A relação Mestre-Discípulo – uma relação de amor em filia

 

Durante toda minha vida, tive muitas pessoas que considero meus Mestres e minhas Mestras. Ja contei noutras oportunidades, que minha primeira professora primária, como se falava em meu tempo, ainda viva, é minha grande Mestra: Profa Antonieta Trovatto.

Também não esqueço de quem formou meu pensamento crítico e político-social, além ensinar-me a argu-ir pela escrita e pela fala foi Prof Clovis Pacheco Filho, também ainda vivo, graças aos Deuses e Orixás. E o mais lindo, ambos ainda me orientam, me guiam. Duas grandes referências de Mestres da minha infância e adolescência .

Depois de adulta, eu encontrei sim outras referências que me ajudaram em minha busca pela Sabedoria, que jamais esqueço: Prof Carlos Gatto, prof Wilson dos Anjos, Prof Manoel Oriovaldo de Moura, profa Tizuko Morchida, Profa Monica Pinazza, profa Marcia Gobbi, Profa Maria Malta Campos, Profa Sonia Larrubia Valverde, Prof Paulo Gonçalo dos Santos, prof Fernando Haddad, prof Waldemar Magaldi, Profa Renata Mattar, Profa Lucia Helena Galvão, prof Gonzalo Ferreyra, prof Gabriel Noccera e Cláudio Loureiro! E o mais inesquecível, que ao lembrar tenho memória até do perfume de seu abraço: Mestre Paulo Freire.

Venho falar desses seres de luz aqui no meu Jardim, pra contar que essa aprendiz de Filosofia, hoje ganhou uma benção; o desejo de uma flor desabrochando em meu jardim e o convite dessa flor em ser minha discípula: Max, de apenas 12 anos. Max é um nome social escolhido por ele.a, porque como mesma o.a diz, “tenho tanto tempo pra definir e saber quem eu sou e sinto”. Sim, meu/minha querido.a, você tem todo tempo do mundo como diria Renato Russo, na música Tempo Perdido.

A relação Mestre-Discípulo é tão profunda que nos remonta a Platão e o Mito da Caverna, que também ja tive a oportunidade de discorrer aqui pra vocês, conforme postagem:

Premio IBEST de Filosofia

No mito de Platão, ele nos traz a profundidade da Corrente entre Mestre e Discípulo, onde a Educação é uma experiência muitíssimo importante para as relações humanas. Educação que significa eduzir algo, tirar de dentro para fora para servir a evolução humana, num processo permanente, representado pela imagem da corrente.

Mas a medida que adentramos no nosso mundo interior, estamos saindo da Caverna, e a medida que comparamos o mundo da Caverna, o mundo da escuridão e o mundo “real”, onde nos encontraremos com a Grandeza dos valores do Bom, Belo, Justo, Verdadeiro e Harmonioso, podemos fazer o educere e compartilhar com o Mundo externo, ou seja, eduzir nossas descobertas e buscas e ajudar na corrente pelo processo de busca do outro.a., pelo seu eduzir, por pra fora a descoberta de sua jornada para dentro.

Platão também discorre essa relação em corrente e do amor em filia, no belíssimo texto O Banquete, onde Sócrates e seus amigos e discípulos narram suas ideias sobre o Amor. o Banquete é um livro de texto razoavelmente curto, mas de uma profundidade ímpar. Uma narrativa que você pode ficar horas, dias, anos em reflexão.

Tive duas oportunidades com esse texto, a de assistir O Banquete de Platão no Teatro Ofycina com a CIA Uzyna Uzona, sobre a direção de Ze Celso Martinez, na noite que eu e meu companheiro concebemos nosso filho. Um mergulho amoroso pra levarmos para eternidade, que eu conto aqui nesse post:

Discurso em defesa do Parque das Águas do Bixiga/Teatro Oficina

E a segunda oportunidade de troca num grupo de estudos em Filosofia e tragédias Gregas com o Prof Claudio Loureiro onde No banquete , uma das mais lindas passagens fala do Mito do Amor entre iguais e diferentes que deixo aqui o breve trecho do livro e do discurso pra que vc acompanhe:

trecho_OBanquete_Platão

A verdade é que venho aqui hoje falar aos meus leitores e minhas leitoras a felicidade que sinto em aceitar Max como meu/minha discipulo.a, abrindo passagem à tantos.as outros.as que sei que virão.

Eu e Max viveremos uma aventura, uma viagem pra dentro e para fora da Caverna. Passearemos pelas várias Filosofias, pelas Artes, pelas religiões e espiritualidades, pela Política, pela Psicologia, pela Natureza, pelo respiro a Vida e a Liberdade. 

Max amada.o, seja bem vindo a esse encontro amoroso! Obrigada pela oportunidade.

E pra você eu deixo no podcast Mariposa ao Pé do Ouvido, inaugurando hoje a série #Filia no Jardim, episódio numero 1 , O Mito da Caverna, de Platão:

E por fim, pra você que é meu leitor uma dica: assine o blog e você receberá todas as novas publicações em seu email. Também você pode deixar registrado aqui seu comentário e compartilhar nas redes sociais. Obrigada por me acompanhar e espalhar seu perfume entre as flores desse Jardim.  Não se assuste ao ouvir o farfalhar das minhas asas de Mariposa.

Imagem de Maguari, por Marisa Salles

Teatro-Documentário , Contos Épico Narrativos e Story Telling- por Naíme A Silva

 
A semana passada foi mais uma semana impactante pra mim no mundo das artes. Fiz uma oficina fantástica de Teatro-Documentário com o Prof Dr.  Marcelo Soler.
 
Aprendi que nós atores e atrizes, temos uma influência profunda com o teatro ficção numa concepção modernista e que o Teatro-Documentário traz a potência  do pacto documental. Essa outra maneira de pensar as artes da cena constitui-se como uma nova forma de fazer  teatro contemporâneo. 

Um jeito novo de se viver o teatro, a realidade social, as poéticas, as expressões criativas! 

Nessa oficina pude fazer dois rascunhos cênicos documentais: 

Nesse primeiro rascunho, eu tinha que me apresentar de maneira documental. Trouxe como documento, elementos cênicos que sim, falavam de mim, mas eu ainda não tinha compreendido a força e potência do pacto documental e acabei trazendo uma apresentação de mim mesma de forma muito ficcional. Ficou assim:

 

Na segunda apresentação, a proposta foi trazer  uma cena da pandemia.

Aqui  me debrucei sobre um tema dentro da pandemia, mas me preocupando em não estabelecer o mais do mesmo ou uma forma clichê. Assim, precisei fazer uma pesquisa sobre o tema, uma pesquisa documental, a busca dos elementos cênicos como documentos, a formulação de um texto/ relato, a gravação desse texto/relato em um áudio, a escolha de uma música que também pode ser considerado um documento.

Outra situação interessante foi que eu pedi avaliação de duas pessoas antes de submeter o rascunho na oficina e meu objetivo era avaliar o pacto documental no olhar do interlocutor do rascunho cênico documental. As impressões que tive me levaram a refletir sobre a força do documento explícito e sua veracidade, bem como de documentos implícitos ou que evocassem a imagem de documentos factuais.

O tema que escolhi eu já havia feito dele um conto de fadas, um poema e Story Telling.

O assunto desse tema foi o estupro da menina de 10 anos por seu tio e sua saga por hospitais de vários Estados Brasileiros para a realização de um aborto, e mesmo depois da justiça determinar a autorização do procedimento, eu quis trazer a reflexão de todas as humilhações e violências institucionais vividas pela menina. 

Nessa pesquisa eu trouxe muitos documentos explícitos como matérias jornais da época e implícitos como bonecas, mochilas, massinha de modelar, alça de sutiã que serviu de amarras aos olhos e boca da boneca. Importante lembrar que tanto no primeiro rascunho, quanto no segundo, eu tinha menos de um minuto pra cumprir o desafio e mesmo assim extrapolei o tempo. Abaixo o Vídeo/Teatro-Documentário Pandemia_2020 e os documentos/elementos cênicos escolhidos:
 

 
 
Meu poema foi citado num dos episódios do Podcast Chutando a escada, no link abaixo, bem como publicado aqui no Jardim da Mariposa conforme links abaixo:
 
 
 
O Jardim da Mariposa :

Perdoa, Criança Divina!

Quinze dias antes eu tinha realizado um curso de Story Telling com o Prof Dr Ivan Mizanzuk, onde aprendi técnicas muito parecidas com o teatro-documentário, mas num contexto Literário e com metodologias de autores estadunidenses bem específicas de contar histórias.
 
E assim, pude reescrever um conto que havia escrito de forma épico-narrativo, agora na metodologia do Story Telling, que compartilho aqui com vocês:
 
Quero contar pra você que esse trabalho com o conto de fadas, foi provocado pelo meu diretor de Arte, prof Adanias de Souza, do nosso grupo de teatro Acorda Alice, que já tem mais de 35 anos. Esse trabalho está se constituindo num projeto tão grande e incrível que me fez estabelecer parcerias com artistas maravilhosos no campo da música, que na altura certa, eu venho divulgar aqui pra você, flor do meu Jardim.
 
Aguardo gentilmente seus comentários sobre meu trabalho que vai se descortinando aos longo de tantas décadas, sobre as Artes da Cena, as artes dos contos épico-narrativos, as artes das histórias, das poéticas, da composição musical, da Filosofia, da Arteterapia de Base Junguiana, da Literatura e da Educação de crianças pequenas e supervisão e formação profissional de professoras/res.

Agradeço aos mestres incríveis Marcelo Soler, Ivan Mizanzuk e Adanias de Souza pela profundidade desses conhecimentos e vivências práticas da Arte da Cena e do Campo da Literatura. 

19 de agosto- Dia da Atriz e do Ator de Teatro🎭

O palco é como a vida que transcorre diante de nossos olhos,

A coxia do teatro tem um cheiro específico que faz vibrar a alma e o coração da atriz e do ator que entra em cena,

Que empresta seu corpo para aquela alma de uma personagem que existe em sua criação.

Ser atriz e ser ator é como ser um pouquinho de Deusa ou de Deus.

É saber tanto e saber quase nada de sua criação que ganha alma diante da plateia!

O teatro é aquele lugar onde a atriz ou ator precisam transmitir uma ideia, a ideia da criação, da técnica, do texto, do estudo, do suor, mas sobretudo da verdade humana.

É na cena que a vida sobrepõe a vida e ao mesmo tempo a vida sobrepõe a morte para a plateia saia um pouco maior que entrou, um pouco mais repleto para que a atriz ou ator se esvazie de preenchimentos de outrem e renasça mais humano em si mesmo.

Emoção, teatro lotado, respirações, vibrações, ribalta, luz, coxia, palco, a voz e o corpo que vibra no palco. Um universo mágico onde almas dos personagens transitam “incorporados” na corporeidade de atrizes e atores!

E as palmas revelam o êxtase e as cortinas se fecham devolvendo os corpos exaustos e felizes!

Nas imagens um pouco da minha história no grupo “Acorda Alice” e com as crianças em escolas públicas , um pouco desse universo do Teatro que preencheu e preenche minha alma de alegria e profundidade.

Discurso em defesa do Parque das Águas do Bixiga/Teatro Oficina

No dia 5 de junho, dia mundial do Meio Ambiente, a CIA Uzyna Uzona do Teatro Oficyna realizou um TeAto, em defesa da preservação ambiental e cultural do Bixiga e do Teatro projetada por Lina Bobardi, cujo, tive a honra de ser convidada para fazer uma fala. Fiz questão de estar na presença de meu filho e a cada palavra dita, olhar profundamente nos olhos do nosso amado Zé Celso Martinez. Abaixo, transcrevo em texto a minha fala emocionada:

“Evoé! Alegrias! Eu escrevi minha fala e vou lê -la, porque gostaria de dizer tanta coisa e to tão emocionada que tenho medo de me perder em meio a tanta coisa importante, Zé, por isso peço licença para essa leitura!

Sou educadora de infância e moradora do Bixiga há 20 e nos últimos 10 anos minha história pessoal e profissional se misturam ao Tetro Oficina e ao Parque do Bixiga.

Em dezembro de 2009, assisti ao Banquete de Platão e Sylvia Prado lavou meus pés e Héctor Othon, que fazia Zeus, encheu meus cabelos de flores, na noite eu que eu e meu companheiro Nuno, concebemos nosso filho Abá. Foi uma noite incrível como se eles me preparassem pra receber esse ser de luz no meu ventre.

No hemisfério Sul, para algumas bruxas e bruxos, a noite do Halloween é comemorado dia 1º de maio e foi nessa noite de 1º de maio de 2010, já redonda e barriguda, que eu vim assistir As Bacantes e tive vontade imensa de viver o mesmo que Caetano Veloso viveu, sendo devorada pelas bacantes ( risada). Imagina, fiquei só na vontade.

Em 2010, ainda assisti a Taniko, o rito do Mar, que me inspirou numa ousadia: montar Tanikinho com crianças bem pequenas da Ed Infantil na I Festa da Cultura Popular da EMEI Gabriel Prestes em 2014. Por conta dessa montagem, Mariano Mattos me convidou em outubro de 2014, pra um jantar pra conhecer a Camila Mota e desse dia em diante, a luta pelo Teatro Oficina, pelo Parque do Bixiga e pelas Infâncias paulistanas na construção da cidade educadora, passou a ser uma luta irmã.

Em 2015, em continuidade de um projeto educacional no território Consolação/ Bixiga, que dialogasse com Paulo Freire, Mário de Andrade e Oswald de Andrade, a companhia Uzina Uzona de Teatro e o Projeto Bixigão fizeram vivências com crianças e educadoras da EMEI Gabriel Prestes durante algumas sextas feiras e no mês de setembro, fizemos juntos um cortejo de abertura da II Virada Educacao, por um mundo mais poético, com o Rito do Pau Brasil de Oswald de Andrade, levando conosco alunas estagiários de Pedagogia da Universidade Makenzie sob a regência da criancista e ativista profa Celia Cerrão, as famílias e crianças da Emei Gabriel Prestes, várias educadoras e ativistas pela infância e o Movimento Entusiasmo de André Gravatá, num ato poético e cultural, que desceu a Consolação e o encerrou na Praça Roosevelt. Essa Virada Educação foi histórica, pois também comemoramos os 80 anos da educação infantil na cidade de São Paulo, desde a criação dos Parques Infantis, concebidos por Mário de Andrade.

Em 2017, Sylvia Prado recebeu aqui no Teatro Oficina, numa roda de conversa do curso de difusão para educadoras e educadores da rede pública municipal da Faculdade de Educação da USP, coordenada pela profa Dra Marcia Gobbi, intitulado : Infância desde os bebês, projetos e políticas na cidade , onde pude fazer a mediação do grupo nessa conversa com a Sylvia Prado, sobre a defesa do Teatro Oficina e a criação do Parque do Bixiga.

Por último, queria dizer que a defesa do Teatro Oficina e do Parque do Bixiga se misturam a defesa da comunidade Bixiga, de suas famílias e crianças, pois a defesa da criação e manutenção dos parques na cidade é a defesa das Infâncias paulistanas e da concepção de cultura das Infantis de Mário de Andrade e do prof Paulo Freire.

Ainda vale dizer que nós professoras de Infâncias temos um sonho e uma utopia, o sonho de uma cidade educadora , onde a cidade seja Organizada pelo olhar das crianças que a habitam, certamente ela seria cheio de parques, de alegria e de poesia.

Nossa utopia anarquista, seria de uma outro mundo mais justo e humano, sem prisões, sem igrejas, sem partidos políticos e sem escolas, onde pudéssemos viver como nossos povos originários, organizados por ecovilas e escolas da floresta, onde as ciências, as tecnologias, a arte, a cultura e a natureza vivessem em comunhão, num mundo sem dinheiro, sem a relação com o capital e poder, numa relação em comunidades, de forma dialética, sob auto gestão, numa pedagogia macunaímica, como sempre nos fala a Profa Ana Lúcia Goulart de Faria. Que a gente possa ter fôlego e musculatura pra lutar por esse sonho e consequentemente por esse utopia de um mundo mais justo e humano!

Viva o Teatro Oficina! viva o Parque do Bixiga! viva as Infâncias Paulistanas!”

Na foto que tirei abaixo, representando as mães das águas do Bixiga, Joana Medeiros como mamãe Yemanjá, Danielle Rosa como mamãe Oxum.

Salve Salve! IÓ! Evoé!