O kin da Transformação

Ahô Kins! Magas e Magos da Terra!

Olá querida leitora, querido leitor!

Ja contei pra você no nosso post anterior, que apesar de eu conhecer o Sincronario  da Paz ☮️ ou Cosmologia Maia desde 2004, eu não o tinha estudado a fundo e nem o vivia como tenho praticado e estudado desde 2019. Eu já sabia que meu sêlo era a morte e apesar de fazer algumas correlações, não entendia nada sobre os tons e os vários ciclos que estão inter e intra relacionados e que vivenciamos dentro da matriz do Tzolkin ( um tapete mágico do tempo) ou mesmo em cada castelo ou giro do Anel. 

Ainda tenho muito por aprender e isso torna esses códigos do tempo tão fascinantes. Não nos apresenta um processo repetitivo e nem mecânico, mas sim ciclos dinâmicos e que você observa na natureza, ou seja, são ciclos naturais. 

Um desses ciclos é a matriz do Tzolkin contado como a gestação humana, ou seja, a cada 260 dias. Nela, nascemos numa determinada lua ( ciclo de 28 dias) que revela uma frequência energética , numa determinada onda encantada ( ciclo de 13 dias) , num determinado Castelo ( ciclo de 52 dias) e numa determinada Estação (ciclo de 65 dias) e num determinado Giro de Anel ( 364 dias+ 1 dia Fora do Tempo).

Como tenho percebido, vivendo na prática o Sincronário da Paz ☮️ que teve todos esses ciclos cuidadosamente estudados e organizados pelo prof José Arguellis, a gente vai percebendo melhor a cada Giro de Anel,  a frequências de cada dia, de cada plasma radial (ciclo de 7 dias) de cada Lua, de cada onda encantada. Então nem vou perder tempo explicando muito: primeiro porque ja temos muita gente boa e mais sabida nesse campo do que eu falando disso na internet e é só você dar uma pesquisada; segundo que não são códigos matemáticos para serem compreendidos, mas para serem vividos e sentidos e aí sim você os compreende, ou melhor, os percebe; e terceiro que minha intenção aqui é somente criar uma curiosidade no seu coração acerca da seguinte pergunta: o tempo que vivemos onde nos foi ensinado que temos que correr atrás do dinheiro pra sobreviver é a única forma que temos de contar o tempo?

E qual relação faço comigo dessa sabedoria?

Hoje é meu Kinversário, ou seja, nasci sob a onda encantada do Guerreiro, no castelo Amarelo, sob a luz/ sêlo do Enlaçador de Mundos Branco e sob o som / ton do 11, sou Cimi Buluc Sac em Maia e essa é minha assinatura Galáctica, Kin 206, dia de hoje. 

Meu propósito nessa encarnação é servir a conexão da  Inteligência do Coração, unir, enlaçar mente e coração, estabelecer pontes com a finalidade da minha libertação, bem como dos coletivos onde atuo de forma a questionar a mim e as pessoas, quais pesos precisamos soltar pra ganhar leveza e transcendermos em ações voltadas à Arte. 


          

Não há um dia sequer que não recite ou reflita ou sinta sobre meu poema, meu mantra Kin. Sim todos nós temos um mantra kin que nos faz recordar quem somos e o meu é assim:

”A transformação que esse sêlo me oferece está na entrega, na liberação e no perdão “.

 

Sim, lindo demais e desafiador demais! 

Desde 2016 venho também estudando e vivendo na prática várias culturas Xamânicas e várias religiões que trazem a força dos animais, plantas e minerais. 

O Enlaçador de Mundos e a Mariposa são arquétipos afins, porque falam de morte, de transformação e de trocar um corpo que se arrasta pra um corpo alado, que ganha leveza, por meio da morte e renascimento. 

Em outros posts prometo vir aqui te contar novas descobertas sobre isso, mas hoje quero te dizer, cara leitora e caro leitor, Kinridos e Magos e Magas da Terra,  que cada um de nós, guarda mistérios divinos e que precisamos querer nos entregar a esses mistérios pra viver uma jornada mais interessante de ser vivida, não sem dor, não sem angústia, processos e fenômenos que fazem parte de nossa humanização, mas certamente também encontramos encantamento, sentidos e um processo de completude que nos constrói dignidade e centramento num processo dentro dessa visão de que o Tempo é Arte.

Aceite então a tarefa e mergulhe em você Mesmo, descubra sua ou suas Divindades.

No meu Ateliê, o Jardim da Mariposa, além de Processos Criativos onde buscamos as imagens de nosso inconsciente, também nos visitam esses arquétipos do Sincronário da Paz, com seus códigos do tempo, as ondas encantadas e a correlação com seu Totem Animal/Cultivo Espiritual. Caso se interesse, me procure! Mas não sinta medo do farfalhar das minhas asas. Venha sentir o perfume desse Jardim!

Aproveita e faça a assinatura do Jardim da Mariposa, deixa seu comentário e compartilhe nas redes Sociais.

Ahô! Evoé! Namastê!  

 

 

 

 

 

A relação Mestre-Discípulo – uma relação de amor em filia

 

Durante toda minha vida, tive muitas pessoas que considero meus Mestres e minhas Mestras. Ja contei noutras oportunidades, que minha primeira professora primária, como se falava em meu tempo, ainda viva, é minha grande Mestra: Profa Antonieta Trovatto.

Também não esqueço de quem formou meu pensamento crítico e político-social, além ensinar-me a argu-ir pela escrita e pela fala foi Prof Clovis Pacheco Filho, também ainda vivo, graças aos Deuses e Orixás. E o mais lindo, ambos ainda me orientam, me guiam. Duas grandes referências de Mestres da minha infância e adolescência .

Depois de adulta, eu encontrei sim outras referências que me ajudaram em minha busca pela Sabedoria, que jamais esqueço: Prof Carlos Gatto, prof Wilson dos Anjos, Prof Manoel Oriovaldo de Moura, profa Tizuko Morchida, Profa Monica Pinazza, profa Marcia Gobbi, Profa Maria Malta Campos, Profa Sonia Larrubia Valverde, Prof Paulo Gonçalo dos Santos, prof Fernando Haddad, prof Waldemar Magaldi, Profa Renata Mattar, Profa Lucia Helena Galvão, prof Gonzalo Ferreyra, prof Gabriel Noccera e Cláudio Loureiro! E o mais inesquecível, que ao lembrar tenho memória até do perfume de seu abraço: Mestre Paulo Freire.

Venho falar desses seres de luz aqui no meu Jardim, pra contar que essa aprendiz de Filosofia, hoje ganhou uma benção; o desejo de uma flor desabrochando em meu jardim e o convite dessa flor em ser minha discípula: Max, de apenas 12 anos. Max é um nome social escolhido por ele.a, porque como mesma o.a diz, “tenho tanto tempo pra definir e saber quem eu sou e sinto”. Sim, meu/minha querido.a, você tem todo tempo do mundo como diria Renato Russo, na música Tempo Perdido.

A relação Mestre-Discípulo é tão profunda que nos remonta a Platão e o Mito da Caverna, que também ja tive a oportunidade de discorrer aqui pra vocês, conforme postagem:

Premio IBEST de Filosofia

No mito de Platão, ele nos traz a profundidade da Corrente entre Mestre e Discípulo, onde a Educação é uma experiência muitíssimo importante para as relações humanas. Educação que significa eduzir algo, tirar de dentro para fora para servir a evolução humana, num processo permanente, representado pela imagem da corrente.

Mas a medida que adentramos no nosso mundo interior, estamos saindo da Caverna, e a medida que comparamos o mundo da Caverna, o mundo da escuridão e o mundo “real”, onde nos encontraremos com a Grandeza dos valores do Bom, Belo, Justo, Verdadeiro e Harmonioso, podemos fazer o educere e compartilhar com o Mundo externo, ou seja, eduzir nossas descobertas e buscas e ajudar na corrente pelo processo de busca do outro.a., pelo seu eduzir, por pra fora a descoberta de sua jornada para dentro.

Platão também discorre essa relação em corrente e do amor em filia, no belíssimo texto O Banquete, onde Sócrates e seus amigos e discípulos narram suas ideias sobre o Amor. o Banquete é um livro de texto razoavelmente curto, mas de uma profundidade ímpar. Uma narrativa que você pode ficar horas, dias, anos em reflexão.

Tive duas oportunidades com esse texto, a de assistir O Banquete de Platão no Teatro Ofycina com a CIA Uzyna Uzona, sobre a direção de Ze Celso Martinez, na noite que eu e meu companheiro concebemos nosso filho. Um mergulho amoroso pra levarmos para eternidade, que eu conto aqui nesse post:

Discurso em defesa do Parque das Águas do Bixiga/Teatro Oficina

E a segunda oportunidade de troca num grupo de estudos em Filosofia e tragédias Gregas com o Prof Claudio Loureiro onde No banquete , uma das mais lindas passagens fala do Mito do Amor entre iguais e diferentes que deixo aqui o breve trecho do livro e do discurso pra que vc acompanhe:

trecho_OBanquete_Platão

A verdade é que venho aqui hoje falar aos meus leitores e minhas leitoras a felicidade que sinto em aceitar Max como meu/minha discipulo.a, abrindo passagem à tantos.as outros.as que sei que virão.

Eu e Max viveremos uma aventura, uma viagem pra dentro e para fora da Caverna. Passearemos pelas várias Filosofias, pelas Artes, pelas religiões e espiritualidades, pela Política, pela Psicologia, pela Natureza, pelo respiro a Vida e a Liberdade. 

Max amada.o, seja bem vindo a esse encontro amoroso! Obrigada pela oportunidade.

E pra você eu deixo no podcast Mariposa ao Pé do Ouvido, inaugurando hoje a série #Filia no Jardim, episódio numero 1 , O Mito da Caverna, de Platão:

E por fim, pra você que é meu leitor uma dica: assine o blog e você receberá todas as novas publicações em seu email. Também você pode deixar registrado aqui seu comentário e compartilhar nas redes sociais. Obrigada por me acompanhar e espalhar seu perfume entre as flores desse Jardim.  Não se assuste ao ouvir o farfalhar das minhas asas de Mariposa.

Imagem de Maguari, por Marisa Salles

Um Natal de Reggie, dois Natais na pandemia no Brasil.

                                     Recebi hoje um belíssimo video de Arlete Torquato sobre um retrocesso no tempo desde Elton John Ancião aos 72 anos até um Natal que mudaria o destino do pequenino menino Reggie aos 4 anos.     

   

                          Ao assisti-lo lembrei-me desse post que conta sobre esse filme que se inspira na vida e obra de Elton John e quis compartilhar com vocês minhas reflexões.

Para ver o post sobre o filme aqui:

Filme Rocketman de Dexter Fletcher – análise

Tenho refletido sobre os dois últimos Natais onde pensei em cada menino e menina no Brasil que não teve a oportunidade de ganhar um presente de Natal que também mudaria seus destinos e consequentemente os nossos também, porque sempre que nasce um grande artista, uma grande ator ou atriz performático.a, um.a grande cantor.a e compositor.a, nasce uma canal de conexão de mensagens com as Musas Divinas a nos contar um tantinho também de nossos destinos. Mas quando essas Musas não vem de Mãos dadas com a Verdade, a Justiça, a Bondade e a Harmonia, deixamos esses meninos e meninas sem o direito a conhecerem seus verdadeiros destinos e milhões de nós também ficamos desprovidos de suas Artes.

                        Quando um Governo de uma nação não está de fato aliado a Grandeza dos Espíritos do Bem, do Belo, do Verdadeiro, da Justiça, da Harmonia e do Amor ao seu Povo, este não permite espaço para que meninos e meninas possam dar vazão aos seus destinos na Arte e nessa pandemia no Brasil, nosso povo voltou a sentir a fome, a miséria e a desesperança. O ódio que congela tem ocupado os corações humanos, polarizando nossa consciência e tornando a barbárie um cotidiano desprovido de sentidos humanizadores.

                              Precisamos urgente sair desse transe que nos aprisiona numa pandemia muito pior que o coronavirus, uma pandemia que nos torna Zombies, que coisifica o Ser Humano e que humaniza as coisas, onde o Divino não mora no Sagrado no Templo do nosso Coração, mas onde se sacraliza o deus capital, o deus patriarcado, o deu$ dinheiro e lucro. Onde o egoísmo e a ignorância se espalha como erva daninha pela nossa consciência tomando espaço de ampliarmos nossa Cosmovisão.

                                     Mas como diz as canções dos Brincos e Folguedos brasileiros, “mas como sou teimosa…” eu alimento em mim uma esperança e uma rebeldia, onde ainda nutro a chegada da Grandeza dos Espíritos do BEM, do Bom, do Belo e Verdadeiro, da Justiça, Harmonia e Amor e chegarem banindo o mal da arrogância, maldade, ignorância e egoísmo e podermos ver muitos meninos e meninas tendo direitos aos Natais que mudarão seus destinos e que encherão nossa Alma Brasileira de Beleza e Justiça, inundando a gente de Gratidão!

                                   Dedico essa pequena reflexão à minha amiga Arlete Torquato que assim como eu tem dedicado a vida à esses meninos e meninas, que mesmo em meio a adversidade ou ao obscurantismo, e quer estejam no chão das escolas, quer estejam em nossas clínicas psicoterapêuticas, quer estejam nos cortiços, morros ou favelas, possam descobrir seus destinos mesmo sem direito a um Natal Especial que lhe encurte a jornada.

Aqui você pode apreciar o video que recebi de Arlete Torquato de presente pra essa reflexão. Feliz Natal menina Arlete! Feliz Natal meninos e meninas do Brasil , Pandemia 2020, 2021.

Premio IBEST de Filosofia

Hoje eu venho mais uma vez falar da minha escola de Filosofia a Maneira Clássica , Organização Internacional Nova Acrópole. Já contei pra vocês que sou daquelas pessoas que desde criança me vejo como aprendiz de filosofia, porque sempre muito questionadora, sempre muito reflexiva, me lembro ainda bem pequenininha de mergulhar em profundos pensamentos sobre a existência de Deus, da Natureza, dos Seres Vivos, e também  sobre os arquétipos da Justiça, da Beleza e da Felicidade. Não atoa, minhas formações passaram pelo Teatro, Educação e Psicologia, caminhos trilhados na busca da Sabedoria. 

Mas eu tinha prometido no outro post sobre a Nova Acrópole que você pode acessar aqui:

https://naimeasilva.blog/uma-busca-eterna-pelo-crescimento-espiritual-e-pela-sabedoria/ 

Que eu traria um pouco mais do aprendizado que temos discutido em Nova Acrópole e como eu tenho registrado essas reflexões.  Eu quis pegar carona num momento bem especial pra nós na escola quando estamos passamos para a segunda etapa pra ganhar o Premio IBEST nas categorias Desenvolvimento Pessoal e Cultura e Curiosidades, que no final das minhas reflexões eu deixarei o link pra você contribuir com seu voto nessa escola filosófica que perpetua a corrente Mestre e Discípulo que Platão nos ensina no Mito da Caverna.

Mas antes de você votar, quero te mostrar as reflexões do que aprendi com a Profa Fabíola Demétrio de Oliveira que ministrou a cátedra de Sociologia-Política e Filosofia da História em Nova Acrópole.

“Na vida duas coisas são certas, o amor e a morte! “ Platão

Reflexões acerca da Filosofia como centro das ideias e uma jornada rumo ao equilíbrio da alma humana e da Natureza

Para iniciar uma reflexão acerca do individuo, sociedade, Estado e História, inicialmente é necessário, contextualizar reflexões acerca do modo do ser humano se organizar no mundo.

No mundo todo, com exceção dos povos que vivem em esquemas tribais ou comunitários, os seres humanos organizam-se socialmente de maneira a manipular, enganar e extorquir os ideais e valores mais nobres e verdadeiros da alma humana.

Nesse sentido, podemos compreender porque a própria Filosofia fica diminuída ou renegada nas relações humanas, educacionais, políticas e sociais, pois sendo ela em sí um ponto nevrálgico e fundamental de conexão para a integração desses valores nas Ciências, Artes, Religiões e Política, não esteja colocada no centro do sistema político e social das nações no mundo atual.

E porque entendemos que a Filosofia não está colocada como centro dos valores humanos no mundo atual, percebemos o desiquilíbrio, o descompasso, a cisão na alma humana da maioria das pessoas, levando a um processo de auto degradação e destruição do planeta.

Posto isso, se faz necessário recordar quem somos como indivíduos, como sociedade, como Estado, e na História da humanidade, para justificar que a Filosofia enquanto busca da Sabedoria precisa ser o centro da organização humana enquanto valores individuais e consequentemente sociais, políticos e históricos.

Quando compreendemos que da Filosofia, nasceram pensamentos humanos acerca da natureza das coisas, da reflexão da existência quanto a vida e morte, das relações humanas e de como nos organizamos; entendemos que ela é geradora do conhecimento científico, das tecnologias, da fé nos Deuses, da inspiração para as Artes, da disputa e ocupação de territórios, das relações de troca, da vivência em comunidades e tribos e da criação de formas de organização política. Portanto ela congrega vários saberes, crenças, valores e princípios, que precisam ser refletidos de forma integrada e comparada na busca da sabedoria.

A Educação nesse sentido, trazida pelo pensamento de Platão, poderia ser uma chave importante para trilhar esse caminho da Filosofia que fomenta essa integralidade dos saberes e quem sabe buscar princípios e fins em comum ao Bem de todos. Ainda que esse seja um ideal que carrega muitos desafios, colocar a Filosofia no centro do debate educacional no mundo atual, seria a construção de uma jornada fundamental para garantirmos o equilíbrio interior da alma humana, do planeta Terra e de sua forma de organizar o equilíbrio da vida de todos os seres que nela habitam.

A etimologia da palavra Educação é educere, eduzir, retirar, extrair, cultivar, nutrir, criar de algo que vem de dentro de cada um de nós. E se nossas crianças fossem desde pequeninas convidadas ao exercício da reflexão integrada dos saberes e ao amor pela busca da sabedoria, certamente estaríamos trilhando uma jornada mais equilibrada, acordando-nos e despertando-nos para a verdade, bondade, beleza, justiça e fraternidade expressos num genuíno interesse humano no mundo atual.

Mas uma outra questão se coloca diante desse ideal: Como trazer a Filosofia como centro ou alvo da Educação no mundo atual?

Certamente aqui, defendemos que a Filosofia está para além de estudos teóricos, mas que convoca a uma prática diária de reflexão dessa jornada em busca da sabedoria. Os Mitos se colocam nesse sentido como ferramentas aliadas nesse processo porque nos trazem metáforas importantes para nossa vida tanto interior como exterior.

No mito da caverna por exemplo, Platão nos traz vários arquétipos existentes dentro de nós que nos impedem e nos impulsionam para essa jornada.

A caverna como um mundo das sombras que nossa alma habita, um mundo das ilusões, Maia. Os cativos acorrentados, conformados e num cativeiro naturalizado impedidos de se mexer, como observadores de imagens que acreditavam ser reais por muitos anos nessa condição, também revela nossa condição interior de uma alma cativa, vivendo de apegos, de mentiras.

A figura dos Amos, que manipulavam as imagens e vozes a fim de que pudessem enganar os cativos e trazer assim um falso ou aparente conforto. Quantas vezes não nos auto esganamos, não nos auto sabotamos, não fazemos de tudo para permanecermos numa zona de conforto, ainda que isso nos acorrente?

O símbolo da fogueira que tanto pode aquecer ilusoriamente, quanto pode servir para produzir falsos contornos, quanto pode nos chamar atenção para um esgotamento de nos manter na mesma situação? O mesmo calor que aquece, pode também ser o que nos desconforta?

A analogia da saída do primeiro homem da caverna, que precisa quebrar as correntes, levantar seu corpo, mesmo que seus músculos estejam fracos de permanecer por tanto tempo inerte, a escalada íngreme do terreno e todo o esforço, a saída da caverna e a cegueira ocasionada pelo excesso de luz solar, nos remete a jornada daqueles que buscam a verdade. A busca da verdade não é um processo fácil, confortável com um terreno plano e firme. Pode ser e na maioria das vezes é um processo em que se esgota uma situação, que exige um esforço que vai do físico ao espiritual, nos colocando em caminhos tortuosos, que testam nossa força e fé na busca, que exige de nós, ultrapassar a passagem pelos nossos amos, desejar enfrentar nossas sobras, muitas vezes nos machucar, testar nossas forças e quando conseguimos somos ofuscados pela verdade, levando ainda um tempo para compreender aquilo que passamos a ver.

Esse processo assim como o Homem que sai da caverna e depois de um tempo vislumbra a Verdade do mundo, a beleza que a vida coloca diante de seus olhos, a contemplação e a reflexão posterior sobre a Justiça de não viver isoladamente esse processo e a Vontade de incentivar seus irmãos cativos para igualmente viverem a jornada, também nos convida à analogia com nosso ideal de sociedade.

O homem que fez a jornada em busca da verdade se torna um sábio, um mestre e só ele pode retornar no caminho realizado, porque ele sabe o caminho de volta, sabe do que terá que enfrentar e seu retorno se dá por fraternidade, porque vislumbrou a verdade, contemplou a beleza, refletiu sobre a justiça, e pode fazer o caminho de volta, viver a saga do retorno para fraternalmente colaborar com a jornada dos seus.

O Mito da Caverna de Platão, assim como a vasta potência das Mitologias de várias culturas, são carregadas de tantos arquétipos que existem dentro de nós e que a luz da Filosofia, parece-nos ser uma rica ferramenta de trabalho educacional para um trabalho prático de nosso mundo interior assentado no centro da alma humana, precisando apenas ser recordado a luz da sabedoria que existe em cada um de nós e de nossa capacidade de construir laços, de ajudarmos uns aos outros, no esforço de cada saga individual e coletiva, expressos na metáfora da corrente entre mestre e discípulo.

Para que então, consideremos o trabalho da Filosofia no processo de individuação, pressupomos que esse é um processo, é uma busca permanente pela unidade, tanto dentro de cada um de nós como enquanto sociedade.

No individuo, essa busca se dá na escalada dos mundo quaternário que objetivamente tentará se perpetuar em atender apenas a realização as sensações, instintos e desejos, de um eu inferior rumo a um Eu superior representado por nossa tríade, composta pelo mapa espiritual, mente pura, intuição e vontade, que é nossa essência, nossa parte divina, nosso mundo de sabedoria, o sol em nós, que encontramos fora da caverna.

Mas esse processo quando trilhado no mundo interno, também pode ser trilhado coletivamente na sociedade tendo como uma de suas principais chaves a educação.

Nesse sentido princípios filosóficos e princípios políticos são complementares, pois se enquanto individuo posso viver em autorreflexão interior para fora de minha caverna interna, onde posso individualmente vivenciar os processos de busca da verdade, da beleza, da justiça, da harmonia, e quero viver esses valores elevados em fraternidade, como vimos no mito da caverna, então podemos concluir que existe um autogoverno. Somente aquele que vive esse autogoverno deveria poder governar politicamente uma sociedade, pois trabalharia para um Bem comum com vistas a desenvolver uma educação para todos, onde a Filosofia fosse o centro do ideal humano para que cada criança, jovem, adulto ou idoso pudesse exercer essa possibilidade igualmente.

Entretanto, quando por descontrole de sua natureza filosófica, os homens antigos passaram a rejeitar a filosofia e preservar seu caráter militar dando abrigo a ambição e poder, a possibilidade de um sociedade organizada por homens sábios, começou a desaparecer. Assim esses homens vão se tornando rudes, desvalorizando o conhecimento, tornando-se avarentos e amantes de riquezas e dinheiro, fazendo chacota do campo das virtudes e do conhecimento científico, louvando o poder das posses.

E assim, de uma geração para a outra observamos que a unidade política antes balizada por valores elevados de homens Sábios que sustentavam um autogoverno e um governo de bases Filosóficas, agora se organiza por castas, classes, onde as leis perdem força, bastando se declarar enganosamente aliado aos menos favorecidos, para que possa governar.

Dessa forma, a sociedade se organiza agora, pelos interesses individuais pautados pelos desejos, paixões, luxuria, egoísmos de toda ordem e esbanjamento. Nesse sentido, na direção de desejos insaciáveis de riqueza e poder, bem como desejo imoderado, irresponsável e irrefletido da liberdade, culmina numa sociedade que se aparelha militarmente, fomentando guerrilhas, eliminando cidadãos e dando espaço a marginalidades.

Outro ciclo histórico em que percebemos a decadência do ocidente como unidade politica foi com a queda do império romano, quando Constantino dizimou qualquer possibilidade das Ciências, das Artes e das Religiões constituírem suas instituições, desunindo e desarticulando milhões de pessoas em três continentes, resultando mais tarde num mundo medieval permeado por medo, pestes e retrocessos culturais, crueldade e mortes.

Esse desencadeamento ou desdobramentos acima expostos demonstra-nos a importância da História e de sua lógica permeada por ciclos. Ao historicizar acontecimentos, fatos, deslocamentos, ocupações territoriais, formas de organização no tempo, no espaço e nas relações de poder e comércio, a História oferece um sentido para reflexão da vida humana, da nossa existência. Ainda vale pensarmos que a História também se fundamenta numa evolução humana em relação a escrita, ao pensamento, a linguagem, as artes, as ciências e as tecnologias.

Destacamos também uma ordem de sentidos que dão sustentação a História como desenvolvimento geológico, cosmológico e religioso. Entretanto há culturas e organizações sociais em que não se dão tanto peso a importância da História, não como fim, mas como narrativas, em sociedades de tradições oralizadas.

Sendo assim, ao considerarmos o ser humano dotado de logos, permeado pela harmonia da natureza e pela matemática que a origina, também compreenderemos a História como uma organização lógica e complexa de ser composta e analisada em seus elos de interligação e aspectos de independência.

Muitas foram as culturas que não conheceram a História como Ciência, mas todos de alguma forma a viveram como Filosofia, levados por imprevistos e acúmulos de circunstâncias que conduziram esses povos a buscar um sentido e significado para os fatos, originando a Filosofia da História.

Temos, entretanto, nessa reflexão duas formas de ver processos históricos que são os fatos temporais e os fatos atemporais.

O que fundamenta os processos históricos temporais, por exemplo, são a observância de vários aspectos como: geográficos, raciais, filológicos, sexuais, políticos, religiosos ou intelectuais que se modificam de acordo com território, culturas ou tempo histórico.

Já os processos atemporais são marcas ou símbolos que nos trazem a eternidade. Uma boa ferramenta para verificarmos essa atemporalidade são os arquétipos. Os arquétipos são carregados de ideias e imagens (símbolos) fixos que nos transmitem uma mensagem independente do lugar, da cultura ou do tempo histórico.

São esses arquétipos fixos que podem nos fazer refletir sobre os ciclos e ritmos históricos. Quando refletimos sobre o Mito da Caverna por exemplo, partimos de uma reflexão de uma jornada individual, que se desdobra para a sociedade, mas também podemos refletir sobre a Historia, assim todos os arquétipos do mito se inserem dentro da Historia da humanidade. Mas o caminho inverso também é possível. Se pensarmos nos ciclos históricos e em tantos arquétipos quer estejam localizados nos mitos ou não, podemos associar a algumas perguntas existenciais de nossa jornada individual. Por exemplo, as questões: quem eu sou? De onde vim? Para onde vou?

Responder a essas questões existenciais nos leva a considerar que ao usarmos a capacidade de manas, ou parte Inteligente, se constitui como uma chave para transformação individual, coletiva e histórica que é a Educação – tirar de nós aquilo que já temos dentro – e encontraremos um caminho para essas respostas, para recordar a nossa Sabedoria.

As imagens arquetípicas também são chaves importantíssimas que nos ajudam nesse caminho, mas primeiramente é preciso que a gente reafirme que o campo dos processos individuais (individuação), os processos sociais ou coletivos (Sociedade) e os processos históricos, podem e devem se utilizar desses arquétipos como pistas para descobertas do caminho evolutivo. Assim como pensar na Educação como chave, bem como na espiral evolutiva em ciclos e ritmos, também devemos relaciona-los, aos campos, individual, social e histórico.

Vejamos por exemplo, a imagem arquetípica da Floresta. Uma Floresta é um sistema vivo, composto de vários organismos vivos, que vivem e morrem isoladamente o tempo todo, em processo de transformação, de retração e de expansão, de vida e de morte, de florescimento e de livramento de constantes elementos. Nascem e morrem pequenos arbustos, flores e frutos que retroalimentam a terra. Nascem e morrem pequenos insetos e animais. Mas também sabemos, que uma Floresta vive as quatro estações, onde para cada uma delas, precisará, enquanto sistema, viver ciclos de calor, frio, ventos, tempestades, serenamentos, hibernações, florescimentos, queda de frutos e folhas, adormecimentos, despertares, amanheceres, entardeceres e anoiteceres. Todos esses ciclos e ritmos são importantes para a respiração da Floresta, para a manutenção da vida do seu sistema e caso haja qualquer interferência nesse sistema vivo, haverá um desorganização ou desequilíbrio.

Esse exemplo arquetípico posto para qualquer tempo histórico, lugar ou cultura, pode nos remeter a uma atemporalidade e ritmos que são naturais a vários sistemas vivos e a um aprendizado importante sobre nós mesmos, sobre nossa sociedade e sobre a Filosofia da História.

Como esses ciclos e ritmos acontecem dentro de nós? Em nossa sociedade? Na História de cada cultura ou na História da humanidade? E nesses ciclos e ritmos percebemos a importância ao respeito de Leis que se desobedecidas, podem alterar a vida no sistema.

Como considerar, respeitar e permitir a fluidez dos ciclos e seus ritmos nos diversos organismos vivos? No nosso corpo? Na nossa sociedade? Na nossa História? Ou seja, nosso Eu-Coletivo e nosso Eu-Individual? No nosso Planeta Terra? No nosso Cosmos?

Para finalizar, é preciso que consideremos que mexer dentro de nós, altera significativamente o fora de nós e é o único lugar que temos a potência da autoridade e governança. Portanto, o convite para jornada interior, para saída da caverna, pode trazer respostas de mudanças também para a sociedade, para a História, para a vida humana no Planeta Terra.

Aproveito essa reflexão para deixar aqui um vídeo que me encheu de reflexões profundas sobre a Vida e nosso Planeta Terra nessa era da pandemia de coronavírus. 

E por fim te convido a conhecer Nova Acrópole caso você queira ser um Acropolitano ou uma Acropolitana como eu: acropole.org.br

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E aqui venho humildemente de pedir pra colaborar com a difusão do Premio IBEST para nossa querida Escola de Filosofia, onde você pode votar nas categorias: desenvolvimento pessoal  e Cultura e Curiosidades. 

Premio IBEST – Segunda Fase
Nosso Podcast passou para a segunda fase do Prêmio iBest 🏆 ! Obrigada pelo seu apoio e votação na primeira fase 💪🏻.
Para passarmos a fase final, precisamos do seu voto em duas categorias, segue abaixo👇

✨Desenvolvimento Pessoal   https://ibest.vote/393154118

✨Cultura e Curiosidades   https://ibest.vote/491276113 

 

Agradeço como sempre sua visita nesse Jardim que não é de Epicuro, mas inspirado nele, traz o arquétipo transformador da Mariposa, que estamos precisando e muito. Deixa aqui embaixo o seu comentário e compartilhe nas suas redes sociais.

Teatro-Documentário , Contos Épico Narrativos e Story Telling- por Naíme A Silva

 
A semana passada foi mais uma semana impactante pra mim no mundo das artes. Fiz uma oficina fantástica de Teatro-Documentário com o Prof Dr.  Marcelo Soler.
 
Aprendi que nós atores e atrizes, temos uma influência profunda com o teatro ficção numa concepção modernista e que o Teatro-Documentário traz a potência  do pacto documental. Essa outra maneira de pensar as artes da cena constitui-se como uma nova forma de fazer  teatro contemporâneo. 

Um jeito novo de se viver o teatro, a realidade social, as poéticas, as expressões criativas! 

Nessa oficina pude fazer dois rascunhos cênicos documentais: 

Nesse primeiro rascunho, eu tinha que me apresentar de maneira documental. Trouxe como documento, elementos cênicos que sim, falavam de mim, mas eu ainda não tinha compreendido a força e potência do pacto documental e acabei trazendo uma apresentação de mim mesma de forma muito ficcional. Ficou assim:

 

Na segunda apresentação, a proposta foi trazer  uma cena da pandemia.

Aqui  me debrucei sobre um tema dentro da pandemia, mas me preocupando em não estabelecer o mais do mesmo ou uma forma clichê. Assim, precisei fazer uma pesquisa sobre o tema, uma pesquisa documental, a busca dos elementos cênicos como documentos, a formulação de um texto/ relato, a gravação desse texto/relato em um áudio, a escolha de uma música que também pode ser considerado um documento.

Outra situação interessante foi que eu pedi avaliação de duas pessoas antes de submeter o rascunho na oficina e meu objetivo era avaliar o pacto documental no olhar do interlocutor do rascunho cênico documental. As impressões que tive me levaram a refletir sobre a força do documento explícito e sua veracidade, bem como de documentos implícitos ou que evocassem a imagem de documentos factuais.

O tema que escolhi eu já havia feito dele um conto de fadas, um poema e Story Telling.

O assunto desse tema foi o estupro da menina de 10 anos por seu tio e sua saga por hospitais de vários Estados Brasileiros para a realização de um aborto, e mesmo depois da justiça determinar a autorização do procedimento, eu quis trazer a reflexão de todas as humilhações e violências institucionais vividas pela menina. 

Nessa pesquisa eu trouxe muitos documentos explícitos como matérias jornais da época e implícitos como bonecas, mochilas, massinha de modelar, alça de sutiã que serviu de amarras aos olhos e boca da boneca. Importante lembrar que tanto no primeiro rascunho, quanto no segundo, eu tinha menos de um minuto pra cumprir o desafio e mesmo assim extrapolei o tempo. Abaixo o Vídeo/Teatro-Documentário Pandemia_2020 e os documentos/elementos cênicos escolhidos:
 

 
 
Meu poema foi citado num dos episódios do Podcast Chutando a escada, no link abaixo, bem como publicado aqui no Jardim da Mariposa conforme links abaixo:
 
 
 
O Jardim da Mariposa :

Perdoa, Criança Divina!

Quinze dias antes eu tinha realizado um curso de Story Telling com o Prof Dr Ivan Mizanzuk, onde aprendi técnicas muito parecidas com o teatro-documentário, mas num contexto Literário e com metodologias de autores estadunidenses bem específicas de contar histórias.
 
E assim, pude reescrever um conto que havia escrito de forma épico-narrativo, agora na metodologia do Story Telling, que compartilho aqui com vocês:
 
Quero contar pra você que esse trabalho com o conto de fadas, foi provocado pelo meu diretor de Arte, prof Adanias de Souza, do nosso grupo de teatro Acorda Alice, que já tem mais de 35 anos. Esse trabalho está se constituindo num projeto tão grande e incrível que me fez estabelecer parcerias com artistas maravilhosos no campo da música, que na altura certa, eu venho divulgar aqui pra você, flor do meu Jardim.
 
Aguardo gentilmente seus comentários sobre meu trabalho que vai se descortinando aos longo de tantas décadas, sobre as Artes da Cena, as artes dos contos épico-narrativos, as artes das histórias, das poéticas, da composição musical, da Filosofia, da Arteterapia de Base Junguiana, da Literatura e da Educação de crianças pequenas e supervisão e formação profissional de professoras/res.

Agradeço aos mestres incríveis Marcelo Soler, Ivan Mizanzuk e Adanias de Souza pela profundidade desses conhecimentos e vivências práticas da Arte da Cena e do Campo da Literatura. 

Uma busca eterna pelo crescimento espiritual e pela Sabedoria

Há algum tempo, eu venho querendo escrever sobre minha jornada rumo a Filosofia, mas as coisas sempre acontecem quando têm de acontecer e esse dia chegou. Então venho aqui contar pra vocês desde quando e como vejo essa minha trilha em busca de uma evolução espiritual pela Filosofia.

Quando eu ainda era bem pequenina eu me encontrava em pensamentos sobre quem eu era, porque estava viva, porque havia nascido onde nasci, filha de quem eu era e o que de fato representava a vida que me habitava.

Cheguei a pensar que todas as pessoas do mundo eram seres minúsculos que habitavam um Grande SER e dentro do corpo Dele fazíamos tantas cidades, tantos países, tantos Universos. 

Contemplava por horas os formigueiros de nosso quintal e pensava que de fato aquelas formigas, viviam sua vida sem sequer darem-se conta de que haviam tanto além delas, e que por mais que eu aproximasse meu rosto bem pertinho do formigueiro, elas não me enxergariam, não teriam medo de mim, nem sabiam que corriam risco de eu pisar sobre elas e assim matá-las. E num lampejo reflexivo, eu pensava que conosco, seres humanos, também podia acontecer da mesma forma, igualzinho aquele universo das formigas. Podiam haver gigantes a nos observar? Podíamos estar vivendo nossas vidinhas ao acaso sem nos darmos conta da grandeza da vida? Sem ao menos sequer que a qualquer momento podíamos ser pisoteados, caso quem nos contemplasse não tivesse compaixão ou amor a qualquer ser vivente?

E assim eu cresci, entre formigueiros, árvores frutíferas e pensamentos cheio de filosofia, sem eu também nem saber o que era Filosofia.

Já adulta, quando eu era diretora de creche, minhas igualmente amigas diretoras, me apresentaram verdadeiramente a Filosofia pela sabedoria de Epicuro e ali passávamos muitos momentos a filosofar. Chegamos a construir encontros regados a vinho, frutas e queijos pela alegria degustar o conhecimento na amizade verdadeira. Nosso Jardim Epicurista. 

Mas foi há dois anos que resolvi que precisava ir para uma escola de filosofia. Essa busca , esse anseio em minha alma, precisava de encontros, precisava de uma guiança espiritual profunda, precisava de Mestres. Eu desejava ser discípula. 

Foi assim que me matriculei na Organização Internacional de Filosofia Nova Acrópole, uma escola com valores práticos muito bem definidos que fez e faz meu coração saltar de alegria e gratidão todos os dias. 

Resolvi hoje vir aqui contar pra vocês porque gostaria de pedir uma graça de vocês, meus leitores e leitoras amados/as. Nossa amada escola está concorrendo a um prêmio IBEST 2021 em três categorias:

a) Desenvolvimento pessoal;

b) Podcast;

c) Cultura e  curiosidades.

Aí pensei, porque não vir aqui divulgar a Filosofia a Maneira Clássica de Nova Acrópole de uma forma mais qualificada aos meus leitores, ao invés de só pedir pelas redes sociais?

E o jeito que eu encontrei que penso ter mais qualidade pra fazer isso,  é contar pra vocês sobre como estão hoje minhas reflexões, sobre a minha prática como discípula , sobre meu amor a busca pela Sabedoria. 

Vou então deixar aqui pra vocês duas postagens minhas de dois artigos diferentes. Um sobre a cátedra de Ética e outro sobre Sociopolítica e Filosofia da História, mas vou separar em duas postagens para facilitar o sabor da leitura. No final de cada postagem eu deixarei pra vocês o link da escola pra você conhecer e do prêmio pra você votar.

ÉTICA

Não há ninguém, mesmo sem cultura, que não se torne poeta quando o amor toma conta dele. Platão

 

A Filosofia é o amor à sabedoria realizada numa eterna busca.

Uma busca sem apego, uma busca imparcial, no desapego de achar que se sabe tudo. Essa busca é realizada no caminho de um buscador que vai perseguir uma trilha para respostas acerca de nossas inquietações sobre a vida e a morte.

Uma busca que provoca um eterno movimento de ideias, que tira camadas, até verificar a verdade nua. Para ir nesse caminho com profundidade, o buscador necessitará de tempo e atenção para ver a sabedoria nas pequenas e grandes coisas que a natureza e a vida nos colocam a disposição.

E na simplicidade e mistérios da vida, o buscador constrói sua jornada rumo a sabedoria. Importante também que o buscador observe os ciclos da vida, para que essa busca, essa jornada, se traduza numa experiência vivida em seu tempo histórico. E essa busca objetiva o encontro da unidade nas questões atemporais da existência, um encontro por uma postura Ética.

As antigas civilizações e culturas reconheciam o ser humano numa integração de  sete(7) componentes, chamado constituição septenária.

Essa forma de ver o ser humano revela-nos uma concepção humana vista como um modelo, um mapa, reveladora de chaves para compreender uma unidade.

Essa constituição seria como sete(7) corpos integrados numa unidade que animam a vida humana.

Esses corpos são delineados em: Quaternário, composto pela parte física, energética, emocional e mental, a antahkarana que seria uma ponte, um elo de ligação e a tríade, a parte espiritual.

Como num desenho geométrico um quadrado abaixo que define a parte quaternária, um pequeno “pescoço” em retângulo em pé, que será a ligação, a ponte, chamada de antahkarana e por fim um triangulo que representa a tríade.

 

 

Quaternário

  • Corpo Etéreo- físico (Stula Sharira): visível aos olhos com tamanho, forma, peso, o que veste os outros corpos, uma parte física que nos permite o plano das sensações.
  • Corpo energético (Prana Sharira): Formada pela força vital que nos anima como temperatura, ritmo cardíaco, pulsação, sinais e funcionamento dos órgãos vitais que são elementos coesos e integrados numa ordenação vital. Quando ocorre a morte desse corpo, todos os elementos antes integrados em átomos, moléculas e tecidos, perece.
  • Corpo emocional (Linga Sharira): Composto por um estado de animo que congrega emoções, cuja interações influenciam na vitalidade e no corpo etero-físico, dando a tônica de nossas ações.
  • Corpo mental dos desejos ou mente concreta (Kama Manas): É interpretada como mente egoísta, especulativa, que trabalha para o Deus inferior, para as questões egóicas e intermináveis do mundo dos desejos. Lugar da ganancia, orgulho, medo, da sede de poder. Preocupa-se apenas com a satisfação dos sentidos, das emoções e dos sentimentos.
  • Corpo da Mente pura (Manas): Faz o contraste da mente concreta. Onde faz morada os valores elevados, o altruísmo, a prestação de serviço a beleza, a bondade, a justiça, a verdade, harmonia.
  • Corpo intuitivo ( Budhi): captura a verdade de forma direta e espontânea, onde a expressão de vida é completa.
  • Corpo da vontade pura ou espirito (Atma): O Divino em nós, a Vontade Superior, nossa Essência, o que há de mais Puro e Grandioso em nós, nosso Eu Maior, Eterno, que continuará sendo Sempre.

Também vale a pena mais dois destaques em relação a esses sete (7) componentes na constituição septenária:

  • Antahkarana ou a ponte, o elo de ligação entre a parte quaternária do corpo/personalidade humana e a tríade Superior conhecida como Ego.

Nesse elo de ligação reside a jornada que devemos fazer para subir o degrau de um corpo inferior a outro superior, do nosso mundo instintivo ao nosso mundo espiritual. É um espiral, onde devemos fazer uma saga interior para escalada, é nesse “lugar” que está o desafio da Jornada, é onde imperamos a matéria sobre o espírito, assim a conquista do Espirito exige de nós um sacro-oficio.

  • A constituição septenária também pode ser análoga aos reinos da Natureza, onde o físico estaria para o Reino Mineral, a vitalidade para o Reino Vegetal, as emoções para o Reino Animal irracional, a mente concreta para os animais racionais, o Seres Humanos e a tríade para nosso sistema solar, mente pura, nossa galáxia (Via Láctea) o intuitivo e o Cosmos ou Universo como a Vontade Divina ou Espirito.

Para compreendermos o Dharma e Karma como Leis da Natureza, façamos uma breve divisão didática.

Karma é a correlação de causas e efeitos em relação ao Dharma. Ele apresenta ciclos curtos em relação aos aspectos pessoais. Já o Dharma apresenta um caminho mais longo e exige uma ampliação da consciência e a responsabilidade sobre esse processo. O Dharma e o Karma apresentam-se tanto na esfera individual como coletiva.

O Karma nesse sentido se referencia no Dharma , como um rio que chega ao mar, com um sentido próprio, como uma ação justa em busca da LEI que seria o Dharma. Assim, nossa jornada reside em compreender a Lei do Dharma, para encontrar nossa direção para o Karma. Nesse caminho, geramos um Karma com dores e sofrimentos ou geramos luz, conforme vamos nos conhecendo e expandindo consciência? Como tirar a lágrima da dor, sem tira a dor de nossa alma, e que assim construa nossa humanidade?

Desse modo, o Dharma individual se expressa no sentido da vida, dando um sentido aos nossos ideais, para nossa vocação, para aquilo que viemos fazer, estar a serviço.

Na grande epopeia do Mahabharata, temos um extrato que narra uma guerra em família para a conquista da cidade de Hastinapura: o Bhagavad-Gita.

Nele, por exemplo, poderíamos dizer que o Dharma é a canção do Mundo, e a conquista de Hastinapura é a busca pela sabedoria e essa Lei do Mundo é a Ética, onde necessitamos viver em harmonia com a canção do Mestre.  A luta entre Pandavas e Kuravas, simboliza nossa guerra interior entre as forcas do deus inferior quaternário que tudo farão para que não cheguemos a conquista de Hastinapura, a nossa cidade de Sabedoria, a nossa tríade, a conquista dos valores elevados em nós.

Nesse cântico do Bhagavad-Gita, temos Arjuna, o Guerreiro, que também expressa a humanidade, pois dentro de cada um de nós reside um Arjuna convocado ao campo de batalha para a conquista da Sabedoria e da Ética. Temos também, Krishna, o Mestre ou a Suprema Divindade, outra parte em nós, a nossa voz interior que nos guia, nos fortalece e nos apoia a enfrentar e vencer batalha ou luta contra nossos Kuravas, ou nossos egoísmos, ganancia e poder. E nessa luta, quando ouvimos a canção do Mestre, permitirmos que nossos Pandavas, nossos valores elevados conquistem a sabedoria.

Uma passagem do Bhagavad-Gita que me chamou atenção foi a seguinte:

“Arjuna tenta justificar seu medo dizendo que se matasse, destruiria as tradições familiares e afundaria no inferno todos os seus parentes. “

Percebo que todos nós em alguma medida maior ou menor, temos medo de enfrentarmos a jornada para a qual recebemos o chamado e muitas vezes nem queremos ouvir o chamado. Não queremos ouvir a canção. Parece que ficamos identificados com uma parte de nós que já conhecemos e nela nos apegamos, não querendo matá-la. Essa parte onde reside a vaidade, o desprezo, o egoísmo a miséria interior. Talvez um medo de abrir mão de crenças e valores ilusórios e vagar num vazio desconexo e sem sentido. Mas essa é exatamente a ilusão de quem desconhece Hastinapura, a cidade que também reside em nós, a sabedoria. E como ouvir essa voz de Krishna em nós?

Ouvir a voz do Mestre, também pode ser expressa na voz do Silêncio, como também nos ensina a filosofa e tratadista do século XIX, Helena P. Blavatsky.

Antes, entretanto, vamos falar um pouco dessa intrigante mulher.

Helena Petrovna Blavtsky nasceu ao sul da Rússia, na cidade de Ekaterinoslav, de parto prematuro, na noite entre 30 e 31 de julho de 1831. Conta-se que alguns estranhos acontecimentos ocorreram no momento de seu nascimento, bem como em seu batismo como presságios de uma futura vida tumultuada. Conta-se também que sua história é a própria historia da Rússia, descendendo de ancestrais poderosos e altivos, o que leva Helena a ser uma filha tanto quanto desobediente as regras impostas, entretanto nunca perdendo de vista que suas ações não poderiam ultrapassar os limites da honra de sua familia.

Aos 11 anos, passa a ser criada pelos avos Fadéef, após a morte de sua mãe, uma ilustre escritora. Passou então a viver numa antiga mansão, onde seu avô era governador na cidade de Saratov, e onde moravam outros familiares e grande quantidade de criados.

Helena P. Blavatsky tinha uma extraordinária capacidade psíquica, revelando ter habilidades de se comunicar com mundos sutis e invisíveis que para toda gente não existiam. Ela também foi uma linguista habilidosa e uma admirável musicista. Pela influencia de sua avó, Helena P Blavatsky desenvolveu um senso científico, assim como recebeu de herança familiar faculdades para com literatura.

Ainda jovem, aos 17 anos, em 1848, teve que se casar com um general e governador da cidade de Erivan, bem mais velho que ela e conta-se que caindo em seu desagrado, após três meses do casamento, fugiu para casa de outros familiares que a enviaram a casa de seu pai. Entretanto, com receio de que a forçassem a retornar ao casamento, fugiu novamente, dando inicio a uma jornada de aventuras pelo mundo, ajudada financeiramente pelo pai. Precisou, ao que parece, manter-se afastada da Rússia, para que sua separação do marido fosse considerada legal.

Em 1851, agora chamada de Madame Blavatsky, encontrou aquele que seria seu mestre, seu irmão, seu protetor, seu maior adepto: Dr. H.S. Olcott, que conjuntamente com outros intelectuais em 1875, fundam a Sociedade Teosófica. Escreveu entre tantas obras, Isis em Véu e A Doutrina Secreta.

Morre em 8 de maio de 1891, na cidade de Londres, deixando um grande e importante legado ao mundo.

Interessante observarmos a trajetória dessa brilhante filosofa, porque pelo que pareceu viveu em muitos momentos uma vida de aventuras e loucuras, não sabemos até que ponto permeada pelos seus desejos ou instintos, mas algo dentro dela, desde quando estava non seio de sua familia parental, dizia-lhe para preservar sua honra e a dos seus. Quantas vozes internas Helena Blavatsky deve ter enfrentado? Quanto esforço deve ter empreendido? Levanto essas questões para humaniza-la e retirarmos também dos grandes filósofos uma idealização de perfeição e genialidade sem dor e luta interior.

Para continuar o diálogo sobre a constituição septenária, gostaria de trazer um trecho do livro A voz do silêncio:

Se através da sala da sabedoria queres alcançar o vale da Bem-aventurança, Discípulo, fecha teus sentidos à tremenda e grande heresia da separatividade que te aparta dos demais. (BLAVATSKY, HP, 2010, p.67)

Analiso o seguinte trecho comparando mais uma vez a constituição septenária em nível individual como também coletivo, pois para expandir a consciência dos valores elevados que nos fazem entender que estamos em unidade, se faz necessário desapegar de valores da mente concreta da separatividade, do egoísmo, do desejo, do individualismo, da propriedade que levam a um ilusório autoengano. E assim, como no plano da guerra interior de nossa alma, podemos compreender essa relação também na Sociedade e na História da Humanidade. E nesse caminho coletivo, nossa trilha individual no reconhecimento de que em nós há uma alma humana que pode ajudar a despertar outras almas humanas na busca pela sabedoria, também nos desperta para nossa unidade. Lembrei também da máxima citada pela Prof.a Fabíola: Tudo o que nos une não é ilusório, mas é verdade para tudo aquilo que nos separa.

Essa máxima me remete ao mito de Buda em relação as 4 verdades que achei bem curioso:

A Rainha Maia sonha com um elefante branco e fica grávida. Assim como Mãe Maria e menino Jesus, nasce Siddhartha Gautama. Entretanto, já nasce andando e ao faze-lo dá 4 passos sob os 4 pontos cardeais, donde nascem flores de lótus.

         Interessante observarmos a força do número quatro (4) no Mito de Buda, que por meio de sua saga, também nos traz o ensinamento das quatro (4) grandes verdades. Antes de destacar as quatro (4) verdades, gostaria de resumir o mito pra que possamos compreender essas  nobres verdades budistas.

         Siddhartha Gautama nasce numa corte de imensas riquezas, onde seu pai o Rei queria a todo custo protege-lo da dores e mazelas humanas. Entretanto, havia algo em Siddhartha que o impelia a busca de compreender a existência humana.

Pediu então ao pai para um passeio pelos arredores do reino pelo que seu pai ordenou que um cocheiro e sua carruagem os guiasse. No seu trajeto deparou-se com um doente, um velho e um morto e experienciou uma dor aguda que o levou a uma profunda reflexão: como é possível desfrutar de riquezas no interior de seu reino, quando fora dele há doença, envelhecimento e morte?

         Foi sob esses pensamentos, que deixou o palácio real de seu pai, para entregar-se a uma vida humilde, sem bens e em profunda meditação acerca das misérias humanas. Em sua caminhada, consultou grandes mestres e realizou terríveis sacrifícios corporais, não conseguindo encontrar as respostas que procurava. Somente encontrou seu corpo a definhar, pois já não comia, na tentativa de compreender as dores humanas. Estava quase a definhar quando foi socorrido por uma filha de um pastor que ofereceu-lhe alimento, retirando-o de um estado que quase o levou a morte física.  

         Nesse instante, Siddartha compreendeu que uma postura extremada não nos leva a compreensão humana, a expansão da consciência e a consequente libertação da alma. Compreendeu assim, que somente o Caminho do Meio conecta ao Caminho da Lei. Foi nesse momento que recebeu a iluminação, livrando-se dos laços do nascimento, velhice, doença e morte.

Comparo aqui com a passagem de Blavatsky, pois um dos laços que dificultam a libertação humana é a ilusão de separatividade conforme citado acima em HPB.

         Para o caminho da libertação humana e processo de iluminação, Buda nos ensina quatro (4) nobres verdades, conforme a seguir:

  1. Todo e qualquer ser Humano é impactado pela dor do nascimento a morte. A dor faz parte da trilha humana, pois se caracteriza como nossa essência.
  2. A segunda nobre verdade é sobre a causa da dor, que reside no fato de que tomamos a ilusão por uma realidade e nos esforçamos por possuir e manter objetos que estão destinados e extinguir-se. Nossa dor se dirige a um mundo fadado ao fim, onde nada se sustém, onde tudo se esvai e nossa angustia é uma existência num tempo que igualmente se esvai.
  3. Fala sobre a cessação da dor, pois ao direcionarmo-nos ao Eu Superior, a dor cessa. Isso se dá, porque quanto mais desejamos, quanto mais buscamos recompensas, mais Karma carregamos, obrigando-nos a repetir o caminho, até chegar o momento de nossa compreensão e dirigirmo-nos a reta ação, desapego e realinhamento com a LEI, o Dharma.
  4. Por fim a quarta nobre verdade nos coloca uma mandala, o nobre Óctuplo Caminho, constituído por:
  • Retas opiniões.
  • Retas intenções.
  • Retas palavras.
  • Reta conduta.
  • Reto meio de vida.
  • Reto esforço.
  • Reta atenção.
  • Reta concentração.

       

Essas quatro nobres verdades de Buda, me lembram um epigrafe de Aristóteles, que é um grande desafio diário a todos que buscam a sabedoria, que retirei do livro A Ética, textos selecionados e que diz:

A Virtude não é um afeto nem uma potência, mas um hábito. (ARISTOTELES, 2017, 3aED, p. 54)

         Se as quatro nobres verdades, ou mesmo o caminho da verdade, da unidade, compreendermos que nessa uma trilha encontraremos a felicidade, nos desperta a pergunta: mas como sabemos estar no caminho lógico da Verdade?

         A moral para Aristóteles deve ser a busca da felicidade. Mas essa busca tem objetivos? Tem finalidade? Tem um meio? É transitória ou permanente? Tem dor? Se conquista?  É um momento da vida ou é um estado de espírito? Conhecimento teórico pode trazer felicidade?

         A pergunta para o próprio Aristóteles era: qual a felicidade própria do ser humano ou da natureza humana? 

         Para o pensamento aristotélico, o Bem é o fim de todas as ações e o Bem Supremo é a felicidade.

Entretanto, a felicidade não tem significado igual a todas as pessoas. Alguns enxergam a felicidade no prazer das sensações, outros nas posses sobre as coisas, ou poder sobre as coisas e a natureza. Mas para Aristóteles, o caminho para a felicidade é aquilo que é próprio da alma e se faz necessário um exercício do Bem como virtude, para que a própria virtude cresça e o exercício para fazer crescer a virtude em nós se constrói num processo da consciência.

Esse caminho de consciência de crescimento da virtude em nós, se inicia identificando que sou. Quanto nos dedicamos a esse exercício todos os dias? Essa tarefa carece de uma intenção que dirija minha conduta. Assim, o objetivo desse esforço faz a união da teoria com a prática, defendida pela academia aristotélica, um treino das virtudes para o alcance da felicidade.

Continuando nosso diálogo sobre o caminho da Verdade, do Bem, do exercício das virtudes para o alcance da felicidade como princípio Ético, chegamos a Confúcio, que teve suas ideias intensamente inseridas em seu contexto histórico-social e que influenciou fortemente o pensamento chinês, quando trouxe a ideia de romper a separatividade entre Política e Ética.  Essa quebra de paradigma intencionava instaurar um regime ético-politico com fim de alcançar a fraternidade, concórdia e harmonia, desapegando-se de qualquer misticismo.

Assim, a Ética de Confúcio nos ensina a operar em dois movimentos: no Reino de Lu, que seria de uma ordem social racionalizada, levando a uma paz, harmonia e colaboração coletivas. Mas para que isso opere como ordem social, precisamos atingir o Reino de Ju, que se dá na mudança de cultura individual, pois para se conduzir a educação no âmbito da sociedade, carecemos construí-la sob as bases das qualidades humanas, nos ensinando que a ordem política é fruto de uma ordem ética. Essa ética constrói em nós os sentimentos de honra e respeito, cujo precisamos assumir uma postura diante de nossos erros e responsabilidades para compreender os outros. O que tenho a oferecer aos outros e ao mundo? Essa é a pergunta desse homem ético para Confúcio, o homem JU.

         Mas para Confúcio também desenvolver-se nessa Ética do Homem JU, assim como o pensamento aristotélico, requer uma educação continuada de si mesmo, uma mudança de cultura, um cultivar-se, um auto cultivo que exige constância, perseverança, permanência, manutenção, cuidado.  Assim, o Homem JU é uma conquista permanente, que exige trabalho e intensão, dedicação.

Mas no exercício para busca interior do Homem JU em nós, nos deparamos com que Plotino chamava de Vênus Urânia e Vênus Pandemus em nós.

         Antes vejamos quem foi Plotino. Um grande filosofo egípcio, que aos 28 anos começa a estudar filosofia tendo como mestre Amônio Saccas que reunia vários pensamentos da filosofia grega. Durante 11 anos então, Plotino frequentou a escola de Amônio.

         Após esses 11 anos quis aventurar-se a uma viagem a India, unindo-se a uma expedição rumo a Persa, donde pode escapar e regressar a Alexandria.

         Com 40 anos, viajou para Roma e abriu sua própria escola de Filosofia nos mesmos moldes de Amônio, por tradição oral e para poucos ouvintes.

Plotino vivia de forma humilde, como trabalhador carregador de sacas no porto.  Essa época vivia uma efervescência quanto ao conhecimento fazendo com que todos quisessem ter seus filhos educador por Plotino.

         Fiel seguidor do pensamento de Platão, seu ideal era fundar uma cidade de nome Platonópolis, regida pelas Leis de Platão.

         Um pensador apegado a verdade, que caracteriza como um pensamento hermético, metaforicamente, como aqueles que buscam descobrir algo em mergulho no mar bravio, na busca de uma pérola fechada numa concha no profundo das águas. Essa tarefa exige coragem do buscador e esse era Plotino, que inspirou o nascimento da Renascença.

         Todo seu pensamento parte da contemplação na união com Deus, que nos leva a um estado de êxtase, que sempre descrevia com intenso afeto e emoção. Plotino então, parte de uma tríade: Ser, inteligência e criação. Para ele, a realidade se constitui única e absoluta e se impacta no Cosmos e se expressa na emanação. Assim, o Ser é energia e se potencializa no UNO. Entretanto para o reconhecimento do UNO, precisa da potencia da inteligência que se concretiza na criação.

         Nesse pensamento de Plotino, ele também nos ensinava sobre a alma e dizia que o mal não é próprio da alma, mas uma parte decorrente da queda na pluralidade do mundo manifesto, dividindo nossa alma em dois movimentos ascendente e descendente.

         Nesse caminho quando dirigimos nossa energia para a espiritualidade, podemos “mais Ser”, mas, contudo, se dirigirmos nossa energia para regiões pluralizadas onde o ódio faz cisão, a alma desconhece a si e as demais almas.

E o que é alma? Alma é uma instancia atemporal. E como diria o pensador Carl G Jung, a alma humana deve fazer um caminho inverso de retorno a própria origem, um transito de retorno a unidade, ao centro do SER. Assim, temos em nós um Ser atemporal que se movimenta para a emanação, para sua própria essência.

Entretanto Plotino dizia que precisamos movimentar nossa alma em direção a essência de forma consciente por meio da meditação, reflexão dessa jornada interior.

E como se dá esse movimento consciente? Há um movimento natural da contemplação que são direcionados a unidade, universal, o todo, UNO. Essa seria a alma que supera um limite, mantendo a consciência elevada. Mas como conseguimos nos superar sem render-se aos impulsos de fora?

Plotino nos diz que a alma também carrega uma mochila de apegos, lembranças, memórias do passado, e não pode por esse peso que carrega, parar para o trabalho da contemplação, descendo assim ao mundo manifestado de nossas personas.

Para subir e contemplar e depois descer e organizar e ordenar nossas vidas nos retos pensamentos, conforme aquilo que a alma contemplou, é a nossa jornada para “Mais SER”. Ou seja, organizar sua vida no momento da contemplação, momento esse que se viu como UNO e a descida para organizar sua vida viver a alma em UNO.

Para Plotino, o que impulsiona a alma as coisas do mundo é o amor.

Assim a pergunta que cabe ara pensarmos a filosofia de Plotino é: Com tantas pessoas que amam uns aos outros, porque ainda nos perguntamos se existe de fato o amor?

Se buscarmos Vênus como referência na mitologia veremos que ela foi a Deusa Romana do amor e da beleza.

         Há algumas controvérsias quanto ao mito de Vênus, pois numa das versões, ela seria filha de Júpiter, deus dos céus, e Dione, deusa das ninfas. Noutra versão da lenda, Vênus nasceu da espuma do mar e dentro de uma concha.

         Como era muito invejada por sua beleza, algumas deusas estavam insatisfeitas com as reações que ela causava nos homens.

Foi assim que Diana, deusa da caça, Minerva, deusa da razão, e Vesta, deusa do lar, pediram ao pai de Vênus, Júpiter, que lhe fosse concedido um casamento.

Certo de que o problema seria resolvido, Júpiter ordenou que ela se casasse com Vulcano, o deus romano do fogo. No entanto, ele era feio e sofria de uma deficiência que o deixou coxo (manco).

Mesmo que a escolha não tenha agradado a deusa, Vênus casou-se com ele, entretanto, manteve relações extraconjugais com outros deuses e mortais.

Uma das mais conhecidas é o relacionamento que ela teve com Marte, o deus da guerra. Com ele, teve alguns filhos, do qual merece destaque Cupido, o deus do amor.

            Assim, uma análise que coloca um zoom sobre o Mito de vênus, compreendemos esse arquétipo que carregamos em nossa alma que traz compensações nas polaridades, pois apesar de Deusa da beleza e do amor, ela se casa com o Deus do Fogo que era feio. Ela o trai então com o Deus da Guerra. A deusa do amor e da beleza é atraída pela feiura e pela guerra. Além disso de seu amor com Deus da Guerra, nasce Cupido, o Deus do Amor.

         Posto isso, podemos agora analisar a Vênus Pandemus e a Vênus urânia em nós. Pandemus que representa “popularis”, é aquela busca do amor aos valores elevados em nós como a Justiça, a Verdade, Bondade e a Beleza, valores arquetípicos e imortais. Vênus Urânia contrariamente aprecia as coisas comuns e se apaixona pela própria personalidade. Há nessa coexistência de almas em nós uma tensão, pois coexistem o amor entre a carência e a abundância.  

         Na Vênus Urânia, a alma tem peso, o peso do coração, da carência do outro, dos apegos, dos desejos, das nossas ações, do Kharma.    

         Na Vênus Pandemus, a energia que impulsiona o amor em nós busca o processo de emanação, a força da natureza, trazendo-nos a unidade permanente, o UNO.

         Nosso exercício então é o de buscar em nós algo mais essencial do que aquilo que temos apego, na busca do “Mais Ser”, em direção a unidade.

         Por fim, depois desse sobrevoo em tantos pensamentos filosóficos, não poderíamos deixar de destacar a profundidade da Filosofia Egípcia.

         O Egito nos traz uma cultura voltada ao Sagrado e aos Mistérios, no período faraônico de 5 mil anos antes de Cristo. Constituído por Narmer, cujo conta-se ser o sucessor do faraó protodinástico Escorpião II (Selk) ou Cá, embora outros digam seja a mesma pessoa, foi unificador do Egito e fundador da Primeira Dinastia, assim, o primeiro Faraó do Egito unificado.

         Fruto de um processo de uma Filosofia temporal, o Egito vive ciclos de eras de ouro, como também de esquecimento e até de desaparecimento.

         Tudo no Egito é grande, o que já traz em sua grandeza, uma capa de mistério que nos deixa perplexos. Como foram construídas as pirâmides? Qual o pensamento egípcio? É tão grandioso quanto sua arquitetura misteriosa?

         Alguns escritos nos trazem pensamentos que pode nos dar uma ideia de como era a Moral e a Ética para os egípcios.  Eles acreditam que o Egito terrestre era um espelho do CEU- No céu as estrelas, na Terra o Egito-  buscavam uma inspiração além das estrelas, um reflexo na Terra que era o Egito.

Para eles o melhor lugar para viver e morrer era o Egito. A vida dos egípcios era como uma navegação, como uma barca, onde poderiam navegar nas aguas do Nilo terrestre, mas também no Nilo Celeste. Eram mundos conectados de uma religião complexa nos detalhes e simples em sua essência.

O ponto de ligação entre o Céu e a Terra era conectado pela imagem do Obelisco, esse símbolo de conexão que também representava o próprio ser humano – pés na Terra e a cabeça ligada aos Céu.

Para os egípcios a divindade principal era a Justiça, representada no símbolo de Maat, mãe, filha e esposa de Rá, ao mesmo tempo. Ela é irmã do Faraó mítico (Osíris ou Hórus) que assegura o equilíbrio cósmico e graças a ela o mundo funciona perfeitamente.

Para eles o conceito de Justiça (Maat) é uma maneira correta de retribuir a vida que habita a alma humana na Terra e viver é o mais importante. E no fim da vida, na morte de cada um, a pergunta realizada era: Fui puro nas ações e pensamentos? Eu fui justo? Essa era o momento do Juízo. Então, o coração de cada humano na morte era pesado numa balança junto com uma pluma, representada pela justiça. Se o coração humano fosse tão leve quanto o peso de uma pluma, tinha o significado da paz interior, da coerência com a Justiça, podendo assim entrar no reino dos Céus. Caso contrario, seria “engolido” pelo Kharma para renascer e repetir um ciclo para prender a ter o coração tão leve quanto do homem justo. Essas Leis da Natureza, representadas pela divindade Thot (Deus da escrita e sabedoria), traziam em vida, uma luta interior, para serem integradas em amor. Esse amor que permitia não apenas que as coisas se unam, mas sobretudo, que se mantenham unidas, provocando o desafio de viver em constante amor.

Para os egípcios as festas eram muito importantes, pois compreendiam que para cada ritmo do ano, ou cada ciclo cada momento tinha que ser festejada. Por isso, festejavam as estações do ano nos solstícios, equinócios, nas altas e baixas do Nilo, as colheitas das plantações quando toda comunidade estava integrada a Natureza e onde todos participavam. Também se festejavam os reinados de Justiça dos Faraós, quando construíam um Jubileu, um templo. Essas festas serviam ainda para integrar as formas de viver a politica com a eternidade do tempo.

         O Faraó tinha que apresentar ao povo um projeto que se relacionasse com a própria evolução do povo, bem como carregado de concepção de Justiça e do Sagrado e nesse sentido nos reforça o sentido que o pensamento egípcio estava assentado numa ideia de atemporalidade.

         As pirâmides foram um símbolo forte dessa ideia, ou seja, um legado, deixado para a eternidade, feitas para perdurarem milhões e milhões de anos.         

         Os egípcios não a chamavam por pirâmides. Quem as batizaram assim foram os gregos. Pir,  significa fogo, porque viam nelas o formato de uma fogueira que buscava a verticalidade dos Céus. Nos intriga saber que os trabalhadores egípcios construíram as pirâmides não por degraus como poderíamos supor, mas de cima para baixo, cujo centro era sustentado por um obelisco, sustentado pelo seu centro, como se simbolicamente nos dissesse que a moral humana pode ser o sustentáculo da Ética humana, seu centro, sua fortaleza.

         Assim, tudo o que acontecia de bom ou de ruim, era atribuído ao Estado na figura do Faraó, que para eles era o Obelisco, a fortaleza, seu centro, sua sustentação. Portanto, havendo uma falha nesse sistema de Governo, nesse Estado, era a falha do sistema piramidal, causando a tristeza e infelicidade de todo o povo egípcio.

         Entretanto, não havia um juiz que a todos julgava. Cada egípcio era seu próprio juiz, tendo cada um seu senso moral e de justiça para se auto administrar, como um advogado de sí mesmo.

         A forma de organização do pensamento egípcio reunia numa só ideia, a politica, a religião e a ciência. Para se construir uma pirâmide era preciso muita ciencia, que gerou um pensamento integrado em busca da perfeição, com cálculos matemáticos e proporção áurea esculpidos no rosto da escultura de Ramsés.

         Essa convergência da Politica, Religião, Ciencia e Arte nos traz uma integralidade na busca da perfeição e atemporalidade.

         Assim o Egito nos mostra ainda nos dias de hoje muito mais que seu conceito de moral, mas nos revela por meio de seus mistérios uma inspiração para as Filosofias no mundo no presente e no Futuro.

Quarentena , São Paulo, 26 de julho de 2020.

 

Esse artigo, faz parte de minhas reflexões da cátedra de Ética em Nova Acrópole, uma escola de Filosofia a Maneira Clássica. Se seu coração palpita pela Filosofia como o meu, te convido a tornar-se um acropolitano como nós, na eterna jornada rumo a Sabedoria, por vezes dolorosa, por vezes numinosa, mas certamente, eterna. Gostaria de agradecer meus mestres e mestras acropolitanos e pedir que você vote em Nova Acropole no premio IBEST 2021.

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Agradeço sua visita nesse Jardim, que não é o Jardim de Epicuro, mas que recebe o perfume de sua amizade, igualmente como nos encontros epicuristas. Vou gostar muito de ler aqui seus comentários. E indico que leia o próximo post que falarei de Sociopolítica Filosofia da História.

Em tempos obscuros, um flashback sobre a importância da Educação Pública Estatal

O depoimento que venho hoje publicar para quem visita o Jardim da Mariposa diz respeito a uma entrevista que dei em 2017 para o canal Caminho Filosófico do YouTube e que me fez a seguinte pergunta: qual a importância da Educação Estatal para a Democracia brasileira?

Na minha última postagem eu mostrei para você um relato de prática publicado na revista Magistério e os 80 anos da educação infantil que falou um pouquinho sobre os Indicadores de Qualidade da Educação Infantil. Nessa entrevista além de retomar os Indicadores de Qualidade da Educação Infantil Paulistana eu também falo do processo de Educação Integral nos CEUs da cidade de São Paulo, ambos como como construtores da democracia participativa na cidade e no país e da importância da Educação Pública para a garantia da constituição do Estado de Direitos e da Educação Pública Laica pra o desenvolvimento de um novo tempo.  Aproveito para deixar a dissertação de mestrado da profa Elaine Jardim que discorre sobre os CEUs que tivemos a honra de contribuir.

São quase 30 minutos de fala que espero possa por meio desse flashback contribuir para reflexões necessárias ao combate do obscurantismo na Educação brasileira.

Deixo algumas referências complementar às suas reflexões.

Referências

BrincaCEU

https://www.caiodib.com.br/blog/brincaceu-une-geracoes-pela-valorizacao-do-brincar/

Indicadores de qualidade da educação Infantil MEC

https://www.unicef.org/brazil/relatorios/indicadores-da-qualidade-na-educacao-infantil

Indicadores de qualidade da Educação Infantil Paulistana

Indic_Ed_Inf_Paulistana.pdf

Jardim, Elaine Aparecida “Meu bairro, minha cidade”: as exposições inaugurais dos

CEUs e as representações urbanas das periferias paulistanas, São Paulo, 2017

http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/103/103131/tde-10102017-153700/publico/ElaineJardimREVISADA.pdf

Portal Aprendiz

https://portal.aprendiz.uol.com.br/2015/08/01/ceus-completam-12-anos-como-referencia-de-politica-para-uma-cidade-educadora/

https://portal.aprendiz.uol.com.br/2016/03/09/para-que-escola-ocupe-o-ceu-para-que-o-ceu-transborde-para-o-bairro/

Portal da Educação- Secretaria Municipal de Educação- PMSP

http://intranet.sme.prefeitura.sp.gov.br/dre-butanta/2016/03/09/ocupaceu-bebes-meninas-e-mulheres-no-ceu-butanta/

Como sempre agradeço sua presença aqui no meu jardim, e espero que você possa espalhar desse perfume, para que novas metamorfoses possam acontecer.

Em Tempos de Matrix

Uma análise critica sobre o horizonte da humanidade nas futuras gerações

Eu e minhas companheiras de Jardim nascemos em uma época em que a internet e os computadores não existiam. A força do rádio e da TV como mídias eram muito mais presentes em nossas vidas. Computadores e o mundo virtual passaram a fazer parte de nossa cultura apenas no fim dos anos 90. Essas reflexões sempre estiveram em nossa relação dialética, fomentando continuamente bons debates. Trago um desses debates nesse ensaio, a qual eu e Magda, no curso de pós graduação em Gestão para a Educação Básica em 2007, na UNIFMU, perspetivamos uma mirada diferente para a geração que iria nos suceder. Obrigada por pousar na flor desse jardim!🌷


Magda Edgmar Rodrigues Rocha
Naíme A. Silva

“Considerate la vostra semenza:
Fatti non foste a viver come bruti
Ma per seguir virtute e conoscenza”

Dante, a Divina Comédia

Resumo

Este ensaio traz uma proposta de levantar algumas reflexões sobre os caminhos que a humanidade tem traçado para as futuras gerações. O impacto das novas tecnologias, o avanço das Ciências exatas e Genética, parece nos apontar caminhos que levem a humanidade, ao bem comum. Porém, estes avanços aliados à ganância de poder, capital e exploração humana, podem também levar a incertezas de um futuro não muito promissor. No filme Matrix, o personagem Neo precisa escolher entre tomar pílulas rosa ou azul, para, mais do que escolher as cores destas, definir continuar submerso em um sonho irreal do final do século XX, ou ser o escolhido para travar a batalha na realidade da Matrix e entender que o Contexto em que sua geração nasceu e cresceu não passava de um mero programa de computador. A batalha na Matrix era então para preservar o pouco de humanidade que ainda restava contra a invasão da inteligência artificial criada pela própria humanidade.

A trama do filme Matrix parece estar intimamente ligada ao drama da humanidade em nossa era contemporânea, buscar respostas com o “Arauto”, que coloca enigmas da Filosofia para desvendar quais os caminhos para vencer a dominação da Humanidade sobre sua própria invenção: a ciência e a tecnologia.

Palavras-chave: Filosofia, Humanidade, Tecnologia, Futuro.

Introdução

Este artigo tem como objetivo discutir e trazer a reflexão o afastamento da Filosofia do cotidiano da humanidade.

A Filosofia antiga revela períodos na historia Grega. Desde o pensamento Naturalista ao buscar o principio unitário de todas as coisas, o pensamento sistemático sob as bases da lógica, da ciência, da metafísica, para o pensamento ético preocupado com as questões morais e o religioso na busca de resolução para os problemas na fé. Deste período Grego da Filosofia antiga para os tempos atuais , percebemos que o “pensar” ainda está restrito a uma “elite” da alma, do espírito, da racionalidade de poucos Seres. No século XX e XXI, temos em Husserl, Heidegger, Nietzsche e Freud, questionamentos sobre os fenômenos e valores, nossa existência e da importância da nossa sexualidade para construção do self.

No entanto, toda esta elaboração refinada e rebuscada da compreensão humana, do pensar sobre o conhecimento, a ética, a moral, não parece refletir de forma mais sólida e intensa em nossa contemporaneidade.

A Filosofia como dúvida, investigação, busca de um bem comum e da preservação da vida, nos parece ter sido relegado a poucas “mentes brilhantes”.

A Filosofia deveria estar presente em nosso cotidiano, nas coisas mais simples, na infância, na juventude, com anciãos. Acreditamos que este entendimento seria uma forma de levar a humanidade como um todo a busca da harmonia entre conhecimento construído e a cultura popular, entre a Ciência , tecnologia, arte, ecologia, na busca da felicidade em meio a diversidade em todos os níveis. O resgate do sentido do tempo e do trabalho para o bem comum, do trabalho como forma de realizar cultura.

Este artigo pretende defender a idéia de que se faz urgente o espaço para o pensar de forma consciente sobre que existência desejamos ter no futuro.

Discussão

No mundo atual, nos parece que a humanidade tem uma lógica utilitária e funcional diante da vida. Esta lógica também parece trazer a ilusão de que se algo não nos serve, devemos eliminá-la. E assim vamos destruindo tradições culturais, reservas ecológicas, espaços de convivência, e no lugar disso, colocamos conhecimentos destituídos de sentidos, busca incessante de consumo que supra nossas inquietações psicológicas, espirituais e mais do que isso, destruímos na realidade, nossa ligação com o ecossistema, com o ciclo da vida.

No mundo ocidental, nos centros urbanos, nas grandes metrópoles que detém o monopólio do conhecimento cientifico e da economia predominante, da produção que sustenta a todos; as crianças têm pouco ou quase nenhum contato com o ciclo da vida. Tudo parece produzido de forma mágica até ser retirado de uma prateleira nos supermercados. Estas mesmas crianças há algumas gerações, acompanham seriados e desenhos animados na televisão e cinema que numa concepção hollywoodiana determina que sempre haverá aqueles que querem dominar o mundo pelo desejo de poder, ciência e consumo.

Ortiz (1999):

Estrelas de cinema, ídolos de televisão (hoje projetados mundialmente pela TV a cabo e pelo satélite), marcas de produto, são mais do que objetos. Trata-se de referências de vida. As viagens de turismo, as visitas à Disney World, as férias no Caribe, a freqüência aos shopping centers, os passeios pelas ruas comerciais fazem parte de um mesmo imaginário coletivo. Grupos de classes médias mundializadas podem assim se aproximar, se comunicar entre si. Eles partilham os mesmos gostos, as mesmas inclinações, circulando num espaço de expectativas comuns. Neste sentido, o mercado, as transnacionais e a mídia são instancias de legitimação cultural, espaços de definição de normas e de orientação da conduta. Sua autoridade modela as disposições estéticas e as maneiras de ser. Da mesma forma que a escola e o Estado se constituíram em atores privilegiados na construção da identidade nacional, as agencias que atuam num nível mundial favorecem a elaboração de identidade desterritorializadas. Como os intelectuais, elas são mediadores simbólicos.

As crianças neste sentido, parecem ser adestradas desde muito pequenas a acreditar que a felicidade é obter coisas, numa concepção que é mais valoroso TER do que SER. E que para tanto é necessário dispensar de disputa, violência, egoísmo e poder. Marcuse (1973) enfatiza:

Bertolt Brecht notou que vivemos numa época que parece crime discutir sobre uma árvore. Desde então, as coisas pioraram muito. Hoje, parece crime falar meramente sobre mudança, enquanto a sociedade em que vivemos é transformada numa instituição de violência. (p. 128).

A mídia e as tecnologias revelam uma nova situação para o final do século XX e inicio do século XXI: o tempo e o espaço andam paralelamente e operam em dois campos, o real e o virtual. Mas nesta lógica não é impossível afirmar que o virtual tem substituído com cada vez mais força o real. Em Marcondes Filho (2002) encontramos:

Mas o acoplamento simultâneo de dois mundos leva, necessariamente, à degradação de um deles, indubitavelmente, do mundo antigo, do mundo-base, do mundo – referencia para todas as construções no mundo dos espaços virtuais: entramos na civilização do esquecimento. (p.137).

O final do século XX e inicio do século XXI traz uma variedade de filmes na Industria cinematográfica que parece apontar um futuro para a vida da humanidade. No século XX, na década de 70, o seriado para a TV, Jornada nas Estrelas e o desenho animado Jetsons mostra um aparato tecnológico traçando uma ordem futurística como ficção científica. Em jornada nas estrelas, já havia celulares, computadores super avançados, com veiculação de comunicação pela imagem por meio de câmera em telas gigantes e teletransporte. Anos depois, acompanhamos a invenção dos celulares, web cam e outros aparatos de alta tecnologia. Em Blade Runner no inicio da década de 80, as telas de cinema nos trazem os replicantes, seres-máquina que possuem sentimentos e são escravizados em estação intergaláctica. Em contrapartida, a década de 90, a Ciência traz estudos do genoma, células- tronco e clonagem de seres humanos.

Mezan (1987) ao citar Freud afirma:

Os cientistas são, como afirma em O Futuro de uma Ilusão, os servos do Deus Logos,cuja voz, por apagada que seja, é insistente e não descansa enquanto não se faz ouvir. “Nunca pude compreender porque deveria envergonhar-me de minha origem ou, como já começava se dizer então, de minha raça. Renunciei, pois, sem grande emoção a conacionalidade que me era negada. Pensei, com efeito, que para um zeloso trabalhador sempre haveria um lugar, por modesto que fosse, nas fileiras da Humanidade laboriosa…”(p.48)

Na América, na maioria das grandes metrópoles, há um aumento populacional que se espreme geograficamente, dando espaço a uma selva de concreto. O capital nas bolsas de valores é moeda virtual que determina para quase todo o planeta a economia no mundo Globalizado. As pessoas se alimentam vorazmente em fast-foods, apresentando altos índices de obesidade mórbida, e problemas cardíacos. Aterros sanitários já não dão mais conta da quantidade de lixo produzido e não aproveitado e o lixo atômico também é cada vez maior na atmosfera. Em nome e sob um discurso pela liberdade, a América prossegue insana levando as nações a acreditarem que somos criadores e a tudo podemos e não criaturas da Natureza e como parte dela, a preservando, nos preservaremos e nos perpetuaremos. O ciclo da vida perde-se neste caminho. Concordamos com Marcuse (1973):

O fetichismo do mundo de mercadorias que parece tornar-se mais denso dia a dia, só pode ser destruído por homens e mulheres que despedaçaram o véu tecnológico e ideológico que oculta o que está acontecendo, que encobre a realidade insana do todo – homens e mulheres que se tornaram livres para desenvolver suas próprias necessidades, para construir, em solidariedade, seu próprio mundo. O fim da coisificação é o princípio do indivíduo: o novo Sujeito da reconstrução radical. E a gênese desse Sujeito é um processo que desintegra a estrutura tradicional da teoria e pratica radicais. (p.127).

Os produtos globalizados são muitas vezes produzidos pela vergonhosa exploração da força de trabalho de crianças e jovens, de homens e mulheres trabalhadores rurais, que humildes, não possuem informação e nem reflexão sobre o domínio de suas vidas, sem saber que são vitimas da mais valia tão falada pelo materialismo dialético de Marx. Esta dialética também foi apontada por Hegel: (…) Na fenomenologia do espírito, Hegel nos fala de uma dialética do senhor e do escravo, que o Ser do escravo encontra-se alienado no Ser do senhor. (apud ORTIZ, p. 78, 1999).

O desequilíbrio ecológico tem deixado pistas de que o planeta não vai bem. A água potável tem tempo de vida, o buraco na camada de ozônio tem se ampliado, a Amazônia tem sido devastada cada vez mais a cada nova década. Nos centros urbanos não há predadores na cadeia alimentar. E assim convivemos com o aumento da população de ratos, baratas e insetos transmissores de epidemias. Marcondes Filho (2002):

Os novos espaços, tanto os concretos espaços ciderais, objetos da nova Marcha para o Oeste, como as comunidades “ realmente inexistente” das cidades eletrônicas virtuais relêem o mundo e dão vazão às fantasias numa era em que o planeta vai ficando cada vez mais a mercê de si mesmo, cada vez mais espaço de dejetos de todos possíveis, desde o lixo atômico, os alimentos envenenados, o ar irrespirável, os solos contaminados, até as próprias massas humanas desalojadas, abandonadas, sumariamente liquidadas em guerras limpas. A própria revolta, o protesto, a indignação estão estruturalmente dependentes das tecnologias em tempo real. (p. 137-138).

Mas tudo parece continuar no plano da invisibilidade, multidões de miseráveis também são tratados como ratos repugnantes e na sua grande maioria são negros. Segundo Ortiz (1999) em um Outro território: ensaios sobre a mundialização:

[…] a América cada vez mais se vê como uma composição de grupos, mais ou menos irradicáveis em seu caráter étnico. O dogma multiétnico abandona o propósito da historia, substituindo a assimilação pela fragmentação, a integração pelo separatismo. […] O todo encontra-se estilhaçado, o centro ameaçado pela desunião. Não é o julgamento de valor implícito no diagnóstico de Schlesinger – a busca pela organicidade perdida da nação-, que me parece mais interessante. Mas o retrato de um povo que, no passado recente, possuía uma auto estima de si mesmo. Ele não revela apenas a face de um único país. Trata-se de uma condição do mundo contemporâneo. Isso não significa que a sociedade se descompôs – os países continuam funcionado em todo os seus níveis -, ou que o Estado-nação se diluiu no enfrentamento desses vetores identitários. Mas mudou o contexto. No seio da sociedade moderna, industrial ou pós-industrial, surge um leque de referentes que se atravessam, se chocam, se acomodam, organizando a vida dos homens.

Atribuímos tamanha invisibilidade, e essa apatia coletiva ao distanciamento da convivência em comunhão que dava aos antigos sentido à vida, ao distanciamento da tradição cultural, a não reflexão sob as bases da Filosofia.

A Filosofia é vista como um conhecimento para poucos, para os “cultos”, que não é prática, não leva a nada e a lugar algum. No mundo contemporâneo, todos têm medo da dúvida, não há tempo para a contemplação. Talvez seja uma atitude para “loucos”. Dominados pelo desejo e pela paixão, os seres buscam o prazer imediato, apagando as tradições culturais do passado e não refletindo sobre o futuro. Sem planejamento e cuidado às futuras gerações. Em Nietzsche (1887) podemos refletir:

Como é necessário que o homem, para dispor assim de antecipação do futuro, tenha começado por aprender a separar o acontecimento necessário do fortuito, a pensar de maneira causal, a ver o distante e a antecipar-se a ele como se estivesse presente, a fixar com segurança o que é objetivo, o que é meio para atingi-lo, de maneira geral a calcular, a saber calcular- como foi necessário que para isso o próprio homem se tivesse primeiramente tornado calculável, regular, necessário, até em sua própria representação de si, para chegar desse modo a poder, como o faz um ser que promete, estabelecer-se como garantia de si mesmo como futuro. (p. 56-57).

O filme Matrix, apresentado no final do século XX, revela para o novo século um mundo irreal, programado, submerso no lixo das máquinas que dominam a humanidade. Também aponta que só um retorno ao pensamento filosófico seria capaz de deter um possível esgoto de tecnologia, a Matrix. Marcondes Filho (2002)enfatiza:

Ciberespaço é o espaço criado na era tecnológica. Espaço novo, desconhecido nos 2.500 anos anteriores de cultura ocidental, inexistente materialmente, para onde ninguém pode se dirigir caminhando, de carro ou de avião. O único meio de acesso é a tela do computador. Isso leva a supor que a tela é, ao mesmo tempo, uma porta, um buraco, que, como um túnel, nos faz chegar ao novo mundo. Como um holograma, é plano, mas tem múltiplas dimensões. Curiosamente, é um espaço paradoxal, pois nele se entra, permanecendo-se no mesmo espaço físico anterior. Fica-se assim, de uma só vez, em dois mundos paralelos em que comutamos como se se tratasse de duas vidas separadas. (p. 136).

O mundo virtual chegou para ficar. Num primeiro momento chegou de maneira anárquica, subversiva, oferecendo a sensação de liberdade de pensamento, sem restrições, sem censura e formando uma rede de informações, de comunicações, de possibilidades. Mas também fez das pessoas escravos de sua aparente liberdade, talvez numa solidão coletiva. Também coloca às pessoas uma nova linguagem, uma outra lógica, uma nova compreensão sobre o corpo real e um corpo sem massa corpórea, o virtual . Brinca com o tempo e com o espaço, deixando as pessoas à mercê de seu jogo hipnótico. E a WEB, lugar possível e realizável, também exclui um número grande de pessoas que mal aprenderam ainda a lógica cartesiana da “rudimentar” leitura e escrita em papel, tipografada. Marcondes Filho (2002):

Comutar com o mundo virtual significa transferirmos-nos “fisicamente” para outro espaço, um espaço não – concreto. No passado, isso era feito mediante as formas da fantasia, nos passeios do imaginário. Mas eram sempre caminhadas individuais, solitárias, não compartilhadas. O inovador neste novo território é que ele não é imaginário; é real, mas não é concreto, é proter real, ao lado do real, como se diz de Quéau. É múltiplo, social, não é produto de minha fantasia isoladamente. Ele existe. (p. 137).

Desta forma, o mundo virtual determina e controla nosso cotidiano sob várias formas: como em nossas contas bancárias, cartões de crédito, meios de transporte… A era do Terror ( ismo) parece ter acrescido de estratégias tecnológicas ainda mais avançadas esta lista de controle do mundo virtual em nosso cotidiano.

Mesmo coisas simples da vida cotidiana obrigam e escravizam a todos a utilizarem o mundo virtual.

Dialética do senhor e do escravo. Segundo Hegel, o senhor arrisca sua vida na luta e, ao vencê-la, torna-se senhor. O escravo, com medo da morte, nada arrisca, aceitando por isso sua condição de escravo, o que o torna algo como uma “coisa” nas mãos do senhor. Contudo, na relação entre os dois um movimento dialético inverte os papéis: desaprendendo a fazer as coisas, o senhor torna-se dependente delas, vira escravo do escravo; já o escravo torna-se senhor delas, por poder dominá-las, e, com isso, senhor do senhor. Além do mais, o senhor não se realiza plenamente, pois o escravo, “reduzido a coisa”, não constitui o pólo dialético adequado para o senhor. O escravo parte do desejo: o desejo é uma forma de negar o mundo, e seu verdadeiro fim é a afirmação da consciência. A subjetividade só se afirma na medida em que o desejo se apóie sobre uma outra consciência, isto é, um outro desejo. Para cada consciência em si mesma, a outra é a negação de si, e esta negação se exprime por uma luta mortal. Aceitando o devir escravo para preservar sua vida, um dos dois reconhece o outro como senhor; segue-se que ambos se reconhecem como outros, nenhum tem de fato consciência de si; ela não se conhece a não ser na alteridade. Cf. Hegel, A fenomenologia do espírito.

O retorno e aproximação da formulação do pensar em contemplação com a natureza, na filia, no exercício pela busca da felicidade é uma necessidade para homens e mulheres, convivendo em comunhão e harmonia consigo, com o(s) outro(s), com todas as formas de vida. Não seria possível conciliar esta forma de existir com os avanços da Ciência e da Tecnologia? A humanidade por meio de reflexões e prazer por sua cultura não poderia repensar sua forma de contar o tempo, de qual sentido há nele e no espaço para a existência individual e comum? Qual legado humano será deixado às futuras gerações?

O estudioso de Psicanálise Mezan (1987) nos aponta:

Investigação, portanto, das origens, do sentido do oráculo, que implica um desvendamento paulatino do passado e termina com a reconstrução da trajetória do individuo com um “tu és isto”, como diz algures Jacques Lacan. (p.57).

A tecnologia, porém, não possui algumas questões puramente humanas: o enigma da morte, a criação de mitos e Deuses, a fé, a espiritualidade.

Esta capacidade moral, cultural, o controle dos impulsos mais primitivos da alma humana são possibilidades que a humanidade ainda dispõe para harmonizar e dar sentido a existência em consonância a construção do conhecimento das Ciências e tecnologia, voltadas ao bem comum.

Conclusão

Este pensamento imediatista do século XX nos leva a questão: Qual o futuro da humanidade? Seria possível aliarmos Ciência, tecnologia e reflexão filosófica de maneira mais coletiva? Seria possível preservarmos nossos bens naturais ecológicos? Qual o caminho da humanidade? Como trazer a Filosofia a luz da Educação que em essência deveria ser seu lugar? Como libertar as mentes humanas das amarras do pensamento funcionalista, positivista, cartesiano? Como podemos refletir de maneira mais coletiva, a nossa participação como ser vivo mais importante do planeta, porque dotado de alma, poder referenciar-nos na harmonia do cosmos? Como construir filia, esta intimidade na amizade e na reflexão sobre a ética como bem viver, voltado à felicidade e à virtude? Como desconstruir a idéia de que nascemos para ter e não para ser? Como cuidamos da infância de nossos filhos e netos? Qual geração está se formando? Qual humano está originando?

O que haverá se não houver de fato uma contra ordem, uma desobediência contra qualquer forma de opressão da vida humana biológica, mental e espiritual? Marcondes Filho (2002) enfatiza como vivemos nessa era:

A virtualização – como as máquinas da inteligência artificial – é um tipo de limpeza, depuramento, salvação da espécie. Já que não conseguimos resolver nossos problemas terrenos, já que a revolução não vingou, já que as esperanças de transformação da humanidade estão fora de moda, o homem ainda tem uma chance: pode se depurar nas tecnologias. É o pensamento técnico que expulsou do âmbito do possível todas as outras formas de pensar, todos os outros modos de se revelarem as coisas, que não seja o técnico. O virtual é a nossa redenção. (p. 137)

Como vamos trazer a luz estas reflexões em nossa realidade local? Em nosso contexto cotidiano? Parece-nos que um dos grandes desafios é trazer para o âmbito da Educação este debate da Filosofia como o farmacon, um remédio para a mentes sob o véu do obscurantismo, da violência, da degradação de nossa espécie.

Referências Bibliográficas

DANTE, A. A Divina Comédia. Inferno, Canto 26, versos 118, 119 e 120.

DUSSEL, Enrique. Ética da Libertação: na idade da globalização e da exclusão. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 2002.

MARCONDES FILHO, Ciro. O espelho e a mascara: o enigma da comunicação no caminho do meio. São Paulo: Discurso Editorial; Ijuí: Editora Unijuí, 2002.

MARCUSE, Herbert. Contra- revolução e revolta. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1973.

MEZAN, Renato. Sigmund Freud: a conquista do proibido. 5 ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.

NIETZSCHE, F. A genealogia da moral. São Paulo: Escala.

ORTIZ, Renato. Um outro território: ensaios sobre a mundialização. 2 ed. São Paulo: Olho D’ água, 1999.

SCOTT, Ridley. Blade Runner. Columbia TriStar/Warner Bros: E.U.A. 1982. Ficção Científica.

SPIELBERG, Steven . A.I. Inteligência Artificial. DreamWorks Distribution L.L.C. / Warner Bros.: E.U.A., 2001. Ficção Científica DVD

WACHOWSKI, Andy e WACHOWSKI, Larry. Matrix. Warner Bros: E.U.A., 1999. Ficção Científica DVD (136 m.)