamento e de sua culpa; e, finalmente, com sua morte.” Fonte: https://www.cristinaflorentino.com.br/arquivos/15978 acessada em 29/05/19

Ambos conceitos de sincronicidade e sintonia no caso dessas imagens me trazem o sentimento de uma conexão da vida comigo, de uma comunicação do meu self com meu ego, para me ajudarem no meu caminho e jornada de me conhecer, de me melhorar como pessoa.

Certamente essas sincronicidades e sintonia me acompanharão nas próximas reflexões de meu processo analítico no meu espaço psicoterapêutico/ arteterapêutico.

Você presta atenção nas sincronicidades e sintonias que acontecem no seu dia a dia?

Em Tempos de Matrix

Uma análise critica sobre o horizonte da humanidade nas futuras gerações

Eu e minhas companheiras de Jardim nascemos em uma época em que a internet e os computadores não existiam. A força do rádio e da TV como mídias eram muito mais presentes em nossas vidas. Computadores e o mundo virtual passaram a fazer parte de nossa cultura apenas no fim dos anos 90. Essas reflexões sempre estiveram em nossa relação dialética, fomentando continuamente bons debates. Trago um desses debates nesse ensaio, a qual eu e Magda, no curso de pós graduação em Gestão para a Educação Básica em 2007, na UNIFMU, perspetivamos uma mirada diferente para a geração que iria nos suceder. Obrigada por pousar na flor desse jardim!🌷


Magda Edgmar Rodrigues Rocha
Naíme A. Silva

“Considerate la vostra semenza:
Fatti non foste a viver come bruti
Ma per seguir virtute e conoscenza”

Dante, a Divina Comédia

Resumo

Este ensaio traz uma proposta de levantar algumas reflexões sobre os caminhos que a humanidade tem traçado para as futuras gerações. O impacto das novas tecnologias, o avanço das Ciências exatas e Genética, parece nos apontar caminhos que levem a humanidade, ao bem comum. Porém, estes avanços aliados à ganância de poder, capital e exploração humana, podem também levar a incertezas de um futuro não muito promissor. No filme Matrix, o personagem Neo precisa escolher entre tomar pílulas rosa ou azul, para, mais do que escolher as cores destas, definir continuar submerso em um sonho irreal do final do século XX, ou ser o escolhido para travar a batalha na realidade da Matrix e entender que o Contexto em que sua geração nasceu e cresceu não passava de um mero programa de computador. A batalha na Matrix era então para preservar o pouco de humanidade que ainda restava contra a invasão da inteligência artificial criada pela própria humanidade.

A trama do filme Matrix parece estar intimamente ligada ao drama da humanidade em nossa era contemporânea, buscar respostas com o “Arauto”, que coloca enigmas da Filosofia para desvendar quais os caminhos para vencer a dominação da Humanidade sobre sua própria invenção: a ciência e a tecnologia.

Palavras-chave: Filosofia, Humanidade, Tecnologia, Futuro.

Introdução

Este artigo tem como objetivo discutir e trazer a reflexão o afastamento da Filosofia do cotidiano da humanidade.

A Filosofia antiga revela períodos na historia Grega. Desde o pensamento Naturalista ao buscar o principio unitário de todas as coisas, o pensamento sistemático sob as bases da lógica, da ciência, da metafísica, para o pensamento ético preocupado com as questões morais e o religioso na busca de resolução para os problemas na fé. Deste período Grego da Filosofia antiga para os tempos atuais , percebemos que o “pensar” ainda está restrito a uma “elite” da alma, do espírito, da racionalidade de poucos Seres. No século XX e XXI, temos em Husserl, Heidegger, Nietzsche e Freud, questionamentos sobre os fenômenos e valores, nossa existência e da importância da nossa sexualidade para construção do self.

No entanto, toda esta elaboração refinada e rebuscada da compreensão humana, do pensar sobre o conhecimento, a ética, a moral, não parece refletir de forma mais sólida e intensa em nossa contemporaneidade.

A Filosofia como dúvida, investigação, busca de um bem comum e da preservação da vida, nos parece ter sido relegado a poucas “mentes brilhantes”.

A Filosofia deveria estar presente em nosso cotidiano, nas coisas mais simples, na infância, na juventude, com anciãos. Acreditamos que este entendimento seria uma forma de levar a humanidade como um todo a busca da harmonia entre conhecimento construído e a cultura popular, entre a Ciência , tecnologia, arte, ecologia, na busca da felicidade em meio a diversidade em todos os níveis. O resgate do sentido do tempo e do trabalho para o bem comum, do trabalho como forma de realizar cultura.

Este artigo pretende defender a idéia de que se faz urgente o espaço para o pensar de forma consciente sobre que existência desejamos ter no futuro.

Discussão

No mundo atual, nos parece que a humanidade tem uma lógica utilitária e funcional diante da vida. Esta lógica também parece trazer a ilusão de que se algo não nos serve, devemos eliminá-la. E assim vamos destruindo tradições culturais, reservas ecológicas, espaços de convivência, e no lugar disso, colocamos conhecimentos destituídos de sentidos, busca incessante de consumo que supra nossas inquietações psicológicas, espirituais e mais do que isso, destruímos na realidade, nossa ligação com o ecossistema, com o ciclo da vida.

No mundo ocidental, nos centros urbanos, nas grandes metrópoles que detém o monopólio do conhecimento cientifico e da economia predominante, da produção que sustenta a todos; as crianças têm pouco ou quase nenhum contato com o ciclo da vida. Tudo parece produzido de forma mágica até ser retirado de uma prateleira nos supermercados. Estas mesmas crianças há algumas gerações, acompanham seriados e desenhos animados na televisão e cinema que numa concepção hollywoodiana determina que sempre haverá aqueles que querem dominar o mundo pelo desejo de poder, ciência e consumo.

Ortiz (1999):

Estrelas de cinema, ídolos de televisão (hoje projetados mundialmente pela TV a cabo e pelo satélite), marcas de produto, são mais do que objetos. Trata-se de referências de vida. As viagens de turismo, as visitas à Disney World, as férias no Caribe, a freqüência aos shopping centers, os passeios pelas ruas comerciais fazem parte de um mesmo imaginário coletivo. Grupos de classes médias mundializadas podem assim se aproximar, se comunicar entre si. Eles partilham os mesmos gostos, as mesmas inclinações, circulando num espaço de expectativas comuns. Neste sentido, o mercado, as transnacionais e a mídia são instancias de legitimação cultural, espaços de definição de normas e de orientação da conduta. Sua autoridade modela as disposições estéticas e as maneiras de ser. Da mesma forma que a escola e o Estado se constituíram em atores privilegiados na construção da identidade nacional, as agencias que atuam num nível mundial favorecem a elaboração de identidade desterritorializadas. Como os intelectuais, elas são mediadores simbólicos.

As crianças neste sentido, parecem ser adestradas desde muito pequenas a acreditar que a felicidade é obter coisas, numa concepção que é mais valoroso TER do que SER. E que para tanto é necessário dispensar de disputa, violência, egoísmo e poder. Marcuse (1973) enfatiza:

Bertolt Brecht notou que vivemos numa época que parece crime discutir sobre uma árvore. Desde então, as coisas pioraram muito. Hoje, parece crime falar meramente sobre mudança, enquanto a sociedade em que vivemos é transformada numa instituição de violência. (p. 128).

A mídia e as tecnologias revelam uma nova situação para o final do século XX e inicio do século XXI: o tempo e o espaço andam paralelamente e operam em dois campos, o real e o virtual. Mas nesta lógica não é impossível afirmar que o virtual tem substituído com cada vez mais força o real. Em Marcondes Filho (2002) encontramos:

Mas o acoplamento simultâneo de dois mundos leva, necessariamente, à degradação de um deles, indubitavelmente, do mundo antigo, do mundo-base, do mundo – referencia para todas as construções no mundo dos espaços virtuais: entramos na civilização do esquecimento. (p.137).

O final do século XX e inicio do século XXI traz uma variedade de filmes na Industria cinematográfica que parece apontar um futuro para a vida da humanidade. No século XX, na década de 70, o seriado para a TV, Jornada nas Estrelas e o desenho animado Jetsons mostra um aparato tecnológico traçando uma ordem futurística como ficção científica. Em jornada nas estrelas, já havia celulares, computadores super avançados, com veiculação de comunicação pela imagem por meio de câmera em telas gigantes e teletransporte. Anos depois, acompanhamos a invenção dos celulares, web cam e outros aparatos de alta tecnologia. Em Blade Runner no inicio da década de 80, as telas de cinema nos trazem os replicantes, seres-máquina que possuem sentimentos e são escravizados em estação intergaláctica. Em contrapartida, a década de 90, a Ciência traz estudos do genoma, células- tronco e clonagem de seres humanos.

Mezan (1987) ao citar Freud afirma:

Os cientistas são, como afirma em O Futuro de uma Ilusão, os servos do Deus Logos,cuja voz, por apagada que seja, é insistente e não descansa enquanto não se faz ouvir. “Nunca pude compreender porque deveria envergonhar-me de minha origem ou, como já começava se dizer então, de minha raça. Renunciei, pois, sem grande emoção a conacionalidade que me era negada. Pensei, com efeito, que para um zeloso trabalhador sempre haveria um lugar, por modesto que fosse, nas fileiras da Humanidade laboriosa…”(p.48)

Na América, na maioria das grandes metrópoles, há um aumento populacional que se espreme geograficamente, dando espaço a uma selva de concreto. O capital nas bolsas de valores é moeda virtual que determina para quase todo o planeta a economia no mundo Globalizado. As pessoas se alimentam vorazmente em fast-foods, apresentando altos índices de obesidade mórbida, e problemas cardíacos. Aterros sanitários já não dão mais conta da quantidade de lixo produzido e não aproveitado e o lixo atômico também é cada vez maior na atmosfera. Em nome e sob um discurso pela liberdade, a América prossegue insana levando as nações a acreditarem que somos criadores e a tudo podemos e não criaturas da Natureza e como parte dela, a preservando, nos preservaremos e nos perpetuaremos. O ciclo da vida perde-se neste caminho. Concordamos com Marcuse (1973):

O fetichismo do mundo de mercadorias que parece tornar-se mais denso dia a dia, só pode ser destruído por homens e mulheres que despedaçaram o véu tecnológico e ideológico que oculta o que está acontecendo, que encobre a realidade insana do todo – homens e mulheres que se tornaram livres para desenvolver suas próprias necessidades, para construir, em solidariedade, seu próprio mundo. O fim da coisificação é o princípio do indivíduo: o novo Sujeito da reconstrução radical. E a gênese desse Sujeito é um processo que desintegra a estrutura tradicional da teoria e pratica radicais. (p.127).

Os produtos globalizados são muitas vezes produzidos pela vergonhosa exploração da força de trabalho de crianças e jovens, de homens e mulheres trabalhadores rurais, que humildes, não possuem informação e nem reflexão sobre o domínio de suas vidas, sem saber que são vitimas da mais valia tão falada pelo materialismo dialético de Marx. Esta dialética também foi apontada por Hegel: (…) Na fenomenologia do espírito, Hegel nos fala de uma dialética do senhor e do escravo, que o Ser do escravo encontra-se alienado no Ser do senhor. (apud ORTIZ, p. 78, 1999).

O desequilíbrio ecológico tem deixado pistas de que o planeta não vai bem. A água potável tem tempo de vida, o buraco na camada de ozônio tem se ampliado, a Amazônia tem sido devastada cada vez mais a cada nova década. Nos centros urbanos não há predadores na cadeia alimentar. E assim convivemos com o aumento da população de ratos, baratas e insetos transmissores de epidemias. Marcondes Filho (2002):

Os novos espaços, tanto os concretos espaços ciderais, objetos da nova Marcha para o Oeste, como as comunidades “ realmente inexistente” das cidades eletrônicas virtuais relêem o mundo e dão vazão às fantasias numa era em que o planeta vai ficando cada vez mais a mercê de si mesmo, cada vez mais espaço de dejetos de todos possíveis, desde o lixo atômico, os alimentos envenenados, o ar irrespirável, os solos contaminados, até as próprias massas humanas desalojadas, abandonadas, sumariamente liquidadas em guerras limpas. A própria revolta, o protesto, a indignação estão estruturalmente dependentes das tecnologias em tempo real. (p. 137-138).

Mas tudo parece continuar no plano da invisibilidade, multidões de miseráveis também são tratados como ratos repugnantes e na sua grande maioria são negros. Segundo Ortiz (1999) em um Outro território: ensaios sobre a mundialização:

[…] a América cada vez mais se vê como uma composição de grupos, mais ou menos irradicáveis em seu caráter étnico. O dogma multiétnico abandona o propósito da historia, substituindo a assimilação pela fragmentação, a integração pelo separatismo. […] O todo encontra-se estilhaçado, o centro ameaçado pela desunião. Não é o julgamento de valor implícito no diagnóstico de Schlesinger – a busca pela organicidade perdida da nação-, que me parece mais interessante. Mas o retrato de um povo que, no passado recente, possuía uma auto estima de si mesmo. Ele não revela apenas a face de um único país. Trata-se de uma condição do mundo contemporâneo. Isso não significa que a sociedade se descompôs – os países continuam funcionado em todo os seus níveis -, ou que o Estado-nação se diluiu no enfrentamento desses vetores identitários. Mas mudou o contexto. No seio da sociedade moderna, industrial ou pós-industrial, surge um leque de referentes que se atravessam, se chocam, se acomodam, organizando a vida dos homens.

Atribuímos tamanha invisibilidade, e essa apatia coletiva ao distanciamento da convivência em comunhão que dava aos antigos sentido à vida, ao distanciamento da tradição cultural, a não reflexão sob as bases da Filosofia.

A Filosofia é vista como um conhecimento para poucos, para os “cultos”, que não é prática, não leva a nada e a lugar algum. No mundo contemporâneo, todos têm medo da dúvida, não há tempo para a contemplação. Talvez seja uma atitude para “loucos”. Dominados pelo desejo e pela paixão, os seres buscam o prazer imediato, apagando as tradições culturais do passado e não refletindo sobre o futuro. Sem planejamento e cuidado às futuras gerações. Em Nietzsche (1887) podemos refletir:

Como é necessário que o homem, para dispor assim de antecipação do futuro, tenha começado por aprender a separar o acontecimento necessário do fortuito, a pensar de maneira causal, a ver o distante e a antecipar-se a ele como se estivesse presente, a fixar com segurança o que é objetivo, o que é meio para atingi-lo, de maneira geral a calcular, a saber calcular- como foi necessário que para isso o próprio homem se tivesse primeiramente tornado calculável, regular, necessário, até em sua própria representação de si, para chegar desse modo a poder, como o faz um ser que promete, estabelecer-se como garantia de si mesmo como futuro. (p. 56-57).

O filme Matrix, apresentado no final do século XX, revela para o novo século um mundo irreal, programado, submerso no lixo das máquinas que dominam a humanidade. Também aponta que só um retorno ao pensamento filosófico seria capaz de deter um possível esgoto de tecnologia, a Matrix. Marcondes Filho (2002)enfatiza:

Ciberespaço é o espaço criado na era tecnológica. Espaço novo, desconhecido nos 2.500 anos anteriores de cultura ocidental, inexistente materialmente, para onde ninguém pode se dirigir caminhando, de carro ou de avião. O único meio de acesso é a tela do computador. Isso leva a supor que a tela é, ao mesmo tempo, uma porta, um buraco, que, como um túnel, nos faz chegar ao novo mundo. Como um holograma, é plano, mas tem múltiplas dimensões. Curiosamente, é um espaço paradoxal, pois nele se entra, permanecendo-se no mesmo espaço físico anterior. Fica-se assim, de uma só vez, em dois mundos paralelos em que comutamos como se se tratasse de duas vidas separadas. (p. 136).

O mundo virtual chegou para ficar. Num primeiro momento chegou de maneira anárquica, subversiva, oferecendo a sensação de liberdade de pensamento, sem restrições, sem censura e formando uma rede de informações, de comunicações, de possibilidades. Mas também fez das pessoas escravos de sua aparente liberdade, talvez numa solidão coletiva. Também coloca às pessoas uma nova linguagem, uma outra lógica, uma nova compreensão sobre o corpo real e um corpo sem massa corpórea, o virtual . Brinca com o tempo e com o espaço, deixando as pessoas à mercê de seu jogo hipnótico. E a WEB, lugar possível e realizável, também exclui um número grande de pessoas que mal aprenderam ainda a lógica cartesiana da “rudimentar” leitura e escrita em papel, tipografada. Marcondes Filho (2002):

Comutar com o mundo virtual significa transferirmos-nos “fisicamente” para outro espaço, um espaço não – concreto. No passado, isso era feito mediante as formas da fantasia, nos passeios do imaginário. Mas eram sempre caminhadas individuais, solitárias, não compartilhadas. O inovador neste novo território é que ele não é imaginário; é real, mas não é concreto, é proter real, ao lado do real, como se diz de Quéau. É múltiplo, social, não é produto de minha fantasia isoladamente. Ele existe. (p. 137).

Desta forma, o mundo virtual determina e controla nosso cotidiano sob várias formas: como em nossas contas bancárias, cartões de crédito, meios de transporte… A era do Terror ( ismo) parece ter acrescido de estratégias tecnológicas ainda mais avançadas esta lista de controle do mundo virtual em nosso cotidiano.

Mesmo coisas simples da vida cotidiana obrigam e escravizam a todos a utilizarem o mundo virtual.

Dialética do senhor e do escravo. Segundo Hegel, o senhor arrisca sua vida na luta e, ao vencê-la, torna-se senhor. O escravo, com medo da morte, nada arrisca, aceitando por isso sua condição de escravo, o que o torna algo como uma “coisa” nas mãos do senhor. Contudo, na relação entre os dois um movimento dialético inverte os papéis: desaprendendo a fazer as coisas, o senhor torna-se dependente delas, vira escravo do escravo; já o escravo torna-se senhor delas, por poder dominá-las, e, com isso, senhor do senhor. Além do mais, o senhor não se realiza plenamente, pois o escravo, “reduzido a coisa”, não constitui o pólo dialético adequado para o senhor. O escravo parte do desejo: o desejo é uma forma de negar o mundo, e seu verdadeiro fim é a afirmação da consciência. A subjetividade só se afirma na medida em que o desejo se apóie sobre uma outra consciência, isto é, um outro desejo. Para cada consciência em si mesma, a outra é a negação de si, e esta negação se exprime por uma luta mortal. Aceitando o devir escravo para preservar sua vida, um dos dois reconhece o outro como senhor; segue-se que ambos se reconhecem como outros, nenhum tem de fato consciência de si; ela não se conhece a não ser na alteridade. Cf. Hegel, A fenomenologia do espírito.

O retorno e aproximação da formulação do pensar em contemplação com a natureza, na filia, no exercício pela busca da felicidade é uma necessidade para homens e mulheres, convivendo em comunhão e harmonia consigo, com o(s) outro(s), com todas as formas de vida. Não seria possível conciliar esta forma de existir com os avanços da Ciência e da Tecnologia? A humanidade por meio de reflexões e prazer por sua cultura não poderia repensar sua forma de contar o tempo, de qual sentido há nele e no espaço para a existência individual e comum? Qual legado humano será deixado às futuras gerações?

O estudioso de Psicanálise Mezan (1987) nos aponta:

Investigação, portanto, das origens, do sentido do oráculo, que implica um desvendamento paulatino do passado e termina com a reconstrução da trajetória do individuo com um “tu és isto”, como diz algures Jacques Lacan. (p.57).

A tecnologia, porém, não possui algumas questões puramente humanas: o enigma da morte, a criação de mitos e Deuses, a fé, a espiritualidade.

Esta capacidade moral, cultural, o controle dos impulsos mais primitivos da alma humana são possibilidades que a humanidade ainda dispõe para harmonizar e dar sentido a existência em consonância a construção do conhecimento das Ciências e tecnologia, voltadas ao bem comum.

Conclusão

Este pensamento imediatista do século XX nos leva a questão: Qual o futuro da humanidade? Seria possível aliarmos Ciência, tecnologia e reflexão filosófica de maneira mais coletiva? Seria possível preservarmos nossos bens naturais ecológicos? Qual o caminho da humanidade? Como trazer a Filosofia a luz da Educação que em essência deveria ser seu lugar? Como libertar as mentes humanas das amarras do pensamento funcionalista, positivista, cartesiano? Como podemos refletir de maneira mais coletiva, a nossa participação como ser vivo mais importante do planeta, porque dotado de alma, poder referenciar-nos na harmonia do cosmos? Como construir filia, esta intimidade na amizade e na reflexão sobre a ética como bem viver, voltado à felicidade e à virtude? Como desconstruir a idéia de que nascemos para ter e não para ser? Como cuidamos da infância de nossos filhos e netos? Qual geração está se formando? Qual humano está originando?

O que haverá se não houver de fato uma contra ordem, uma desobediência contra qualquer forma de opressão da vida humana biológica, mental e espiritual? Marcondes Filho (2002) enfatiza como vivemos nessa era:

A virtualização – como as máquinas da inteligência artificial – é um tipo de limpeza, depuramento, salvação da espécie. Já que não conseguimos resolver nossos problemas terrenos, já que a revolução não vingou, já que as esperanças de transformação da humanidade estão fora de moda, o homem ainda tem uma chance: pode se depurar nas tecnologias. É o pensamento técnico que expulsou do âmbito do possível todas as outras formas de pensar, todos os outros modos de se revelarem as coisas, que não seja o técnico. O virtual é a nossa redenção. (p. 137)

Como vamos trazer a luz estas reflexões em nossa realidade local? Em nosso contexto cotidiano? Parece-nos que um dos grandes desafios é trazer para o âmbito da Educação este debate da Filosofia como o farmacon, um remédio para a mentes sob o véu do obscurantismo, da violência, da degradação de nossa espécie.

Referências Bibliográficas

DANTE, A. A Divina Comédia. Inferno, Canto 26, versos 118, 119 e 120.

DUSSEL, Enrique. Ética da Libertação: na idade da globalização e da exclusão. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 2002.

MARCONDES FILHO, Ciro. O espelho e a mascara: o enigma da comunicação no caminho do meio. São Paulo: Discurso Editorial; Ijuí: Editora Unijuí, 2002.

MARCUSE, Herbert. Contra- revolução e revolta. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1973.

MEZAN, Renato. Sigmund Freud: a conquista do proibido. 5 ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.

NIETZSCHE, F. A genealogia da moral. São Paulo: Escala.

ORTIZ, Renato. Um outro território: ensaios sobre a mundialização. 2 ed. São Paulo: Olho D’ água, 1999.

SCOTT, Ridley. Blade Runner. Columbia TriStar/Warner Bros: E.U.A. 1982. Ficção Científica.

SPIELBERG, Steven . A.I. Inteligência Artificial. DreamWorks Distribution L.L.C. / Warner Bros.: E.U.A., 2001. Ficção Científica DVD

WACHOWSKI, Andy e WACHOWSKI, Larry. Matrix. Warner Bros: E.U.A., 1999. Ficção Científica DVD (136 m.)