A pandemia nos trouxe vários desafios contemporâneos, sobretudo para os arteterapeutas.
Nosso ofício é a materialidade pela corporeidade no movimento ou na dança; nas mãos que nos conduzem ao diálogo com o inconsciente por meio da argila, aquarela, mandalas, desenhos, mosaicos; pelos contornos do nosso rosto, por meio da modelagem de máscaras de gesso e de outros materiais; das mãos que costuram, cerzem e bordam ponto a ponto as nossas histórias nas artes têxteis. Essa materialidade não é impossível no mundo virtual, entretanto tem se apresentado como um enorme desafio nos atendimentos online.
Mas há uma modalidade que, ao menos no meu setting, parece ter sobrevivido as tempestades desses tempos de conexões virtuais, sem o calor da presença: o calor das histórias e dos contos épico-narrativos.
Tive a oportunidade de escrever uma monografia a respeito do trabalho arteterapêutico com esses contos, que compõem os mitos, lendas, lendas urbanas, fábulas, contos de fadas, contos de terror, contos de ficção científica, contos fantásticos, contos de fantasia, em experiências grupais que prometo contar a você numa outra postagem aqui nesse Jardim.
Em outras oportunidades, no Podcast Mariposa ao pé do Ouvido #série Histórias & contos, pude mostrar esse maravilhoso universo dos contos épico-narrativos que captura nossa alma humana, revelando o poder que tem a literatura para realizar a função transcendente para nossa alma.
E nesse universo mágico e imagético, a pesquisadora e contadora de histórias junguiana, Clarissa Pinkola Estès, tem sido nossa musa inspiradora, para mim e e para muitas/os de minhas/meus analisandas/os.
Dra. Clarissa Pinkola Estès
Temos viajado nas pradarias com La Loba, mergulhado na profundeza das Águas com a Mulher Esqueleto, tentando ouvir nossa boneca interior com Vasalisa , a boneca sabida e buscado nosso pertencimento com o Patinho Feio e nos aquecido nas lareiras das mulheres sábias.
Também é presente em nosso setting arteterapêutico, entre outros mitos,os orientais de Sidharta Gautama, o Buda; na India com Ganesha; de nosso herói Arjuna no cântico de sabedoria em Bhagavad Gita; nos mitos gregos como em A Caverna de Platão; em todo panteão dos Orixás da sabedoria africana, além de nossas lendas ameríndias com as belíssimas histórias tupi guarani e dos arquétipos da cosmologia maia presentes no sincronário da paz.
Mas hoje nossa Mariposa ao Pé do Ouvido vem nos contar um Mito Grego/Romano relevante ao tempos contemporâneos.
Com as belíssimas imagens da publicação de Mitologia da editora Abril Cultural, volume II, vamos hoje conhecer mais de pertinho a história de Narciso e Eco e compreender com mais calma e cuidado esses aspectos que tem insistido em compor uma máscara fixa, uma persona contemporânea e nada melhor do que esse Mito para abrirmos um diálogo com esse complexo rígido do “pequeno Eu inflado”.
Narciso_Benvenuto CelliniNarciso na Fonte_ CaravaggioNarciso e Eco_ Nicolas PoussinDetalhe Eco- Nicolas PoussinFlor Narciso_foto Russ Kinne
Antes de eu te deixar com essa audição, quero te dizer que os Mitos representam simbolicamente nossos sonhos coletivos. Nosso mundo onírico da humanidade, um acervo arqueológico fundante de nossa alma coletiva, morada de tantos arquétipos que constituem a história da humanidade.
Por meio da escuta dos Mitos, lendas e contos épico-narrativos, a gente se transporta, passa por um portal e adentra esse sonho coletivo, se banhando nas imagens arquetípicas que dialogam com nosso insconsciente e nos ajudam a expandir a consciência e quem sabe trazer algumas reflexões necessárias pra gente individuar e evoluir.
Fique agora com Narciso e Eco. Assine meu blog O jardim da Mariposa pra receber todas as novidades em seu email. Deixa aqui seus comentários e se achar bacana, compartilhe em suas redes sociais, espalhando junto comigo o perfume das flores desse Jardim e o farfalhar das Asas enormes e barulhentas da Mariposa que me acompanha.
Recebi hoje um belíssimo video de Arlete Torquato sobre um retrocesso no tempo desde Elton John Ancião aos 72 anos até um Natal que mudaria o destino do pequenino menino Reggie aos 4 anos.
Ao assisti-lo lembrei-me desse post que conta sobre esse filme que se inspira na vida e obra de Elton John e quis compartilhar com vocês minhas reflexões.
Tenho refletido sobre os dois últimos Natais onde pensei em cada menino e menina no Brasil que não teve a oportunidade de ganhar um presente de Natal que também mudaria seus destinos e consequentemente os nossos também, porque sempre que nasce um grande artista, uma grande ator ou atriz performático.a, um.a grande cantor.a e compositor.a, nasce uma canal de conexão de mensagens com as Musas Divinas a nos contar um tantinho também de nossos destinos. Mas quando essas Musas não vem de Mãos dadas com a Verdade, a Justiça, a Bondade e a Harmonia, deixamos esses meninos e meninas sem o direito a conhecerem seus verdadeiros destinos e milhões de nós também ficamos desprovidos de suas Artes.
Quando um Governo de uma nação não está de fato aliado a Grandeza dos Espíritos do Bem, do Belo, do Verdadeiro, da Justiça, da Harmonia e do Amor ao seu Povo, este não permite espaço para que meninos e meninas possam dar vazão aos seus destinos na Arte e nessa pandemia no Brasil, nosso povo voltou a sentir a fome, a miséria e a desesperança. O ódio que congela tem ocupado os corações humanos, polarizando nossa consciência e tornando a barbárie um cotidiano desprovido de sentidos humanizadores.
Precisamos urgente sair desse transe que nos aprisiona numa pandemia muito pior que o coronavirus, uma pandemia que nos torna Zombies, que coisifica o Ser Humano e que humaniza as coisas, onde o Divino não mora no Sagrado no Templo do nosso Coração, mas onde se sacraliza o deus capital, o deus patriarcado, o deu$ dinheiro e lucro. Onde o egoísmo e a ignorância se espalha como erva daninha pela nossa consciência tomando espaço de ampliarmos nossa Cosmovisão.
Mas como diz as canções dos Brincos e Folguedos brasileiros, “mas como sou teimosa…” eu alimento em mim uma esperança e uma rebeldia, onde ainda nutro a chegada da Grandeza dos Espíritos do BEM, do Bom, do Belo e Verdadeiro, da Justiça, Harmonia e Amor e chegarem banindo o mal da arrogância, maldade, ignorância e egoísmo e podermos ver muitos meninos e meninas tendo direitos aos Natais que mudarão seus destinos e que encherão nossa Alma Brasileira de Beleza e Justiça, inundando a gente de Gratidão!
Dedico essa pequena reflexão à minha amiga Arlete Torquato que assim como eu tem dedicado a vida à esses meninos e meninas, que mesmo em meio a adversidade ou ao obscurantismo, e quer estejam no chão das escolas, quer estejam em nossas clínicas psicoterapêuticas, quer estejam nos cortiços, morros ou favelas, possam descobrir seus destinos mesmo sem direito a um Natal Especial que lhe encurte a jornada.
Aqui você pode apreciar o video que recebi de Arlete Torquato de presente pra essa reflexão. Feliz Natal menina Arlete! Feliz Natal meninos e meninas do Brasil , Pandemia 2020, 2021.
E a gente se afasta daquilo que esquenta o coração
Que pulsa os sentidos mais profundos
O diálogo com a nossa intuição
O Patriarcado não entende o porque as mulheres se juntam
Quando juntas estamos
nossos sentidos, nosso pulso, nossa alma se alevanta
Nossa calma se encanta
Nossa intuição numa só toada canta
E quando nos juntamos
Ahhhh que alegria
Até nossos corpos se conectam
E os hormônios em sintonia
Clamam em sinergia
E em comunhão encontramos nossa Sabedoria
Comunidade: palavra profunda
Tem sentido de comunhão
De Bem Comum
De concordância em união
Mais lindo ainda, será quando tanto mulheres como homens formarem uma comunidade de seus femininos
Em parceria e colaboração
Dialogando com o Mundo
Integrando a alma em conhecimento e intuição !
Esse poema é dedicado as mulheres da Comunidade Biointuição que estou inserida há um ano sob a regência de nossa Mestra Bia Rossi, que de forma delicada vem nos ensinando a nos conectarmos a nossa intuição.
Para ouvir esse poema de minha autoria, ouça Mariposa ao Pé do Ouvido, um podcast que foi gestado a partir de inspirações dessa comunidade de mulheres biointuitivas.
Olá meus leitores, tenho novidades! Agora você pode não somente ler a arte e reflexões que me travessam, como também ouvir essa arte e reflexões pelo podcast Mariposa ao Pé 🦶🏾 do Ouvido 🦻🏾.
Esse podcast é na verdade a segunda parte de um dos projetos que tenho construído há uns 5 anos que consiste nesse blog, no podcast e no Ateliê O Jardim da Mariposa.
Jardim todos ja puderam ler por aqui pela enorme inspiração de Epicuro, um grande Mestre que me acompanha há algumas décadas que acreditava que a busca da Sabedoria e da Ética poderia ser construída da Filia, na Amizade, ao congregar amigas, amigos, amigues para que os laços de amizade fosse construídos no conhecimento e amor `a sabedoria.
Mariposa porque esse arquétipo me conduz desde bem pequena as reflexões acerca das transformações da vida, para as grandes e pequenas mortes, para as mortes do cotidiano e para o presságio da morte. Para o recolhimento,`a hibernação, a saber esperar, à paciência, a libertação e `a leveza. Um baita aprendizado que me conduz a uma jornada nessa vida constantemente desafiadora, porém tão interessante!
O Podcast Mariposa ao Pé 🦶🏾 do Ouvido 🦻🏾 , é constituído de séries. Cada série traz pra sua audição um diálogo diferente que pode ser um poema meu ou de outro artista, uma leitura de oráculo , que faz parte do meu rezo de todas as manhãs na minha conexão com o sagrado que há em Mim, reflexões, entrevistas, leitura de histórias, contos, lendas, mitos e afins, leituras de trechos comentadas ou discutidas em grupos de autores em educação, psicologia, artes ou filosofias. Ou seja, o blog segue os mesmo temas e formato desse blog, mas agora para sua audição.
Sua estrutura então por enquanto está assim:
1. Série :Poemas da Mariposa- By Naime Silva
2. Série: Contoterapia- contos, mitos e histórias épico- narrativo pra movimentar sua alma
3. Série : leituras Oraculares- na voz deNaíme Silva
4. Série:Pílulas Freirianas – trechos comentados do pensamento e obra de Paulo Freire, Patrono da Educação Brasileira
5. Série: JUng-ando conversa fora- um bate papo informal com especialistas sobre o pensamento e Obra de Carl Gustav Jung
6. Série: Filia no Jardim: Entrevistas com filósofos e aprendizes sobre temas filosóficos
Tanto o Jardim da Mariposa quanto a Série Filia no Jardim é inspirado no pensamento epicurista e No Jardim de Epicuro.
Hoje vamos inaugurar a série “JUNG-ando Conversa Fora”, que pode trazer leituras de trechos do pensamento junguiano comentadas ou não, entrevistas ou bate papos em grupo ou duplas sobre a narrativa Junguiana.
Inauguramos hoje com a leitura de um trecho do livro Os fundamentos da Psicologia Analítica” no parágrafo 320, onde Jung nos arrebata com seu pensamento sobre a relação analista e analisando, que sinceramente dispensa comentários.
Você encontra o Podcast Mariposa 🦇ao Pé 🦶🏾 do Ouvido🦻🏾 no agregador Spreaker, no Spotify e no Google Podcast.
A semana passada foi mais uma semana impactante pra mim no mundo das artes. Fiz uma oficina fantástica de Teatro-Documentário com o Prof Dr. Marcelo Soler.
Aprendi que nós atores e atrizes, temos uma influência profunda com o teatro ficção numa concepção modernista e que o Teatro-Documentário traz a potência do pacto documental. Essa outra maneira de pensar as artes da cena constitui-se como uma nova forma de fazer teatro contemporâneo.
Um jeito novo de se viver o teatro, a realidade social, as poéticas, as expressões criativas!
Nessa oficina pude fazer dois rascunhos cênicos documentais:
Nesse primeiro rascunho, eu tinha que me apresentar de maneira documental. Trouxe como documento, elementos cênicos que sim, falavam de mim, mas eu ainda não tinha compreendido a força e potência do pacto documental e acabei trazendo uma apresentação de mim mesma de forma muito ficcional. Ficou assim:
Na segunda apresentação, a proposta foi trazer uma cena da pandemia.
Aqui me debrucei sobre um tema dentro da pandemia, mas me preocupando em não estabelecer o mais do mesmo ou uma forma clichê. Assim, precisei fazer uma pesquisa sobre o tema, uma pesquisa documental, a busca dos elementos cênicos como documentos, a formulação de um texto/ relato, a gravação desse texto/relato em um áudio, a escolha de uma música que também pode ser considerado um documento.
Outra situação interessante foi que eu pedi avaliação de duas pessoas antes de submeter o rascunho na oficina e meu objetivo era avaliar o pacto documental no olhar do interlocutor do rascunho cênico documental. As impressões que tive me levaram a refletir sobre a força do documento explícito e sua veracidade, bem como de documentos implícitos ou que evocassem a imagem de documentos factuais.
O tema que escolhi eu já havia feito dele um conto de fadas, um poema e Story Telling.
O assunto desse tema foi o estupro da menina de 10 anos por seu tio e sua saga por hospitais de vários Estados Brasileiros para a realização de um aborto, e mesmo depois da justiça determinar a autorização do procedimento, eu quis trazer a reflexão de todas as humilhações e violências institucionais vividas pela menina.
Nessa pesquisa eu trouxe muitos documentos explícitos como matérias jornais da época e implícitos como bonecas, mochilas, massinha de modelar, alça de sutiã que serviu de amarras aos olhos e boca da boneca. Importante lembrar que tanto no primeiro rascunho, quanto no segundo, eu tinha menos de um minuto pra cumprir o desafio e mesmo assim extrapolei o tempo. Abaixo o Vídeo/Teatro-Documentário Pandemia_2020 e os documentos/elementos cênicos escolhidos:
Meu poema foi citado num dos episódios do Podcast Chutando a escada, no link abaixo, bem como publicado aqui no Jardim da Mariposa conforme links abaixo:
Quinze dias antes eu tinha realizado um curso de Story Telling com o Prof Dr Ivan Mizanzuk, onde aprendi técnicas muito parecidas com o teatro-documentário, mas num contexto Literário e com metodologias de autores estadunidenses bem específicas de contar histórias.
E assim, pude reescrever um conto que havia escrito de forma épico-narrativo, agora na metodologia do Story Telling, que compartilho aqui com vocês:
Quero contar pra você que esse trabalho com o conto de fadas, foi provocado pelo meu diretor de Arte, prof Adanias de Souza, do nosso grupo de teatro Acorda Alice, que já tem mais de 35 anos. Esse trabalho está se constituindo num projeto tão grande e incrível que me fez estabelecer parcerias com artistas maravilhosos no campo da música, que na altura certa, eu venho divulgar aqui pra você, flor do meu Jardim.
Aguardo gentilmente seus comentários sobre meu trabalho que vai se descortinando aos longo de tantas décadas, sobre as Artes da Cena, as artes dos contos épico-narrativos, as artes das histórias, das poéticas, da composição musical, da Filosofia, da Arteterapia de Base Junguiana, da Literatura e da Educação de crianças pequenas e supervisão e formação profissional de professoras/res.
Agradeço aos mestres incríveis Marcelo Soler, Ivan Mizanzuk e Adanias de Souza pela profundidade desses conhecimentos e vivências práticas da Arte da Cena e do Campo da Literatura.
Tenho feito uma coletânea de sonhos num diário que ganhei no Natal de 2020.
Esse material onírico tem rendido profundas sessões analíticas, muitos desenhos, mandalas, meditações, intuições e novas percepções acerca de mim mesma e do mundo que me cerca.
Esse processo começou com uma pesquisa antroposófica das 12 noites Santas após o Natal e o estudo astrológico correlacionado a um planejamento simbólico dos sonhos desse período.
Trabalho profundo que mês a mês, uma comunidade de mulheres vem se aventurando a compartilhar intuições, a realizar meditações, analisar sonhos, para se autoconhecerem e também para intencionarem por um mundo melhor.
Todo sonho, segundo a narrativa junguiana, tem uma parte que pertence a sua trajetória pessoal- como ser humano vivendo uma experiência espiritual ( sua alma) na matéria que é seu corpo, – e ao mesmo tempo, carregado de imagens arquetípicas representadas pelo inconsciente coletivo.
Então todo sonho, você pode analisar aquilo que só pertence a você, com sua história, sua trajetória pessoal, mas também há representações que pertencem ao coletivo, ao mundo todo de forma atemporal.
O sonho que eu tive representando a força de Aquarius me remeteu a boas aprendizagens sobre mim mesma, e ao mesmo tempo fui como que arremessada a uma ideia coletiva inspirada por um poema nesse momento duro, cruel, perverso, que temos vivido politicamente nos últimos tempos.
E ao me deparar com o espírito do tempo, Zeitgeist me trouxe a inspiração desse poema que deixo aqui pra você que é meu leitor. Aproveita, comenta aqui embaixo e compartilha com seus amigos e suas amigas. Quem sabe as pessoas vão parar pra prestar atenção nas mensagens dos seus sonhos! Eu garanto pra vocês que lá onde todos somos UM, há muitas chaves para um caminho de Sabedoria!
Na Dança do Mundo…
Quem tá parado não morre Olha só que contradição? Contradição é contra a adição É não colocar mais nada não É um: menos é mais nesse corre!
Só que Árvore não corre Árvore enraiza Fica quieta no lugar Amortecida Aliás, amortecida Parece amor que morre
Aquele amor que não quer dançar Aquele amor que fica bebaço E morre na gente a vontade de lutar
Mas de repente a gente fica Revoltada E sobe as escadas da vida Pra reagir a tirania Que fez caçoada, zombada Com cara de doido, Coringa Derrubando em cima da gente Todo veneno que vertia
Liberdade é o que se quer! Eu respeito o momento Momento pra muito silêncio Mas não respeito o descaramento Do tirano que provoca esse tormento E faz toda gente se expor sem sorte, Ao purgatório da morte.
Hoje eu venho contar a vocês algo que há muito tenho pensado. “Plantar” ou trazer para replantar aqui nesse Jardim uma diversidade de Flores que me acompanham por esse mundão! Explico. Tenho descoberto com maior reflexão e profundidade que minha alma é bem porosa aos coletivos. Sou uma alma permeada pelos coletivos. Talvez e muito por isso, toda minha vida busquei fazeres e ações pautadas por eles: o teatro, a educação, a psicologia comunitária, a psicologia social, e agora a arteterapia em grupos.
Foi por isso que entendi que estar aqui sozinha me incomodava. Um Jardim precisa de Flores vivas, viçosas, potentes que alegrem a jardinagem, que nos façam querer estar aqui entre elas sentindo seu perfume, apreciando sua beleza. Então, estou convidando várias flores diferentes na forma e belas na igualdade. Flores que estão desabrochando e outras que tem uma maturidade semelhante aos perfumes das damas da noite.
Essas flores são as mulheres do grupo de Acolhimento de Mulheres que curam feridas e reconhecem suas histórias suas cicatrizes, que fazem questão de exibir, como medalhas, frutos de aprendizagem da Vida. Esse grupo da qual tenho a honra de participar é coordenada pela profa Ana Paula Maluf do IJEP/ Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa. Nesse grupo as mulheres, podemos expor livremente nossas dores, nossas alegrias, nossas conquistas, nossas feridas em sangue e nossas cicatrizes. Temos amadurecido a ideia de produzir por meio da Arte, da nossa livre expressão criativa em textos, desenhos, mandalas, mapas afetivos, poemas, leitura de tarots, escrita ativa, meditações e muita expressão da nossa corporeidade.
Iniciamos esse processo da nossa expressão criativa numa parceria minha com Cecilia Crepaldi, pianista/musicista, onde noutro momento venho contar em detalhes pra vocês, porque é um projeto grande que ainda está em andamento, que integra um conto, músicas, poesia, artes plásticas, rádio novela e teatro. Por hora quero dizer que foi um dos trabalhos em arte mais intensos que tenho realizado em toda vida, que além de Cecilia Crepaldi, tenho como parceria Rosana Bergamasco, Andreia Araújo, Rosana Pereira e meu Diretor de Arte Adanias de Sousa.
Quando apresentamos o conto, com minha curadoria musical e os arranjos de Cecilia Crepaldi ao piano, imediatamente arrebatou todas as mulheres do grupo e sabemos que quando uma obra de arte toca o coração de todas/es/os, quando essa obra tem ressonância na maioria, é porque é uma expressão coletiva, mexe com a essência de todas/es/os.
Após essa parceria, abrimos um portal para a expressão criativa do Grupo de Mulheres e Ana Paula então convidou Regina Célia da Silva, artesã, e Talita Gomes, psicóloga clínica, para serem a próxima dupla a se apresentarem. E veio um texto de escrita criativa incrível conforme destaco abaixo:
Por Regina Célia da Silva Talita Gomes Fernandes
A solidão parece um buraco escuro que você não vê o fim. E quando você percebe, já não está só, está de mãos dadas com suas dores e percebe que as feridas ainda sangram. Não há esperança, não há futuro. É somente você e suas dores, é só você e os vários personagens que existem em si mesma, que querem levar você para o buraco, aquele buraco que não tem fim e que não há luz. E assim, você fica aprisionada as suas dores, erros e aos piores aspectos de si mesma. E logo em seguida, surge mais uma companheira, as lágrimas que já não encontram motivos para não cair. E aí, você lembra que desde menina estava num deserto que queimava, maltratava e a noite congelava. Andou sozinha, percorreu a trajetória solitária. Até que descobriu as florestas, eram mais atrativas que o deserto, mas não soube sobreviver, não se nutria, tentou, mas tudo que conseguiu foi matar e morrer. Andou perdida e não conseguiu achar saída, pois ainda era apenas uma menina. Certa vez, quase achou um caminho convidativo e com flores, mas era apenas uma ilusão. E assim, permaneceu no chão, se rastejou pela lama, ficou e esperou, na expectativa que pudesse morrer para renascer. De tempos em tempos, se levantava e dava um passo de cada vez, andava devagar, depois se recolhia e voltava à lama, ansiando pelo mergulho no mar. O mar era o local onde se sentiria amada e acolhida, encontraria em fim a liberdade e a fluidez que tanto buscava… O mar …ahh o mar…aquele bom e velho mar, que nos envolve, para uns proteção e limpeza com sua água salgada a levar embora, dores, angústia, solidão, trazendo alívio e renovação, para outros desespero, diante da imensidão que pode afogar com sua fúria quem ousar desafiar sem respeitar… O mar é como a vida ou a vida como o mar, temos que descobrir e aceitar os limites, para superar e ultrapassar, por vezes nos deixar levar pelas ondas a boiar, outras tantas a desbravar e se debater sobre as águas claras, pesadas de sal, para no final…respirar…aliviada por ter sobrevivido!
Ahhh como é benéfico a nossa alma produzir arte queridas/os/es leitoras/es. A arte é um símbolo que ganha matéria e que precisa falar, expurgar, redimir, explicitar algo que pertence a todas/es nós! E foi nessa toada de amor e livre expressão da nossa voz, que a Ana Paula convidou a Monaliza Carvalho Godoy, fisioterapeuta e Chocolatier e a Tainã Fidalgo, educadora de infância, para comporem uma parceria e diálogo conosco! E dessa dupla nasceu essa bela escrita criativa:
Vem mana – por Monaliza Carvalho e Tainã Fidalgo
Vem mana, vamos conversar, passear, tomar um café, rir ou chorar… Vem mana, deixa eu te abraçar, vamos banhar no rio, no igarapé, no açude ou no mar… Vamos dançar, acender uma fogueira, brincar com as crias, correr na chuva, trilhar na floresta a luz da lua até o dia raiar… Vem mana, vamos nos juntar ao redor da fogueira, trançar os nossos cabelos, beber e comer, rir ou chorar… Vamos, me conte! Quais são essas dores? Quais os dissabores? Oh alma querida, o que é que te aflige? Vem, compartilhe conosco, qual é o seu enrosco, ou será um encosto? Quais são os desgostos a serem expostos na roda amiga, que escuta e auxilia os entraves da vida… Vem mana, vamos juntas trilhar? Entre luzes e sombras vem o despertar… que nasce da dor, depois põe-se a brilhar. Mana, é no rasgar-se e remendar-se que tens a noção do quão forte e bela, feroz e singela és tu alma incrédula. Depois da tempestade vem a calmaria, que nos abrandam a vida, dependendo da vista de quem nela confia. Vamos mana, queira ser parte da cria que cresce unida e grita convicta que pela dor vem alegria. Que benção a dor, que depois de tanto ardor, nos tornou parte do amor gratuito e acolhedor. Ah, o amor… que nos salva essa alma desprovida de calma, porém repleta de dor, calma!
E esse texto retrata com tanta legitimidade a potência desse trabalho, dessa ciranda de curandeiras, da beleza que há numa mandala de mulheres! E no próximo encontro haverá mais e certamente viremos aqui contar pra vocês! Quer agregar-se como mais um flor nesse Jardim? Escreva aqui nos comentários, aguardaremos ansiosa a sua chegada para que possamos te acolher seja você uma Rosa, uma Camélia, uma Margarida ou Dama da noite, o que importa mesmo é você espalhar por aqui seu perfume, sua beleza, mesmo que você venha carregada de espinhos! Vem!
Grupo de Acolhimento de Mulheres, coordenação Ana Paula Maluf, Analista Junguiana e Arteterapeuta
A musicalidade em diálogo com minha alma e com os coletivos ao meu redor
Nessas últimas semanas de novembro tenho vivido experiências tão intensas com música e musicalidade de arrebatar a alma de qualquer pessoa um pouquinho sensível que seja. Foi tão absolutamente incrível que me senti impelida e inspirada a vir aqui escrever.
Bom, esses dias parei pra pensar nas potências da alma de meu clã familiar. Tanto minha linhagem materna quanto minha linhagem paterna, temos a herança da música muito presente. Lembro que quando eu era criança, meu pai sempre dizia que ele não tinha podido estudar música e que o maior sonho dele para seus filhos, seria nosso envolvimento para tocar um instrumento. Meu avô paterno Raul, tocava cavaquinho com uma alegria, leveza e força encantadoras. Meu avô materno tocava flauta transversal e chegou a tocar com Gonzagão pelo sertão cearense de meu Deus.
Eu e minha irmã Naide de alguma forma nos envolvemos mais com as artes da cena, mas que também incluem a música e musicalidade, pois costumo dizer que o Teatro é a mãe de todas as linguagens artísticas.
Meu irmão é um artista completo, toca vários instrumentos, canta lindamente e tem uma presença cênica maravilhosa que nos atravessa. Poderia mostrar a vocês tantas canções que ele canta, mas no final vou deixar o seu canal no YouTube para que vocês possam se deliciar com essa voz e essa presença. Por aqui vou deixar um cover de Liniker e Johnny Hooker, com a música Flutua, que é de uma verdade doída absurda. Com vocês a Drag Queen de meu irmão Raul Neto, a Suanny, lindamente poderosa e forte.
Flutua (part. Johnny Hooker) – Liniker e os Caramelows
O que vão dizer de nós? Seus pais, Deus e coisas tais Quando ouvirem rumores do nosso amor Baby, eu já cansei de me esconder Entre olhares, sussurros com você Somos dois homens e nada mais Eles não vão vencer Baby, nada há de ser em vão Antes dessa noite acabar Dance comigo a nossa canção! E flutua, flutua Ninguém vai poder querer nos dizer como amar E flutua, flutua Ninguém vai poder querer nos dizer como amar Entre conversas soltas pelo chão Teu corpo teso, duro, são E teu cheiro que ainda ficou na minha mão Um novo tempo há de vencer Pra que a gente possa florescer E, baby, amar, amar sem temer Eles não vão vencer Baby, nada a dizer em vão Antes dessa noite acabar Baby, escute, é a nossa canção E flutua, flutua Ninguém vai poder querer nos dizer como amar E flutua, flutua Ninguém vai poder querer nos dizer como ama Como amar Como amar Ninguém vai poder querer nos dizer como amar Como amar Como amar Ninguém vai poder querer nos dizer como amar Como amar Como amar Ninguém vai poder querer nos dizer como amar
Vocês já repararam que as vezes ficamos carentes de uma música ou novos artistas que nos toquem profundamente como aqueles tantos que nos tocaram no século passado, principalmente dos anos 60 aos anos 90? Daquela saudade que pessoas da minha geração sentem dos grandes festivais?
Participo de um grupo de Acolhimento de mulheres que curam suas feridas, coordenado pela analista Junguiana e arteterapeuta Ana Paula Maluf, minha professora de Corporeidade e musicalidade do IJEP/ Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa. Em nosso encontro de quinta feira, após uma rodada de relatos pessoais de mulheres que procuram força umas nas outras, a Ana colocou pra gente ouvir em silêncio e de olhos fechados, a música de Gilberto Gil, Se eu quiser falar com Deus.
Na psicologia analítica ou psicoterapia profunda, nosso maior objetivo é a busca do processo de individuação, quando procuramos compreender e integrar as polaridades de nossa psiquê, do que esta na luz e sombra de nossa alma, quando trabalhamos o rumo ao centro de nossa alma, onde mora nossa centelha divina, nossa criança, a morada de DEUS.
Convido você a ouvir a música de Gil pensando nisso que acabei de te afirmar do pensamento Junguiano e coloco aqui pra vocês acompanharem minha emoção vivida na quinta feira no grupo de Acolhimento de mulheres que curam suas feridas.
Se Eu Quiser Falar com Deus – Gilberto Gil
Se eu quiser falar com Deus Tenho que ficar a sós Tenho que apagar a luz Tenho que calar a voz Tenho que encontrar a paz Tenho que folgar os nós Dos sapatos, da gravata Dos desejos, dos receios Tenho que esquecer a data Tenho que perder a conta Tenho que ter mãos vazias Ter a alma e o corpo nus Se eu quiser falar com Deus Tenho que aceitar a dor Tenho que comer o pão Que o diabo amassou Tenho que virar um cão Tenho que lamber o chão Dos palácios, dos castelos Suntuosos do meu sonho Tenho que me ver tristonho Tenho que me achar medonho E apesar de um mal tamanho Alegrar meu coração Se eu quiser falar com Deus Tenho que me aventurar Tenho que subir aos céus Sem cordas pra segurar Tenho que dizer adeus Dar as costas, caminhar Decidido, pela estrada Que ao findar, vai dar em nada Nada, nada, nada, nada Nada, nada, nada, nada Nada, nada, nada, nada Do que eu pensava encontrar
Segundo a professora Ana Paula, toda música expressa uma narrativa do inconsciente pessoal, mas sobretudo do inconsciente coletivo. Pensar nisso me emocionou porque foram tantos sentimentos profundos que senti durante toda minha vida ouvindo música, que pude compreender essa emoção acompanhada pela captura de uma alma coletiva. Minha vida sempre foi regida por canções. Várias. Nesse mês de novembro me peguei revivendo canções guardadas em mim por décadas atrás, despertadas por um senhor que vendia mancebos na rua e que estava a cantar uma música do Roberto Carlos, As curvas da estrada de Santos, que é de 1969. Já repararam na letra dessa música? Quem nunca se desesperou diante da perda de um grande amor? Ouçam e acompanhem a letra:
As curvas da estrada de Santos – Roberto Carlos
Se você pretende saber quem eu sou Eu posso lhe dizer Entre no meu carro na estrada de Santos E você vai me conhecer Você vai pensar que eu Não gosto nem mesmo de mim E que na minha idade Só a velocidade anda junto a mim Só ando sozinho e no meu caminho O tempo é cada vez menor Preciso de ajuda, por favor me acuda Eu vivo muito só Se acaso numa curva Eu me lembro do meu mundo Eu piso mais fundo, corrijo num segundo Não posso parar Eu prefiro as curvas da estrada de Santos Onde eu tento esquecer Um amor que eu tive e vi pelo espelho Na distância se perder Mas se o amor que eu perdi Eu novamente encontrar, oh As curvas se acabam e na estrada de Santos Não vou mais passar Não, não vou mais passar, oh Eu prefiro as curvas da estrada de Santos Onde eu tento esquecer Um amor que eu tive e vi pelo espelho Na distância se perder Mas se amor que eu perdi Eu novamente encontrar, oh, oh As curvas se acabam e na estrada de Santos Eu não vou mais passar Não, não, não, não, não, não Na estrada de Santos as curvas se acabam E eu não vou mais passar Não, não, não, Oh, na estrada de Santos as curvas se acabam
Na sexta feira, eu também me impactei com uma música. Dessa vez, na supervisão do professor Waldemar Magaldi, ao analisar um caso terapêutico numa sucessão de repetições de vínculos amorosos com alcoolistas. Quantos de nós não carrega essa herança familiar de um cotidiano com envolvimento de um pessoa e o álcool?
Segundo Magaldi, um complexo na relação materna pode levar ao alcoolismo e deixar a pessoa, “mamada”. Interessante, porque em minha família essa herança presente fez muitos complexos chegarem a dramas dolorosos que também afetam minha alma e minhas relações durante toda minha vida. O caso discutido sobre o alcoolismo levou Magaldi a sugerir o trabalho com uma música de Lupicínio Rodrigues, na voz de Maria Bethânia, Foi assim:
Foi Assim (ao vivo) – Chico Buarque e Maria Bethânia
Foi assim Eu tinha alguém Que comigo morava Mas tinha um defeito que brigava Embora com razão Ou sem razão Encontrei Um dia uma pessoa diferente Que me tratava carinhosamente Dizendo resolver minha questão Mas não Foi assim Troquei essa pessoa que eu morava Por essa criatura que eu julgava Pudesse compreender todo o meu eu Mas no fim Fiquei na mesma coisa em que estava Porque a criatura que eu sonhava Não faz aquilo que me prometeu Não sei se é meu destino Não sei se é meu azar Mas tenho que viver brigando Todos no mundo Encontram seu par Por que só eu vivo Trocando? Se deixo de alguém Por falta de carinho Por brigar E outras coisas mais Quem aparece No meu caminho Tem os defeitos iguais Se deixo de alguém Por falta de carinho Por brigar e outras coisas mais Quem aparece no meu caminho Tem os defeitos iguais
No sábado fui para a aula do IJEP, onde teríamos aula de imaginação ativa e a técnica arteterapeutica das mandalas com a professora Simone Magaldi que foi absolutamente reveladora de nosso inconsciente pessoal e a tarde a aula com Ana Paula Maluf sobre musicalidade, inconsciente coletivo e mudanças de humor.
Que dia! Que aulas poderosas! Já saí bastante mobilizada da aula de imaginação ativa onde vi revelado meu inconsciente pessoal por meio da produção de minha mandala. À tarde, vivenciamos a construção coletiva da musicalidade desvelando nosso insconsciente coletivo e foi algo surpreendente.
A professora Ana desenvolveu conosco várias experiências musicais que culminou numa composição musical ao final da aula que revelou a alma coletiva da nossa turma. A música que criamos revelou-nos uma narrativa em três partes, que contavam uma evolução humana. A primeira uma chuva na floresta, a segunda um agrupamento tribal e a terceira me pareceu um riacho com lavadeiras.
No momento da produção, estávamos tão soltos e criativos, sem preocupações com nada. Levamos vários cotidianafanos, que são instrumentos que produzem sons criados por materiais reciclados de elementos da nossa cultura.
Mas também levamos instrumentos musicais prontos como pratos, triângulos, claves, gaitas, pandeiro, tambor, reco-reco, pau de chuva, maracas e dois instrumentos incríveis levados pelo Felipe Coelho. Ele levou um instrumento de sopro aborígene chamado Didgeridoo, que é uma espécie de aerofone, onde o som é provocado pela vibração dos lábios, um pouco parecido com o nosso berrante brasileiro. Veja aqui:
Ele também levou um instrumento que parece um disco voador que tem um som de água incrível chamado Hang Drum que deixo abaixo pra você conhecer:
Todos esses instrumentos dispostos no chão e inicialmente a Ana fez conosco uma espécie de imaginação ativa rumo ao nosso centro, a nossa centelha divina, a nosso Deus, ao nosso centro, rumo ao SELF. Depois, o grupo começou a produzir sons com o corpo, com a voz, e aos poucos fomos levantando e pegando esses instrumentos que estavam dispostos no chão, no meio, no centro da sala, meio mandálico também, ali nos convocando a deles compor nossa narrativa musical.
Lembro que na hora da criação coletiva, a única coisa que me preocupei foi em compor de uma certa harmonia musical com meus colegas e vez ou outra mudar de instrumento e de som. Também senti o desejo de compor uma dança com aqueles sons e bailar docemente ao som coletivo daquela narrativa.
Ao final, a Ana que havia gravado aquela narrativa musical do SELF de nossa turma, colocou o áudio pra que a gente ouvisse. Qual não foi nossa emoção de percebermos a beleza de nossa história musical que contava uma evolução: floresta, tribo e trabalho coletivo. Quanta riqueza há nesse coletivo! Ouçam:
Ao abrirmos os diálogos sobre nossas impressões, Rosana Bergamasco, que também é minha professora e regente do coral da EMIA/Escola Municipal de Iniciação artística fala de seu trabalho arteterapeutico inovador de compor letra e música coletiva no coral das famílias da EMIA. Eu também pude relatar o quanto essa experiência do coral da qual faço parte tem me deixado realizada emocionalmente, porque a cada encontro, a cada semana que preparamos nosso repertório e criamos arranjos para nossas canções a partir dessa nova metodologia de Rosana, algo acontece dentro de nós que nos aproxima, nos conecta, nos vincula enquanto coletivo.
A canção que compusemos com Rosana Bergamasco, que nos apresentou uma metodologia que capturou nosso insconsciente coletivo tanto para compor a letra, quanto a música, me fez pensar no momento político que vivemos.
Vivemos um contexto de ódio, de desprezo e retalhação às instituições, à ética, aos direitos humanos, aos valores fundamentais rumo à uma sociedade humanizada e humanizadora.
Na canção A Poesia me interessa, de nossa autoria coletiva do Coral das Famílias da EMIA/ Escola Municipal de Iniciação Artística, sob a composição e regência de Rosana Bergamasco e arranjos, performance e regência de Viviane Godoy, falamos de um amor escondido em nossa sombra e que nessa sombra, se encontra uma criança divina em expansão de alma e todo o amor perdido pela pressa e desconexão humana contemporânea.
Fico muito emocionada de compreender essa composição coletiva, porque em 2018, antes das eleições, nossa escola ficou polarizada pelas famílias de esquerda de uma lado e as famílias de extrema direita de outro. Muito ódio e desrespeito aconteceu nas redes sociais, muitos ataques foram travados entre grupos que culminou até num desrespeito as próprias crianças na apresentação final de 2018 no teatro João Caetano, quando algumas famílias gritaram uma com outra na boca de cena, enquanto o diretor da escola pedia que os adultos pedissem desculpas pelo seu destempero para com todos ali e principalmente com as crianças, que são nossos filhos. Foi constrangedor, horrível, vergonhoso, triste.
Em 2019, pensei dez vezes se eu ia mesmo compor daquele coral de famílias ou não. Sentia medo da polarização. Mas resolvi que devia ir. Nos primeiros encontros, senti a presença da hostilidade, da polarização, um estranhamento que queimou meu peito.
No dia 27 de agosto, dia do Psicólogo , nós ganhamos de presente uma oficina terapêutica, uma vivência com feitura de pães, coordenada por uma das integrante do coral de famílias da EMIA, a psicoterapeuta Nívea Gonçalves, que nos fez mergulhar em silêncio para que através da integração dos ingredientes, a manipulação da massa, a espera do crescimento da mesma e da escuta interna de nossas emoções, nos mobilizou por meio dessa alquimia olhar para nós mesmos e nos conectarmos umas as outras no coletivo do coral. Fiz um texto aqui no meu jardim contando sobre essa vivência incrível na escola pública, que batizei de As delícias e dores humanas, vivências grupais, que deixo o link aqui pra quem quiser ler:
Percebi que após essa vivência e após a criação musical da Poesia me Interessa, uma chave virou a porta da alma e nos fez constituir um vínculo muito forte de amor.
A música revela e une almas. Ela fala por todos nós. Fala de dores, amores e amizade. Fala do esssencial. Fala que vem do centro. Uma narrativa coletiva de um SELF coletivo.
Nesse domingo, 1º de dezembro, dia mundial de luta contra aids, quando costumo chorar tantos amig&s mortos, vitimados por essa peste tão cruel do século XX, a aids, nos apresentamos no Teatro João Caetano, revelando a nossa narrativa, a nossa canção que vem da nossa sombra e lá está guardado um montão de amor, amizade, respeito, alegrias, dança, que virá depois da noite. Essa manhã eu senti verdadeiramente o espírito do natal em meu coração com essa gente linda que ama cantar!
Pra vocês o coral das famílias da EMIA com a composição coletiva (música e letra):
A Poesia Me Interessa
Estou com pressa Mas a poesia me interessa Assim como a brisa da manhã Refresca o nosso ser O amor está no ar Vamos aproveitar e amar Muito, amar o mar E por que não? Amar a escuridão Pedo, filho amado Corpo prisão Alma em expansão Em plena transformação Estou com pressa Mas a poesia me interessa Assim como a brisa da manhã Refresca nosso ser Declamado Alma em expansão em plena transformação É preciso de casulo e tempo Para a libertação da consciência e da paz O amor? Ahh o amor! Amor para todos e saúde É preciso viver a vida com coragem! Embalando o canto no rio, mato ou cidade O amanhã vira depois dessa noite! Cantado O amor está no ar Vamos aproveitar e amar muito Amar o mar O amanhã virá depois da noiteeeee...
Mas minha jornada rumo a profundidade do mundo da música ainda não havia terminado nesse domingo.
Chegando em casa, recebi de minha amiga Valquiria Lima um presente que me deixou sem ar. Valquiria tem um filho que é um gênio. Aos 13 anos ele deu uma aula pra minha turma de 2012 na EMEI Gabriel Prestes sobre dobra espacial, sobre massa, sobre gravidade que as crianças entenderam perfeitamente.
Esse menino tocou violino na presença de uma fogueira num acantonamento em 2013 para as crianças da EMEI Gabriel Prestes, a canção as Quatro estações do Vivaldi, que encerrava o Festival de Inverno, proposta curricular da escola do Festival das Estações do Projeto Politico Pedagógico: Percurso das Infâncias da Emei Gabriel Prestes e o olhar das crianças sobre a cidade educadora .
Hoje aos 18 anos, esse menino é um jovem, um talentoso artista, compositor e músico e intérprete genial.
Se pensarmos que toda criação musical vem do insconsciente coletivo temos esse jovem compositor de nosso tempo, contemporâneo. Thales Oscar invadiu e ocupou minha alma de uma jeito tão profundo, cortante e desconcertante, que nada tenho mais a dizer, somente a encerrar esse texto com ele.
Pra você que passa por aqui pra ler minhas reflexões, peço seu comentário e compartilhamento nas redes sociais. Com vocês meu querido, genial e jovem amigo Thales, com sua música Secura (sem letra, ouça o áudio com fones de ouvido e deixe a música te penetrar) Secura? Se Cura? SeGura?
Referências
Edinger, Edward F – A criação da consciência. Ed.Cultrix
Jung, C.G. Estudos sobre o simbolismo do si mesmo. Ed.Vozes
Edinger, Edward F – Ego e Arquétipo. Ed.Cultrix
Jung C.G – Memórias sonhos e reflexões.
Ostrower Fayga – Criatividade e processos de criação. Ed.vozes.
Estou atualmente estudando Carl Gustav Jung, um psiquiatra nascido na Suíça, em 1875, que nos trouxe vastos conhecimentos que chamamos de psicologia analítica ou psicologia profunda.
Quando criança Jung ficou um ano sem ir à escola, após ter sido agredido por um amigo e desenvolveu uma espécie de síndrome do pânico.
O pai de Jung era pastor luterano e sua mãe era uma mulher rica, poderosa, mística e muito culta e, por ambas as influências,Jung interessou-se toda a sua vidas por religiosidade, filosofia, arqueologia, sociologia e psiquiatria e psicanálise. Leu Schopenhauer, Nietsche, Kant, Goethe, todos os renascentistas, grandes filósofos e, por esse motivo, usou suas próprias angústias, medos e cólera como fonte de estudo e pesquisa.
Formou-se em psiquiatria aos 26 anos em 1900, quando já havia lido “A interpretação dos sonhos” e os estudos de Breuer e Freud sobre histeria.
Somente em 1907, quando Jung escreveu um livro sobre psicologia da demência precoce, que era o nome que se dava a esquizofrenia na época, ele resolveu enviá-lo a Freud,para que assim pudessem trocar conhecimentos.
Jung então foi a Viena durante 15 dias e lá tiveram um encontro numa conversa que durou 13 horas e que Jung classifica como “[…] uma conversa muito longa e penetrante”.
Dessa conversa nasceu uma forte amizade pessoal. Entretanto, apesar de Freud ser alguém do afeto de Jung, ele o considerava de natureza muito complicada, porque, segundo Jung, as ideias de Freud eram fixas, quando pensava algo, assim estava estabelecido e enquanto Jung se via como alguém que duvidava de tudo e de todas as coisas o tempo todo.
Entre tantas ideias divergentes, aquela que fez o rompimento dessa parceria profissional foi que, para Freud, o inconsciente humano é apenas pessoal e para Jung temos tanto o inconsciente pessoal quanto o coletivo – o que era inconcebível para Freud.
A partir daí, Jung desenvolve sua psicologia profunda e revisita toda sua obra após os 70 anos, escrevendo sobre os arquétipos do inconsciente coletivo, sobre os complexos do inconsciente pessoal, sobre a sombra, persona, anima/animus e SELF, que é o centro da essência de cada um de nós.
Ainda afirmou que nos relacionamos com o mundo exterior por meio dos sentidos, que cada individualidade pode se relacionar de forma introvertida ou extrovertida e que apresentamos formas dinâmicas detipos de relação com o mundo – que podem ser pela sensação, pelo pensamento, pelo sentimento e pela intuição.
Estas características combinadas na individualidade humana podem apresentar até 64 combinações entre esses opostos extrovertido/introvertido combinando pensamento/sentimento e sensação/intuição, entrelaçando-se em variadas combinações.
Para tanto revelou também, além dessas características humanas, sobre quatro tipos de temperamentos encontrados nas pessoas: colérica, fleumática, sanguínea e melancólica. Nosso aprendizado humano é não permitir que um desses temperamentos sejam fixos em nossa persona, mas que possamos dar movimento a elas num equilíbrio entre o ego e a sombra, num grande pingue-pongue dos temperamentos, pois a repressão da vazão de qualquer desses temperamentos, pode estabelecer as doenças físicas e ou mentais.
Nesse sentido é que se estabelece o trabalho da psicologia analítica de Jung, que evoca o que está retido nas sombras da alma humana e que se manifesta como fala/voz nas doenças do corpo ou da mente.
A ArteTerapia nesse sentido, é um das formas da pessoa em análise, materializar na arte esse vai-vem dos conteúdos (complexos e arquétipos) que transitam do inconsciente para o consciente com o objetivo de descobrir sua individuação.
Jung nasceu na data de hoje, em 26 de julho de 1875 e morre aos 85 anos em 1961, nos deixando um legado incrível – a psicologia clínica – a qual me sinto privilegiada de estudar.
No vídeo abaixo você poderá assistir uma entrevista incrível do Jung, publicada no canal Jung na Prática. Se eu fosse você não perderia a oportunidade de conhecer esse grande homem.
Naíme Andréa Silva
Inverno/2019
Aluna do IJEP/ Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa
Fui assistir a biografia de Elton John sem muitas expectativas, afinal havia me decepcionado bastante com Bohemian Rhapsody, que me pareceu um filme bem ilustradinho para poder ser engolido pela crítica conservadora.
Na primeira cena do filme, um nó ja se instalou na minha garganta: um longo corredor por onde entra Elton com uma indumentária de anjo caído abre as portas de um grupo terapêutico de alcoólicos anônimos.
Ali já me dei conta que não seria um filme comum, porque traz a ideia de um Anjo caído para a terapia como um dos tantos símbolos que recheariam o filme.
A cena se desenrola nesse cenário e ao trazer as memórias sua história de infância, entra uma criança simbolizando o Reggie, Elton pequenino. Nesse instante eu ja me sentia cativada!
Obviamente não tenho intensão aqui de dar spoiler, mas de analisar alguns pontos e convidá-los a assistir e depois comentar comigo sua própria leitura do filme.
A construção dos personagens
Tanto nos Reggies crianças, Matthew Illesley e Kit Connor, quanto no ator adulto Taron Egerton, a construção das personagens teve um crescente sensível e coerente com as relações estabelecidas no clã familiar.
O menino Reggie de uns 8 anos mais ou menos, com o ator Kit Connor, tem poucas cenas, mas que são primorosas para entendermos a relação parental estabelecida e como o filme se desenrola como um drama psicológico e a construção desse ator criança é incrivelmente sensível. Um prato cheio para psicólogos analíticos, mas que pode ter deixado a desejar aos artistas e músicos que gostariam de ver o ato criativo de um músico, independente de seus complexos emocionais, se é que essa separação seja de fato possível.
Aos psicólogos analíticos, um filme pra saborear e talvez pra ver mais de uma vez, tamanho acervo de símbolos que tanto a personagem de Elton John, quanto suas personas e ainda se quisermos analisar as outras personagens como suas contrapartes apresentam. E ainda temos os símbolos sensíveis inseridos pela direção do filme como a relação de Elton John com seus figurinos, com seus óculos e como essa construção e desconstrução se deu.
O filme como musical também revela uma sensibilidade incrível do diretor Dexter Fletcher, pois se utiliza da corporeidade dos bailarinos e das canções de Elton John e Bernie Taupin como textos, para revelar os momentos picantes de sexo e drogas e trazer essa trama com arte, mas sem os ocultar e nem disfarçá-los, como vimos na biografia de Freddie Mercury.
Aqui também vale um destaque para a relação dessa dupla, Elton e Bernie, que analisei uma como contraparte do outro. Elton, que era inicialmente tímido, calado, se encontra com um Bernie, bem empolgado com o futuro da dupla. Bernie parece revelar ter uma personalidade de Elton, confusa e magoada dentro de si, expressa nas letras que você diria que foram escritas para a própria vida de Elton. Ao longo da evolução das personagens, Elton se transforma no Anjo Caído e Bernie anseia pela simplicidade do trabalho criativo da dupla. Talvez o ator de Bernie, Jamie Bell, pudesse ter explorado melhor esses aspectos na construção da personagem, que ao meu ver ficou bem aquém da construção de Taron Egerton.
Outra cena que pra mim foi marcante – Elton, depois de famoso artista de Rock e milionário, vai visitar seu pai e percebe o como seu pai trata seus meios irmãos diferente da relação que teve com ele. Que afinal para o pai, ele não passa de um cantor de Rock famoso para autografar o disco para seus filhos pequenos. O subtexto no olhar de Taron Egerton é arrebatador e revela a enorme qualidade da construção da personagem.
Por fim, gostaria de dizer que Elton John, o menino Reggie não aceitou ficar no amor cego em seu clã familiar.
Sabia que algo estava muito errado e que poderia levá-lo inclusive a perder seu bem maior: sua vida.
E essa toada do filme é um foco de luz, uma grande esperança pra tantas pessoas que vivem na escuridão do amor cego, que alguém tão perdido, possa encontrar no caminho interno um pai e uma mãe real, buscar a saúde para olhar rumo a um futuro com uma família e filhos e uma carreira que não precisou chegar a morte dessa e nem do artista como tantos astros do Rock ou artistas que acabam em ruína, na morte ou solidão como única possibilidade histórica e biográfica.
Ainda vale dizer que muitas vezes durante Rocketman lembrei de um filme cult que assisti quando criança, apresentado por meu tio Walter Ben que ama Elton John – Pinball Wizard (Tommy no Brasil) – que tem The Who, Eric Capton, Elton John, entre tantas na trilha sonora e que conta sobre um “menino criado no período do pós-guerra na Inglaterra e que desenvolve surdez e cegueira psicológicas, devido a experiências traumáticas na infância. Habilidoso nos jogos, ganha fama como campeão de fliperama, tornando-se ídolo nacional” (pesquisa google). Também fica a dica para assistirem.
Assim faço um convite pra que você assista Rocket Man e volte aqui no meu jardim para comentar nessa postagem suas impressões! Te aguardo! Fique agora com o trailer oficial de Rocket Man.