Hoje eu venho contar a vocês algo que há muito tenho pensado. “Plantar” ou trazer para replantar aqui nesse Jardim uma diversidade de Flores que me acompanham por esse mundão! Explico. Tenho descoberto com maior reflexão e profundidade que minha alma é bem porosa aos coletivos. Sou uma alma permeada pelos coletivos. Talvez e muito por isso, toda minha vida busquei fazeres e ações pautadas por eles: o teatro, a educação, a psicologia comunitária, a psicologia social, e agora a arteterapia em grupos.
Foi por isso que entendi que estar aqui sozinha me incomodava. Um Jardim precisa de Flores vivas, viçosas, potentes que alegrem a jardinagem, que nos façam querer estar aqui entre elas sentindo seu perfume, apreciando sua beleza. Então, estou convidando várias flores diferentes na forma e belas na igualdade. Flores que estão desabrochando e outras que tem uma maturidade semelhante aos perfumes das damas da noite.
Essas flores são as mulheres do grupo de Acolhimento de Mulheres que curam feridas e reconhecem suas histórias suas cicatrizes, que fazem questão de exibir, como medalhas, frutos de aprendizagem da Vida. Esse grupo da qual tenho a honra de participar é coordenada pela profa Ana Paula Maluf do IJEP/ Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa. Nesse grupo as mulheres, podemos expor livremente nossas dores, nossas alegrias, nossas conquistas, nossas feridas em sangue e nossas cicatrizes. Temos amadurecido a ideia de produzir por meio da Arte, da nossa livre expressão criativa em textos, desenhos, mandalas, mapas afetivos, poemas, leitura de tarots, escrita ativa, meditações e muita expressão da nossa corporeidade.
Iniciamos esse processo da nossa expressão criativa numa parceria minha com Cecilia Crepaldi, pianista/musicista, onde noutro momento venho contar em detalhes pra vocês, porque é um projeto grande que ainda está em andamento, que integra um conto, músicas, poesia, artes plásticas, rádio novela e teatro. Por hora quero dizer que foi um dos trabalhos em arte mais intensos que tenho realizado em toda vida, que além de Cecilia Crepaldi, tenho como parceria Rosana Bergamasco, Andreia Araújo, Rosana Pereira e meu Diretor de Arte Adanias de Sousa.
Quando apresentamos o conto, com minha curadoria musical e os arranjos de Cecilia Crepaldi ao piano, imediatamente arrebatou todas as mulheres do grupo e sabemos que quando uma obra de arte toca o coração de todas/es/os, quando essa obra tem ressonância na maioria, é porque é uma expressão coletiva, mexe com a essência de todas/es/os.
Após essa parceria, abrimos um portal para a expressão criativa do Grupo de Mulheres e Ana Paula então convidou Regina Célia da Silva, artesã, e Talita Gomes, psicóloga clínica, para serem a próxima dupla a se apresentarem. E veio um texto de escrita criativa incrível conforme destaco abaixo:
Por Regina Célia da Silva Talita Gomes Fernandes
A solidão parece um buraco escuro que você não vê o fim. E quando você percebe, já não está só, está de mãos dadas com suas dores e percebe que as feridas ainda sangram. Não há esperança, não há futuro. É somente você e suas dores, é só você e os vários personagens que existem em si mesma, que querem levar você para o buraco, aquele buraco que não tem fim e que não há luz. E assim, você fica aprisionada as suas dores, erros e aos piores aspectos de si mesma. E logo em seguida, surge mais uma companheira, as lágrimas que já não encontram motivos para não cair. E aí, você lembra que desde menina estava num deserto que queimava, maltratava e a noite congelava. Andou sozinha, percorreu a trajetória solitária. Até que descobriu as florestas, eram mais atrativas que o deserto, mas não soube sobreviver, não se nutria, tentou, mas tudo que conseguiu foi matar e morrer. Andou perdida e não conseguiu achar saída, pois ainda era apenas uma menina. Certa vez, quase achou um caminho convidativo e com flores, mas era apenas uma ilusão. E assim, permaneceu no chão, se rastejou pela lama, ficou e esperou, na expectativa que pudesse morrer para renascer. De tempos em tempos, se levantava e dava um passo de cada vez, andava devagar, depois se recolhia e voltava à lama, ansiando pelo mergulho no mar. O mar era o local onde se sentiria amada e acolhida, encontraria em fim a liberdade e a fluidez que tanto buscava… O mar …ahh o mar…aquele bom e velho mar, que nos envolve, para uns proteção e limpeza com sua água salgada a levar embora, dores, angústia, solidão, trazendo alívio e renovação, para outros desespero, diante da imensidão que pode afogar com sua fúria quem ousar desafiar sem respeitar… O mar é como a vida ou a vida como o mar, temos que descobrir e aceitar os limites, para superar e ultrapassar, por vezes nos deixar levar pelas ondas a boiar, outras tantas a desbravar e se debater sobre as águas claras, pesadas de sal, para no final…respirar…aliviada por ter sobrevivido!
Ahhh como é benéfico a nossa alma produzir arte queridas/os/es leitoras/es. A arte é um símbolo que ganha matéria e que precisa falar, expurgar, redimir, explicitar algo que pertence a todas/es nós! E foi nessa toada de amor e livre expressão da nossa voz, que a Ana Paula convidou a Monaliza Carvalho Godoy, fisioterapeuta e Chocolatier e a Tainã Fidalgo, educadora de infância, para comporem uma parceria e diálogo conosco! E dessa dupla nasceu essa bela escrita criativa:
Vem mana – por Monaliza Carvalho e Tainã Fidalgo
Vem mana, vamos conversar, passear, tomar um café, rir ou chorar… Vem mana, deixa eu te abraçar, vamos banhar no rio, no igarapé, no açude ou no mar… Vamos dançar, acender uma fogueira, brincar com as crias, correr na chuva, trilhar na floresta a luz da lua até o dia raiar… Vem mana, vamos nos juntar ao redor da fogueira, trançar os nossos cabelos, beber e comer, rir ou chorar… Vamos, me conte! Quais são essas dores? Quais os dissabores? Oh alma querida, o que é que te aflige? Vem, compartilhe conosco, qual é o seu enrosco, ou será um encosto? Quais são os desgostos a serem expostos na roda amiga, que escuta e auxilia os entraves da vida… Vem mana, vamos juntas trilhar? Entre luzes e sombras vem o despertar… que nasce da dor, depois põe-se a brilhar. Mana, é no rasgar-se e remendar-se que tens a noção do quão forte e bela, feroz e singela és tu alma incrédula. Depois da tempestade vem a calmaria, que nos abrandam a vida, dependendo da vista de quem nela confia. Vamos mana, queira ser parte da cria que cresce unida e grita convicta que pela dor vem alegria. Que benção a dor, que depois de tanto ardor, nos tornou parte do amor gratuito e acolhedor. Ah, o amor… que nos salva essa alma desprovida de calma, porém repleta de dor, calma!
E esse texto retrata com tanta legitimidade a potência desse trabalho, dessa ciranda de curandeiras, da beleza que há numa mandala de mulheres! E no próximo encontro haverá mais e certamente viremos aqui contar pra vocês! Quer agregar-se como mais um flor nesse Jardim? Escreva aqui nos comentários, aguardaremos ansiosa a sua chegada para que possamos te acolher seja você uma Rosa, uma Camélia, uma Margarida ou Dama da noite, o que importa mesmo é você espalhar por aqui seu perfume, sua beleza, mesmo que você venha carregada de espinhos! Vem!
Grupo de Acolhimento de Mulheres, coordenação Ana Paula Maluf, Analista Junguiana e Arteterapeuta
Eu determino que hoje tudo será magia Tudo dará tempo E farei tudo com alegria Pois a vida é fartura Alimento do tempo de cada dia E cada ação eu realizo com energia
Eu libero medos e liberto kuravas Tenho em meu ego guerreiro, um amigo Minha realização me guia para a cura Porque aprendi a me olhar no espelho Porque minhas mãos fazem o que necessito aprender E materializo mandalas rumo aos pandavas do meu Ser!
Tem três pontos no meu olhar que não avançaremos como nação brasileira , caso não seja trabalhado:
1. O mundo interno de cada pessoa, ou um ativismo interno, enfrentar sua guerra interior, seu subterrâneo, suas profundezas, fazer uma revolução no vale das sombras da sua alma, limpar as teias de aranha do seu porão mental, desobstruir os canos energéticos de seu corpo astral, lutar contra o que há de pior: dentro de você! Isso certamente terá reflexo em você e ao seu redor. Experimenta e me conta.
2. A nossa aceitação ancestral de forma polarizada e integrada, ou seja aceitarmos nossa ancestralidade indígena, africana e lusitana separadamente, revendo esses valores internamente, aceitando dentro de nós a luz e sombra de cada povo, honrando cada povo, aceitando os tesouros e perdoando as maldições. Enxergando todas as dores e integrando. Integrando na arte, na cultura, na ciência, na educação, nos valores e costumes, no reconhecimento do que temos em separado e do que temos misturado. Isso nos dará inteireza e dignidade, alegria interior e auto respeito.
3. Reconhecermos a dor de toda a maldição que submetemos aos nossos bebês e crianças brasileiras desde o nascimento do Brasil. Honrar e pedir perdão ao nosso passado, reconhecer no presente e pactuar um futuro diferente do que temos hoje.
Sim, esse é meu sonho . Hoje é dia de expor sonhos e cocriar. Tenho cocriado essas mudanças todos os dias e achei que seria importante dividir com vocês aqui entre flores, plantas e borboletas! Bóra fazer essa alquimia!?
No meu coração moram algumas crianças e uma delas carrega a marca do medo, do abuso, da violência.
Tenho tentado acolhê-la todos os dias de minha vida.
A ela eu escrevi uma história, pra ela eu cantei, com ela eu cavalguei no espírito de uma onça 🐆 , pra ela eu acendi uma fogueira 🔥, voei com ela nas costas de uma graúna, encorajei-a a enfrentar a Cóca das aguas turvas e nela banhei numa espécie de batismo de coragem e amor. Depois a a retirei das Águas, agora límpidas sequei seus cabelos, preenchendo de flores 🌷.
Deixei que ela percebesse que ela agora estava leve e não precisava mais se culpar por algo que ela não tem culpa, nunca teve e agora ela pode voar com suas próprias asas divinas!
Voa menina voa, não dê ouvidos a maldade alheia. Transforme suas cicatrizes em seus escudos 🛡 e honre sua potência divina! E se puder, nos perdoe, Criança Divina!
Poema citado no episódio do Podcast Chutando a escada que você pode ouvir em:
Prosa poética escrita por Naíme A Silva em 2015. Como diria a teoria Junguiana, a expressão artística provém do inconsciente, sendo portanto atemporal. E como temos dentro de cada um de nós, a história do mundo inteiro, essa arte também é a expressão de todo o inconsciente coletivo. Alguma semelhança com o que vivemos hoje?
Pensei que a vida estava a me oferendar essa oportunidade de me refazer, de renascer, de ressignificar o velho, o em desuso, o que não serve mais
Dessa vez, não seria da lagarta para a fada alada, mas do bicho alado para o éter, ou talvez ao pó retornar e colaborar com novos frutos, alimentar futuras sementes
Já pensou em algo interessante? Todos os anos passamos pela data de nosso nascimento, onde comemoramos nosso aniversário
Mas a cada aniversário, nos aproximamos cada vez mais da morte e todo ano passamos pelo dia em que aqui nesse corpo já não existiremos, mesmo sem saber qual dos dias será
Que nostalgia talvez nos assole nesse dia? Que tristeza? Que perturbação? Que dor nos acomete? Esse mistério temos que acolher
Ali, na miudeza do concreto jaz a borboleta/mariposa que um dia polinizou as flores 🌷, encantou crianças, enfeitou jardins. Agora, ali no concreto frio da cidade, ela amassada se apresenta como uma oferenda da morte me tensionando a parir essa prosa poética e nascer em mim a vontade de viver!
A musicalidade em diálogo com minha alma e com os coletivos ao meu redor
Nessas últimas semanas de novembro tenho vivido experiências tão intensas com música e musicalidade de arrebatar a alma de qualquer pessoa um pouquinho sensível que seja. Foi tão absolutamente incrível que me senti impelida e inspirada a vir aqui escrever.
Bom, esses dias parei pra pensar nas potências da alma de meu clã familiar. Tanto minha linhagem materna quanto minha linhagem paterna, temos a herança da música muito presente. Lembro que quando eu era criança, meu pai sempre dizia que ele não tinha podido estudar música e que o maior sonho dele para seus filhos, seria nosso envolvimento para tocar um instrumento. Meu avô paterno Raul, tocava cavaquinho com uma alegria, leveza e força encantadoras. Meu avô materno tocava flauta transversal e chegou a tocar com Gonzagão pelo sertão cearense de meu Deus.
Eu e minha irmã Naide de alguma forma nos envolvemos mais com as artes da cena, mas que também incluem a música e musicalidade, pois costumo dizer que o Teatro é a mãe de todas as linguagens artísticas.
Meu irmão é um artista completo, toca vários instrumentos, canta lindamente e tem uma presença cênica maravilhosa que nos atravessa. Poderia mostrar a vocês tantas canções que ele canta, mas no final vou deixar o seu canal no YouTube para que vocês possam se deliciar com essa voz e essa presença. Por aqui vou deixar um cover de Liniker e Johnny Hooker, com a música Flutua, que é de uma verdade doída absurda. Com vocês a Drag Queen de meu irmão Raul Neto, a Suanny, lindamente poderosa e forte.
Flutua (part. Johnny Hooker) – Liniker e os Caramelows
O que vão dizer de nós? Seus pais, Deus e coisas tais Quando ouvirem rumores do nosso amor Baby, eu já cansei de me esconder Entre olhares, sussurros com você Somos dois homens e nada mais Eles não vão vencer Baby, nada há de ser em vão Antes dessa noite acabar Dance comigo a nossa canção! E flutua, flutua Ninguém vai poder querer nos dizer como amar E flutua, flutua Ninguém vai poder querer nos dizer como amar Entre conversas soltas pelo chão Teu corpo teso, duro, são E teu cheiro que ainda ficou na minha mão Um novo tempo há de vencer Pra que a gente possa florescer E, baby, amar, amar sem temer Eles não vão vencer Baby, nada a dizer em vão Antes dessa noite acabar Baby, escute, é a nossa canção E flutua, flutua Ninguém vai poder querer nos dizer como amar E flutua, flutua Ninguém vai poder querer nos dizer como ama Como amar Como amar Ninguém vai poder querer nos dizer como amar Como amar Como amar Ninguém vai poder querer nos dizer como amar Como amar Como amar Ninguém vai poder querer nos dizer como amar
Vocês já repararam que as vezes ficamos carentes de uma música ou novos artistas que nos toquem profundamente como aqueles tantos que nos tocaram no século passado, principalmente dos anos 60 aos anos 90? Daquela saudade que pessoas da minha geração sentem dos grandes festivais?
Participo de um grupo de Acolhimento de mulheres que curam suas feridas, coordenado pela analista Junguiana e arteterapeuta Ana Paula Maluf, minha professora de Corporeidade e musicalidade do IJEP/ Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa. Em nosso encontro de quinta feira, após uma rodada de relatos pessoais de mulheres que procuram força umas nas outras, a Ana colocou pra gente ouvir em silêncio e de olhos fechados, a música de Gilberto Gil, Se eu quiser falar com Deus.
Na psicologia analítica ou psicoterapia profunda, nosso maior objetivo é a busca do processo de individuação, quando procuramos compreender e integrar as polaridades de nossa psiquê, do que esta na luz e sombra de nossa alma, quando trabalhamos o rumo ao centro de nossa alma, onde mora nossa centelha divina, nossa criança, a morada de DEUS.
Convido você a ouvir a música de Gil pensando nisso que acabei de te afirmar do pensamento Junguiano e coloco aqui pra vocês acompanharem minha emoção vivida na quinta feira no grupo de Acolhimento de mulheres que curam suas feridas.
Se Eu Quiser Falar com Deus – Gilberto Gil
Se eu quiser falar com Deus Tenho que ficar a sós Tenho que apagar a luz Tenho que calar a voz Tenho que encontrar a paz Tenho que folgar os nós Dos sapatos, da gravata Dos desejos, dos receios Tenho que esquecer a data Tenho que perder a conta Tenho que ter mãos vazias Ter a alma e o corpo nus Se eu quiser falar com Deus Tenho que aceitar a dor Tenho que comer o pão Que o diabo amassou Tenho que virar um cão Tenho que lamber o chão Dos palácios, dos castelos Suntuosos do meu sonho Tenho que me ver tristonho Tenho que me achar medonho E apesar de um mal tamanho Alegrar meu coração Se eu quiser falar com Deus Tenho que me aventurar Tenho que subir aos céus Sem cordas pra segurar Tenho que dizer adeus Dar as costas, caminhar Decidido, pela estrada Que ao findar, vai dar em nada Nada, nada, nada, nada Nada, nada, nada, nada Nada, nada, nada, nada Do que eu pensava encontrar
Segundo a professora Ana Paula, toda música expressa uma narrativa do inconsciente pessoal, mas sobretudo do inconsciente coletivo. Pensar nisso me emocionou porque foram tantos sentimentos profundos que senti durante toda minha vida ouvindo música, que pude compreender essa emoção acompanhada pela captura de uma alma coletiva. Minha vida sempre foi regida por canções. Várias. Nesse mês de novembro me peguei revivendo canções guardadas em mim por décadas atrás, despertadas por um senhor que vendia mancebos na rua e que estava a cantar uma música do Roberto Carlos, As curvas da estrada de Santos, que é de 1969. Já repararam na letra dessa música? Quem nunca se desesperou diante da perda de um grande amor? Ouçam e acompanhem a letra:
As curvas da estrada de Santos – Roberto Carlos
Se você pretende saber quem eu sou Eu posso lhe dizer Entre no meu carro na estrada de Santos E você vai me conhecer Você vai pensar que eu Não gosto nem mesmo de mim E que na minha idade Só a velocidade anda junto a mim Só ando sozinho e no meu caminho O tempo é cada vez menor Preciso de ajuda, por favor me acuda Eu vivo muito só Se acaso numa curva Eu me lembro do meu mundo Eu piso mais fundo, corrijo num segundo Não posso parar Eu prefiro as curvas da estrada de Santos Onde eu tento esquecer Um amor que eu tive e vi pelo espelho Na distância se perder Mas se o amor que eu perdi Eu novamente encontrar, oh As curvas se acabam e na estrada de Santos Não vou mais passar Não, não vou mais passar, oh Eu prefiro as curvas da estrada de Santos Onde eu tento esquecer Um amor que eu tive e vi pelo espelho Na distância se perder Mas se amor que eu perdi Eu novamente encontrar, oh, oh As curvas se acabam e na estrada de Santos Eu não vou mais passar Não, não, não, não, não, não Na estrada de Santos as curvas se acabam E eu não vou mais passar Não, não, não, Oh, na estrada de Santos as curvas se acabam
Na sexta feira, eu também me impactei com uma música. Dessa vez, na supervisão do professor Waldemar Magaldi, ao analisar um caso terapêutico numa sucessão de repetições de vínculos amorosos com alcoolistas. Quantos de nós não carrega essa herança familiar de um cotidiano com envolvimento de um pessoa e o álcool?
Segundo Magaldi, um complexo na relação materna pode levar ao alcoolismo e deixar a pessoa, “mamada”. Interessante, porque em minha família essa herança presente fez muitos complexos chegarem a dramas dolorosos que também afetam minha alma e minhas relações durante toda minha vida. O caso discutido sobre o alcoolismo levou Magaldi a sugerir o trabalho com uma música de Lupicínio Rodrigues, na voz de Maria Bethânia, Foi assim:
Foi Assim (ao vivo) – Chico Buarque e Maria Bethânia
Foi assim Eu tinha alguém Que comigo morava Mas tinha um defeito que brigava Embora com razão Ou sem razão Encontrei Um dia uma pessoa diferente Que me tratava carinhosamente Dizendo resolver minha questão Mas não Foi assim Troquei essa pessoa que eu morava Por essa criatura que eu julgava Pudesse compreender todo o meu eu Mas no fim Fiquei na mesma coisa em que estava Porque a criatura que eu sonhava Não faz aquilo que me prometeu Não sei se é meu destino Não sei se é meu azar Mas tenho que viver brigando Todos no mundo Encontram seu par Por que só eu vivo Trocando? Se deixo de alguém Por falta de carinho Por brigar E outras coisas mais Quem aparece No meu caminho Tem os defeitos iguais Se deixo de alguém Por falta de carinho Por brigar e outras coisas mais Quem aparece no meu caminho Tem os defeitos iguais
No sábado fui para a aula do IJEP, onde teríamos aula de imaginação ativa e a técnica arteterapeutica das mandalas com a professora Simone Magaldi que foi absolutamente reveladora de nosso inconsciente pessoal e a tarde a aula com Ana Paula Maluf sobre musicalidade, inconsciente coletivo e mudanças de humor.
Que dia! Que aulas poderosas! Já saí bastante mobilizada da aula de imaginação ativa onde vi revelado meu inconsciente pessoal por meio da produção de minha mandala. À tarde, vivenciamos a construção coletiva da musicalidade desvelando nosso insconsciente coletivo e foi algo surpreendente.
A professora Ana desenvolveu conosco várias experiências musicais que culminou numa composição musical ao final da aula que revelou a alma coletiva da nossa turma. A música que criamos revelou-nos uma narrativa em três partes, que contavam uma evolução humana. A primeira uma chuva na floresta, a segunda um agrupamento tribal e a terceira me pareceu um riacho com lavadeiras.
No momento da produção, estávamos tão soltos e criativos, sem preocupações com nada. Levamos vários cotidianafanos, que são instrumentos que produzem sons criados por materiais reciclados de elementos da nossa cultura.
Mas também levamos instrumentos musicais prontos como pratos, triângulos, claves, gaitas, pandeiro, tambor, reco-reco, pau de chuva, maracas e dois instrumentos incríveis levados pelo Felipe Coelho. Ele levou um instrumento de sopro aborígene chamado Didgeridoo, que é uma espécie de aerofone, onde o som é provocado pela vibração dos lábios, um pouco parecido com o nosso berrante brasileiro. Veja aqui:
Ele também levou um instrumento que parece um disco voador que tem um som de água incrível chamado Hang Drum que deixo abaixo pra você conhecer:
Todos esses instrumentos dispostos no chão e inicialmente a Ana fez conosco uma espécie de imaginação ativa rumo ao nosso centro, a nossa centelha divina, a nosso Deus, ao nosso centro, rumo ao SELF. Depois, o grupo começou a produzir sons com o corpo, com a voz, e aos poucos fomos levantando e pegando esses instrumentos que estavam dispostos no chão, no meio, no centro da sala, meio mandálico também, ali nos convocando a deles compor nossa narrativa musical.
Lembro que na hora da criação coletiva, a única coisa que me preocupei foi em compor de uma certa harmonia musical com meus colegas e vez ou outra mudar de instrumento e de som. Também senti o desejo de compor uma dança com aqueles sons e bailar docemente ao som coletivo daquela narrativa.
Ao final, a Ana que havia gravado aquela narrativa musical do SELF de nossa turma, colocou o áudio pra que a gente ouvisse. Qual não foi nossa emoção de percebermos a beleza de nossa história musical que contava uma evolução: floresta, tribo e trabalho coletivo. Quanta riqueza há nesse coletivo! Ouçam:
Ao abrirmos os diálogos sobre nossas impressões, Rosana Bergamasco, que também é minha professora e regente do coral da EMIA/Escola Municipal de Iniciação artística fala de seu trabalho arteterapeutico inovador de compor letra e música coletiva no coral das famílias da EMIA. Eu também pude relatar o quanto essa experiência do coral da qual faço parte tem me deixado realizada emocionalmente, porque a cada encontro, a cada semana que preparamos nosso repertório e criamos arranjos para nossas canções a partir dessa nova metodologia de Rosana, algo acontece dentro de nós que nos aproxima, nos conecta, nos vincula enquanto coletivo.
A canção que compusemos com Rosana Bergamasco, que nos apresentou uma metodologia que capturou nosso insconsciente coletivo tanto para compor a letra, quanto a música, me fez pensar no momento político que vivemos.
Vivemos um contexto de ódio, de desprezo e retalhação às instituições, à ética, aos direitos humanos, aos valores fundamentais rumo à uma sociedade humanizada e humanizadora.
Na canção A Poesia me interessa, de nossa autoria coletiva do Coral das Famílias da EMIA/ Escola Municipal de Iniciação Artística, sob a composição e regência de Rosana Bergamasco e arranjos, performance e regência de Viviane Godoy, falamos de um amor escondido em nossa sombra e que nessa sombra, se encontra uma criança divina em expansão de alma e todo o amor perdido pela pressa e desconexão humana contemporânea.
Fico muito emocionada de compreender essa composição coletiva, porque em 2018, antes das eleições, nossa escola ficou polarizada pelas famílias de esquerda de uma lado e as famílias de extrema direita de outro. Muito ódio e desrespeito aconteceu nas redes sociais, muitos ataques foram travados entre grupos que culminou até num desrespeito as próprias crianças na apresentação final de 2018 no teatro João Caetano, quando algumas famílias gritaram uma com outra na boca de cena, enquanto o diretor da escola pedia que os adultos pedissem desculpas pelo seu destempero para com todos ali e principalmente com as crianças, que são nossos filhos. Foi constrangedor, horrível, vergonhoso, triste.
Em 2019, pensei dez vezes se eu ia mesmo compor daquele coral de famílias ou não. Sentia medo da polarização. Mas resolvi que devia ir. Nos primeiros encontros, senti a presença da hostilidade, da polarização, um estranhamento que queimou meu peito.
No dia 27 de agosto, dia do Psicólogo , nós ganhamos de presente uma oficina terapêutica, uma vivência com feitura de pães, coordenada por uma das integrante do coral de famílias da EMIA, a psicoterapeuta Nívea Gonçalves, que nos fez mergulhar em silêncio para que através da integração dos ingredientes, a manipulação da massa, a espera do crescimento da mesma e da escuta interna de nossas emoções, nos mobilizou por meio dessa alquimia olhar para nós mesmos e nos conectarmos umas as outras no coletivo do coral. Fiz um texto aqui no meu jardim contando sobre essa vivência incrível na escola pública, que batizei de As delícias e dores humanas, vivências grupais, que deixo o link aqui pra quem quiser ler:
Percebi que após essa vivência e após a criação musical da Poesia me Interessa, uma chave virou a porta da alma e nos fez constituir um vínculo muito forte de amor.
A música revela e une almas. Ela fala por todos nós. Fala de dores, amores e amizade. Fala do esssencial. Fala que vem do centro. Uma narrativa coletiva de um SELF coletivo.
Nesse domingo, 1º de dezembro, dia mundial de luta contra aids, quando costumo chorar tantos amig&s mortos, vitimados por essa peste tão cruel do século XX, a aids, nos apresentamos no Teatro João Caetano, revelando a nossa narrativa, a nossa canção que vem da nossa sombra e lá está guardado um montão de amor, amizade, respeito, alegrias, dança, que virá depois da noite. Essa manhã eu senti verdadeiramente o espírito do natal em meu coração com essa gente linda que ama cantar!
Pra vocês o coral das famílias da EMIA com a composição coletiva (música e letra):
A Poesia Me Interessa
Estou com pressa Mas a poesia me interessa Assim como a brisa da manhã Refresca o nosso ser O amor está no ar Vamos aproveitar e amar Muito, amar o mar E por que não? Amar a escuridão Pedo, filho amado Corpo prisão Alma em expansão Em plena transformação Estou com pressa Mas a poesia me interessa Assim como a brisa da manhã Refresca nosso ser Declamado Alma em expansão em plena transformação É preciso de casulo e tempo Para a libertação da consciência e da paz O amor? Ahh o amor! Amor para todos e saúde É preciso viver a vida com coragem! Embalando o canto no rio, mato ou cidade O amanhã vira depois dessa noite! Cantado O amor está no ar Vamos aproveitar e amar muito Amar o mar O amanhã virá depois da noiteeeee...
Mas minha jornada rumo a profundidade do mundo da música ainda não havia terminado nesse domingo.
Chegando em casa, recebi de minha amiga Valquiria Lima um presente que me deixou sem ar. Valquiria tem um filho que é um gênio. Aos 13 anos ele deu uma aula pra minha turma de 2012 na EMEI Gabriel Prestes sobre dobra espacial, sobre massa, sobre gravidade que as crianças entenderam perfeitamente.
Esse menino tocou violino na presença de uma fogueira num acantonamento em 2013 para as crianças da EMEI Gabriel Prestes, a canção as Quatro estações do Vivaldi, que encerrava o Festival de Inverno, proposta curricular da escola do Festival das Estações do Projeto Politico Pedagógico: Percurso das Infâncias da Emei Gabriel Prestes e o olhar das crianças sobre a cidade educadora .
Hoje aos 18 anos, esse menino é um jovem, um talentoso artista, compositor e músico e intérprete genial.
Se pensarmos que toda criação musical vem do insconsciente coletivo temos esse jovem compositor de nosso tempo, contemporâneo. Thales Oscar invadiu e ocupou minha alma de uma jeito tão profundo, cortante e desconcertante, que nada tenho mais a dizer, somente a encerrar esse texto com ele.
Pra você que passa por aqui pra ler minhas reflexões, peço seu comentário e compartilhamento nas redes sociais. Com vocês meu querido, genial e jovem amigo Thales, com sua música Secura (sem letra, ouça o áudio com fones de ouvido e deixe a música te penetrar) Secura? Se Cura? SeGura?
Referências
Edinger, Edward F – A criação da consciência. Ed.Cultrix
Jung, C.G. Estudos sobre o simbolismo do si mesmo. Ed.Vozes
Edinger, Edward F – Ego e Arquétipo. Ed.Cultrix
Jung C.G – Memórias sonhos e reflexões.
Ostrower Fayga – Criatividade e processos de criação. Ed.vozes.
As mudanças de estação costumam mexer de tal modo comigo no corpo e nas emoções que me remetem a mergulhos profundos na minha alma. Entretanto, na transição desse inverno para a primavera, eu mergulhei ao meu inferno como jamais pude fazer.
Hoje particularmente, dei novo mergulho ao escuros do meu oceano mais profundo que vem de um processo de minha jornada rumo a mim mesma de alguns anos.
Desde minha aposentadoria como professora de infância e gestora pública, após 30 anos de dedicação, na procura e obstinação pela excelência de atendimento ao público que culminou com um processo de descoberta de uma deficiência física de nascença que me levou quase a ficar prostrada numa cadeira de rodas, eu resolvi me dedicar integralmente a minha saúde física, emocional e espiritual, bem como a assumir meu lado B profissional, a psicologia. Baita processo de mudança, porque consegui compreender quão amigo meus sintomas estavam sendo de mim, levando minhas pernas a caminharem por outros rumos e construir novos capítulos do livro da minha vida.
A vida é feita de decisões, nem sempre fáceis, pois requer de nós mobilizar e remexer em afetos muito bem guardados no porão da nossa alma.
Eu tive que mexer e ainda estou remexendo nesses afetos e sobre eles que venho hoje contar pra vocês, porque acredito que escrever tem sido pra mim, uma limpeza, uma depuração, uma decantação de alguns sentimentos tóxicos, que muitas vezes guardamos por sentimento de culpa, vergonha ou medo de nos expor. Mas quando a gente mexe neles e os decanta ou mesmo percebe que muitas situações tóxicas nem são nossas, a gente consegue expô-los e até quem sabe colaborar com um leitor ou uma leitora que passa por aqui no meu Jardim e dá uma paradinha para me “ouvir”.
Ainda mais nesse setembro amarelo, quando as pessoas se voltam para a temática do suicidio, falar do que se sente ou ler sentimentos de outras pessoas, acho bem propício, porque acredito que quando alguém busca saúde física ou mental, meio que se coloca como um bom modelo social.
Eu tenho vivido nessa transição do inverno para a primavera de 2019 e também da transição do outono para o inverno de período da vida, pois como uma mulher de 52 anos, que recentemente adentrou a menopausa, um encontro com a sombra de meu animus. Explico. Para Jung a anima é a alma feminina contraparte dos homens e animus é a contraparte masculina nas mulheres. Tema complicado e complexo em tempos de construção de novas identidades de gênero e que vai exigir ainda muitas pesquisas, revisões teóricas e novas análises para conectar-se a nova situação histórico humana. Mas na real, ao trabalhar meu animus, numa vivência de máscaras e teatro no IJEP/ Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa, da qual faço Pós Graduação em Arteterapia , o que veio dessa sombra, foi um homem perverso, mal humorado, agressor. É o modelo de homem que ainda mora dentro de mim e que tenho exercitado transmutar e ressignificar. Abaixo a imagem da sombra do meu animus, ainda não integrada.
Não é pra menos, para além do destino que muitas vezes ocupamos num clã familiar, ainda temos enraizado em nossa cultura, omachismo e o sexismo, a qual todos e todas estamos mergulhadxs, e que diz respeito a construção desses modelos ou por vezes anti modelos.
No final da década de 90, eu trabalhei com grupos monitorados de mulheres no tocante a sexualidades, direito à saúde reprodutiva e prevenção e tratamento de dst aids/hepatites virais e redução de danos associados à saúde pelo uso de drogas em parceria da profa Dra Regina Facchini. Naquela época, já havíamos chegado à conclusão que trabalhar as questões femininas e feministas com as mulheres era tão importante como trabalhar a questão das masculinidades e do feminismo com os homens. E foi a partir do trabalho com o grupos de Mulheres do Centro de Convivência ‘É de Lei’ que se desdobrou o grupo de homens ‘É de Lei’. O número de participantes, as questões levantadas e a periodicidade do grupo era bem diferente um do outro, revelando o acúmulo de debate, de saberes, de experiências e possibilidades de expressão bem diferente entre um e outro.
O grupo de mulheres tinha uma circulação de 20 a 30 mulheres por semana. O grupo de homens quando tinha 5 participantes, por quinzena, era uma alegria. O grupo de mulheres tinha pautas desde o padrão de uso de drogas, passando pelos métodos contraceptivos até zonas erógenas de prazer do corpo e principalmente do tecido do clitóris. Chegamos mesmo a discutir e criar uma bula para o Reality, preservativo feminino em parceria com a DKT do Brasil.
Já o grupo de homens não conseguia muito sair da higiene do pênis e da tentativa de quebrar o paradigma do “macho garanhão” que quer pegar aquela “mina gostosa”.
Importante olhar para essa trajetória e verificar quantos grupos de masculinidades estão em diálogo hoje. Muitos! Dá uma alegria! Apesar do feminicídio e violência contra mulheres que cresce exponencialmente a antimodelos masculinos que são ainda aplaudidos e incentivados por homens públicos que intencionalmente tentam perpetuar um patriarcado que está prestes a ruir, temos na contracultura esses grupos de reflexões de homens que se multiplicam. A história vai dizer no futuro quem vai vencer essa jornada rumo a humanização de uma nova cultura da civilização humana.
Eu por aqui, fazendo meu papel de me modificar o que quero ver diferente no mundo e ressignificar em mim um animus cuidador, sensível, seguro e consciente.
Disse que hoje particularmente estou mais sensível porque assiti a um documentário incrível que recebi de presente de um homem sensível, meu amigo Pedro. A família do Pedro, assim como de tantos outros homens e mulheres, tem participado comigo de uma jornada na educação de nossos filhos e filhas de um modo muito especial e diferente que está mexendo num nível tão profundo, que nos traz por vezes desconfortos e em outras tantas, alegrias. Tantas vezes ouvimos que é necessário muitos mais que uma comunidade para se educar uma criança e é exatamente o que temos vivido. Infelizmente em tempos duros do fascismo, eu prefiro não dizer onde essa comunidade educa seus filhos e filhas, até pra que possamos preservar esse nível tão refinado educacional, mas posso dizer que essas crianças certamente serão pessoas mais humanizadas na construção de suas identidades. E deixo aqui bases de alguns dos princípios que temos educado nossos filhos e filhas, que retirei do texto de Silvia Amélia de Araújo, Pelos Direitos dos Meninos:
Esse filme que Pedro me presenteou essa manhã: “ O silêncio dos homens” traz muitas reflexões inclusive levantadas por minha amiga querida Anna Cecilia Simões – “o que é ser homem na nossa sociedade hoje?”, “ como se forja a identidade masculina?”, “ quais são os códigos para essa transformação ?”. O documentário traz temas como violência, falta de diálogo sobre sexualidade e amor com os pais, como revelar sentimentos que ficam a sombra dos homens por uma cultura machista e sexista e como muitas vezes esse silêncio pode levá-los a um consumo de álcool e outras drogas. O documentário tem depoimentos muito profundos, inclusive de uma amiga criancista a Raquel Franzim, do Instituto Alana, que foi coordenadora de CEI na prefeitura de São Paulo, e que faz uma análise incrível sobre o trato das educadoras dos bebês meninos e principalmente dos meninos negros.
O filme também levanta um tema que sempre trouxe para o debate para as supervisões de educadoras que pude mediar: porque ainda sustentamos o preconceito de educadores de creche homens? Essa pergunta nos remete a tantas reflexões e desconstruções do paradigma machista e sexista na educação das infâncias, que daria aqui um outro post só pra pautar esse tema.
Desses tantos grupos de trabalhos com homens e suas masculinidades gostaria de destacar um trabalho que também participou do documentário, meu querido amigo terapeuta holístico, Thiago Santoro, que vem discutindo e promovendo vivências com homens e também resssignificando sua própria masculinidade. Porque é assim mesmo, quando a gente se dispõe a fazer um trabalho com pessoas, a gente sempre está ressignificando o que é preciso dentro da nossa própria alma. E como diria Sócrates, filósofo grego: “ Você tem que ser o espelho da mudança que está propondo. Se eu quero mudar o mundo, tenho que começar por mim”, ou do próprio Gandhi, “ Seja a mudança que você quer no mundo”.
Deixo você então com o documentário “ o Silêncio dos Homens” e gostaria de propor um diálogo sobre essa forja das masculidades desde meninos que precisam acontecer no tempo histórico que vivemos, aqui no meu Jardim, entre minhas flores, mas sempre peço que não se assustem com o barulho forte e escuro das minhas asas de Mariposa. Boa reflexão!
Preciso fazer uma reflexão a partir de um profundo trabalho coletivo que participei ontem no Coral da Emia- Escola Municipal de Iniciação Artística, onde meu filho estuda a qual eu também faço parte.
Antes mesmo desse trabalho de ontem venho refletindo sobre processos grupais em minha pós graduação em ArteTerapia no IJEP , sobre como um grupo pode ser maravilhoso no despertar de algumas pessoas, mas como tudo nunca é 100% , nos sobram aquela parcela de pessoas que ou se escodem ou acham que os outros são repontáveis por seu despertar.
Ou ainda há aqueles e aquelas que pensam que todos estão a sua disposição para que seu crescimento aconteça, menos a própria pessoa, claro.
Outro perfil, e esse também percebo em mim, é quanto rola de ciúmes, vaidade, soberba e ataques por conta disso.
Problema nem é rolar tudo isso no caldeirão da nossas almas, problemas é não conhecermos nossos movimentos em grupo e sairmos nos expondo, sem nem saber o que estamos fazendo conosco.
Engraçado que percebo esses contextos grupais principalmente em ambientes acadêmicos, onde as vaidades se sobrepõem ao desejo de mergulhar no silêncio dos seus barulhos internos como bem nomeou Nívea ontem na oficina de panificação.
Quando falo de exposição não quero dizer zer nos mostrar, quero dizer, mostrar aquilo que não temos consciência do que somos.
E aí, coleguinhas, não tem como, os processos terapêuticos individuais ou grupais, dependendo das questões claro, são fundamentais nesse processo.
Como fiquei bem emocionada no dia de ontem pelo belíssimo trabalho de grupo fazendo pães da psicóloga Nivea Gonçalves, justinho no dia que a Psicologia completa 57 anos no Brasil , um dia histórico para o Brasil e no Brasil, porque tivemos eleições no nossos conselhos profissionais e historicamente vencemos o obscurantismo, resolvi compartilhar o que eu tava pensando.
Também foi pra mim um dia histórico porque as terça-feiras eu passo o dia trabalhando e estudando nas escolas do meu filho e nesse dia tão especial, tecemos tapetes poéticos em tear, onde pude coordenar uma grupo de mulheres maravilhosas pela manhã da tutoria da Profª Anna Cecilia Simões, onde a intimidade, cumplicidade e amizade entre as famílias é conteúdo pedagógico .
A tarde na vivência de pães com Nivea comemorar também meu aniversario de 27 de formada nessa incrível profissão que é a Psicologia.
Gratidão a escola pública por esses momentos intensos e reflexivos que ela continua a me colocar e que marcam profundamente a minha história de vida.
Gratidão a Nívea Gonçalves , minha colega de profissão e de canto no coral que me inspirou em mais essa postagem aqui no meu Jardim e que foi tão sensível e firme na condução do trabalho grupal ontem de panificação.
Agradeço ao meu grupo do coral de famílias que é tão diverso, tão generoso, tão delicado é tem vozes preciosas!
Agradeço as minhas professoras regentes Viviane Godoy e Rosana Bergamasco, do coral de Famílias da EMIA- Escola Municipal de Iniciação artística que acolheu ao meu filho e a mim em aprendizados que mexem com delicias e dores humanas! Se você também têm experiências de delícias e dores em processos grupais, conta aqui pra mim e deixe aqui seu perfume entre as flores desse Jardim! Agradeço sua presença!