Durante toda minha vida, tive muitas pessoas que considero meus Mestres e minhas Mestras. Ja contei noutras oportunidades, que minha primeira professora primária, como se falava em meu tempo, ainda viva, é minha grande Mestra: Profa Antonieta Trovatto.
Também não esqueço de quem formou meu pensamento crítico e político-social, além ensinar-me a argu-ir pela escrita e pela fala foi Prof Clovis Pacheco Filho, também ainda vivo, graças aos Deuses e Orixás. E o mais lindo, ambos ainda me orientam, me guiam. Duas grandes referências de Mestres da minha infância e adolescência .
Depois de adulta, eu encontrei sim outras referências que me ajudaram em minha busca pela Sabedoria, que jamais esqueço: Prof Carlos Gatto, prof Wilson dos Anjos, Prof Manoel Oriovaldo de Moura, profa Tizuko Morchida, Profa Monica Pinazza, profa Marcia Gobbi, Profa Maria Malta Campos, Profa Sonia Larrubia Valverde, Prof Paulo Gonçalo dos Santos, prof Fernando Haddad, prof Waldemar Magaldi, Profa Renata Mattar, Profa Lucia Helena Galvão, prof Gonzalo Ferreyra, prof Gabriel Noccera e Cláudio Loureiro! E o mais inesquecível, que ao lembrar tenho memória até do perfume de seu abraço: Mestre Paulo Freire.
Venho falar desses seres de luz aqui no meu Jardim, pra contar que essa aprendiz de Filosofia, hoje ganhou uma benção; o desejo de uma flor desabrochando em meu jardim e o convite dessa flor em ser minha discípula: Max, de apenas 12 anos. Max é um nome social escolhido por ele.a, porque como mesma o.a diz, “tenho tanto tempo pra definir e saber quem eu sou e sinto”. Sim, meu/minha querido.a, você tem todo tempo do mundo como diria Renato Russo, na música Tempo Perdido.
A relação Mestre-Discípulo é tão profunda que nos remonta a Platão e o Mito da Caverna, que também ja tive a oportunidade de discorrer aqui pra vocês, conforme postagem:
No mito de Platão, ele nos traz a profundidade da Corrente entre Mestre e Discípulo, onde a Educação é uma experiência muitíssimo importante para as relações humanas. Educação que significa eduzir algo, tirar de dentro para fora para servir a evolução humana, num processo permanente, representado pela imagem da corrente.
Mas a medida que adentramos no nosso mundo interior, estamos saindo da Caverna, e a medida que comparamos o mundo da Caverna, o mundo da escuridão e o mundo “real”, onde nos encontraremos com a Grandeza dos valores do Bom, Belo, Justo, Verdadeiro e Harmonioso, podemos fazer o educere e compartilhar com o Mundo externo, ou seja, eduzir nossas descobertas e buscas e ajudar na corrente pelo processo de busca do outro.a., pelo seu eduzir, por pra fora a descoberta de sua jornada para dentro.
Platão também discorre essa relação em corrente e do amor em filia, no belíssimo texto O Banquete, onde Sócrates e seus amigos e discípulos narram suas ideias sobre o Amor. o Banquete é um livro de texto razoavelmente curto, mas de uma profundidade ímpar. Uma narrativa que você pode ficar horas, dias, anos em reflexão.
Tive duas oportunidades com esse texto, a de assistir O Banquete de Platão no Teatro Ofycina com a CIA Uzyna Uzona, sobre a direção de Ze Celso Martinez, na noite que eu e meu companheiro concebemos nosso filho. Um mergulho amoroso pra levarmos para eternidade, que eu conto aqui nesse post:
E a segunda oportunidade de troca num grupo de estudos em Filosofia e tragédias Gregas com o Prof Claudio Loureiro onde No banquete , uma das mais lindas passagens fala do Mito do Amor entre iguais e diferentes que deixo aqui o breve trecho do livro e do discurso pra que vc acompanhe:
A verdade é que venho aqui hoje falar aos meus leitores e minhas leitoras a felicidade que sinto em aceitar Max como meu/minha discipulo.a, abrindo passagem à tantos.as outros.as que sei que virão.
Eu e Max viveremos uma aventura, uma viagem pra dentro e para fora da Caverna. Passearemos pelas várias Filosofias, pelas Artes, pelas religiões e espiritualidades, pela Política, pela Psicologia, pela Natureza, pelo respiro a Vida e a Liberdade.
Max amada.o, seja bem vindo a esse encontro amoroso! Obrigada pela oportunidade.
E pra você eu deixo no podcast Mariposa ao Pé do Ouvido, inaugurando hoje a série #Filia no Jardim, episódio numero 1 , O Mito da Caverna, de Platão:
E por fim, pra você que é meu leitor uma dica: assine o blog e você receberá todas as novas publicações em seu email. Também você pode deixar registrado aqui seu comentário e compartilhar nas redes sociais. Obrigada por me acompanhar e espalhar seu perfume entre as flores desse Jardim. Não se assuste ao ouvir o farfalhar das minhas asas de Mariposa.
Hoje eu venho mais uma vez falar da minha escola de Filosofia a Maneira Clássica , Organização Internacional Nova Acrópole. Já contei pra vocês que sou daquelas pessoas que desde criança me vejo como aprendiz de filosofia, porque sempre muito questionadora, sempre muito reflexiva, me lembro ainda bem pequenininha de mergulhar em profundos pensamentos sobre a existência de Deus, da Natureza, dos Seres Vivos, e também sobre os arquétipos da Justiça, da Beleza e da Felicidade. Não atoa, minhas formações passaram pelo Teatro, Educação e Psicologia, caminhos trilhados na busca da Sabedoria.
Mas eu tinha prometido no outro post sobre a Nova Acrópole que você pode acessar aqui:
Que eu traria um pouco mais do aprendizado que temos discutido em Nova Acrópole e como eu tenho registrado essas reflexões. Eu quis pegar carona num momento bem especial pra nós na escola quando estamos passamos para a segunda etapa pra ganhar o Premio IBEST nas categorias Desenvolvimento Pessoal e Cultura e Curiosidades, que no final das minhas reflexões eu deixarei o link pra você contribuir com seu voto nessa escola filosófica que perpetua a corrente Mestre e Discípulo que Platão nos ensina no Mito da Caverna.
Mas antes de você votar, quero te mostrar as reflexões do que aprendi com a Profa Fabíola Demétrio de Oliveira que ministrou a cátedra de Sociologia-Política e Filosofia da História em Nova Acrópole.
“Na vida duas coisas são certas, o amor e a morte! “ Platão
Reflexões acerca da Filosofia como centro das ideias e uma jornada rumo ao equilíbrio da alma humana e da Natureza
Para iniciar uma reflexão acerca do individuo, sociedade, Estado e História, inicialmente é necessário, contextualizar reflexões acerca do modo do ser humano se organizar no mundo.
No mundo todo, com exceção dos povos que vivem em esquemas tribais ou comunitários, os seres humanos organizam-se socialmente de maneira a manipular, enganar e extorquir os ideais e valores mais nobres e verdadeiros da alma humana.
Nesse sentido, podemos compreender porque a própria Filosofia fica diminuída ou renegada nas relações humanas, educacionais, políticas e sociais, pois sendo ela em sí um ponto nevrálgico e fundamental de conexão para a integração desses valores nas Ciências, Artes, Religiões e Política, não esteja colocada no centro do sistema político e social das nações no mundo atual.
E porque entendemos que a Filosofia não está colocada como centro dos valores humanos no mundo atual, percebemos o desiquilíbrio, o descompasso, a cisão na alma humana da maioria das pessoas, levando a um processo de auto degradação e destruição do planeta.
Posto isso, se faz necessário recordar quem somos como indivíduos, como sociedade, como Estado, e na História da humanidade, para justificar que a Filosofia enquanto busca da Sabedoria precisa ser o centro da organização humana enquanto valores individuais e consequentemente sociais, políticos e históricos.
Quando compreendemos que da Filosofia, nasceram pensamentos humanos acerca da natureza das coisas, da reflexão da existência quanto a vida e morte, das relações humanas e de como nos organizamos; entendemos que ela é geradora do conhecimento científico, das tecnologias, da fé nos Deuses, da inspiração para as Artes, da disputa e ocupação de territórios, das relações de troca, da vivência em comunidades e tribos e da criação de formas de organização política. Portanto ela congrega vários saberes, crenças, valores e princípios, que precisam ser refletidos de forma integrada e comparada na busca da sabedoria.
A Educação nesse sentido, trazida pelo pensamento de Platão, poderia ser uma chave importante para trilhar esse caminho da Filosofia que fomenta essa integralidade dos saberes e quem sabe buscar princípios e fins em comum ao Bem de todos. Ainda que esse seja um ideal que carrega muitos desafios, colocar a Filosofia no centro do debate educacional no mundo atual, seria a construção de uma jornada fundamental para garantirmos o equilíbrio interior da alma humana, do planeta Terra e de sua forma de organizar o equilíbrio da vida de todos os seres que nela habitam.
A etimologia da palavra Educação é educere, eduzir, retirar, extrair, cultivar, nutrir, criar de algo que vem de dentro de cada um de nós. E se nossas crianças fossem desde pequeninas convidadas ao exercício da reflexão integrada dos saberes e ao amor pela busca da sabedoria, certamente estaríamos trilhando uma jornada mais equilibrada, acordando-nos e despertando-nos para a verdade, bondade, beleza, justiça e fraternidade expressos num genuíno interesse humano no mundo atual.
Mas uma outra questão se coloca diante desse ideal: Como trazer a Filosofia como centro ou alvo da Educação no mundo atual?
Certamente aqui, defendemos que a Filosofia está para além de estudos teóricos, mas que convoca a uma prática diária de reflexão dessa jornada em busca da sabedoria. Os Mitos se colocam nesse sentido como ferramentas aliadas nesse processo porque nos trazem metáforas importantes para nossa vida tanto interior como exterior.
No mito da caverna por exemplo, Platão nos traz vários arquétipos existentes dentro de nós que nos impedem e nos impulsionam para essa jornada.
A caverna como um mundo das sombras que nossa alma habita, um mundo das ilusões, Maia. Os cativos acorrentados, conformados e num cativeiro naturalizado impedidos de se mexer, como observadores de imagens que acreditavam ser reais por muitos anos nessa condição, também revela nossa condição interior de uma alma cativa, vivendo de apegos, de mentiras.
A figura dos Amos, que manipulavam as imagens e vozes a fim de que pudessem enganar os cativos e trazer assim um falso ou aparente conforto. Quantas vezes não nos auto esganamos, não nos auto sabotamos, não fazemos de tudo para permanecermos numa zona de conforto, ainda que isso nos acorrente?
O símbolo da fogueira que tanto pode aquecer ilusoriamente, quanto pode servir para produzir falsos contornos, quanto pode nos chamar atenção para um esgotamento de nos manter na mesma situação? O mesmo calor que aquece, pode também ser o que nos desconforta?
A analogia da saída do primeiro homem da caverna, que precisa quebrar as correntes, levantar seu corpo, mesmo que seus músculos estejam fracos de permanecer por tanto tempo inerte, a escalada íngreme do terreno e todo o esforço, a saída da caverna e a cegueira ocasionada pelo excesso de luz solar, nos remete a jornada daqueles que buscam a verdade. A busca da verdade não é um processo fácil, confortável com um terreno plano e firme. Pode ser e na maioria das vezes é um processo em que se esgota uma situação, que exige um esforço que vai do físico ao espiritual, nos colocando em caminhos tortuosos, que testam nossa força e fé na busca, que exige de nós, ultrapassar a passagem pelos nossos amos, desejar enfrentar nossas sobras, muitas vezes nos machucar, testar nossas forças e quando conseguimos somos ofuscados pela verdade, levando ainda um tempo para compreender aquilo que passamos a ver.
Esse processo assim como o Homem que sai da caverna e depois de um tempo vislumbra a Verdade do mundo, a beleza que a vida coloca diante de seus olhos, a contemplação e a reflexão posterior sobre a Justiça de não viver isoladamente esse processo e a Vontade de incentivar seus irmãos cativos para igualmente viverem a jornada, também nos convida à analogia com nosso ideal de sociedade.
O homem que fez a jornada em busca da verdade se torna um sábio, um mestre e só ele pode retornar no caminho realizado, porque ele sabe o caminho de volta, sabe do que terá que enfrentar e seu retorno se dá por fraternidade, porque vislumbrou a verdade, contemplou a beleza, refletiu sobre a justiça, e pode fazer o caminho de volta, viver a saga do retorno para fraternalmente colaborar com a jornada dos seus.
O Mito da Caverna de Platão, assim como a vasta potência das Mitologias de várias culturas, são carregadas de tantos arquétipos que existem dentro de nós e que a luz da Filosofia, parece-nos ser uma rica ferramenta de trabalho educacional para um trabalho prático de nosso mundo interior assentado no centro da alma humana, precisando apenas ser recordado a luz da sabedoria que existe em cada um de nós e de nossa capacidade de construir laços, de ajudarmos uns aos outros, no esforço de cada saga individual e coletiva, expressos na metáfora da corrente entre mestre e discípulo.
Para que então, consideremos o trabalho da Filosofia no processo de individuação, pressupomos que esse é um processo, é uma busca permanente pela unidade, tanto dentro de cada um de nós como enquanto sociedade.
No individuo, essa busca se dá na escalada dos mundo quaternário que objetivamente tentará se perpetuar em atender apenas a realização as sensações, instintos e desejos, de um eu inferior rumo a um Eu superior representado por nossa tríade, composta pelo mapa espiritual, mente pura, intuição e vontade, que é nossa essência, nossa parte divina, nosso mundo de sabedoria, o sol em nós, que encontramos fora da caverna.
Mas esse processo quando trilhado no mundo interno, também pode ser trilhado coletivamente na sociedade tendo como uma de suas principais chaves a educação.
Nesse sentido princípios filosóficos e princípios políticos são complementares, pois se enquanto individuo posso viver em autorreflexão interior para fora de minha caverna interna, onde posso individualmente vivenciar os processos de busca da verdade, da beleza, da justiça, da harmonia, e quero viver esses valores elevados em fraternidade, como vimos no mito da caverna, então podemos concluir que existe um autogoverno. Somente aquele que vive esse autogoverno deveria poder governar politicamente uma sociedade, pois trabalharia para um Bem comum com vistas a desenvolver uma educação para todos, onde a Filosofia fosse o centro do ideal humano para que cada criança, jovem, adulto ou idoso pudesse exercer essa possibilidade igualmente.
Entretanto, quando por descontrole de sua natureza filosófica, os homens antigos passaram a rejeitar a filosofia e preservar seu caráter militar dando abrigo a ambição e poder, a possibilidade de um sociedade organizada por homens sábios, começou a desaparecer. Assim esses homens vão se tornando rudes, desvalorizando o conhecimento, tornando-se avarentos e amantes de riquezas e dinheiro, fazendo chacota do campo das virtudes e do conhecimento científico, louvando o poder das posses.
E assim, de uma geração para a outra observamos que a unidade política antes balizada por valores elevados de homens Sábios que sustentavam um autogoverno e um governo de bases Filosóficas, agora se organiza por castas, classes, onde as leis perdem força, bastando se declarar enganosamente aliado aos menos favorecidos, para que possa governar.
Dessa forma, a sociedade se organiza agora, pelos interesses individuais pautados pelos desejos, paixões, luxuria, egoísmos de toda ordem e esbanjamento. Nesse sentido, na direção de desejos insaciáveis de riqueza e poder, bem como desejo imoderado, irresponsável e irrefletido da liberdade, culmina numa sociedade que se aparelha militarmente, fomentando guerrilhas, eliminando cidadãos e dando espaço a marginalidades.
Outro ciclo histórico em que percebemos a decadência do ocidente como unidade politica foi com a queda do império romano, quando Constantino dizimou qualquer possibilidade das Ciências, das Artes e das Religiões constituírem suas instituições, desunindo e desarticulando milhões de pessoas em três continentes, resultando mais tarde num mundo medieval permeado por medo, pestes e retrocessos culturais, crueldade e mortes.
Esse desencadeamento ou desdobramentos acima expostos demonstra-nos a importância da História e de sua lógica permeada por ciclos. Ao historicizar acontecimentos, fatos, deslocamentos, ocupações territoriais, formas de organização no tempo, no espaço e nas relações de poder e comércio, a História oferece um sentido para reflexão da vida humana, da nossa existência. Ainda vale pensarmos que a História também se fundamenta numa evolução humana em relação a escrita, ao pensamento, a linguagem, as artes, as ciências e as tecnologias.
Destacamos também uma ordem de sentidos que dão sustentação a História como desenvolvimento geológico, cosmológico e religioso. Entretanto há culturas e organizações sociais em que não se dão tanto peso a importância da História, não como fim, mas como narrativas, em sociedades de tradições oralizadas.
Sendo assim, ao considerarmos o ser humano dotado de logos, permeado pela harmonia da natureza e pela matemática que a origina, também compreenderemos a História como uma organização lógica e complexa de ser composta e analisada em seus elos de interligação e aspectos de independência.
Muitas foram as culturas que não conheceram a História como Ciência, mas todos de alguma forma a viveram como Filosofia, levados por imprevistos e acúmulos de circunstâncias que conduziram esses povos a buscar um sentido e significado para os fatos, originando a Filosofia da História.
Temos, entretanto, nessa reflexão duas formas de ver processos históricos que são os fatos temporais e os fatos atemporais.
O que fundamenta os processos históricos temporais, por exemplo, são a observância de vários aspectos como: geográficos, raciais, filológicos, sexuais, políticos, religiosos ou intelectuais que se modificam de acordo com território, culturas ou tempo histórico.
Já os processos atemporais são marcas ou símbolos que nos trazem a eternidade. Uma boa ferramenta para verificarmos essa atemporalidade são os arquétipos. Os arquétipos são carregados de ideias e imagens (símbolos) fixos que nos transmitem uma mensagem independente do lugar, da cultura ou do tempo histórico.
São esses arquétipos fixos que podem nos fazer refletir sobre os ciclos e ritmos históricos. Quando refletimos sobre o Mito da Caverna por exemplo, partimos de uma reflexão de uma jornada individual, que se desdobra para a sociedade, mas também podemos refletir sobre a Historia, assim todos os arquétipos do mito se inserem dentro da Historia da humanidade. Mas o caminho inverso também é possível. Se pensarmos nos ciclos históricos e em tantos arquétipos quer estejam localizados nos mitos ou não, podemos associar a algumas perguntas existenciais de nossa jornada individual. Por exemplo, as questões: quem eu sou? De onde vim? Para onde vou?
Responder a essas questões existenciais nos leva a considerar que ao usarmos a capacidade de manas, ou parte Inteligente, se constitui como uma chave para transformação individual, coletiva e histórica que é a Educação – tirar de nós aquilo que já temos dentro – e encontraremos um caminho para essas respostas, para recordar a nossa Sabedoria.
As imagens arquetípicas também são chaves importantíssimas que nos ajudam nesse caminho, mas primeiramente é preciso que a gente reafirme que o campo dos processos individuais (individuação), os processos sociais ou coletivos (Sociedade) e os processos históricos, podem e devem se utilizar desses arquétipos como pistas para descobertas do caminho evolutivo. Assim como pensar na Educação como chave, bem como na espiral evolutiva em ciclos e ritmos, também devemos relaciona-los, aos campos, individual, social e histórico.
Vejamos por exemplo, a imagem arquetípica da Floresta. Uma Floresta é um sistema vivo, composto de vários organismos vivos, que vivem e morrem isoladamente o tempo todo, em processo de transformação, de retração e de expansão, de vida e de morte, de florescimento e de livramento de constantes elementos. Nascem e morrem pequenos arbustos, flores e frutos que retroalimentam a terra. Nascem e morrem pequenos insetos e animais. Mas também sabemos, que uma Floresta vive as quatro estações, onde para cada uma delas, precisará, enquanto sistema, viver ciclos de calor, frio, ventos, tempestades, serenamentos, hibernações, florescimentos, queda de frutos e folhas, adormecimentos, despertares, amanheceres, entardeceres e anoiteceres. Todos esses ciclos e ritmos são importantes para a respiração da Floresta, para a manutenção da vida do seu sistema e caso haja qualquer interferência nesse sistema vivo, haverá um desorganização ou desequilíbrio.
Esse exemplo arquetípico posto para qualquer tempo histórico, lugar ou cultura, pode nos remeter a uma atemporalidade e ritmos que são naturais a vários sistemas vivos e a um aprendizado importante sobre nós mesmos, sobre nossa sociedade e sobre a Filosofia da História.
Como esses ciclos e ritmos acontecem dentro de nós? Em nossa sociedade? Na História de cada cultura ou na História da humanidade? E nesses ciclos e ritmos percebemos a importância ao respeito de Leis que se desobedecidas, podem alterar a vida no sistema.
Como considerar, respeitar e permitir a fluidez dos ciclos e seus ritmos nos diversos organismos vivos? No nosso corpo? Na nossa sociedade? Na nossa História? Ou seja, nosso Eu-Coletivo e nosso Eu-Individual? No nosso Planeta Terra? No nosso Cosmos?
Para finalizar, é preciso que consideremos que mexer dentro de nós, altera significativamente o fora de nós e é o único lugar que temos a potência da autoridade e governança. Portanto, o convite para jornada interior, para saída da caverna, pode trazer respostas de mudanças também para a sociedade, para a História, para a vida humana no Planeta Terra.
Aproveito essa reflexão para deixar aqui um vídeo que me encheu de reflexões profundas sobre a Vida e nosso Planeta Terra nessa era da pandemia de coronavírus.
E por fim te convido a conhecer Nova Acrópole caso você queira ser um Acropolitano ou uma Acropolitana como eu: acropole.org.br
E aqui venho humildemente de pedir pra colaborar com a difusão do Premio IBEST para nossa querida Escola de Filosofia, onde você pode votar nas categorias: desenvolvimento pessoal e Cultura e Curiosidades.
Premio IBEST – Segunda Fase Nosso Podcast passou para a segunda fase do Prêmio iBest 🏆 ! Obrigada pelo seu apoio e votação na primeira fase 💪🏻. Para passarmos a fase final, precisamos do seu voto em duas categorias, segue abaixo👇
Agradeço como sempre sua visita nesse Jardim que não é de Epicuro, mas inspirado nele, traz o arquétipo transformador da Mariposa, que estamos precisando e muito. Deixa aqui embaixo o seu comentário e compartilhe nas suas redes sociais.
A semana passada foi mais uma semana impactante pra mim no mundo das artes. Fiz uma oficina fantástica de Teatro-Documentário com o Prof Dr. Marcelo Soler.
Aprendi que nós atores e atrizes, temos uma influência profunda com o teatro ficção numa concepção modernista e que o Teatro-Documentário traz a potência do pacto documental. Essa outra maneira de pensar as artes da cena constitui-se como uma nova forma de fazer teatro contemporâneo.
Um jeito novo de se viver o teatro, a realidade social, as poéticas, as expressões criativas!
Nessa oficina pude fazer dois rascunhos cênicos documentais:
Nesse primeiro rascunho, eu tinha que me apresentar de maneira documental. Trouxe como documento, elementos cênicos que sim, falavam de mim, mas eu ainda não tinha compreendido a força e potência do pacto documental e acabei trazendo uma apresentação de mim mesma de forma muito ficcional. Ficou assim:
Na segunda apresentação, a proposta foi trazer uma cena da pandemia.
Aqui me debrucei sobre um tema dentro da pandemia, mas me preocupando em não estabelecer o mais do mesmo ou uma forma clichê. Assim, precisei fazer uma pesquisa sobre o tema, uma pesquisa documental, a busca dos elementos cênicos como documentos, a formulação de um texto/ relato, a gravação desse texto/relato em um áudio, a escolha de uma música que também pode ser considerado um documento.
Outra situação interessante foi que eu pedi avaliação de duas pessoas antes de submeter o rascunho na oficina e meu objetivo era avaliar o pacto documental no olhar do interlocutor do rascunho cênico documental. As impressões que tive me levaram a refletir sobre a força do documento explícito e sua veracidade, bem como de documentos implícitos ou que evocassem a imagem de documentos factuais.
O tema que escolhi eu já havia feito dele um conto de fadas, um poema e Story Telling.
O assunto desse tema foi o estupro da menina de 10 anos por seu tio e sua saga por hospitais de vários Estados Brasileiros para a realização de um aborto, e mesmo depois da justiça determinar a autorização do procedimento, eu quis trazer a reflexão de todas as humilhações e violências institucionais vividas pela menina.
Nessa pesquisa eu trouxe muitos documentos explícitos como matérias jornais da época e implícitos como bonecas, mochilas, massinha de modelar, alça de sutiã que serviu de amarras aos olhos e boca da boneca. Importante lembrar que tanto no primeiro rascunho, quanto no segundo, eu tinha menos de um minuto pra cumprir o desafio e mesmo assim extrapolei o tempo. Abaixo o Vídeo/Teatro-Documentário Pandemia_2020 e os documentos/elementos cênicos escolhidos:
Meu poema foi citado num dos episódios do Podcast Chutando a escada, no link abaixo, bem como publicado aqui no Jardim da Mariposa conforme links abaixo:
Quinze dias antes eu tinha realizado um curso de Story Telling com o Prof Dr Ivan Mizanzuk, onde aprendi técnicas muito parecidas com o teatro-documentário, mas num contexto Literário e com metodologias de autores estadunidenses bem específicas de contar histórias.
E assim, pude reescrever um conto que havia escrito de forma épico-narrativo, agora na metodologia do Story Telling, que compartilho aqui com vocês:
Quero contar pra você que esse trabalho com o conto de fadas, foi provocado pelo meu diretor de Arte, prof Adanias de Souza, do nosso grupo de teatro Acorda Alice, que já tem mais de 35 anos. Esse trabalho está se constituindo num projeto tão grande e incrível que me fez estabelecer parcerias com artistas maravilhosos no campo da música, que na altura certa, eu venho divulgar aqui pra você, flor do meu Jardim.
Aguardo gentilmente seus comentários sobre meu trabalho que vai se descortinando aos longo de tantas décadas, sobre as Artes da Cena, as artes dos contos épico-narrativos, as artes das histórias, das poéticas, da composição musical, da Filosofia, da Arteterapia de Base Junguiana, da Literatura e da Educação de crianças pequenas e supervisão e formação profissional de professoras/res.
Agradeço aos mestres incríveis Marcelo Soler, Ivan Mizanzuk e Adanias de Souza pela profundidade desses conhecimentos e vivências práticas da Arte da Cena e do Campo da Literatura.
O depoimento que venho hoje publicar para quem visita o Jardim da Mariposa diz respeito a uma entrevista que dei em 2017 para o canal Caminho Filosófico do YouTube e que me fez a seguinte pergunta: qual a importância da Educação Estatal para a Democracia brasileira?
Na minha última postagem eu mostrei para você um relato de prática publicado na revista Magistério e os 80 anos da educação infantil que falou um pouquinho sobre os Indicadores de Qualidade da Educação Infantil. Nessa entrevista além de retomar os Indicadores de Qualidade da Educação Infantil Paulistana eu também falo do processo de Educação Integral nos CEUs da cidade de São Paulo, ambos como como construtores da democracia participativa na cidade e no país e da importância da Educação Pública para a garantia da constituição do Estado de Direitos e da Educação Pública Laica pra o desenvolvimento de um novo tempo.Aproveito para deixar a dissertação de mestrado da profa Elaine Jardim que discorre sobre os CEUs que tivemos a honra de contribuir.
São quase 30 minutos de fala que espero possa por meio desse flashback contribuir para reflexões necessárias ao combate do obscurantismo na Educação brasileira.
Deixo algumas referências complementar às suas reflexões.
No mês de julho desse ano (2019), a obra Macunaíma de Mario de Andrade, completou 91 anos. Mário – como diria nossa mestra e criancista Marcia Gobbi, profa da Faculdade de Educação da USP – o crianço.
Mário, para além de poeta, escritor, crítico literário, musicólogo, folclorista, ensaísta, fotógrafo e organizador da cultura brasileira; foi um homem que respeitou absolutamente as culturas infantis quando chefe do departamento de cultura da prefeitura do município de São Paulo, em 1935.
Vejo que nós pouco valorizamos nossa pedagogia brasileira em nome de ingerirmos enlatados pedagógicos ou até mesmo boas práticas educacionais , mas que são importadas ou construídas a partir de suas culturas locais.
Uma pedagogia que sustente as nossas raizes, a nossa efervescente cultura, a nossa antropofagia brasileira, ainda é uma pedagogia pouco compreendida, pouco respeitada, pouco defendida e vivenciada no chão das escolas por nossas/os educadoras/res!
Poucos são aqueles e aquelas que estudam a fundo Mário de Andrade e sua pedagogia macunaímica, como diz Profa Ana Lucia Goulart de Faria. Uma pedagogia da poesia, da arte, do teatro, da vivência da cultura brasileira e das culturas infantis.
Em 2015, comemoramos os 80 anos de Educação Infantil, quando escrevi sobre uma das práticas educacionais brasileiras dessa pedagogia que vivi como coordenadora pedagógica na EMEI GABRIEL Prestes, a escola que foi uma das precursoras da Virada Educação junto ao Movimento Entusiasmo e que levou centenas de crianças em cortejos poéticos as ruas do território central de São Paulo.
Deixo abaixo esse relato publicado na revista Magistério e o link pra que você possa baixar a revista que tem muitos artigos sobre o tema em comemoração aos 80 anos desde que Mário de Andrade, legitimou na cidade de São Paulo, os parques infantis, que hoje são as nossas Emeis.
O texto também fala dos indicadores de qualidade da Educação Infantil e é fundamental recobrarmos esse debate, quando vivemos um momento de ameaças desse processo que foi construído a tantas mãos e tantas vozes na rede, garantindo a participação do coletivo e organizadas com delicadeza e afinco pelas profas e pesquisadoras Maria Malta Campos, Bruna Ribeiro e Sonia Larrubia Valverde. Como também não posso deixar de lembrar aqui e destacar a pesquisa de doutorado da profa Meire Festa que tão bem vem fazer uma análise critica de toda implementação dos indicadores. que também deixarei abaixo para vocês os links para os indicadores e avaliando na educação infantil, aprimorando os olhares e para a tese de doutorado da profa Meire Festa.
Aos educadores/ras que vem a essa página buscar referências educacionais humanizadoras,saibam que criticamos enfaticamente uma prática na educação infantil mecanicista, conteudista, ranqueadora, classificatória e despolitizada e que imponham pacotes educacionais empresariais às escolas.
Defendemos que a educação de crianças bem pequenas seja vivenciada pelo olhar das próprias crianças, de seu envolvimento com a vida e a natureza, sob um olhar poético, artístico e humanizador, respeitando os saberes construídos pela comunidade em que as crianças habitam, portanto, uma pedagogia macunaímica, ou uma pedagogia como prática de libertação rumo a um pensamento questionador e uma alma filosófica.
Agradeço a Sonia Larrubia Valverde e a Rosangela Gurgel, educadoras criancistas a época da Divisão Tecnica de Educação Infantil da Secretaria Municipal de Educação (2013/ 2016) que sempre confiaram nas nossas ações na EMEI Gabriel Prestes e me convidaram a escrita desse relato de prática.
Trago então aqui uma tantinho dessa baita construção coletiva a partir do meu olhar numa cidade perdida num tempo de delicadezas.
Mais uma vez agradeço sua presença aqui no Jardim da Mariposa para conhecer esse trabalho construído delicadamente por tantas criancistas queridas!
Relato de prática
Cafés com Poesia da EMEI gabriel Prestes estreitando os vínculos e ampliando os diálogos
Por Naime Silva
Coordenadora Pedagógica da EMEI Gabriel Prestes.
Manhã de quase outono, abrimos nossas portas e nosso coração para os encontros, para a brincadeira, para a música indígena, para o cheirinho de pão de queijo, cheirinho de tapioca, para o biscoito feito pelas crianças na cozinha experimental, para a oficina de arte com as crianças, para as famílias sentadas em volta da mesa do café da manhã, dialogando sobre o quanto é rica a experiência de estarmos juntos.
As famílias vão chegando de mansinho, quase que amanhecendo na escola, despertando pra beleza que se colocava na manhã de sábado.
A poesia estava em todos os lugares, na profusão de cores das chitas, nas produções de arte das crianças, na belezura das palavras de amor estampadas por todos os lugares, no aconchego do mobiliário, no cheirinho da torta de queijo feita pelas crianças, nas canções arrebatadoras do cordelista Costa Senna que cantou contra as guerras e a ganância dos seres humanos, ponto alto de emoção, pois estávamos na presença de nossa família mulçumana do Iraque.
A poesia também estava presente na fala das crianças que com um coraçãozinho de papel falavam aos adultos: “Me diga uma coisa bonita”.
A poesia estava na alegria do repente “Casarão” de Adão Fernandes, que de forma ágil, constrói em prosa e verso a discussão das famílias sobre suas pre- ocupações em garantir a infância no ensino fundamental de seus filhos e filhas, do desejo que começa a tornar-se coletivo de ocupar a Chácara Lane em tempo integral e com educação integral de maneira a interdisciplinar educação, cultura e arte no território central da Cidade de São Paulo.
Assim são os encontros dos “Cafés com poesia” da Escola Municipal de Educação Infantil Gabriel Prestes, que têm contado com a organização da equipe da escola em parceria com o Movimento Entusiasmo e o Instituto Alana.
Outro ponto alto do diálogo, foi a preocupação em trazer mais famílias para receber os Indicadores de Qualidade da Educação Infantil Paulistana. Momento importantíssimo de autoavaliação institucional, onde toda a comunidade educativa discutiu as nove dimensões indicadoras de qualidade que abordam o conhecimento da proposta político-pedagógica: ambientes, materiais, espaço, interações, múltiplas lingua- gens, gestão democrática, educação para igualdade racial e de gênero, como os bebês e as crianças pequenas são ouvidas e se a voz delas é considerada na rotina da instituição.
Uma semana antes, uma provocação com poemas é lançada aos educadores pelos organizadores. O poema de Alberto Caeiro, “Agora que sinto o amor”, do livro Poesia Completa foi lido em um encontro.
Agora que sinto amor
Tenho interesse nos perfumes
Nunca antes me interessou que uma flor tivesse cheiro. Agora sinto o perfume das flores como se visse uma coisa nova Sei bem que elas cheiravam, como sei que existia
São coisas que se sabem por fora.
Mas agora sei com a respiração da parte de trás da cabeça Hoje as flores sabem-se bem num paladar que se cheira Hoje às vezes acordo e cheiro antes de ver
Alberto Caeiro
Além das rodas de conversa e leitura do poema, as crianças criaram painéis de arte inspirados nele e passaram a criar com suas famílias os seus próprios poemas. Os cafés com poesia passaram a ser mensais tendo como objetivo discutir os problemas das famílias, a forma de educar os filhos e filhas e a escolaridade na região, bem como a política de infância para o território e a cidade.
Referências
Avaliação na Educação Infantil: aprimorando olhares
Os podcasts no Brasil, são uma cultura nova porém não muito recente. Alguns tem por volta de 10, 15anos.
Entretanto, euzinha aqui, na minha humildade, sou ainda uma ouvinte bebê .
Tenho 52 anos e quando eu era ainda bem pequenina, nos anos 70, existia a cultura do rádio, inclusive com novelas de rádio, mas já era uma cultura midiática híbrida com a TV, porque recordo que alguns bem poucos familiares já tinham televisão , mas muito poucos, porque era uma mídia cara e quando uma casa a tinha, muitas famílias e amigxs se reuniam pra assistir um programa de auditório, um filme, uma comédia ou mesmo uma novela televisiva que paulatinamente roubou a cena da rádio.
A verdade é que essa cultura híbrida das mídias entre rádio e TV se perpetuou até por volta dos anos 80 do século passado, quando chegaram novas mídias como as fitas cassete de aparelhos de som e de TV, para ouvirmos músicas, filmes, novelas e programas, que na maior parte das vezes, a gente gravava para ter aquela programa ou para assistir depois.
Com o uso mais frequente de computadores a partir da década de 90 no seculo XX, essa cultura acabou nos levando para os disquetes, os pen drives, para nossas pastas no PC, com downloads de pedaços de músicas e filmes, com a internet de banda discada, tudo muito lento e artesanal.
Os CDs de música competiam com esses arquivos compartilhados já numa cultura em rede e somente depois é que você conseguia comprar músicas, livros e filmes, mas ainda com a necessidade de armazenamento desses filmes, músicas, séries e outros nos próprios DVDs.
Eu mesma ainda tenho algumas dessas raridades preciosas aqui em casa, cassetes de som e TV, CDs e DVDs de mídias retiradas da minha internet do passado.
Hoje a gente consegue pagar uma netflix, um spotify ou mesmo uma Amazon, mas naquela época a gente tinha Napster, Emule, e os BitTorrent, que eram ilegais, vamos deixar bem claro e que muitas pessoas disfarçadamente chamavam de “lojinha”.
Lembro que em 2004, eu assistia The L Word, quando ouvi e vi pela primeira vez o conceito de podcast. Mas na verdade, naquele momento, não me interessei em ser uma ouvinte de podcast, e após 15 anos de exibição da série The L World que a gente ja baixava aos pedaços por torrent, eu so me interessei em ser ouvinte da podosfera depois de muita insistência de meu companheiro, agora em 2018.
Foi ai que descobri um “retorno a era de ouro do rádio” com alguns novos atributos do século XXI.
Isso porque descobri que temos vários agregadores para se ouvir um podcast, que temos vários temas, que posso assinar um podcast, que posso fazer playlist de podcasts, que os podcasts são realizados e concebidos de variadas formas, que existe uma linguagem específica da podosfera, que eu podia inclusive estudar por meio de determinados temas desenvolvidos em um podcast.
Além do que, uma grande nova diferença se apresenta diante do rádio do século 20: você pode ouvir seu programa favorito com seu celular e seu fone de ouvido e limpar a casa e lavar louça/ roupas, que eram tarefas domésticas insuportáveis antes, e que passaram a ser as mais esperadas do dia agora. Eu além desses momentos, ouço nas minhas caminhadas diárias , na musculação da minha academia, no ônibus, amo!
Eu virei fã. Estudo desde psicologia, passando por politica nacional e internacional, Ciência, arte, cultura, contos, História , Mitologia, tecnologia, e até filosofia da melhor qualidade. Pra quem gosta de informação, debate, entretenimento com reflexão, não há nada melhor em tempos de fakenews e informação patrulhada.
Falei no título sobre o (sub) mundo da podosfera, porque ainda sinto ser um mundo por vezes oculto da grande massa de pessoas. Num dos episódios do anticast de número 391, com o tema : O ano do Podcast no Brasil, Ivan Mizanzuk, Ira Croft e Gus Lanzetta, falam sobre a cultura dos podcasts no Brasil e dão dados bem interessantes sobre seu crescimento e popularidade ainda tímida, reservada ainda a um grupo de pessoas.
As vezes me sinto meio ET, quando digo: você ja ouviu podcast tal? E a pessoa olha pra mim com cara de alface e diz: pod o quê? Porque apesar de eu somente virar ouvinte em 2019, eu conheço a cultura podcaster desde 2004. Bom, aí pra não ter que descarrilar um blá-blá-blá, eu resolvi fazer esse post aqui no Jardim da Mariposa contando pra você que não conhece nada, um pouquinho dessa nova onda da “rádio” pra te deixar com uma vontade de ouvir esse mundo cheio de informação bacana, num momento tão difícil da gente coletar boas informações, debates e reflexões.
Aliás, esse post é um álibi, porque na verdade to felizona porque participei do debate do Teologia de Boteco, um dos meus podcasts favoritos que foi publicado agora dia 29 de julho pelo querido âncora Cristiano Machado, o Barba, que veio a São Paulo, no Aconchego do Café, que era o café-bar do Gus ( @gugaoshow no Twitter) até uma semana ou duas depois desse bate papo.
Nesse podcast, o Barba não trouxe pauta específica, deixando a galera falar a vontade. Saiu de tudo, desde a revolução necessária em tempos de obscurantismo até sobre Paulo Freire e a arte do encontro.
Aqui nas imagens abaixo eu e Barba e eu e João Bigon, os âncoras desse debate com os ouvintes de Sampa do Teologia de Boteco.
Assim, você minha leitora e meu leitor, você que é ouvinte de podcast e principalmente você que não conhece nada, aproveita e dá uma olhada nos temas que já foram explorados no Teologia de Boteco e em outros podcasts. Eu vou deixar aqui os podcasts que sou fã e não deixo de ouvir, bem como seus temas centrais e seus links.
Eu uso o overcast como agregador, mas temos vários outros que numa pesquisada nos seu APP Store do celular, você vai descobrir o que é melhor a sua necessidade. Temos até agregadores mais conhecidos como o SoundCloud e a parte gratuita ( que tem propaganda) do Spotify.
Vamos então aos links, temas centrais e seus âncoras , dos meus podcasts favoritos? Vou compartilhar sempre o link do último episódio e você depois navega pelos outros de cada um deles:
1. Anticast e Projeto Humanos- temas Politica e cultura e Histórias em formato Story Telling , âncora Ivan Mizanzuk. Anticast https://overcast.fm/+CsuPemqk Projeto Humanos – Caso Evandro ( esse colocarei o primeiro link pra que vc possa compreender o caso e assistir na sequência – https://overcast.fm/+E9qFlsKyg
2. Baseado em Fatos Surreais- histórias reias de envolvimento afetivo e sexual de mulheres enviados por depoimentos e contados pelas âncoras como se elas fossem as próprias personagens. Âncoras: Marcela Ponce de Leon e Sheylli Caleffi. Você vai morrer de rir, adoro! https://overcast.fm/+HCv3vg_hg
4. Chutando a Escada: politica internacional, economia, direitos humanos, etc. âncoras Felipe Mendonça, Geraldo Zahran, Joel Luiz Costa https://overcast.fm/+HIc9hoB9k
5. Dragões de Garagem- Divulgação Científica Âncoras Luciano Queiroz e Lucas Marques e convidados. Simplesmente amo! https://overcast.fm/+h-XLyDg8
6. Dupracast Ciencia, cultura e humanidades e Meditação e estilo de Vida Âncora Dr Duprat. Adoroooo!!! https://overcast.fm/+LRHKaRWQA
7. Foro de Teresina. Adoro! Revista Piauí .Análise da Política Nacional. Âncoras Fernando de Barros e Silva, José Roberto de Toledo e Malú Gaspar https://overcast.fm/+NK0ekwGBQ
13. Trabalho de Mesa . Teatro e Cinema. Simplesmente um dos meus prediletos!!!! Reinecken e outrxs https://overcast.fm/+IfJZXvYMs
14. Tribo Forte. Não vivo sem ouvir!!!!!! Com Rodrigo Polesso e Dr J R Souto. Amo como amo proteína! Sobre ciência nutricional https://overcast.fm/+LXMutQKEg
15. Arquivo aberto. story Telling sobre o Caso Marielle ( vou colocar o 1º episódio para seguir a sequência) Narração Dyego Viana https://overcast.fm/+SCMTEClj4
22. E por fim, o mais belos dos belos com meu âncora predileto Cristiano Barba de Teologia de Boteco que traz no antigo café -bar do Gus o debate da Galera sobre revolução e amor, onde pude dar meus pitacos sobre o que ando pensando sobre o assunto. Deixo a apresentação aqui também desse episódio:
Saudações, Classe trabalhadora…
Na sema passada rolou um encontro com os ouvintes do teologia de boteco, lá no Aconchego do café, na Moóca, em São Paulo… Apareceu muita gente e a festa foi muito legal (no meio do programa vc vai ouvir o Gus, dizendo anunciando a chegada de mais cerveja) O resultado desse encontro foi um podcast coletivo, de 2 horas aproximadamente, com as opiniões de muita gente que estava por lá!
Eu quero agradecer a todos e todas que estiveram por lá, que ajudaram a fazer um dia muito feliz na minha vida… Muito obrigado!
E agora, é esperar os próximos encontros (Rio de Janeiro é a capital mais cotada para o próximo encontro que ainda não tem data prevista) mas quero rodar o brasil inteiro pra conversar com os ouvintes
Esse programa não teve introdução pq eu estava muito doente no dia da publicação!
Se você gostou e quer apoiar esse projeto para que ele continue, considere entrar no grupo do Apoia.se –https://apoia.se/teologiadeboteco
Bom! Você deve ter percebido o quanto virei fã! Agora que você tem algumas poucas informações dessa nova era de ouro da rádio no século 21, conta pra mim, depois de ouvir, qual seu podcast predileto e porquê? Venha sobrevoar no meu jardim e se perfumar entre minhas flores 🌹!
No dia 5 de junho, dia mundial do Meio Ambiente, a CIA Uzyna Uzona do Teatro Oficyna realizou um TeAto, em defesa da preservação ambiental e cultural do Bixiga e do Teatro projetada por Lina Bobardi, cujo, tive a honra de ser convidada para fazer uma fala. Fiz questão de estar na presença de meu filho e a cada palavra dita, olhar profundamente nos olhos do nosso amado Zé Celso Martinez. Abaixo, transcrevo em texto a minha fala emocionada:
“Evoé! Alegrias! Eu escrevi minha fala e vou lê -la, porque gostaria de dizer tanta coisa e to tão emocionada que tenho medo de me perder em meio a tanta coisa importante, Zé, por isso peço licença para essa leitura!
Sou educadora de infância e moradora do Bixiga há 20 e nos últimos 10 anos minha história pessoal e profissional se misturam ao Tetro Oficina e ao Parque do Bixiga.
Em dezembro de 2009, assisti ao Banquete de Platãoe Sylvia Prado lavou meus pés e Héctor Othon, que fazia Zeus, encheu meus cabelos de flores, na noite eu que eu e meu companheiro Nuno, concebemos nosso filho Abá. Foi uma noite incrível como se eles me preparassem pra receber esse ser de luz no meu ventre.
No hemisfério Sul, para algumas bruxas e bruxos, a noite do Halloween é comemorado dia 1º de maio e foi nessa noite de 1º de maio de 2010, já redonda e barriguda, que eu vim assistir As Bacantes e tive vontade imensa de viver o mesmo que Caetano Veloso viveu, sendo devorada pelas bacantes ( risada). Imagina, fiquei só na vontade.
Em 2010, ainda assisti a Taniko, o rito do Mar, que me inspirou numa ousadia: montar Tanikinho com crianças bem pequenas da Ed Infantil na I Festa da Cultura Popular da EMEI Gabriel Prestes em 2014. Por conta dessa montagem, Mariano Mattos me convidou em outubro de 2014, pra um jantar pra conhecer a Camila Mota e desse dia em diante, a luta pelo Teatro Oficina, pelo Parque do Bixiga e pelas Infâncias paulistanas na construção da cidade educadora, passou a ser uma luta irmã.
Em 2015, em continuidade de um projeto educacional no território Consolação/ Bixiga, que dialogasse com Paulo Freire, Mário de Andrade e Oswald de Andrade, a companhia Uzina Uzona de Teatro e o Projeto Bixigão fizeram vivências com crianças e educadoras da EMEI Gabriel Prestes durante algumas sextas feiras e no mês de setembro, fizemos juntos um cortejo de abertura da II Virada Educacao, por um mundo mais poético, com o Rito do Pau Brasil de Oswald de Andrade, levando conosco alunas estagiários de Pedagogia da Universidade Makenzie sob a regência da criancista e ativista profa Celia Cerrão, as famílias e crianças da Emei Gabriel Prestes, várias educadoras e ativistas pela infância e o Movimento Entusiasmo de André Gravatá, num ato poético e cultural, que desceu a Consolação e o encerrou na Praça Roosevelt. Essa Virada Educação foi histórica, pois também comemoramos os 80 anos da educação infantil na cidade de São Paulo, desde a criação dos Parques Infantis, concebidos por Mário de Andrade.
Em 2017, Sylvia Prado recebeu aqui no Teatro Oficina, numa roda de conversa do curso de difusão para educadoras e educadores da rede pública municipal da Faculdade de Educação da USP, coordenada pela profa Dra Marcia Gobbi, intitulado : Infância desde os bebês, projetos e políticas na cidade , onde pude fazer a mediação do grupo nessa conversa com a Sylvia Prado, sobre a defesa do Teatro Oficina e a criação do Parque do Bixiga.
Por último, queria dizer que a defesa do Teatro Oficina e do Parque do Bixiga se misturam a defesa da comunidade Bixiga, de suas famílias e crianças, pois a defesa da criação e manutenção dos parques na cidade é a defesa das Infâncias paulistanas e da concepção de cultura das Infantis de Mário de Andrade e do prof Paulo Freire.
Ainda vale dizer que nós professoras de Infâncias temos um sonho e uma utopia, o sonho de uma cidade educadora , onde a cidade seja Organizada pelo olhar das crianças que a habitam, certamente ela seria cheio de parques, de alegria e de poesia.
Nossa utopia anarquista, seria de uma outro mundo mais justo e humano, sem prisões, sem igrejas, sem partidos políticos e sem escolas, onde pudéssemos viver como nossos povos originários, organizados por ecovilas e escolas da floresta, onde as ciências, as tecnologias, a arte, a cultura e a natureza vivessem em comunhão, num mundo sem dinheiro, sem a relação com o capital e poder, numa relação em comunidades, de forma dialética, sob auto gestão, numa pedagogia macunaímica, como sempre nos fala a Profa Ana Lúcia Goulart de Faria. Que a gente possa ter fôlego e musculatura pra lutar por esse sonho e consequentemente por esse utopia de um mundo mais justo e humano!
Viva o Teatro Oficina! viva o Parque do Bixiga! viva as Infâncias Paulistanas!”
Na foto que tirei abaixo, representando as mães das águas do Bixiga, Joana Medeiros como mamãe Yemanjá, Danielle Rosa como mamãe Oxum.
Uma análise critica sobre o horizonte da humanidade nas futuras gerações
Eu e minhas companheiras de Jardim nascemos em uma época em que a internet e os computadores não existiam. A força do rádio e da TV como mídias eram muito mais presentes em nossas vidas. Computadores e o mundo virtual passaram a fazer parte de nossa cultura apenas no fim dos anos 90. Essas reflexões sempre estiveram em nossa relação dialética, fomentando continuamente bons debates. Trago um desses debates nesse ensaio, a qual eu e Magda, no curso de pós graduação em Gestão para a Educação Básica em 2007, na UNIFMU, perspetivamos uma mirada diferente para a geração que iria nos suceder. Obrigada por pousar na flor desse jardim!🌷
Magda Edgmar Rodrigues Rocha Naíme A. Silva
“Considerate la vostra semenza: Fatti non foste a viver come bruti Ma per seguir virtute e conoscenza” Dante, a Divina Comédia
Resumo
Este ensaio traz uma proposta de levantar algumas reflexões sobre os caminhos que a humanidade tem traçado para as futuras gerações. O impacto das novas tecnologias, o avanço das Ciências exatas e Genética, parece nos apontar caminhos que levem a humanidade, ao bem comum. Porém, estes avanços aliados à ganância de poder, capital e exploração humana, podem também levar a incertezas de um futuro não muito promissor. No filme Matrix, o personagem Neo precisa escolher entre tomar pílulas rosa ou azul, para, mais do que escolher as cores destas, definir continuar submerso em um sonho irreal do final do século XX, ou ser o escolhido para travar a batalha na realidade da Matrix e entender que o Contexto em que sua geração nasceu e cresceu não passava de um mero programa de computador. A batalha na Matrix era então para preservar o pouco de humanidade que ainda restava contra a invasão da inteligência artificial criada pela própria humanidade.
A trama do filme Matrix parece estar intimamente ligada ao drama da humanidade em nossa era contemporânea, buscar respostas com o “Arauto”, que coloca enigmas da Filosofia para desvendar quais os caminhos para vencer a dominação da Humanidade sobre sua própria invenção: a ciência e a tecnologia.
Este artigo tem como objetivo discutir e trazer a reflexão o afastamento da Filosofia do cotidiano da humanidade.
A Filosofia antiga revela períodos na historia Grega. Desde o pensamento Naturalista ao buscar o principio unitário de todas as coisas, o pensamento sistemático sob as bases da lógica, da ciência, da metafísica, para o pensamento ético preocupado com as questões morais e o religioso na busca de resolução para os problemas na fé. Deste período Grego da Filosofia antiga para os tempos atuais , percebemos que o “pensar” ainda está restrito a uma “elite” da alma, do espírito, da racionalidade de poucos Seres. No século XX e XXI, temos em Husserl, Heidegger, Nietzsche e Freud, questionamentos sobre os fenômenos e valores, nossa existência e da importância da nossa sexualidade para construção do self.
No entanto, toda esta elaboração refinada e rebuscada da compreensão humana, do pensar sobre o conhecimento, a ética, a moral, não parece refletir de forma mais sólida e intensa em nossa contemporaneidade.
A Filosofia como dúvida, investigação, busca de um bem comum e da preservação da vida, nos parece ter sido relegado a poucas “mentes brilhantes”.
A Filosofia deveria estar presente em nosso cotidiano, nas coisas mais simples, na infância, na juventude, com anciãos. Acreditamos que este entendimento seria uma forma de levar a humanidade como um todo a busca da harmonia entre conhecimento construído e a cultura popular, entre a Ciência , tecnologia, arte, ecologia, na busca da felicidade em meio a diversidade em todos os níveis. O resgate do sentido do tempo e do trabalho para o bem comum, do trabalho como forma de realizar cultura.
Este artigo pretende defender a idéia de que se faz urgente o espaço para o pensar de forma consciente sobre que existência desejamos ter no futuro.
Discussão
No mundo atual, nos parece que a humanidade tem uma lógica utilitária e funcional diante da vida. Esta lógica também parece trazer a ilusão de que se algo não nos serve, devemos eliminá-la. E assim vamos destruindo tradições culturais, reservas ecológicas, espaços de convivência, e no lugar disso, colocamos conhecimentos destituídos de sentidos, busca incessante de consumo que supra nossas inquietações psicológicas, espirituais e mais do que isso, destruímos na realidade, nossa ligação com o ecossistema, com o ciclo da vida.
No mundo ocidental, nos centros urbanos, nas grandes metrópoles que detém o monopólio do conhecimento cientifico e da economia predominante, da produção que sustenta a todos; as crianças têm pouco ou quase nenhum contato com o ciclo da vida. Tudo parece produzido de forma mágica até ser retirado de uma prateleira nos supermercados. Estas mesmas crianças há algumas gerações, acompanham seriados e desenhos animados na televisão e cinema que numa concepção hollywoodiana determina que sempre haverá aqueles que querem dominar o mundo pelo desejo de poder, ciência e consumo.
Ortiz (1999):
Estrelas de cinema, ídolos de televisão (hoje projetados mundialmente pela TV a cabo e pelo satélite), marcas de produto, são mais do que objetos. Trata-se de referências de vida. As viagens de turismo, as visitas à Disney World, as férias no Caribe, a freqüência aos shopping centers, os passeios pelas ruas comerciais fazem parte de um mesmo imaginário coletivo. Grupos de classes médias mundializadas podem assim se aproximar, se comunicar entre si. Eles partilham os mesmos gostos, as mesmas inclinações, circulando num espaço de expectativas comuns. Neste sentido, o mercado, as transnacionais e a mídia são instancias de legitimação cultural, espaços de definição de normas e de orientação da conduta. Sua autoridade modela as disposições estéticas e as maneiras de ser. Da mesma forma que a escola e o Estado se constituíram em atores privilegiados na construção da identidade nacional, as agencias que atuam num nível mundial favorecem a elaboração de identidade desterritorializadas. Como os intelectuais, elas são mediadores simbólicos.
As crianças neste sentido, parecem ser adestradas desde muito pequenas a acreditar que a felicidade é obter coisas, numa concepção que é mais valoroso TER do que SER. E que para tanto é necessário dispensar de disputa, violência, egoísmo e poder. Marcuse (1973) enfatiza:
Bertolt Brecht notou que vivemos numa época que parece crime discutir sobre uma árvore. Desde então, as coisas pioraram muito. Hoje, parece crime falar meramente sobre mudança, enquanto a sociedade em que vivemos é transformada numa instituição de violência. (p. 128).
A mídia e as tecnologias revelam uma nova situação para o final do século XX e inicio do século XXI: o tempo e o espaço andam paralelamente e operam em dois campos, o real e o virtual. Mas nesta lógica não é impossível afirmar que o virtual tem substituído com cada vez mais força o real. Em Marcondes Filho (2002) encontramos:
Mas o acoplamento simultâneo de dois mundos leva, necessariamente, à degradação de um deles, indubitavelmente, do mundo antigo, do mundo-base, do mundo – referencia para todas as construções no mundo dos espaços virtuais: entramos na civilização do esquecimento. (p.137).
O final do século XX e inicio do século XXI traz uma variedade de filmes na Industria cinematográfica que parece apontar um futuro para a vida da humanidade. No século XX, na década de 70, o seriado para a TV, Jornada nas Estrelas e o desenho animado Jetsons mostra um aparato tecnológico traçando uma ordem futurística como ficção científica. Em jornada nas estrelas, já havia celulares, computadores super avançados, com veiculação de comunicação pela imagem por meio de câmera em telas gigantes e teletransporte. Anos depois, acompanhamos a invenção dos celulares, web cam e outros aparatos de alta tecnologia. Em Blade Runner no inicio da década de 80, as telas de cinema nos trazem os replicantes, seres-máquina que possuem sentimentos e são escravizados em estação intergaláctica. Em contrapartida, a década de 90, a Ciência traz estudos do genoma, células- tronco e clonagem de seres humanos.
Mezan (1987) ao citar Freud afirma:
Os cientistas são, como afirma em O Futuro de uma Ilusão, os servos do Deus Logos,cuja voz, por apagada que seja, é insistente e não descansa enquanto não se faz ouvir. “Nunca pude compreender porque deveria envergonhar-me de minha origem ou, como já começava se dizer então, de minha raça. Renunciei, pois, sem grande emoção a conacionalidade que me era negada. Pensei, com efeito, que para um zeloso trabalhador sempre haveria um lugar, por modesto que fosse, nas fileiras da Humanidade laboriosa…”(p.48)
Na América, na maioria das grandes metrópoles, há um aumento populacional que se espreme geograficamente, dando espaço a uma selva de concreto. O capital nas bolsas de valores é moeda virtual que determina para quase todo o planeta a economia no mundo Globalizado. As pessoas se alimentam vorazmente em fast-foods, apresentando altos índices de obesidade mórbida, e problemas cardíacos. Aterros sanitários já não dão mais conta da quantidade de lixo produzido e não aproveitado e o lixo atômico também é cada vez maior na atmosfera. Em nome e sob um discurso pela liberdade, a América prossegue insana levando as nações a acreditarem que somos criadores e a tudo podemos e não criaturas da Natureza e como parte dela, a preservando, nos preservaremos e nos perpetuaremos. O ciclo da vida perde-se neste caminho. Concordamos com Marcuse (1973):
O fetichismo do mundo de mercadorias que parece tornar-se mais denso dia a dia, só pode ser destruído por homens e mulheres que despedaçaram o véu tecnológico e ideológico que oculta o que está acontecendo, que encobre a realidade insana do todo – homens e mulheres que se tornaram livres para desenvolver suas próprias necessidades, para construir, em solidariedade, seu próprio mundo. O fim da coisificação é o princípio do indivíduo: o novo Sujeito da reconstrução radical. E a gênese desse Sujeito é um processo que desintegra a estrutura tradicional da teoria e pratica radicais. (p.127).
Os produtos globalizados são muitas vezes produzidos pela vergonhosa exploração da força de trabalho de crianças e jovens, de homens e mulheres trabalhadores rurais, que humildes, não possuem informação e nem reflexão sobre o domínio de suas vidas, sem saber que são vitimas da mais valia tão falada pelo materialismo dialético de Marx. Esta dialética também foi apontada por Hegel: (…) Na fenomenologia do espírito, Hegel nos fala de uma dialética do senhor e do escravo, que o Ser do escravo encontra-se alienado no Ser do senhor. (apud ORTIZ, p. 78, 1999).
O desequilíbrio ecológico tem deixado pistas de que o planeta não vai bem. A água potável tem tempo de vida, o buraco na camada de ozônio tem se ampliado, a Amazônia tem sido devastada cada vez mais a cada nova década. Nos centros urbanos não há predadores na cadeia alimentar. E assim convivemos com o aumento da população de ratos, baratas e insetos transmissores de epidemias. Marcondes Filho (2002):
Os novos espaços, tanto os concretos espaços ciderais, objetos da nova Marcha para o Oeste, como as comunidades “ realmente inexistente” das cidades eletrônicas virtuais relêem o mundo e dão vazão às fantasias numa era em que o planeta vai ficando cada vez mais a mercê de si mesmo, cada vez mais espaço de dejetos de todos possíveis, desde o lixo atômico, os alimentos envenenados, o ar irrespirável, os solos contaminados, até as próprias massas humanas desalojadas, abandonadas, sumariamente liquidadas em guerras limpas. A própria revolta, o protesto, a indignação estão estruturalmente dependentes das tecnologias em tempo real. (p. 137-138).
Mas tudo parece continuar no plano da invisibilidade, multidões de miseráveis também são tratados como ratos repugnantes e na sua grande maioria são negros. Segundo Ortiz (1999) em um Outro território: ensaios sobre a mundialização:
[…] a América cada vez mais se vê como uma composição de grupos, mais ou menos irradicáveis em seu caráter étnico. O dogma multiétnico abandona o propósito da historia, substituindo a assimilação pela fragmentação, a integração pelo separatismo. […] O todo encontra-se estilhaçado, o centro ameaçado pela desunião. Não é o julgamento de valor implícito no diagnóstico de Schlesinger – a busca pela organicidade perdida da nação-, que me parece mais interessante. Mas o retrato de um povo que, no passado recente, possuía uma auto estima de si mesmo. Ele não revela apenas a face de um único país. Trata-se de uma condição do mundo contemporâneo. Isso não significa que a sociedade se descompôs – os países continuam funcionado em todo os seus níveis -, ou que o Estado-nação se diluiu no enfrentamento desses vetores identitários. Mas mudou o contexto. No seio da sociedade moderna, industrial ou pós-industrial, surge um leque de referentes que se atravessam, se chocam, se acomodam, organizando a vida dos homens.
Atribuímos tamanha invisibilidade, e essa apatia coletiva ao distanciamento da convivência em comunhão que dava aos antigos sentido à vida, ao distanciamento da tradição cultural, a não reflexão sob as bases da Filosofia.
A Filosofia é vista como um conhecimento para poucos, para os “cultos”, que não é prática, não leva a nada e a lugar algum. No mundo contemporâneo, todos têm medo da dúvida, não há tempo para a contemplação. Talvez seja uma atitude para “loucos”. Dominados pelo desejo e pela paixão, os seres buscam o prazer imediato, apagando as tradições culturais do passado e não refletindo sobre o futuro. Sem planejamento e cuidado às futuras gerações. Em Nietzsche (1887) podemos refletir:
Como é necessário que o homem, para dispor assim de antecipação do futuro, tenha começado por aprender a separar o acontecimento necessário do fortuito, a pensar de maneira causal, a ver o distante e a antecipar-se a ele como se estivesse presente, a fixar com segurança o que é objetivo, o que é meio para atingi-lo, de maneira geral a calcular, a saber calcular- como foi necessário que para isso o próprio homem se tivesse primeiramente tornado calculável, regular, necessário, até em sua própria representação de si, para chegar desse modo a poder, como o faz um ser que promete, estabelecer-se como garantia de si mesmo como futuro. (p. 56-57).
O filme Matrix, apresentado no final do século XX, revela para o novo século um mundo irreal, programado, submerso no lixo das máquinas que dominam a humanidade. Também aponta que só um retorno ao pensamento filosófico seria capaz de deter um possível esgoto de tecnologia, a Matrix. Marcondes Filho (2002)enfatiza:
Ciberespaço é o espaço criado na era tecnológica. Espaço novo, desconhecido nos 2.500 anos anteriores de cultura ocidental, inexistente materialmente, para onde ninguém pode se dirigir caminhando, de carro ou de avião. O único meio de acesso é a tela do computador. Isso leva a supor que a tela é, ao mesmo tempo, uma porta, um buraco, que, como um túnel, nos faz chegar ao novo mundo. Como um holograma, é plano, mas tem múltiplas dimensões. Curiosamente, é um espaço paradoxal, pois nele se entra, permanecendo-se no mesmo espaço físico anterior. Fica-se assim, de uma só vez, em dois mundos paralelos em que comutamos como se se tratasse de duas vidas separadas. (p. 136).
O mundo virtual chegou para ficar. Num primeiro momento chegou de maneira anárquica, subversiva, oferecendo a sensação de liberdade de pensamento, sem restrições, sem censura e formando uma rede de informações, de comunicações, de possibilidades. Mas também fez das pessoas escravos de sua aparente liberdade, talvez numa solidão coletiva. Também coloca às pessoas uma nova linguagem, uma outra lógica, uma nova compreensão sobre o corpo real e um corpo sem massa corpórea, o virtual . Brinca com o tempo e com o espaço, deixando as pessoas à mercê de seu jogo hipnótico. E a WEB, lugar possível e realizável, também exclui um número grande de pessoas que mal aprenderam ainda a lógica cartesiana da “rudimentar” leitura e escrita em papel, tipografada. Marcondes Filho (2002):
Comutar com o mundo virtual significa transferirmos-nos “fisicamente” para outro espaço, um espaço não – concreto. No passado, isso era feito mediante as formas da fantasia, nos passeios do imaginário. Mas eram sempre caminhadas individuais, solitárias, não compartilhadas. O inovador neste novo território é que ele não é imaginário; é real, mas não é concreto, é proter real, ao lado do real, como se diz de Quéau. É múltiplo, social, não é produto de minha fantasia isoladamente. Ele existe. (p. 137).
Desta forma, o mundo virtual determina e controla nosso cotidiano sob várias formas: como em nossas contas bancárias, cartões de crédito, meios de transporte… A era do Terror ( ismo) parece ter acrescido de estratégias tecnológicas ainda mais avançadas esta lista de controle do mundo virtual em nosso cotidiano.
Mesmo coisas simples da vida cotidiana obrigam e escravizam a todos a utilizarem o mundo virtual.
Dialética do senhor e do escravo. Segundo Hegel, o senhor arrisca sua vida na luta e, ao vencê-la, torna-se senhor. O escravo, com medo da morte, nada arrisca, aceitando por isso sua condição de escravo, o que o torna algo como uma “coisa” nas mãos do senhor. Contudo, na relação entre os dois um movimento dialético inverte os papéis: desaprendendo a fazer as coisas, o senhor torna-se dependente delas, vira escravo do escravo; já o escravo torna-se senhor delas, por poder dominá-las, e, com isso, senhor do senhor. Além do mais, o senhor não se realiza plenamente, pois o escravo, “reduzido a coisa”, não constitui o pólo dialético adequado para o senhor. O escravo parte do desejo: o desejo é uma forma de negar o mundo, e seu verdadeiro fim é a afirmação da consciência. A subjetividade só se afirma na medida em que o desejo se apóie sobre uma outra consciência, isto é, um outro desejo. Para cada consciência em si mesma, a outra é a negação de si, e esta negação se exprime por uma luta mortal. Aceitando o devir escravo para preservar sua vida, um dos dois reconhece o outro como senhor; segue-se que ambos se reconhecem como outros, nenhum tem de fato consciência de si; ela não se conhece a não ser na alteridade. Cf. Hegel, A fenomenologia do espírito.
O retorno e aproximação da formulação do pensar em contemplação com a natureza, na filia, no exercício pela busca da felicidade é uma necessidade para homens e mulheres, convivendo em comunhão e harmonia consigo, com o(s) outro(s), com todas as formas de vida. Não seria possível conciliar esta forma de existir com os avanços da Ciência e da Tecnologia? A humanidade por meio de reflexões e prazer por sua cultura não poderia repensar sua forma de contar o tempo, de qual sentido há nele e no espaço para a existência individual e comum? Qual legado humano será deixado às futuras gerações?
O estudioso de Psicanálise Mezan (1987) nos aponta:
Investigação, portanto, das origens, do sentido do oráculo, que implica um desvendamento paulatino do passado e termina com a reconstrução da trajetória do individuo com um “tu és isto”, como diz algures Jacques Lacan. (p.57).
A tecnologia, porém, não possui algumas questões puramente humanas: o enigma da morte, a criação de mitos e Deuses, a fé, a espiritualidade.
Esta capacidade moral, cultural, o controle dos impulsos mais primitivos da alma humana são possibilidades que a humanidade ainda dispõe para harmonizar e dar sentido a existência em consonância a construção do conhecimento das Ciências e tecnologia, voltadas ao bem comum.
Conclusão
Este pensamento imediatista do século XX nos leva a questão: Qual o futuro da humanidade? Seria possível aliarmos Ciência, tecnologia e reflexão filosófica de maneira mais coletiva? Seria possível preservarmos nossos bens naturais ecológicos? Qual o caminho da humanidade? Como trazer a Filosofia a luz da Educação que em essência deveria ser seu lugar? Como libertar as mentes humanas das amarras do pensamento funcionalista, positivista, cartesiano? Como podemos refletir de maneira mais coletiva, a nossa participação como ser vivo mais importante do planeta, porque dotado de alma, poder referenciar-nos na harmonia do cosmos? Como construir filia, esta intimidade na amizade e na reflexão sobre a ética como bem viver, voltado à felicidade e à virtude? Como desconstruir a idéia de que nascemos para ter e não para ser? Como cuidamos da infância de nossos filhos e netos? Qual geração está se formando? Qual humano está originando?
O que haverá se não houver de fato uma contra ordem, uma desobediência contra qualquer forma de opressão da vida humana biológica, mental e espiritual? Marcondes Filho (2002) enfatiza como vivemos nessa era:
A virtualização – como as máquinas da inteligência artificial – é um tipo de limpeza, depuramento, salvação da espécie. Já que não conseguimos resolver nossos problemas terrenos, já que a revolução não vingou, já que as esperanças de transformação da humanidade estão fora de moda, o homem ainda tem uma chance: pode se depurar nas tecnologias. É o pensamento técnico que expulsou do âmbito do possível todas as outras formas de pensar, todos os outros modos de se revelarem as coisas, que não seja o técnico. O virtual é a nossa redenção. (p. 137)
Como vamos trazer a luz estas reflexões em nossa realidade local? Em nosso contexto cotidiano? Parece-nos que um dos grandes desafios é trazer para o âmbito da Educação este debate da Filosofia como o farmacon, um remédio para a mentes sob o véu do obscurantismo, da violência, da degradação de nossa espécie.
Referências Bibliográficas
DANTE, A. A Divina Comédia. Inferno, Canto 26, versos 118, 119 e 120.
DUSSEL, Enrique. Ética da Libertação: na idade da globalização e da exclusão. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 2002.
MARCONDES FILHO, Ciro. O espelho e a mascara: o enigma da comunicação no caminho do meio. São Paulo: Discurso Editorial; Ijuí: Editora Unijuí, 2002.
MARCUSE, Herbert. Contra- revolução e revolta. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1973.
MEZAN, Renato. Sigmund Freud: a conquista do proibido. 5 ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.
NIETZSCHE, F. A genealogia da moral. São Paulo: Escala.
ORTIZ, Renato. Um outro território: ensaios sobre a mundialização. 2 ed. São Paulo: Olho D’ água, 1999.
Esse ensaio foi escrito na Pos Graduação Lato Sensu em Gestão Escolar para Educação Básica para a transformação do cargo de Diretora de Equipamento Social para Diretora de Escola, na UNIFMU, em 2007, nas aulas de Filosofia do Prof João Luiz Muzinatti. Magda Edgmar e eu gostávamos de refletir sobre os rumos que o mundo globalizado haveria de tomar, quais crises haveriam de lhe acometer e quais impactos tecnológicos permeavam esse mundo cheio de ambiguidades. Para essas reflexões, escrevemos esse artigo e ainda outro que denominamos “Em tempos de Matrix””, que você poderá ler, após essa publicação.
Magda Edgmar Rodrigues Rocha Naíme Silva
Uma análise critica sobre a perda da identidade humana na Globalização
Resumo
Este ensaio traz uma proposta de analisar as relações humanas no contexto da Globalização. Apresentando as contradições quanto ao discurso do respeito à Diversidade, Direitos Humanos e integração das nações na dita Aldeia Global, em contraponto a realidade vivida de isolamento e impossibilidade de existência humana, exclusão das diferenças, fragmentação social, incentivo agressivo ao consumo, exploração da força de trabalho de trabalhadores e perda da identidade exposta neste como idéia denominada de “Não Lugar”. Este trabalho também traz questões para fomentar o debate sobre o futuro da Globalização no contexto do Capitalismo.
Palavras-chave: Não lugar; identidade; existência; aldeia global.
Introdução Este artigo tem como objetivo analisar e discutir as estratégias de construção de padrões de comportamentos, que são detalhadamente examinados e impostos por um pensamento ideológico – cientifico/burguês-, numa chamada cultura de massa e de comunicação de massa, que imputam às classes populares em sociedades capitalistas e globalizadas a não expressão do “eu”, da não existência humana. Segundo George Simmel (…) dentro do contexto da luta de classes, o conceito de cultura de massa aniquila até mesmo a prática reformista como uma expressão da organização da classe operária e só permite a mudança por intermédio de elites e conhecimento especializado.(apud SWINGEWOOD, 1978, p. 99).
Discussão
O mundo contemporâneo, num processo das denominadas civilizações em progresso, dentro do contexto da aldeia global, traz-nos um discurso posto de uma rede de interações mundial. Neste, pessoas de qualquer parte, podem ter comunicação como se vivessem numa aldeia, com informações sobre os fatos ocorridos naquele momento e veiculados em tempo real para qualquer parte do Globo, bem como obter bens de consumo de qualquer parte do planeta, criando a ilusão de obtermos o Mundo as nossas mãos de forma imediata. Benko (2002) enfatiza nesta afirmação:
Os excessos de espaço, de tempo, de acontecimentos, de informações, tiveram conseqüências. Há 50 ou 100 anos, não se tinha todos os dias a sensação de estar na história. Hoje, o rádio e a televisão dão a impressão de que ocorrem acontecimentos de importância histórica todos os dias. Temos a história ao nosso alcance. Instala-se uma confusão entre a história e a atualidade. Esses três excessos de tempo, de espaço e de acontecimentos, infundem a sensação de uma perda do sentido. Ora, o que é novo não é que o mundo tenha pouco ou muito sentido, mas que sentíamos todos os dias a necessidade de lhe dar um. Outrora, em sua aldeia, o sentido se evidenciava por si mesmo. Hoje, somos chamados a dar um sentido a tudo, do terrorismo no Peru ao islamismo na Argélia. (apud SANTOS, p.248).
As “endeusadas” marcas de roupas e sapatos num mesmo modo de se vestir, o mito do superestar, o sentimento quase que obrigatório de se obter bens de consumo padronizados, o distanciamento da idéia dos alimentos como produto extraído da natureza pela força de trabalho de alguém, parece tecer uma rede não identitária na comunidade mundial. Marx (1867) afirma em sua teoria do materialismo dialético:
A recente descoberta científica, de que os produtos do trabalho, enquanto valores, são [objectiva] pura e simplesmente a expressão do trabalho humano gasto na sua produção, marca uma época na história do desenvolvimento da humanidade, mas não dissipou de modo algum a fantasmagoria que faz aparecer o carácter social do trabalho como uma qualidade das coisas, dos próprios produtos. O que é verdadeiro apenas para esta forma particular de produção, a produção mercantil – a saber, que o carácter [especificamente] social dos mais diversos trabalhos [privados, independentes uns dos outros], consiste na sua igualdade como trabalho humano, e reveste uma forma objectiva, a forma-valor dos produtos do trabalho -, isso parece aos olhos dos homens imersos nas engrenagens das relações da produção de mercadorias, hoje como antes daquela descoberta, tão definitiva e tão natural como a forma gasosa do ar que permaneceu idêntica mesmo depois da descoberta dos seus elementos químicos. (vol. 1, seção 4).
Também nos parece que o padrão social mais aceitável de “ser e estar” estabelece a possibilidade de existência apenas para: homens, brancos, católicos, jovens e para uma elite burguesa com alto poder de compra e com repetitivos comportamentos bem adestrados, por um pensamento da aldeia global em foco. Analisamos que estes mesmos homens, brancos, católicos, jovens e porque não a própria elite burguesa dentro do Estado Democrático de Direito, defendem um discurso pelas minorias excluídas, em defesa das diversidades étnicas, de orientação sexual, pela igualdade de gêneros e pelos Direitos Humanos fundamentais. Esta contradição parece-nos não ser um ponto de reflexão para as minorias excluídas e dominadas pela lógica da aldeia Global. Mas também nos parece que ela é sentida subliminarmente e expressa pela violência urbana observadas por todo o Mundo nas grandes metrópoles. De acordo com Santayana (2002) em seu ensaio “O século XXI e o desafio das etnias”:
Teóricos da exclusão do outro, como os racistas modernos, pretendem, ao contrário, reduzir o mundo à tribo, mesmo que esta redução se manifeste na expansão territorial e na submissão dos outros povos, cuja identidade pretendem eliminar, ao impor aos dominados os seus próprios valores, e destruir os valores que tenham. […] quanto menos confiante é o homem em sua força essencial , mais nele se acentua o sentimento agressivo. (apud SANTOS, p. 321-323).
No documentário, Ônibus 174 (2002), Sandro, o ator da vida real, revela com seu grito social, num palco da representação da exclusão cotidiana carioca e brasileira, a situação dos adolescentes em drástica vulnerabilidade social. Vitima do terror da Chacina da Candelária, posteriormente transforma-se no seqüestrador do ônibus 174 de pessoas que como ele, também são vitimas da exclusão, exploração e decadência do capitalismo selvagem. O filme é provocador, no sentido de trazer a luz da reflexão, sobre uma sociedade que escolhe algozes e marginais na indústria da violência, mas que na verdade, não passam de vitimas desta mesma realidade perversa.
Os filhos das classes populares têm a violência como cultura no universo cotidiano, devolvendo a sociedade esta cultura como forma de expressar todo seu repúdio contra o “ Não Lugar”.
No Brasil, esta “ditadura” do consumo nos remete ao Dossiê Universo Jovem 3, pesquisa encomendada pela MTV que entrevistou 2.359 jovens das classes A, B e C das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador e Porto Alegre, sob a coordenação de Ione Maria Menes:
O Dossiê utilizou os mesmos seis perfis comportamentais da primeira pesquisa, realizada em 1999, que variam entre “Antenas do Tempo” (19%), jovens de melhor nível social,ligados às novidades tecnológicas e mais liberais; “Novas Posturas” (11%), que refutam o consumismo, assistem menos TV e são politicamente corretos; “Sonhando com as alturas e lutando nas bases”(17%), que têm menos dinheiro, desdenha a importância do voto, sonha com a fama e se considera “mais ou menos feliz”; “Vivendo intensamente “(16%), dedicados à busca do prazer pessoal imediato e a adiar ao máximo as responsabilidades; “Arranhados pela vida” (21%), a parcela mais desiludida e sem perspectivas, que gostaria de ter mais dinheiro e liberdade e tem na TV sua principal fonte de informação e lazer; e finalmente os “Solidários” (15%), com perfil mais conservador, religioso e moralista, com maior atuação social e consciência política. Os entrevistados definiram sua geração usando palavras como “vaidosa” (37%), “consumista” (26%), “acomodada” (22%) e “individualista” (22%), e os dados da pesquisa confirmam essa visão um tanto pessimista sobre a juventude brasileira. No quesito Vaidade, o jovem brasileiro parece dar muito valor à aparência: 60% acreditam que pessoas mais bonitas têm mais oportunidades na vida, e cerca de 15% dos jovens entrevistados declararam que estariam dispostos a ser 25% menos inteligentes se pudessem ser 25% mais bonitos? (…) A evolução dos dados entre a pesquisa de 1999 e a atual revela o crescimento vertiginoso da tecnologia no cotidiano da parcela mais abastada da população jovem: celulares (de 19% para 71%), computadores (de 22% para 46%) e o acesso à Internet (15% para 66%). Cerca de 79% dos jovens usam o “torpedo” do celular para falar com os amigos, e a avalanche de blogs e fotoblogs não passa despercebida pela geração plugada na Web: 79% dos jovens sabem o que é Blog, 77% sabem o que é Fotoblog, 48% já passaram pelo o Orkut, a principal rede de relacionamentos da Internet, e 43% usam o Messenger, programa de mensagens instantâneas da Microsoft. (MIDIATIVA, 2005).
Esta não possibilidade de existência ocorre na intimidade das famílias, nas escolas regulares, nas universidades, nas empresas, nas igrejas, nos meios de transporte, e nos remete a idéia do “Não Lugar”. O “Não Lugar” é onde só se pode existir com uma máscara de gesso, provavelmente “comprada” por todos os membros da Aldeia Global como uma forma aceitável e desejável de existir.
Nas famílias de camadas economicamente desfavorecidas a dominação da TV, do homem sobre a mulher e crianças retrata a idéia do não lugar. As crianças não têm espaços para brincadeiras, a mulher tem dupla jornada de trabalho e o homem oprimido tem como único lazer o futebol. Ninguém escolhe. Tudo está mecanicamente orquestrado. E pela manhã bem cedo, o ritual e correria para iniciar a jornada de trabalho, muitas vezes informal, parecem levar todos a um cotidiano esvaziado de sentidos.
Nas Escolas e Universidades, públicas e/ou privadas, o Não lugar também tem seu espaço. Grades curriculares centradas em conteúdos transmitidos em curto espaço de tempo com prazos mínimos não apontam para o mesmo discurso de qualidade destas Instituições. A escola bancária de Paulo Freire não leva os educandos ao pensar. O Educando muitas vezes é preparado para um vir a ser. Ele ainda não é. E muitas Universidades com sua concepção tecnicista/funcionalista, apontam a necessidade de uma Educação para construir Empreendedores.
Nas Empresas de grande Porte, ainda ocorre com agressiva agilidade a troca da força de trabalho por alta tecnologia. E nas empresas de pequeno porte surge o impacto da terceirização do trabalho, destruindo assim direitos trabalhistas já conquistados.
As religiões, em especial as religiões cristãs, colaboram para produção da alienação humana, com o mesmo discurso em defesa dos humildes e excluídos, mas determinando regras de organização de suas vidas, de seu corpo e de sua alma em nome da fé de seus seguidores. Mas a relação mercadológica é fortemente presente nesta relação com a fé.
Noutra perspectiva, na cidade de São Paulo, o meio de transporte, direito constitucional de ir e vir, é um dos meios mais caros de conseguir chegar ao trabalho. Mesmo com altos preços não há quantidade de transportes suficiente para ofertar a população paulistana. Considerando assim os trabalhadores como “gado”, ônibus e metro estão sempre abarrotados de pessoas que mal levantam seus olhares aos outros passageiros, cansados das pesadas jornadas de trabalho e para muitos somados dupla jornada aos bancos escolares.
“Trabalho e linguagem são os dois modos que os humanos têm de continuar sendo humanos, ou seja, de gerar e gerir significados. Significar é humanecer”. (Codo, 2005). Nesta afirmação, Codo levanta uma reflexão, aqui contextualizada como “Não Lugar”, onde não há existência autêntica e cujas relações de trabalho perderam total significado. Trabalho, lazer e companhia de uns com os outros perdeu o significado de cultura, para que em seu lugar tenha espaço um bloco de fazeres sem a produção de sentidos. Um espaço onde o tempo e lugar não são para a produção de sentidos no encontro das pessoas, apesar de vivermos numa aldeia global, mas para que cada vez mais haja o isolamento, a exclusão e o anonimato de sua condição não aceitável. Ainda neste sentido, apontamos uma contradição no discurso daqueles que defendem a Globalização. Como os Vírus HIV e/ou HVC que para manter sua vida, acaba muitas vezes matando o hospedeiro que lhes preserva a vida, o Capitalismo com seu filhote globalizado parece seguir a mesmo lógica.
No documentário “Brasil, muito além do cidadão Kane”(1993), produzido pela BBC de Londres, podemos perceber claramente a produção ideológica historicamente construída em nosso país. A TV Globo, expressa como Mídia de forte poder no comando dos rumos da Política Brasileira se oferece como comunicação de massa criando o “Não Lugar” na intimidade das famílias brasileiras.
O “Não Lugar” ganha força sobre várias formas de exclusão e não existência. Neste ponto em particular, onde a comunicação de massa é agressiva e imperativa como no “plim-plim” que invade nossas casas, tem o objetivo de emudecer as bocas, criar o mundo mágico da ilusão, tecer o véu de um mundo inatingível e desejável das novelas e seus mitos. Uma afirmativa que conclui o documentário “Brasil, muito além do cidadão Kane”(1993) merece destaque: (…) A Globo começou a dominar o Brasil na ditadura militar. Manteve o silencio sobre as verdades do regime. (…) Será que a Globo poderá se libertar desta herança? Ou será que o Brasil poderá se libertar da Globo?
Ferrara nos aponta em seu ensaio: (…) o imaginário é uma característica da organização social: sua identidade ou sua mascara. Verdade ou mentira, real ou manipulado, o imaginário nos diz menos sobre si próprio do que sobre a sociedade que o constrói. (apud SANTOS, 2002, p. 46).
Conclusão
Nossa analise critica sobre o processo de Globalização formado pela concepção ideológica e política capitalista não é otimista.
A ilusão de que basta sermos fortes, determinados e empreendedores para obtermos sucesso é uma forma do Capitalismo “canibalizar e travestir” sua real intenção de massificar identidades, culturas, existências, de perpetuar o domínio de poucos sobre milhões, de destruir o planeta. Os humanos, quase sempre desumanizados perdem a sintonia com a natureza, com o outro, com sua unidade de existência.
O que a historia revela, é que no momento ou em períodos de catástrofe, o Não Lugar, em algumas pessoas ou lugares da Aldeia Global dá espaço ao lugar, a solidariedade, a existência, a coletividade real. Mas ao mesmo tempo, no contraponto, a catástrofe gera o espetáculo, o sensacionalismo, a produção dos Mitos, a ilusão.
A coisificação humana que gera a idéia do Não Lugar nos parece resultar um sentimento de que Deus é o MERCADO, Deus é o CAPITAL. Aqueles que não servirem a Deus não terão direito a um pedaço do Céu. Ficarão excluídos da paz e da felicidade eterna. Não será esta lógica também uma ilusão? O capitalismo por meio da Globalização, não está traçando seu próprio fim? Qual será o futuro de uma Aldeia Global desumanizada ou pouco humana, nos vários Não Lugares?
Estas questões têm a finalidade de colocar, fomentar e ampliar o debate para aqueles e aquelas que também sentem sua essência ameaçada em suas diferenças individuais e em suas interações humanas no Não lugar da Aldeia Global.
Referências Bibliográficas
BOSI, Ecléa. Cultura de massa e cultura popular: leituras operárias. 9 ed. Petrópolis: Vozes, 1986.
ECO, Umberto. Apocalípticos e integrados. 5 ed. São Paulo: Perspectiva, 1998.
GENTILI, Pablo (org.) Globalização Excludente: desigualdade, exclusão e democracia na nova ordem mundial. Petrópolis, RJ: Vozes; Buenos Aires: CLACSO, 2000.
HARTOG, Simon. Brasil, muito além do cidadão Kane.BBC – canal 4: Londres, 1993. Documentário, (93 m).